Jacob Black PDV

A maior e mais corajosa atitude que um homem pode tomar é aceitar que a garota que um dia esteve em suas mãos acabou caindo na rede de outro.

Eu sempre vi Bella com bons olhos. A irmãzinha caçula que eu nunca tive. Até ela fazer dezesseis anos e começar a evoluir pra melhor. Cada vez melhor. Contudo, eu nunca pensei nela de uma forma... Mais forte. Até ela completar dezessete.

Bella era praticamente tudo o que me atraia numa garota. Era inteligente, reservada, esperta, carismática, encantadora, e, claro, muito gata. A menininha havia crescido e se tornado uma mulher discreta, mas que chamava muita atenção. Sentir que Bella caia na minha era algo que massageava meu ego, me fazia sentir bem e achar que ela estava totalmente para mim. Minha amiga, a garota que me adorava e que eu adorava igual.

Mas eu estava errado: Cullen apareceu.

Quando meu pai me disse que Charlie havia dito que Renné hospedaria um rapaz no quarto de Bella, logicamente nós dois suspeitamos. Contudo, eu me recusava a desconfiar de Bella, a final, eu conhecia a decência da garota. E, até o dia do maldito acidente, eu acreditava que minha Belinha ainda era minha. Porém, naquele fatídico dia, eu tive a sorte de encontrá-la... Infelizmente adorando Edward de todas as formas.

*Lembrança:

Os enfermeiros e alguns médicos que estavam de plantão (e Carlisle que estava testando o trabalho) atenderam rapidamente aos dois. Logicamente eu fiquei com Bella até que a levassem para dentro da sala de exames.

Liguei para Charlie avisando sobre o aparecimento deles e fiquei sentado por duas horas naquela sala de espera, na maior aflição. Eu queria minha Bella, minha Belinha inteira de novo. Depois de mais algum tempo, horas talvez, me permitiram vê-la, só que, claro, apenas depois dos pais, que há essas alturas já haviam chegado.

Entrei no quarto de Bella, e ela nunca esteve tão pálida, mas, pelo menos estava aquecida e respirava uniformemente de novo. Cheguei perto de seu corpo frágil e peguei sua mão, fina e pequena dentro da minha. Senti seu toque me reconhecendo, e um ar de sorriso se formou em seus lábios. Será que ela sabia que eu estava ali mesmo? Será que se lembraria?

- Bella... Fica bem, ok? Nunca mais me assuste assim de novo! – Murmurei perto de seu ouvido. Se ela me escutasse, ótimo, senão… Tanto faz! Eu já estava satisfeito em vê-la sendo tratada direito.

- Hum… Edward... – Bella de repente sussurrou, rouca. – J-Jake... Edward precisa ser cuidado...

Inclinei-me para ela e dei um beijo em seu rosto. A tentação de beijá-la nos lábios era grande, mas eu não queria fazer isto naquelas condições. Seria desleal a ela, e não me valeria de nada se ela não lembrasse, se ela não sentisse ou me retribuísse.

Assim, saí do quarto e encontrei Renné aos prantos enquanto Charlie a abraçava tentando acalmá-la.

Renné não me viu, pois tinha o rosto enfiado no ombro do marido, porém, Charlie me acenou um obrigado e gesticulou para que eu fosse embora, que já estava tudo bem. Acenei um tchau para ele, conformado. Não havia mais nada para eu fazer ali. Renné provavelmente achava igual.

***

Naquele dia eu percebi que, se eu quisesse minha Belinha de alguma forma, eu teria apenas duas alternativas, primeira: ou eu aceitava continuar com ela como sempre, minha amiga e minha irmã caçula linda e maravilhosa. Ou segunda: entraria na disputa com Edward pelo coração da garota que costumava estar na minha mão.

Essa questão levou praticamente um mês para ser respondida. Eu estava me incriminado por ter cometido o pecado de ter sido tão egocêntrico. Eu tive Bella por perto durante praticamente dezessete anos inteiros, e só vim perceber que ela não era restritamente “minha garota” apenas quando ela decidiu se apaixonar por outro.

Eu nunca havia cometido burrice maior, e, talvez, perder Bella para o Cullen seja algo que eu mereça. Talvez, Edward ganhar o amor de Bella será algo que ele mereça (é, eu não acredito que pensei isso!).

Contudo, ver Bella me procurando ao telefone dia sim, dia não, enobreceu meu coração, de alguma forma. Eu havia sido um perfeito imbecil, e o que eu poderia querer? Que ela, linda como é, ficasse o tempo todo babando por mim? Claro que não! Eu deveria ser um pouco menos egoísta desta vez, deveria dar a ela o direito de me dar o troco... Eu merecia isto, contando que a minha irmãzinha-caçula-maravilhosa continuasse existindo para mim. E, por hora, eu estava satisfeito com isso. Inconformado, mas antes tê-la assim, que nenhum jeito.

Finalmente decidi ir vê-la. Porém, a cena que presenciei quando cheguei foi como um golpe certeiro no meu peito, a coisa que mais fortemente me atingiu na vida até então. Minha pequena e ingênua Bella beijando ele. Foi a confirmação para o que eu havia pensado: eu devia aceitar perdê-la, eu merecia este tapa por tamanha idiotice que cometi! Mais, entre mortos e feridos, eu queria ver ao menos se minha amiga restara para mim.

Quando Cullen fez a gracinha de beijá-la novamente, na minha frente, tive que me segurar na hora. Apesar de minha razão me dar bons conselhos, meu ciúme gritava forte. Contudo, a pior parte mesmo foi a conversa com Bella: nada fácil.

*Lembrança:

- Entra Jake, pode se sentar! – Ela falou se ajeitando sentada em sua cama.

- Hum... Oi!

Idiota, não se diz apenas Oi!

- Oi Jake! Você sumiu!

Ah, como nunca reparei nos olhos azuis dela, no tom doce que ela usava comigo, no seu rosto constantemente corado? Ah! Eu já sei: eu estava sempre ocupado demais conferindo quantas garotas sorriam para mim no corredor e quantas me secavam quando eu andava com Bella pela escola!

- É. Desculpe-me, Bels. Eu andei ocupado demais no trabalho com meu pai. – Menti.

- Ahn... E você está bem? – Perguntou ela visivelmente se esforçando para continuar a conversa.

- Sim, claro. Mas… Bella... – Hesitei. Ela me esperou ansiosa. – Você e Edward então…? Vocês… Estão…?

- Ah, Jake... – Ela interveio. – Eu... Olha, pode ser que sim, eu não sei! – Ela confessou rapidamente, corando como nunca!

- Ok, ok, - intercalei. Eu não precisava ouvir mais. – Tudo bem Bels. Legal, estou feliz por você.

Na verdade eu estava, de certa forma. Eu estaria completamente feliz, por mim e por ela, se ela estivesse comigo, talvez. Mas como não estava, eu poderia, no mínimo, me considerar meio feliz, pela felicidade dela, isto valia à pena.

***

É. Aceita! Nada mais a fazer. Eu não atrapalharia o romance de minha garota. Mas ficaria de olho no Cullen, pois só havia uma pessoa na qual eu tinha certeza absoluta de que nunca machucaria Bella, e esse alguém era eu. E enquanto Cullen estiver a fim de estar com ela, ele terá que lidar com minha supervisão, mesmo que de longe, mesmo que nem sempre. Contudo, eu tinha duas formas de estar interado e de olho em Edward das quais ele nunca suspeitaria: Charlie e até mesmo minha amizade com Bella.

Pensando assim, precisei ir até a casa de Bella. Mas eu queria um pretexto maior. Por sorte consegui dobrar a secretária, que nunca ia ficar sem ceder ao meu charme, até que ela me desse o horário de aulas de Bella. E desta forma, fui até sua casa. Eu queria sentir como ela ficou depois daquele episódio lamentável que vivenciamos. E, graças a Deus, aparentemente nossa amizade ficara intacta!

E estava tudo muito bem, até demais. Já era de se estranhar. Só que, infelizmente, ele teve que chegar, todo playboy naquela moto... Infelizmente maravilhosa. Com uma surpresa… Maravilhosa.

Quem diria que Edward era um cara de sorte! Primeiro, ele tinha a confiança de Renné, coisa que eu nunca tive e dificilmente vou ter. Segundo, ele tinha o coraçãozinho de minha Bella. E, só para completar, terceiro, ele tinha uma irmã adorável.

 Pelo menos a presença de Jenny amenizou o choque do beijo que aqueles dois deram na minha cara. Mesmo assim eu quis separá-los na marra. Ora, quem deu liberdade àquele playboyzinho para achar que poderia sugar a boca da minha Bella daquele jeito? Tive que me segurar e respirar fundo para apenas arranhar a garganta frente aquele absurdo. Por sorte, eles se separaram na hora.

Depois disto, Jenny encheu minha cabeça com tantas coisas que nem percebi quando o casal-vinte-e-um se retirou da cozinha para fazer, sei lá o que em sei lá que lugar! (Não, não. Bella era respeitosa, e inteligente demais para fazer qualquer coisa errada!).

*Lembrança:

- Jacob, você é então, tipo, o ás lá da escola? – Jenny perguntou com seu sorriso irresistível.

Ri com essa. Eu poderia até me achar um pouco, sobre garotas e nado. Mas quanto eu ser o ás de Forks Hight School, isso já era exagero.

- Claro que não, Jenny, que isso! A propósito, você pode me chamar só de Jake… Eu deixo! – Brinquei.

Jenny riu ficando vermelha e bebeu o resto de sua coca.

- Certo Jake, então, você tem minha permissão real para me chamar de Jen! – Ela revidou.

- Tudo bem, princesa Jen! Então, você já sabe dirigir? Já tem dezesseis anos não é? - Puxei a conversa mais um pouquinho. Eu nunca havia sorrido tanto e por tanto tempo como nessa conversa. A pequenina Jen   até que era boa companhia.

- Ainda não. Lá na Inglaterra meu pai não havia tido tempo para pensar nisso, e eu também nunca me interessei exatamente. Ele costumava manter um motorista para mim. Mas aqui em Forks, a cidade é pequena demais para as extravagâncias de meu pai, e vou precisar aprender a dirigir. Tenho economizado bastante e quero comprar eu mesma meu próprio carro! – Ela falou com ar todo orgulhoso.

- Se é assim, eu posso ensinar você a dirigir, o que acha? Além do mais, eu tenho uma oficina, trabalho com meu pai, e ele tem um Opala em perfeito estado para vender!

Eu? Conversando sobre carro com uma garotinha de dezesseis anos? O que ela tinha para me fazer ser tão... Acessível e simpático assim?

Os olhos de Jenny brilharam, ficando mais evidentes ainda. Ela desabrochou um maravilhoso e satisfeito sorriso para mim.

- Jake! Seria maravilhoso! Seria mais que perfeito! Obrigada!

Jenny pulou no meu pescoço e me abraçou infinitamente. Tentei abraçá-la de volta, mas ela era franzina e meus braços quase deram duas voltas em sua cintura. Tive que tomar cuidado para não apertá-la.

- Obrigada Jake! – Ela disse se afastando.

Comecei a rir do jeito dela, junto com ela.

- Não por isso, princesa!

- O que... – De repente o telefone dela começou a tocar. – Desculpe, Jake. Com licença! – Ela se virou para atender. – Certo, pai! … Aham! … Ok!

Jen Voltou para mim então. Sua alegria havia se esmaecido um pouco.

- Eu tenho que ir para casa Jake... – Ela informou.

- Ah, é uma pena! Mas, acho que você tem que chamar seu... Hum...

Irmão. Você sabe... Seria estranho se EU interrompesse ele e Bella. – Joguei.

Jenny concordou e foi lá chamar Edward, tirá-lo de minha Bella!

Ótimo, agora eu teria mais um ponto a meu favor: Jenny estava ao meu lado, junto com Charlie, na missão para desvendar os segredos do obscuro, desconfiável, e desconhecido Edward Cullen.

Credo, eu pareço até de uma sociedade secreta deste jeito.

- Prontinho Jake! Agora eu tenho que ir mesmo. - Jenny disse voltando para a cozinha. Pegou sua mochila da mesa.

- Então tá, eu te levo até a porta.

- Obrigada, eu deixo!

- Ah, obrigado, princesa!

***

Continua...