Still Alive escrita por Jubs Malfoy


Capítulo 20
Que problemas? São vários, seja mais específico




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Atravessar os corredores de Hogwarts estava se tornando praticamente impossível. Corria por todos os cantos a notícia que o campeão de Hogwarts ainda não tinha par para o baile, então, constantemente, James era encurralado por garotas que batiam os cílios, sorriam e davam tchauzinho; algumas mais ousadas puxavam conversa, mas ele estava com pressa.

Há dois dias, desde que Lis terminara o milagre de ensiná-lo a dançar, que ele a procurava para conversar, mas, aparentemente, apenas porque ele a procurava, ela não se encontrava em lugar algum; sempre saía antes que ele chegasse, ou não estava nos lugares usuais. Então, quando viu o vulto ruivo indo para o corredor oeste, praticamente correu para pará-la.

Ela não parou. E os risos e comentários das garotas sobrepujavam sua voz quando a chamava pelo nome. O sinal para a próxima aula soou, e ele agradeceu pelo silêncio súbito, e pelos corredores desobstruídos. Livre, conseguiu achá-la, sentada no parapeito de uma janela, observando o pôr do sol. Ele nunca conseguiu entender a mania dela de querer estar à beira do perigo; seu hobby preferido era se equilibrar em janelas a vários metros do chão, e isso o aterrorizava.

Olhando-a daquele jeito, àquela luz, ela era quase intimidadora, parecia poderosa, como se nada a atingisse. Seus dedos finos brincavam com a magia, fazendo flocos de neve dançarem em suas mãos sem derreter. De novo, daquela forma que ele nunca entenderia, ela pareceu senti-lo, e olhou em sua direção, sorrindo de um jeito que acelerava, sempre, o coração dele.

— Finalmente te encontrei.

— Estava me procurando? — um brilho divertido passou em seus olhos.

— Sim — ele se aproximou e, apesar dos instintos, sentou ao lado dela — Quase não te alcanço, estava sendo afogado por um mar de fangirls — ela riu.

— Então ainda não chamou ninguém para o baile?

— Não, na verdade, tem uma garota que eu quero convidar mas… tenho vergonha de pedir — ela o encarou, incrédula.

— O grande James Potter está com vergonha? Essa deve ser uma garota e tanto — ele se recostou e a olhou nos olhos quando respondeu.

— E é. Ela é maravilhosa. Linda, divertida… Sempre me faz rir. E nunca cobra nada de mim. É a única que passa o tempo comigo apenas por diversão, sem segundas intenções, e é a única que quero levar ao baile, pois é garantia de uma noite alegre, sem me deixar desconfortável ou forçar a barra.

— Nossa, estou procurando alguém assim; onde vende? — ela riu, mas desviou o olhar para o horizonte, a voz ficou mais baixa; se não a conhecesse bem, diria que estava com ciúme — Você deveria chamá-la logo, antes que outra pessoa o faça. E sobre a vergonha… diga a ela o que disse a mim, nenhuma garota recusaria após isso.

— Tudo bem… Lis, quer ir ao baile comigo?

Ela o olhou, os olhos arregalados, como se não conseguisse processar o que ouvira.

— Ah… você estava falando de mim? — ele deu de ombros.

— Sim.

Ela enrubesceu, e mordeu o lábio em nervoso. Ele a havia pego de surpresa. James esperava que ela se calasse e encarasse o sol por um bom tempo, como sempre fazia antes de responder algo que tivesse a ver com… bem, com eles dois, mas ela apenas suspirou e recostou a cabeça na parede, olhando-o.

— Já me convidaram para o baile, sabia? — o coração dele apertou, tinha chegado tarde demais — não sei o que estava esperando, não sei porque eu não aceitei — ok, ela estava, de fato, brincando com o coração dele naquele momento — Eu não queria ir ao baile com alguém que não tem nada em comum comigo e que havia me convidado apenas para me levar para a cama quando a festa acabasse; deixei uns cinco na espera por causa disso. Você é o primeiro que tem motivos mais nobres e legais para me levar.

— Então…? Você está dizendo sim?

— Eu disse que nenhuma garota recusaria o pedido depois de ouvir o que você disse, e eu não sou exceção Então, sim, eu vou ao baile contigo.

James poderia explodir de alegria, e ela riu ao ver o sorriso bobo que ele fazia, se aproximou e bateu de leve em seu braço, murmurando algo como garoto bobo, e encostou a cabeça no ombro dele.

— Ah… Sobre isso de ficar depois da festa — “hum” — Prometo não forçar nem tentar nada — era apenas uma piada, já que ele pedira, de brincadeira (ou nem tanto assim) que ela o beijasse, em todos os ensaios.

— É, eu sei que não vai. Você é você, James — ele não conseguiu decifrar o que o tom da voz dela dizia, e isso o incomodou.

— E isso é bom? — ela riu um pouco, e passou o braço dele por sua cintura, aninhando-se mais perto; sua mão se enlaçou à dele, enviando arrepios por toda sua pele.

— Isso é ótimo, James. Você é ótimo — o silêncio pairou por um tempo, a cabeça do Potter estava a mil, tentando interpretar o que ela dissera, em vão. A noite já sobrepujara o sol — Não vamos contar aos outros.

— Han? Por quê?

— A aposta. Acho que era sobre isso. Eu adoro suspense. Vamos esconder até o dia.

— Certo — ele passou a mão livre pelo cabelo dela, enrolando os dedos nas mechas — Minha mãe vai querer saber a cor do seu vestido para comprar minha roupa.

— Ah… isso é segredo. Diga a ela que compre os trajes a rigor tradicionais.

— Segredo?

— Sim. Senão perde a graça. Eu gosto de ver os rostos embasbacados quando vêem meus vestidos.

— Vaidosa.

— Sempre.

 

***

 

A temperatura caíra drasticamente com o desenrolar de Dezembro, e as aulas de poções nas masmorras só não se tornavam insuportáveis por conta dos diversos fogões acesos que aqueciam os caldeirões e a sala. Lis não entendia a insistência dos N.I.E.M.’s de cobrar a habilidade de fazer uma poção do amor, mas lá estava ela, cortando ervas para preparar a Amortentia.

Seu pai havia dividido a turma em duplas, e Escórpio era a dela; ele mexia cuidadosamente a poção, que soltava uma fumaça em espiral suave. O cabelo dele estava, definitivamente, muito grande, caindo sobre seus olhos, mas ele não dava sinal de querer cortá-lo.

— Então, Scorp, onde posso encontrar Kaleen?

— Só digo se me disse o que quer com ela.

— É sobre o baile.

— Não estou satisfeito.

— Tá — ela revirou os olhos — eu desenhei um vestido que combina com ela, quero perguntar se ela aceita usá-lo no baile.

— Desde quando você desenha vestidos?

— Desde que descobri que os alfaiates não atendem meus pedidos a menos que seja eu a desenhar a roupa.

— Ah, tá. Super normal. Eu te levo para falar com ela mais tarde.

A ruiva colocou o último ingrediente e foi lavar os instrumentos, deixando Escórpio cuidando da mistura. Quando voltou, Lis se inclinou na mesa, tirando uma mecha do cabelo loiro que escorregava no rosto do amigo. Quase não parava para observá-lo com atenção, e percebeu que ele lembrava, com seu rosto anguloso e forte e a barba por fazer, um príncipe; somente lhe faltava a coroa.

— Certo. Agora, se está correta, devemos sentir o cheiro de coisas que amamos — ele inspirou.

— Ah, está perfeita, com certeza.

— O que você sente, Scorp?

— O perfume que nós fazíamos com as rosas do jardim de tia Clari, o pudim flamejante de Natal da mamãe, e o cabelo da Rose. E você?

Ela inspirou a fumaça profundamente, e sorriu com os aromas que inundaram os seus sentidos.

— O cheiro de nosso quarto na Mansão Malfoy, o cheiro do jardim depois da chuva e… — ela enrubesceu, de forma alguma iria falar aquele.

— E? Não vai falar? — ela balançou a cabeça — Lis, é sério? Está escondendo coisas de mim?

Ela murmurou, reclamando, mas disse o que era, muito baixo.

— O quê? Eu não entendi, fale mais alto.

— Ahhhh! O cheiro do casaco do James! Satisfeito?

Ele riu, não conseguindo segurar. Ela escondeu o rosto nas mãos.

— Você gosta do James!

— Fala mais alto, ninguém te ouviu ainda — era exagero, ninguém estava prestando atenção neles. Escórpio  encarou, como se a visse pela primeira vez.

— Você gosta do James. Você não se aproximou dele só por amizade. Você realmente gosta dele.

— Gosto, gosto. Quero dizer, eu acho.

— Acha? Você sempre tem certeza.

— Esse é o problema — agora ela já colocava a poção em um frasco — Com o James, eu nunca tenho certeza de nada. E agora estou mais confusa que nunca.

— Quer conversar sobre isso?

— Não… Isso é algo que eu devo resolver sozinha.

 

***

 

Não havia época que Lis amasse mais que o Natal. Em Hogwarts, a diretora havia se superado. Pirraça recebera neve falsa para jogar nos transeuntes, as armaduras cantavam versinhos natalinos e sete pinheiros com velas e bolas coloridas decoravam o Salão Principal. Só havia uma coisa ruim com aquele Baile de Inverno: todos os alunos, a partir do quarto ano, haviam ficado em Hogwarts. Lis havia se acostumado com uns vinte alunos, no máximo, durante o Natal; ela tinha a escola só pra ela, praticamente. E agora, estava cheio de gente.

Naquele momento, em plena madrugada, era a única hora em que o castelo estava em silêncio. Lis nunca dormira muito durante a noite, nem quando era pequena, e procurava usar usar esse tempo acordada de forma útil, então ela e Escórpio estavam na sala de poções, ajudando Severo a corrigir as atividades dos outros anos. Era uma tarefa útil e divertida, já que geralmente tinham que testar as mais diversas poções, algumas com efeitos bem engraçados.

Era, também, um favor aos alunos, pois o pai da Lis ficava particularmente mau-humorado quando tinha que corrigi-las em seu único tempo livre, dando as piores notas possíveis. Então, eles dividiam o trabalho; Severo ficava com as teóricas, Lis e Escórpio testavam as práticas, colocando-as em plantas ou até mesmo bebendo quando não parecia ser muito perigoso; a maioria dava para julgar apenas pela cor e aspecto.

A  ruiva sempre mantinha um olho para ver os que se destacavam. Havia diferença entre quem era um aluno empenhado, como Escórpio e Rose, que estudavam para executar o trabalho com perfeição, e os realmente talentosos, como, modéstia à parte, ela própria e o pai. Pessoas cuja técnica podia não ser impecável, mas o resultado saía melhor que se tivessem seguido a receita à risca; pessoas assim criavam o próprio modo de fazer poções. Era nesse tipo de aluno que Severo deveria investir.

— Então, resolveu seus problemas?

— Que problemas? São vários, seja mais específico.

— Sua misteriosa indecisão.

— Não, mas tenho um prazo para decidir o que vai ser.

— E qual é?

— Você vai descobrir quando acabar.

— Ok… A Kaleen aceitou usar o vestido que você desenhou?

— Sim. Como eu já imaginava, ela amou, ou… bem, eu acho que amou, é difícil saber quando se trata dela.

— Uhum, e você não vai me mostrar.

— Que bom que me conhece tão bem — ela voltou às suas anotações, dando nota baixa a um menino que transformara um antídoto simples em um veneno — como vão as coisas com a Rose?

— Bem. Ela melhorou a forma de me tratar, e apenas ri e me chama de idiota quando falo sobre ficarmos; com certeza bem melhor que me atirar coisas, como já fez uma vez — Lis riu, escondendo a boca.

— Escórpio, ela está apaixonada! Que fofo!

— Apaixonada? — ele parecia muito confuso, garotos…

— É Escorpio, apaixonada; aposto que se você tentasse beijá-la, ela não conseguiria recusar. Tá caidinha por você.

— Não sei não — ele parecia ter levado um murro, pela cara — Não quero forçar nada.

— Você que sabe — ela deu de ombros.

— Você já tem par pro baile?

— Talvez.

— Quem?

— Não, nem venha. Achou que eu não ia descobrir a aposta? No dia do baile vocês descobrem.

— Não aguento mais você fazendo mistério com tudo.

— A culpa é de vocês, agora aguente. Se não tivesse apostado, saberia com quem eu vou.

— Então você tem um par.

— Tenho, Escórpio, o Pirraça. Ele me chamou para dançar com ele — o garoto riu, e anotou algo, trocando a poção que olhava.

— Mas então… — Lis se preparou, o tom de voz dele sugeria que iria falar algo para irritá-la — Você definitivamente gosta do James, não é?

A reação de Lis foi tão rápida que Escórpio nem viu quando foi atingido por um rolo de pergaminho e caiu da cadeira, espalhando poções pelo chão ao tentar se apoiar na mesa. O barulho alertou Severo, que entrou, encontrando o afilhado no chão, rodeado de poções que se misturavam perigosamente, e a filha, cobrindo a boca, tentando não rir, meio assustada com o que fizera.

A ruiva quase se encolheu, esperando que seu pai bradasse, esbravejasse e os expulsasse da sala, mas ele olhou dela para o garoto, diversas vezes, com um brilho de diversão nos olhos, e gargalhou; Lis não o via fazer aquilo, com tanta espontaneidade, há muito tempo, talvez anos, e o acompanhou, surpresa, se sentando ao quase não conseguir respirar de tanto rir. Era seu primeiro dia feliz em muito tempo.

 


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