Still Alive escrita por Jubs Malfoy


Capítulo 19
Nada... ou tudo.




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O sol frio do inverno entrou pelas janelas da torre, iluminando as madeixas cor de ferrugem, que se harmonizavam com a decoração vermelha do lugar. Eles não haviam deixado a sala comunal nem para jantar, e depois dele, ficaram conversando com o grupo de amigos, que em uma parte da noite também começaram a subir, deixando os dois a sós.

James já se acostumara àquele tipo de noite, então trouxe um lanche do seu esconderijo no quarto e, enquanto comiam, arrumaram o Snap Explosivo que haviam jogado mais cedo, e então deram início a uma partida de xadrez. Ele não sabia exatamente quando, mas em alguma hora, por algum motivo, o assunto virou a vida dela.

Lis contou tudo, desde antes do seu próprio nascimento, o motivo que levou a mãe a fugir da França (um noivado com o pai do Nikolai, aparentemente), então seus primeiros anos na França, a morte de sua mãe, as aulas de luta e dança e piano, os vestidos, os bailes e festivais, as brigas com o avô… quando ela chegou nas masmorras, James ficou em completo silêncio. Estava claro pela sua voz trêmula que ela nunca havia contado aquelas coisas para alguém, e ele tinha medo que algum tom ou palavra errada a fizesse se fechar novamente.

O Potter mal sabia como raciocinar. Ela havia visto e passado por coisas que nenhuma criança deveria conhecer. Ele se sentiu culpado: costumava julgar o Draco Malfoy nas histórias dos seus pais, o achava fraco por ceder à criação que recebera, mas agora… não imaginava como seria crescer daquele jeito, presenciando a tortura e a morta como se fossem naturais.

Olhou para aqueles olhos azuis. Ela poderia ter sido como o Draco, pensou; toda a bondade que via nela poderia, simplesmente, não existir. Mentalmente, agradeceu a Severo e a Clarissa por protegê-la daquilo tudo, pelo menos, na maior parte do tempo.

Já era bem tarde quando ele ofereceu levá-la para o dormitório, mas ela negou, alegando que estava cansada demais para andar; mas James sabia, tanto pelo modo como ela se encolheu enrolada no edredom, quanto pelo seu tom de voz, que ela não queria ir pela dificuldade que teria para diferenciar as masmorras de Hogwarts das que ficavam no Castelo D’Noir.

Então ele deitou no tapete macio em frente ao sofá que ela estava, e ficou mexendo ora na mão dela, ora no cabelo que pendia pela beirada do móvel, enquanto conversavam baixinho. Mal percebeu quando caíra no sono, pois haviam pausas que espaçavam, cada vez mais, a conversa, e ele não sabia se fora ela quem apagara primeiro, ou se a ruiva interrompera o silêncio e o encontrara adormecido.

Ambos teriam aula naquele dia, mas ele não teve coragem de acordá-la, e agora faziam dez minutos que ele a observava dormir, serena como as brasas que ainda crepitavam na lareira que os aquecera à noite. Quase não se atrevera a tocá-la, embora quisesse, pois tinha receio de interromper a paz estampada naquele rosto. Passos soaram nas escadas do dormitório masculino, e Alvo apareceu no portal.

— Ela dormiu aqui?

— Sim, não quis voltar.

— Temos que acordá-la — ele se aproximou, e James levantou do chão, onde ainda estava sentado, e foi a caminho para o dormitório — Ei, James, onde você vai?

— Estou atrasado, acorde-a por mim.

De fato, estava atrasado, e correu para se arrumar, o que não adiantou muito pois o banheiro estava cheio de garotos fazendo o mesmo. Geralmente, acordava muito antes deles, então tinha o espaço para si, ou ia para o banheiro dos monitores. Como Monitor Chefe, ele também tinha um quarto só dele, mas se acostumara a dormir com tanta gente, não conseguia lidar com o silêncio sufocante do lugar vazio à noite, embora o dormitório fosse útil quando tinha muito trabalho, ou quando precisava pensar.

Seus amigos já estavam no Salão Principal quando chegou; aparentemente, Lis fora mais rápida que ele, e devorava um prato de frutas com entusiasmo. Ele dificilmente havia visto uma garota que comesse tanto e conseguisse manter aquele corpo como ela fazia. Os garotos disseram algo que a fez parar de comer subitamente, sua expressão indignada deixou James curioso, então ele apertou o passo.

— James! Olha isso! Eles fizeram uma aposta, mas não querem me contar o que apostaram; isso é injusto, vocês devem sempre contar!

— A menos que seja uma aposta velada, você sabe as regras.

— Escórpio, não se usa a aposta velada sem motivo. Apenas se… espera, vocês estão apostando sobre mim?

Escórpio escondeu o rosto atrás de um exemplar de O Pasquim, e Lis revirou os olhos, as bochechas avermelhadas, e voltou a comer. O correio matinal chegou, e uma coruja deixou um Profeta Diário na mesa. “Ministra negligente ou incompetente?”, era o que dizia a manchete, e Lis pediu que ele lesse em voz alta a matéria.

— “Não conseguindo mais acobertar, o Chefe do departamento de Aurores, Harry Potter, anunciou que as coisas não estão em total paz no Ministério da Magia. Aparentemente, a nova Ministra não está sendo diplomática o suficiente e, mesmo após meses, não conseguiu resolver os conflitos com a França.

Os novos relatos são de que há pessoas desaparecendo; trouxas com famílias bruxas que moram perto da fronteira com a França ou vão visitar o país. A Ministra, Hermione Granger, se mantém calada sobre o assunto, embora o Sr. Potter afirme que estão fazendo o possível para contactar os franceses, e trazer de volta as pessoas não encontradas.

‘Ouvimos rugidos todos os dias, e sentimos um cheiro de fumaça vindo de longe. Os que foram investigar, nunca voltaram.’. Esse é o relato de um senhor bruxo que viajou para fora do país. A pergunta é: a Ministra não se importa ou não tem a capacidade de resolver os problemas que ela mesma causou? Mais informações sobre o passado da atual Ministra na página 9.

— Skeeter? — os olhos de Lis haviam perdido o brilho, mas a pergunta vinha do Alvo.

— Sim… Mas é verdade. Por que tia Mione não resolveu isso com o governo da França ainda?

— Porque o problema não é o governo — todos olharam para Lis, fazendo silêncio para escutar o que ela dizia em voz tão baixa — O governo francês não tem motivo para isso. Não… o problema é A Corte.

— E por que o Ministério não dá um jeito nessa corte? — Escórpio se adiantou, dizendo exatamente o que James pensava.

— Porque é suicídio — o Potter se surpreendeu ao ouvir Maia falar; ainda não havia se acostumado com a presença constante dela no grupo — nenhum dos aurores novos viveu uma guerra, e eu vi a Lis treinando com o James um dia desses; tenho certeza de que os soldados franceses são ainda mais habilidosos, se apenas uma condessa conhece tanto sobre como manejar uma espada; os aurores não teriam chance, seria uma chacina.

De novo, todos olhavam para a ruiva. Ela apenas assentiu tristemente, deu de ombros, e saiu da mesa.

 

***

 

Dois motivos a levaram a se retirar do grupo: Alvo a olhando como se ela ter sido treinada para a violência fosse algo realmente muito empolgante e a neve impiedosa que vira cair do lado de fora. Teria aula nas estufas, mas esquecera o manto de inverno na Sonserina; se atrasar ainda era melhor que ficar doente, então se apressou para o subsolo.

Já estava quase no pátio quando uma coruja cor de avelã pousou em seu ombro, uma carta presa no bico. o animal soltou o envelope e arrulhou carinhosamente, bicando de leve os dedos dela. Com um sorriso no rosto, pegou um pedaço de uma rosquinha que levava no bolso e deu à ave, que levantou vôo. Lis levantou o olhar e viu James caminhar em sua direção.

— Notícias da França?

— Sim.

— Posso ler?

— Você não entenderia nada, mas se me acompanhar, eu traduzo para você.

— Qual sua aula agora?

— Herbologia, estufa sete.

— Ótimo, então vamos. Abra logo, estou curioso — ela abriu enquanto eles saíam para a neve que caía, agora ocasionalmente.

— Bem… Aqui diz o mesmo que lemos no jornal, sobre os relatos e sumiços. A Corte está se reunindo em um dos territórios, isso não é bom, nada bom mesmo.

— Seu avô está presente?

— Sim… Seu Braço Direito está no controle do Condado, mas não o culpo… Não é como se ele tivesse escolha.

— Não? Eu acho que tem.

— Jay… Eu sei que tudo o que eu falei sobre ele fez com que ele parecesse uma pessoa terrível, mas… Ele faz de tudo pelo Condado. Sua única moeda são os juramentos e, enquanto cada pessoa naquelas terras jura lealdade e produção, ele jurou proteger cada um, suas mulheres e filhos, suas casas e plantações. Se ele não dançar conforme a música, são essas pessoas que sofrem. Não me dou bem com ele, mas tenho que reconhecer que ele se esforça por elas.

Eles chegaram à bifurcação; de um lado, as estufas, do outro, a cabana de Hagrid, onde seria a aula de James. Lis se despediu e seguiu para a estufa sete, onde plantas complicadas de se cultivar eram criadas pelos alunos mais velhos; o desafio era deixá-las vivas enquanto as impediam de matar seu criador.

O Professor Longbottom lhe deu um olhar desgostoso e descontou cinco pontos pelo atraso. Ela era uma de suas melhores alunas, mas ele ainda tinha certas desavenças com seu pai, e achava que não deveria pegar leve com a garota, ou ela se tornaria um monstro digno de Voldemort. Lis calçou as luvas de couro de dragão e pôs os óculos de proteção. A planta da semana era o Arapucoso; não era particularmente perigosa, mas os galhos poderiam fazer estrago se acertassem os olhos de alguém.

Seu caqueiro estava ao lado do de Escórpio, então ela caminhou para os cabelos loiros e lisos que estavam ficando grandes demais. Os alunos iriam colher as bagas naquele dia, então seu amigo já juntara os baldes e tesouras para fazer o trabalho.

— Está atrasada.

— Esqueci o casaco — a ruiva contemplou as tesouras, decidindo se ia usá-las, e qual. O professor a olhou com desconfiança, como sempre fazia ao vê-la perto de objetos afiados; ela imaginava que se devia à forma como seus olhos brilhavam de prazer, e à familiaridade dela com as lâminas — Recebi notícias da França — ele a olhou, surpreso.

— Muito ruim? — Ela pegou uma tesoura fina e longa, antes de contar a ele o que dizia a carta.

Escórpio ficou um tempo em silêncio enquanto, assim como ela, cortava os talos, fazendo as frutinhas caírem, e desviava dos golpes dos galhos finhos e tortuosos da planta.

— O que eles podem tramar?

— Muita coisa, Scorp… Muita coisa. E o pior, meus contatos não estarão lá dentro. Ficaremos no escuro dessa vez — ele assentiu tristemente e voltou a cortar.

A aula pareceu durar um milênio, pois, a cada minuto, as plantas ficavam mais irritadas com os alunos cutucando-as. Lis saiu da estufa com alguns arranhões no braço, que pinicavam, mas Escórpio tinha um talhe feio no rosto e, a julgar pela careta que fazia, estava doendo. Provavelmente ficaria cicatriz se não fosse tratado, então o levou para a sala do pai, já que a próxima aula era de poções, pelo menos já estariam por perto.

Preparou um unguento enquanto Escórpio tagarelava sobre Rose, pela primeira vez em meses. Eles haviam voltado a se falar e ele parecia animado; um bobo apaixonado, de fato. Ela sorriu antes de limpar o machucado com um pano e água pura oxigenada, fazendo-o sibilar.

— Você vai chamá-la para o baile? — era uma pergunta distraída, enquanto aplicava a mistura de ervas no corte.

— Não — ela parou, surpresa, e o olhou — Vou convidar Kaleen.

— Essa é, com certeza, uma surpresa — ela tirou o excesso da pasta, o corte já se fechava um pouco.

— É uma troca. Eu a levo, nós dançamos um pouco, e ela pode deixar a festa à hora que quiser. Rose deve ir com Lysander, e sempre brincamos de trocar os pares, então…

— Pronto — ela limpou as mãos em um pano — Quanto tempo para a aula?

— Alguns minutos — ele a encarou, um olhar congelante enfrentando outro — Você terminou com Nikolai, então?

— Sim — ela não desviou o olhar; sabia que a estava testando.

— E o James? — ele ergueu uma sobrancelha e ela hesitou.

— O que é que tem ele? — quase não conseguiu sustentar o olhar, ou a própria voz, que saiu rouca.

— Acha que não vejo como vocês estão próximos? — ela piscou, duas vezes; não sabia o que seu rosto denunciava, mas a voz do amigo ficou mais grave — Ele gosta de você, Lizy. Muito.

A ruiva abaixou o olhar e virou de costas, arrumando frascos que já estavam em seu perfeito lugar, e suspirou.

— Eu sei… — apenas não sabia porque aquilo a afetava tanto, ou o que fazer com a informação que o moreno não fazia questão nenhuma de esconder.

— Só… Tenta não machucá-lo — ela se virou, uma massa quente de raiva subindo em seu peito; raiva, e insegurança, e tudo o que lidava desde outubro.

— Machucá-lo?! Escórpio, você acha mesmo — ela respirou fundo, interrompendo a frase — Eu não estou dando a ele falsas esperanças, okay?

Mas ela não esperou resposta, e se lançou para fora do cubículo, para a sala de Poções.

 

***

 

James esperava em frente à Sala Precisa, como Lis pedira. Ela estava atrasada, e ele já cogitava ir embora quando ela virou a esquina do corredor. A ruiva não parecia feliz, seu humor o atingiu como um furacão, envolvendo o ar com sua presença; seus olhos estavam nublados, e sua expressão era como o clima lá fora: uma tempestade prestes a explodir. Ele não entendeu o motivo daquilo, e vê-la daquele jeito o assustava; parecia que ela destruiria tudo à sua frente.

Mas ele, de alguma forma, sabia do que ela precisava, então apenas deu um sorriso, aquele sorriso insano que fazia os professores manterem um olho a mais nele durante as aulas e que levava sua mãe à loucura. Ela fechou os olhos e sorriu levemente; bom… muito bom; sorrindo era melhor que voando em seu pescoço sem motivo. Uma porta surgiu à parede e ela fez um gesto claro. Entre.

A sala agora era um salão vazio com espelhos e um gramofone. Ela andou para o centro e ele parou para analisá-la. A ruiva usava um vestido vinho de veludo, curto, com mangas longas, e uma meia calça preta com os naipes de um baralho; a roupa era fofa, mas a deixava sombria; era seu estilo de inverno.

— Você está fazendo o quê? Venha.

Ele se aproximou e ela o analisou, como se procurasse defeitos, o que consertar, e então se posicionou à sua frente.

— Sabe as posições básicas? — ele sabia, mais ou menos, e colocou uma mão desajeitada na cintura dela, mas não sabia o que fazer com a outra. Ela se aproximou, firmando a mão dele em sua cintura, e segurou a outra firmemente na dela própria, enquanto a mão vazia pousava levemente em um dos ombros do rapaz — pronto. Tudo o que é necessário para uma mulher dançar é um bom condutor, mas como você é quem deve conduzir, é bom prestar atenção.

Ele olhou para os pés, mas ela rosnou, mandando-o olhar para ela e prestar atenção. Ele não sabia ao que, e então sentiu, antes de ver. Ela inclinara o corpo para ele, dando um passo e forçando-o a acompanhar, e então o puxou usando o próprio corpo. James contava os passos, tentando aprender o padrão, mas quase não precisava fazer esforço, ela era tão decidida e firme que seu corpo obedecia imediatamente aos comandos sensíveis do dela.

— Viu? É isso que um bom condutor faz — ele murmurou “incrível” e ela riu — Pegou o padrão? — ele disse que sim, embora não estivesse muito certo disso — Ótimo, faça sozinho, agora. Se conseguir acertar o padrão por dez tempos, nós terminamos por hoje. Sabe o que é um tempo, não é?

Ele sabia, e começou a fazer, sozinho, os passos, mas era mais difícil que imaginava. Murmurava “um, dois, três, quatro” e acompanhava, tentando não olhar para os pés, mas sempre que achava que estava melhorando, tropeçava e se atrapalhava todo. Lis apenas repetia: “de novo”. Depois do que pareceu um século, ele conseguiu, fez dez, e riu de nervoso, se jogando no chão.

— Acabamos?

— A aula de dança, sim. Mas hoje é dia de treino, lembra? Estamos aqui há uma hora, já, então o tempo de descanso vai ser curto.

Sua espinha gelou. Com o humor que ela estava, nada de bom poderia sair do treino. Quando se levantou, ela trazia duas espadas na mão, espadas que ele nunca tinha visto. Uma era prata, com o cabo adornado com uma lua crescente, pequenas estrelas e espirais; parecia perfeita na mão dela. A outra era um pouco maior, parecia mais pesada, e tinha uma pedra vermelha no cabo dourado.

— Tenta cuidar bem dela, é sua agora. O que significa que vai limpá-la, poli-la e mantê-la afiada por conta própria — era linda, e tinha o equilíbrio perfeito; ele certamente parecia maravilhado, pois Lis trazia uma expressão presunçosa no rosto, como de quem sempre acertasse tudo.

James não soube o que deu nele, mas ele investiu, querendo tirar aquele sorrisinho daquele belo rosto. Ela desviou e bateu a espada contra a dele; eles passaram um bom tempo se desafiando; o mau humor a deixava fugaz, mas distraída, e ele conseguia perceber onde ela abaixava a guarda; infelizmente, ela era mais rápida. Lis defendeu um de seus golpes empurrando a espada com uma das mãos, batendo com a parte achatada e lançando-o longe.

A ruiva aproveitou a brecha e avançou, passou a lâmina pela dele, até alcançar a base, e batem em sua mão com o cabo estrelado, fazendo-o derrubar a espada. Uma rasteira e um pouco de força foram o suficiente para derrubá-lo no chão, e logo ele estava um uma espada em seu pescoço.

— Muito bom, Potter. Gostei de ver. Treine mais um pouco e talvez consiga me pegar de surpresa.

Ela parecia mais calma, agora.

— Você está bem, linda? — ela abriu um sorriso triste e, ao invés de levantar ele, sentou ao seu lado no chão.

— São… Alguns problemas. Nada demais.

— Nada demais? Você parecia capaz de criar um tufão quando chegou aqui.

— Talvez.

— Se arrepende de ter terminado com ele? — ela o olhou, incrédula.

— O quê? Não, com certeza não. Penso muito antes de decisões desse tipo justamente para não haver arrependimentos.

— Então, o que é?

— Nada… ou… tudo. Sabe, tudo de uma vez.

— Sei — ela deitou no chão e, subitamente, o piso se transformou em grama, uma grama verde e fresca, com um cheiro maravilhoso; ele deitou ao lado dela, e a olhou fechar os olhos e inspirar profundamente.

— Eu só queria, uma vez na vida, ter o bom senso de escolher alguém certo; alguém que não me presenteie com as flores que eu mais odeio, ou me deixe desconfortável; alguém que eu não precisasse partir o coração no final. Eu só queria poder viver minha vida sem ser a filha de um ex comensal ou uma herdeira de uma propriedade gigante. Eu só queria… Merlin, eu só queria saber o que estou fazendo com minha vida — ela se virou de lado, encarando James nos olhos — James… O que eu estou fazendo com minha vida?

O coração dele apertou com a dor que via naqueles olhos; ela nunca falava sobre isso abertamente com ele, então, provavelmente, estava apavorada. James ergueu a mão e a encostou no rosto macio da garota.

— Eu não sei, Lis, eu não sei, mas… Eu estou aqui, para que, quando você descobrir, eu possa te ajudar, seja a seguir em frente, ou  pular fora.

Ela sorriu. E uma lágrima solitária desceu pelo seu rosto. Ela se aproximou e encostou a cabeça no ombro dele.

— Lis — ela murmurou, poderia ser um “oi” ou só um “hm” — Por que grama??

Ambos riram, e ela fechou os olhos.

— Vamos nos atrasar para o jantar, espertinho. Melhor irmos logo.

Ela levantou e se adiantou para sair da sala, James a observou. Ela estava perdida, e ele não sabia como ajudá-la… Mas naquele momento ele jurou que nunca a deixaria chorar de novo.





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