Still Alive escrita por Jubs Malfoy


Capítulo 33
Milhões de planos, milhões de falhas


Notas iniciais do capítulo

Desculpa por isso, gente... Boa leitura



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— E aqui... Isso, risque aqui.

Aquela já era a décima instrução que recebia do seu avô, e seguia à risca, sem reclamar, em sua vida inteira. Tinha feito mais isso naquelas poucas horas do que em todos os anos que esteve com ele, e se Arcturo estranhou o súbito interesse dela nas estratégias da Corte, não demonstrou.

Depois de chorar, e quase desmoronar em seu próprio quarto, Lis decidiu que seria suspeito se desaparecesse o resto do dia, sendo que queria passar a imagem de herdeira focada em ajudar. Então a ruiva se recompôs e se arrastou pelos corredores até o escritório do avô, perguntando se ele queria ajuda, dizendo que queria saber mais sobre o que faziam ali, e ele apenas deu de ombros antes de permitir que ela entrasse.

Ela passou a manhã inteira dividida entre prestar atenção nas informações que recebia de anotações, mapas e escalas, e relacioná-las com seus planos originais, tentando traçar uma alternativa, encaixar James... Não é preciso dizer que era praticamente em vão. Ainda não conseguia acreditar que ele tinha sido estúpido àquele ponto, mas a culpa foi dela por subestimar o complexo Potter de super-herói. Então, ela simplesmente tentou não pensar muito nele e focar nos números e imagens, em ser útil, já que tinha se provado, anteriormente, uma planejadora de merda.

Seu avô, em contrapartida, estava até mesmo gentil; se transformava completamente quando estava concentrado, alheio a qualquer coisa que não fosse o que estava planejando ou avaliando. Surpresa, ela percebeu o quanto ele parecia com ela quando estava trabalhando: os olhos semicerrados, uma ruga no meio da testa, de concentração, e um repuxo na boca para o lado direito quando algo não o agradava. Era fácil lê-lo daquela forma, pois era como se olhasse para si mesma.

Arcturo não parecia ter gostado de um relatório em particular, pois levantou de súbito, suspirando em frustração, fazendo Lis e Jean olharem para ele, um pouco assustados. Ele passou as mãos no cabelo longo, que estava solto, e murmurou algo sobre ir resolver problemas e pedir o almoço. Lis apenas registrou o quão pouco ele parecia um conde no momento, mas não durou muito.

Ela deslizou para a cadeira ao lado de Jean, e ele a encarou, percebendo a ansiedade nos olhos dela. No começo, pareceu confuso, mas então lançou um feitiço de privacidade antes de cruzar as pernas e falar, condescendente:

— Ele está bem, Lady Lis. Seu avô irá interrogá-lo em breve, mas todos nós concordamos que ele não está em condições para isso nesse momento — E estamos cuidando dele. Era o que as palavras não diziam. Ela soltou um suspiro, relaxando um pouco e ele a encarou, os olhos semicerrados — E você fez um bom trabalho, lá embaixo.

— Desculpa? — ele sorriu e adotou uma postura relaxada, os braços dobrados e as mãos na nuca.

— Eu quase acreditei no seu desinteresse pelo garoto. Você foi bem. Tanto tempo vestindo essa máscara... Seu avô acreditou, e Cormand também, e pelo menos todos os Chefes das Casas... Mas eles não te conhecem como eu conheço.

Ela olhou para o homem que praticamente a criara por dois anos, e que a treinara e protegera. De fato, era o que mais a conhecia naquele ninho de cobras. Mas convencê-los era o importante, e funcionou.

— Imagino que ele aqui não fazia parte dos seus planos — ele a encarou, arqueando as sobrancelhas cheias, e ela afundou mais na cadeira.

— Ele aqui arruinou os meus planos. Eu simplesmente não vejo como tirar os três daqui.

— Queria poder envolver a nossa guarda, mas... Seria uma bagunça e…

Ela o interrompeu:

— Não. Perigoso demais. Você tem uma filha, os outros têm família. Coisas demais em jogo. Eu planejava aprender sobre as passagens aqui, tirar os dois de onde estão e fugir... Agora, simplesmente não dá — ele pareceu pensar um pouco.

— Complicado... Durante a noite, a guarda dos Weasley é toda nossa, mas é, também, quando o corredor que sai das masmorras fica mais guardado. A troca de guarda é às três da manhã, mas...

— As masmorras e o quarto dos Weasley são longe demais um do outro, o suficiente para perceberem a ausência de um enquanto tento buscar o outro.

— E o suficiente para impedir que nós consigamos te cobrir sem parecermos suspeitos de algo — ela quase sorriu com a situação familiar dele complementando suas falas enquanto elaboravam um plano — A Weasley bem que tentou ser transferida para as masmorras, mas... O Lorde Pelletier não cedeu tão fácil.

— Como?! — ela não entendeu uma palavra do ele disse.

— Depois de ver o James, tivemos que arrastá-la para o quarto. À força. Ela gritou, e lutou, e até arranhou o pobre Claude. Então destruiu tudo o que fosse quebrável do quarto, se feriu. Parecia esperar que Cormand ficasse ofendido e a mandasse de volta para as celas. Ele apenas mandou limparem tudo, no entanto.

Ela deu um sorriso triste e revirou os olhos. Rose. Com aquela confusão, se esquecera do que ela e o irmão pensariam ao vê-la com o inimigo. Seria útil que ela a odiasse... Apenas uma cúmplice passiva de seu disfarce. Rose julgava Lis por suas máscaras desde os onze anos, de qualquer forma, estava acostumada.

— Jean — a voz dela não era mais que um murmúrio — você pode... Cuidar dele? Enquanto eu descubro um jeito de salvar todo mundo.

Ele a fitou, preocupado, mas sorriu e acenou com a cabeça. Era suficiente.

— Mas sabe... Seu plano tem uma falha — ela já sabia do que ele estava falando, então apenas bufou e sentou em sua cadeira. Já ouvia o avô voltando.

— Não vai ser uma falha quando eu acabar. Disse que a guarda é trocada às três?

 

***




O resto do dia se arrastou. Logo após o almoço, ela foi praticamente expulsa do escritório do avô e se viu obrigada a zanzar pelos corredores do castelo, parecendo não mais do que uma donzela entediada. Seu rosto mostrava enfado, mas sua mente tentava decorar cada corredor e passagem e escadaria enquanto traçava milhões de planos com milhões de falhas. A impotência era frustrante.

Lis havia esbarrado com Kaleen no corredor mais de uma vez. A garota estava sempre acompanhada de duas outras, que conversavam entre si sobre o jantar do dia seguinte, vestidos e garotos. Aparentemente, estavam lá mais para vigiar os passos da terceira do que para fazer companhia, já que a Pelletier nunca falava nada. Kaleen apenas encarava Lis, como se decidisse se devia chamá-la para conversar ou não. O momento durava alguns segundos antes de ela virar para o outro lado para que suas damas de companhia não percebessem que haviam esbarrado com a mesma pessoa pela milésima vez. Merlin, será possível que aquele castelo era grande demais, mas não o suficiente para se evitar alguém?

Cansada disso, Lis apenas marchou para seu quarto, onde se trancou pelo resto da tarde, fingindo ou até, realmente, lendo um dos muitos livros na tentativa de se manter distraída. Ela queria muito algo para escrever, ou desenhar, mas isso implicaria em falar alguma coisa, algo que ela não fez nem mesmo quando uma das criadas apareceu perguntando se ela jantaria com os outros ou no quarto. Lis apenas dera de ombros, mas não moveu um músculo a mais, o que a mulher deve ter interpretado como uma escolha pela segunda opção.

Depois de comer, decidiu que não seria estranho ir dormir cedo, como teria sido caso tivesse cedido à vontade de apagar que a tomou durante toda a tarde. Então, se entregou a um banho frio, pois não conseguia se sentir confortável com água morna, no momento. Uma camisola de cetim rosa algodão-doce a aguardava; era mais recatada que as que ela geralmente usava, e ia até o joelho, além de ser acompanhada de um robe da mesma cor e tecido, o qual ela ignorou. Ela tremia de frio com o cabelo molhado, mas sua indiferença se estendera a qualquer incômodo físico.

Lis estava quase se enrolando nos cobertores quando ouviu vozes discutindo à porta de seu quarto. Ela reconhecera uma delas e, a contragosto, vestiu o robe para abrir a porta e encarar, sem surpresa, a origem da confusão que, provavelmente, tentava convencer os guardas a deixá-lo bater na porta e entrar. Ela arqueou uma sobrancelha e deu seu melhor sorriso de dama da corte

— Posso te ajudar, Nik? — o apelido se enrolou em sua língua quando ela repreendeu o tratamento formal que iria usar.

Nikolai olhou nervoso para os guardas e ela apenas desviou alguns centímetros, dando espaço para que ele entrasse. Aquilo feria qualquer acordo de pudor que existisse entre as famílias, mas ela não ligava. Queria saber o que o levava ao quarto dela àquela hora. O herdeiro Pelletier entrou e ela fechou a porta, observando o nervosismo dele, como se ainda estivesse decidindo se deveria ter aquela conversa com ela, ou não. Ela lançou a magia veela, para agilizar a decisão dele.

— Dá pra parar com... Isso? — ele parecia desconfortável, se não fosse dizer, irritado — Me deixa confuso

— Não sei o que está querendo dizer.

— Essa sua magia veela. Agora que percebi... Usou em mim no festival, e de novo, ontem. Eu sou mesmo um idiota.

Lis fez a sua melhor expressão de desentendida, mas ele segurou seu queixo, assustando-a.

— Você enganou a todos naquele salão, florzinha, mas deixou que sua influência sobre mim passasse. Você me esqueceu, como sempre acontece quando se trata dele — os olhos dela se arregalaram — não tente negar.

— Nik — ela começou, mas ele deu as costas para ele, andando em direção à cama dela.

— Eu sou tão estúpido. Nunca fui eu, não foi? Sempre foi ele, sempre o Potter.

Ele sentou na cama e bagunçou os cabelos em um gesto que ficava bem charmoso quando James o fazia, mas que parecia desesperador nele.

— Eu havia me acostumado, aceitado que nunca te teria, e estava tudo bem, mas me dar esperanças, me manipular daquele jeito... — ele deu um sorriso amargo enquanto a encarava — aquilo foi cruel. Eu percebi seu plano, embora... Com o James aqui, você não conseguirá, executá-lo mais, não é? É impossível você sair com os três daqui.

Uma irritação se apoderou dela, que avançou em direção ao rapaz.

— E você veio esfregar isso em minha cara? Ou veio avisar que vai me entregar? — ela riu — Que cavalheiro da sua parte, milorde.

Foi a vez dele de rir, antes de olhá-la nos olhos e sorrir.

— Não vou te entregar, Lis... Vim te propor um acordo.

 

***

 

Alvo estava encarando o Mapa do maroto há dez minutos, agora. As palavras que diziam a senha da Gárgula para a diretoria se destacavam no papel enquanto ele decidia se deveria realmente entrar, ou não. Aquilo o estava corroendo por dentro: ser excluído de tudo, não receber nenhuma notícia, estar preso em Hogwarts enquanto outros procuravam seus irmãos e amigos.

Merlin! Lis, Scorp e ele eram melhores amigos desde que se conheceram. Tudo bem que a ruiva se afastara um pouco esse ano; com tudo o que acontecera, era compreensível, e também havia toda aquela coisa de ela se apaixonar pelo James… mas ele também a amava, também estava morrendo de preocupação, e seu pai retinha todas as informações! Se ao menos tivesse uma forma de entrar em contato…

— Alvo? — ele se sobressaltou. Embora estivesse olhando para o mapa, não a vira chegando.

Maia a encarou com olhos conhecedores, e sentou ao lado dele, perto da gárgula.

— Eu perguntaria o que está fazendo aqui, se não soubesse a resposta — ele suspirou e colocou a cabeça entre os joelhos, em frustração.

— Eu não aguento mais, Maia… Não ter notícias, ter medo o tempo inteiro. E o olhar do meu pai… como se a culpa fosse minha.

— De fato… Antes eu era a favorita de Armstrong… Hoje, ele fala três vezes ao dia sobre a minha falta de responsabilidade… Queria ter certeza de que tomamos a decisão certa — havia dor em seu rosto e Alvo conteve o impulso de abraçá-la.

— Ele mandou uma carta, sabe? O Escórpio — pela surpresa, ela não sabia — Eles não me contaram. Eu acabei escutando uma conversa, sem querer, do Prof. Snape com a McGonagall. Tudo o que eu queria era saber se eles estão bem, mas parece que me manter no escuro faz parte do castigo.

Ela, de repente, ficou séria, mordendo os lábios como sempre fazia quando pensava. Alvo teve que olhar para o outro lado, a fim de controlar o ímpeto que tinha de beijá-la. Merlin não podia culpá-lo. Ela era muito atraente, e ele, um garoto de quase 17 anos que não ficava com ninguém desde o verão. A proximidade que os dois ganhavam o enlouquecia aos poucos. Tinha quase certeza de que ela não corresponderia.

— Sev… E se tiver uma forma de falar com eles?

Ela foi extremamente cautelosa com as palavras, sem encará-lo, então ele respondeu, também, cauteloso.

— O que você quer dizer, May..?

Ela levantou em um ímpeto, andando, quase correndo, pelos corredores, fazendo ele correr para alcançá-la. A morena os guiou para fora do castelo e, então, para a carruagem híbrida que trouxera a comitiva de sua escola. Estava quase vazia, então, já que eles estavam em horário de aula, e ela despistou qualquer pessoa remanescente com primazia ao caminho de seu quarto.

Ela ficava em um dormitório feminino, surpreendentemente não protegido contra garotos, pois permitiu que Alvo entrasse com tranquilidade. Haviam alguns beliches, e Maia traçou sua rota até um baú, que tinha seu nome, enquanto sussurrava coisas incompreensíveis, com um sotaque americano que se recusava a deixá-la ou sequer diminuir de intensidade.

A garota tirou uma geringonça (essa foi a palavra mais adequada que Alvo encontrou para descrever aquilo). Parecia uma caixa antiga de música, mas tinhas todas as engrenagens nos lugares errados, uma lâmpada velha, e potes com pós estranhos e coloridos dentro. Parecia uma invenção que os gêmeos e seu tio George aprovariam.

— Certo. Antes que eu explique… Conhece uma sala segura? Ninguém pode descobrir isso.

Alguns minutos, apenas, foram necessários para que a dupla, ofegante, alcançasse a Sala Precisa e acharem o local que necessitavam para fazer o que quer que fariam com aquela invenção bizarra. Maia parecia nervosa quando posicionou o objeto em uma mesa, e Alvo foi extremamente paciente, apesar de sua própria ansiedade, aguardando que ela explicasse.

— Certo… Eu não sei exatamente o nome disso… Eu furtei do meu pai, e me arrependi a caminho de Ilvermorny, mas já era tarde demais para devolver — ela torcia as mãos, uma contra a outra — Em suma, é um equipamento mágico de comunicação a longa distância. É apenas um protótipo, e nada prático, pelo tamanho, mas… — ela ficou mais segura enquanto falava — Eu já vi em prática, uma ligação transatlântica, e funciona incrivelmente bem.

Alvo não conseguia acreditar. Ele sentia a excitação crescendo em seu peito ao pensar na possibilidade.

— Então podemos falar com eles? Quero dizer, de verdade? — ela assentiu entusiasticamente, sorrindo e, antes que sua mente pudesse controlar seu corpo, ele já havia puxado a cintura da garota e selado seus lábios com um beijo.

Ele a sentiu ficar surpresa e estática, mas depois, surpreendentemente, correspondeu ao beijo com tanta vontade quanto ele. Ela tinha gosto de bala de canela, e beijá-la o deixava dormente, mas eles só se afastaram quando o fôlego se fez necessário.

As bochechas dela queimavam em um tom rosado e ele observou, divertido, ela parecer toda atrapalhada e ofegante enquanto tentava configurar a máquina enquanto sorria, constrangida. Ele achou fofo demais ver a sempre tão segura Maia Kringles ficar tão nervosa por beijá-lo. Definitivamente, faria mais vezes.

Ela finalmente respirou fundo e se recompôs, apertando e girando botões, de volta à segurança que lhe era tão familiar. Ela não era estranha a esse tipo de coisa, ele percebeu, construir e trabalhar com a mistura de tecnologia e magia. Isso o fazia admirá-la ainda mais. Ela finalmente pareceu terminar.

— O legal é que, como um equipamento de emergência, não precisamos ter a localização exata deles… É quase como uma coruja: dizemos o nome, colocamos algo que seja de um deles, talvez, para ajudar na busca, e a magia faz seu trabalho — ela se voltou para ele — Quem deveríamos procurar?

Ele não tinha certeza. Não sabia se os quatro ainda estariam juntos. Embora Scorp ser o remetente da tal carta, e não Lis, já dava uma boa dica a esse respeito. Lis e James eram mais propensos ao perigo, então… Ele tirou um elástico de cabelo que trazia no pulso. Era da Lily, e ele pegara essa mania, pois ela sempre estava indecisa sobre prender ou soltar o cabelo, então sempre o fazia carregar um elástico, pois detestava a sensação de ter o pulso preso, ao passo que ele se acostumara a isso.

— Isso é da Lily. Vamos ligar pra ela.

Maia assentiu sem dizer nada, e colocou o elástico em um dos frascos com pó azul. Ela girou a manivela, como se fazia antigamente com os carros para conseguir a força, mas ele logo tomou o lugar dela, pois parecia duro e difícil demais. E ele não se decepcionou. A máquina começou a fazer um barulho estranho, como um reprodutor velho de cinema.

A americana pediu, em voz alta, para que a sala diminuísse a luz e, em um momento que pareceu uma eternidade, a lâmpada da geringonça acendeu, sendo filtrada por duas lentes: uma lançava a luz para a dupla, quase cegando-os, a outra, para a parede, projetando uma imagem difusa.

Duas hastes verticais saíras da máquina. Uma, mais alta que Alvo, parecia uma antena trouxa e girava loucamente, enquanto a outra lembrava um gramofone ou um telefone antigo. A luz começou a definir cores, e então uma imagem. Parecia um quarto, muito bonito, e sua irmã estava de costas, sentada em uma cama grande, apenas o cabelo alaranjado se destacando.

— Lily. Lily! — ela se sobressaltou, e então seus olhos quase pularam das órbitas quando viram a imagem de seu irmão projetada em uma parede. Ela praticamente correu para se aproximar.

— Alvo! Como você…? — Ela viu a Maia trocar de lugar com ele na manivela, e decidiu não gastar tempo perguntando — Não importa. Como estão as coisas aí? receberam a nossa carta?

— Sim, mas eu não li. O que está acontecendo aí? Onde você está?

— Estou no Castelo D’Noir. O tio da Lis encontrou o Escórpio e eu em um vilarejo, e nos trouxe. Lis e James desapareceram, não sei se você sabe — ele não sabia, e ela se adiantou para explicar tudo bem rápido — E então, o tio dela parece mais preocupado com nosso irmão do que com a sobrinha. Parece que por ela ser quem é, está segura. Ele não parece pensar o mesmo sobre James.

Alvo tentou explicar o que acontecera nos últimos dias, e transmitir sua preocupação e frustração em não saber nada. Lily contou, também, seu resumo dos acontecimentos bem rapidamente e logo o assunto virou os planos que eles deveriam tomar dali pra frente.

— Estou com medo, Alvo. Carlo parece muito apreensivo; não consegue contato com a Lis ou o pai. Mas não sei se seria seguro que nosso pai viesse. Carlo parece desconfiar que as fronteiras foram mais protegidas depois da chegada do James, e estão mais vigiadas. Se desconfiarem de um ataque…

— Eu posso mandar informações para ele. Podemos ser o canal de comunicação. Eu digo o que planejamos aqui, e você conta para o Carlo e Escórpio, e nos diz o que planejam por aí. Ainda temos que decidir se revelaremos como estamos mantendo contato, já que a Maia trouxe o equipamento ilegalmente. Ela poderia se encrencar.

— Eu faria isso com prazer, se for para ajudar — os irmãos ouviram a voz da amiga. Lily pareceu mais tranquila.

— Eu posso conversar isso com eles. Quem sabe dá certo. Vocês vão ligar de novo? — ele assentiu — Mesma hora, amanhã, então?

Ele concordou e se despediu da irmã, implorando para que ela se cuidasse e dizendo que a amava. Então Maia parou de girar, e a luz foi desvanecendo junto com o barulho, até que só restasse a sala em penumbra e o som da respiração dos dois.

A adrenalina e excitação abandonaram o corpo do Alvo, enquanto a compreensão chegava. Sua melhor amiga estava desaparecida, seu irmão mais velho, em provável perigo, e ele nem ao menos sabia se os dois estavam vivos. Deveriam estar. Tinham que estar. Ele sentiria se pessoas tão próximas dele morressem, não sentiria?

Ele não percebeu que estava tremendo até que a morena segurou suas mãos, nem que estava chorando até que ela enxugou uma lágrima em seu queixo. Ela o abraçou, o tamanho permitindo que ele pusesse o queixo sobre a cabeça dela enquanto a apertava forte e os soluços tomavam conta do seu corpo. Ela falou com ele, em um sussurro calmante e quente que ele quase não ouviu.

— Lily e Scorp estão bem, Sev… E nós vamos achar os outros. Agora, podemos ajudá-los. Podemos ser úteis. Ninguém pode nos negar isso, agora.

Ele a afastou gentilmente para olhar naqueles olhos amendoados.

— Você tem certeza de que quer fazer isso?

A resposta veio como um beijo molhado e salgado de lágrimas, Alvo a abraçava como se ela fosse sua boia e ele estivesse afogando. Ela não se afastou quando terminou o beijo, mas o abraçou com força até que ele parasse de tremer e sua respiração voltasse ao ritmo comum, embora ainda sentisse o coração acelerado dele contra seus seios.

— Venha — ela o puxou pela mão, enquanto pegava a máquina com a outra — acho que já chega de guardarmos segredos da diretora.

 

***

 

Jean fora preciso quanto ao horário da troca de guarda. Às três da manhã, os três designados pelos corredores que separavam o castelo das escadas que levavam para as masmorras deixaram o local, sem esperar que seus substitutos aparecessem, e sem reparar na presença invisível de uma garota escondida por uma capa de invisibilidade. Os passos fortes deles, encobriam os dela, quase tão leves quanto uma pena enquanto ela deslizava para os degraus em direção à palpável escuridão.

Algumas palavras sussurradas e uma certa chantagem emocional foram suficiente para que os guardas de seu avô a deixassem entrar, enquanto escondia a capa Potter por baixo da capa de sair que usara para sair do quarto com a desculpa de que iria para biblioteca em um passeio insone.

James estava encolhido na parede, mas se aproximou para ver quem entrava. Ele parecia tão machucado, fazendo caretas de dor quando andava, e o coração dela ficou pequenininho com o sofrimento de vê-lo daquele jeito. O namorado a reconheceu assim que ela se agachou para ficar mais perto dele, e sorriu como uma criança que recebia os presentes de natal mais cedo. Ele avançou para beijá-la, e aquilo foi simplesmente demais para ela.

Suas lágrimas desciam enquanto ela provava os lábios quentes dele, sinal de uma febre recente. Ela tremia tanto quanto ele. E precisou de toda sua força para não desmoronar em lágrimas e lamentos de angústia, para não ceder à tsunami de dor e culpa que a invadiram. Ela interrompeu o beijo, mas permaneceu com a testa colada à dele, as mãos entrelaçadas se apoiando em uma das grades.

— Você está bem… — ele disse com uma voz fraca que fez as lágrimas dela escaparem de novo.

— É claro que estou bem, bobinho. Ninguém pode contra Lis Snape — a voz dela ficou mais séria — Você não deveria ter vindo, meu amor…

— Eu precisava…

— Não, não precisava. E agora, eu terei que fazer algo muito ruim para consertar tudo — ele pareceu muito confuso, e ela pôs a mão no rosto dele, soando mais calma do que se sentia — Eles acham que estou do lado deles. Eu preciso que você me odeie.

— Eu nunca poderia…

— Eu sei que não, Jay… Eu sei que não. Por isso… por favor, me desculpa — as últimas palavras quase não saíram por conta das lágrimas que voltaram junto com os soluços. Ela o beijou de novo antes de se afastar, uma mão procurando instintivamente o colar que estava em segurança no quarto, enquanto a outra apontava a varinha para ele — Eu te amo, James, te amo muito.

Suas mãos tremiam com o medo que ela via nos olhos dele ao perceber o que ela faria, mas ela respirou e se firmou antes de sussurrar:

Obliviate.


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