Still Alive escrita por Jubs Malfoy


Capítulo 18
Não me provoque




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/721923/chapter/18

A neve começara a cair já a alguns dias, e isso, para pessoas como James, significava guerras de neve diárias durante o caminho das estufas para o castelo ou nas horas de descanso. Na verdade, James amava o inverno. Não apenas por causa da diversão ou das comidas quentes e gostosas; não, ele amava os tons da estação, o branco puro, o azul gelo, o cinza; amava a beleza dos flocos caindo. E ali estava o motivo principal para ele adorar, de verdade, a época: Lily e Lis.

Potter crescera cercado de ruivos, e sempre se encantou com a forma que os cabelos combinavam com as cores de todas as estações, mas os delas eram diferentes, mais claros que os dos outros Weasley e contra a neve e os tons escuros das roupas, ganhavam um tom acobreado totalmente novo e único.

Se aproximando das duas, James reparou como ficaram parecidas, agora que Lily não era mais uma criança. Os mesmos cabelos alaranjados, as bochechas coradas pelo frio, realçando as poucas sardas, embora Lis escondesse as dela com qualquer que fosse o método que usava para cobri-las, a mesma altura e a mesma silhueta esguia mas trabalhada em curvas, poderiam até ser irmãs, se não fosse pelos rostos. Não eram apenas os olhos, os de Lily da cor de amêndoas e os da Lis de um azul congelante, não... O rosto de sua irmã delatava a menina corajosa e ousada que era, alguém com quem não se deve mexer se não consegue dar conta, a postura imponente mas desleixada que fazia metade dos garotos do castelo correrem atrás, e a outra, correr dela.

Já o de Lis, bem, James não dera muito pela francesa quando a conhecera. As mãos delicadas, unhas bem feitas, gestos fluidos e postura da realeza. Os traços do rosto eram delicados, como os de uma boneca, a boca bem desenhada, o nariz perfeito e os cílios grossos e longos ao redor dos olhos brilhantes. Mais uma garota meiga. Até que ela sorriu. Aquele sorriso que denunciava a loucura interior, que o próprio James tinha e deixava sua mãe preocupada pois geralmente significava que sua mente trabalhava planos engenhosos e perigosos. James amava aquele sorriso.

Abaixando-se, pegou um punhado de neve que transformou em uma bola, jogando em sua irmã, que apenas levantou o braço para se proteger, fazendo uma careta. A neve respingou em Lis que desviou e o olhou com as sobrancelhas arqueadas e uma expressão exasperada. Uma perfeita Lady. Ele queria ver se conseguiria ser tão perfeitinha assim coberta de neve.

O Potter pegou mais uma bola e arremessou na direção da amiga, acertando sua roupa. Ela, aceitando o desafio, pegou sua própria munição para jogar nele, mas ele já se preparava, e arremessaram ao mesmo tempo, ambos desviando. Tudo bem, seria do modo antigo, então. Pegando um pouco da neve fria, foi em direção a ela, mirando em seu cabelo, mas ela o prendeu e usou a neve que ele próprio carregava para molhá-lo.

James a agarrou pela cintura e acertou a perna nas dela, jogando-a no chão, caindo por cima dela, mas ela rolou, querendo se livrar e, em segundos, estavam os dois rolando juntos pela ladeira que James subira minutos antes.

Ele terminou por cima, ela deu um gritinho quando pararam e começou a rir, não, a gargalhar, deliciosamente. Estava com neve nos cabelos e na roupa e, Merlin! Ela podia ficar perfeita mesmo coberta de neve. James a encarou, contemplando os tons, seu sorriso. Aquela distração lhe custou, e ele não viu como, mas logo ela estava acima dele, mais especificamente, sentada no peito dele. Suas pernas o prendiam firmemente no chão e ela encheu uma mão de neve e o acertou no rosto, rindo.

— Não me provoque a menos que consiga lidar com isso.

A lateral de James doeu com a força com que ela o segurava. Tinham treinado com espadas de verdade naquelas últimas semanas e, no começo, ela pegara leve, mas naquele dia ele acabara com um corte debaixo do braço e diversos hematomas que, pela dor que causaram, teriam sido cortes fundos se ela não o acertasse apenas com a lateral da arma. A própria Lis tinha apenas um arranhão no pulso de quando James não conseguira controlar o lado que acertaria e ela se defendeu com o braço.

Lis tirou o cabelo dele do rosto e o olhou como se fosse dizer algo, mas:

— Merda — ele se espantou com a força da palavra, ela se levantou — seu ferimento abriu com essa guerrinha que você inventou.

De fato, agora sua camisa estava manchada de sangue, a pele latejava.

— Levante, deixe-me ver — ele levantou e subiu a camisa, qualquer garota teria parado para admirar seus músculos, mas Lis apenas focou o corte com olhar experiente — acho melhor você ir para a Madame Longbottom e fazer um curativo nisso aí.

— Vai parecer estranho, não vai? Não quero levantar perguntas ou suspeitas— ela tirou os olhos de seu peito e deu um sorriso divertido.

— Então que bom que ela não pergunta muito, não é?

James abaixou a camisa e suspirou, veria a enfermeira mais tarde.

— Tem planos para hoje?

— Nikolai me chamou para um passeio em Hogsmead. Planejo ir. Nunca saí com ele.

— Vocês estão namorando? — não sabia porque fizera aquela pergunta, mas já era.

— Han? James, você já me viu, algum dia, namorando alguém? — era verdade, ela nunca namorara, apesar dos vários garotos com quem saíra — Não tenho vocação pra ser namorada. Não sei ter que dar satisfação a alguém, não estou dando ao meu pai, quanto mais.

— Por que você precisaria?

— Por que é o esperado.

— Não por mim.

— Você é um dos poucos.

— E Nikolai?

— Já quer se meter na minha vida sem ser meu namorado, imagine sendo — um gesto de varinha e a roupa já estava seca — agora, vou encontrá-lo, e você, cuide desse machucado — uma ordem, impassível, mas... Ela se aproximou, encostando a mão em seu peito, com uma delicadeza de cortar o coração, a testa franzida — estou falando sério — a única prova de que se importava. Deu um beijo rápido em seu rosto e se foi.

James decidiu ir a Hogsmead também, dando a si mesmo a justificativa de que ficaria sozinho se não fosse, pois todos os seus amigos iriam; aparentemente, ele era o único sem companhia, já que Lily e Lorcan estavam saindo, assim como Maia e Alvo, Escórpio e Kaleen, e Lis com Nikolai.

Pegou a última carruagem guiada pelos animais invisíveis depois de passar na Ala Hospitalar. Graças a Merlin, a Madame Longbottom só fazia perguntas pertinentes ao tratamento, e não exigia mais explicações. O corte fora fundo, mas não o suficiente para ser preocupantes, então ela apenas enfaixou com um unguento cicatrizante e o expulsou da enfermaria.

O Potter andou meio sem rumo, nunca havia ido a Hogsmead sozinho, e decidiu que nunca faria isso de novo. Encontrou Lis e companhia em uma cafeteria e ela, parecendo sentir sua presença, o encarou pela vitrine, sorrindo, então olhou para uma cadeira vazia à mesa, claramente dizendo: Não fique aí sozinho, entre.

James olhou para o Nikolai, sentado em um banco duplo com ela. Ele não vai gostar muito. Lis revirou os olhos azuis. Quem Liga? dando de ombros, entrou na pequena lanchonete, cumprimentando a todos. Lis e Nikolai eram os únicos a dividirem o lugar, Kaleen estava no lado oposto ao casal na mesa quadrada e Escórpio ocupava uma cadeira em frente ao lugar vazio entre as garotas.

O francês o olhou, e então indicou a cadeira vazia; um gesto que, vindo dele, era bastante acolhedor. Para falar a verdade, Nikolai estava até sendo cortês nos últimos dias, o que James imaginava ser resultado de alguma chantagem de Lis. A ruiva levantou, mas James a segurou pelo pulso.

— Vai pegar o pedido no balcão?

— Sim.

— Deixa, eu pego; aproveito e peço algo para mim também — ela o olhou e sorriu, agradecendo, então voltou a sentar enquanto o amigo deixava a mesa.

Potter foi para a área de atendimento. O grupo pedira alguns pães, biscoitos e um pedaço de bolo, fora os cafés, então ele pediu um pedaço do mesmo bolo veludo vermelho e um capuccino com marshmallow e canela, igual a um que estava na bandeja, pois parecia delicioso.

Acomodando tudo em duas bandejas, foi levando o lanche para a mesa. Colocou a primeira, mas a segunda estava apoiada no braço ferido, que falhou com o peso. Como se pressentisse o que aconteceria, Lis apoiou a bandeja, os olhos alarmados e James a tranquilizou com um sorriso.

—  Não consegue carregar uma bandeja sem ajuda, Potter? — Liz fuzilou o lorde com os olhos, mas deixou que se defendesse sozinho.

— Sua querida Lis me feriu com a espada mais cedo — que a culpa fosse dela, então.

— E pelo seu estado, sem espadas até semana que vem, somente luta corporal até então — ele fez uma careta, ela o estava punindo, odiava aquele tipo de luta. Lis apenas piscou e pegou um dos pedaços de bolo e um capuccino igual ao que James havia pedido, e o Potter notou que os pedidos coincidentes não passaram despercebidos aos olhos do francês.

— Achei que as mulheres da nossa corte não treinavam para a luta — foi Kaleen quem falou, e James reparou que nunca a ouvira falar antes; sua voz era suave e baixa, com um leve desinteresse naturalizado.

— Meu avô fez com que eu estivesse nos ringues de treinamento assim que pus os pés na França.

Nikolai a abraçou, colocando o braço por cima do ombros da garota. James apenas observou, ela odiava ser abraçada daquele jeito e, pelo sorriso amarelo, não era a primeira vez que ele fazia isso. A ruiva endireitou a coluna, fazendo a mão do companheiro deslizar para a cintura, então reparou que o amigo olhava.

O que foi? Ela arqueou as sobrancelhas, as palavras explícitas naqueles olhos gelados. Naaada, era o que dizia o sorriso divertido dele enquanto se espreguiçava, colocando a mão na nuca. Ela mordeu o lábio e os olhos se enrugaram em uma risada que ela não deixou sair. Ao invés disso, se levantou, murmurando que ia ao banheiro. Passando por ele, arranhou um pouco o seu pescoço com as unhas afiadas, um aviso.

— Presunçoso ridículo — ela falou baixo demais para os outros entenderem, mas ainda assim eles o olharam quanto o próprio a observava se afastar. Merlin, aquela garota iria matá-lo, se não com palavras e olhares, pelas mãos do lorde que agora o fuzilava.

 

***

 

Encontre Lis. Um comando que seria simples, caso James ao menos fizesse ideia de onde procurar. Pensou em possibilidades enquanto saía da sala do Professor Snape e, depois de eliminar a Sala Precisa e o Salão da Grifinória com mero pensamento, decidiu que a acharia na Sonserina, a menos que estivesse em algum canto escuro com Nikolai.

Como a segunda opção não acontecia há umas duas semanas, seguiu para as masmorras. As cobras sibilaram, dando passagem, e James não precisou procurar a ruiva, que estava em uma poltrona perto da lareira, sentada no colo do lorde francês, o rosto colado ao dele em um beijo entretido. O Potter não sabia como ela fazia aquilo, mas sem nem mesmo olhar para trás, e sem sem que ele se anunciasse, ela falou:

— Meu pai te mandou pra me chamar, Jay? — ele murmurou que sim, e ela levantou depois de sussurrar algo para o Nikolai, então juntou ao braço do James e saiu com ele da sala sem se despedir ou olhar para trás.

O garoto entendia a raiva do francês. Com seis anos de convivência, já se acostumara com a irreverência e aparente indiferença da ruiva, mas aquilo deveria deixar o lorde, acostumado a reverências e controle, completamente louco. Eles já estavam quase no meio do caminho quando ela falou alguma coisa.

— Vou terminar com ele, eu acho — certo, ela com certeza o surpreendeu com aquela frase.

— Por quê? Achei que estavam indo bem. Você gosta dele, não gosta?

— Gosto… Não gosto das intenções dele.

— Te levar para a cama?

— Não… Casamento.

— Oi?

— É… É complicado. Garotas da minha idade, na nossa corte, geralmente estão noivas a essa altura. E… sequer me prender a ele, mesmo que apenas namorando, significa me algemar ao ninho de cobras que sempre odiei. Além do mais, se for para dar ao meu avô o gostinho de me ver casada antes de sua morte, que seja com alguém que eu seja apaixonada, que eu ame.

— O que a morte do seu avô tem a ver com sua vida amorosa?

— Se ele morrer enquanto estou solteira, tem que dividir a propriedade entre mim e meu tio, pela metade — ele a olhou, assustado. Ela tem um tio? — Sim, James, eu tenho um tio. Continuando, se eu me casar, tudo o que ele me deve é um dote; talvez o pedaço de terra que os Pelletier lutam tanto para ter; não estaria além dele cedê-lo para se ver livre de mim.

A voz dela era triste, talvez magoada, ao dizer aquilo, e então o silêncio imperou por um tempo, até que uma de suas frases saltasse na mente de James.

— Espera, você não está apaixonada por ele?

— Não — ela respondeu com simplicidade, apenas um fato. Um fato que fazia o coração de James perder o compasso — achei que iria, mas… Não rolou.

— O que te impediu? Ou… Quem? — ele a parou, perto da sala onde deveriam entrar — Você está apaixonada por outra pessoa, Lis? — ela suspirou.

— James, eu não admito essas coisas nem para mim mesma, que dirá para você.

— Mas existe alguém — ele a segurou pelo braço, e ela desviou os olhos para o chão, embora tenha sido para James que ela olhou ao responder.

— Sim, existe alguém, mas não sei ainda o que eu sinto, ou o que eu tenho com essa pessoa; é tudo muito confuso. Quando eu descobrir, você será o primeiro a saber, eu prometo — ela andou para a porta — pode me esperar aqui? Será rápido — ele assentiu, e ela entrou.

Todos da Sonserina a partir do 4º ano estavam na sala, Snape começou a falar quando viu a filha chegar, anunciando e contando a história do Baile de Inverno. James já sabia o que ele falaria, pois Minerva havia contado para a Grifinória mais cedo, pedindo que os alunos não se comportassem como babuínos bobocas balbuciando em bando.

E então o professor chamou Lis e Escórpio para o centro do salão no qual os alunos estavam divididos entre meninos e meninas; óbvio, ele não faria como a McGonagall e convidaria uma das alunas para dançar. O Malfoy se posicionou com a amiga, a mão em sua cintura acentuada pelo vestido de veludo vinho, a outra na mão dela, a posição inicial de uma valsa. Quando a música tocou e eles começaram, James ficou boquiaberto.

Scorp era bom, mas Lis… James achava que nunca conseguiria encontrar palavras para descrever o modo como ela dançava. Ela rodava pelo salão, acompanhando o ritmo da música perfeitamente, como se fosse parte dela, o vestido voando ao seu redor, dando ênfase a cada movimento; seus pés nem pareciam tocar no chão, tamanha era a leveza de seus passos, e cada gesto, cada giro, era como se ela fosse feita de névoa, ou água, algo fluido e leve, sem amarras ou peso que a prendesse. Um leve sorriso permanecia em seu rosto a cada nota da melodia constante.

Um lampejo da verdadeira Lis, percebeu, sem as muitas máscaras que ela usava diariamente. Ao constatar isso, se permitiu pensar no que ela dissera. Imaginou se ela havia reparado que era a primeira vez que afirmara não saber o que sentia por alguém. Em todos aqueles anos, com todos os garotos que já passaram em sua vida, ela sempre sabia exatamente o que sentia por eles, sempre deixou bem claro; inclusive com ele próprio, embora ela nunca tivesse expressado em palavras.

Ele havia chegado em Hogwarts com o objetivo de conquistá-la, depois de ela passar meses sem falar com ele, sem escrever nenhuma carta sequer; James sabia que a culpa era dele, mas não sabia, mesmo então, o que havia feito. E então veio o Nikolai, quando ele estava começando a se reaproximar, e James não reclamou, nunca disse a ela que não a queria com ele, apesar das brincadeiras; a escolha era dela, com o Nikolai, e com quer que fosse a pessoa misteriosa que ocupava seus pensamentos. Ele não iria prendê-la, nem ao menos tentaria.

A música parou e Severo encorajou os pares a se formarem, eles precisariam ao menos saber o básico para não passarem vergonha no baile. Lis deslizou entre as pessoas, na direção de James, a euforia ainda em seus olhos.

— Vem, dança comigo, Jay — ela estendeu a mão.

— An… não — ela recuou, e ele viu o brilho sumir dos seus olhos, assim como o sorriso, então se apressou e pegou a mão dela — Não é que eu não queira, é que… Eu não danço.

— Você não sabe dançar — ela balançou a cabeça — isso explica muita coisa… Quer que eu te ensine?

— Fala sério?

— Sim, você é o Campeão de Hogwarts, um dos primeiros a dançar no baile, precisa saber. Começamos amanhã.

— Certo… Obrigado.

— Vou voltar para a Sonserina, Nikolai está me esperando.

 

***

 

Lis parou em frente à porta da Sonserina. Queria fazer aquilo, precisava fazer aquilo, mas por que ela se sentia tão culpada? Ele era controlador, um lorde mimado acostumado a sempre ter o que quer, nunca iria dar certo, iria contra a sua personalidade livre, quase indomável. Tinha que acabar com aquilo, pois, mesmo com tantas incertezas que agora rodeavam a sua vida, a única coisa certa era que não passaria o resto dela com as raízes fincadas em um castelo de pedra.

As cobras abriram passagem quando as cumprimentou, sem nem mesmo ter energia para lembrar da senha que seu pai trocara pela manhã. Nikolai a esperava na mesma poltrona em que ela o havia deixado minutos antes. Seu coração apertou pelo que faria, mas seguiu na direção dele com passos silenciosos, então se sentou em um pufe em frente à poltrona dele, encarando-o.

— Ah, não… — ele apoiou o rosto em uma das mãos, apertando os lábios.

— Ah, não o que, Nik? Eu nem disse nada.

— Conheço esse olhar de quem vai dar uma má notícia, mas não quer, realmente, dizer… você vai terminar comigo — ele disse, a compreensão expressa no rosto — é isso não é? Você vai terminar comigo — ela não conseguiu respondeu, apenas assentiu com a cabeça — foi algo que eu fiz?

— Não, Nik… se fosse por isso teria terminado há semanas, no torneio. Não… você sabe que não entrei nisso por paixão ou algo parecido, sempre foi apenas, sei lá, atração. Gostei de você no baile,e não consegui te tirar da cabeça, mas… não é como se quisesse namorar você ou algo do tipo.

— É, eu sei, sempre soube; mas esperava conseguir despertar algo em você.

— Não foi isso que aconteceu, então é melhor acabar aqui, agora, antes que alguém se machuque.

— Certo… Você pode apenas me dar um último beijo?

Ela respondeu colando os lábios aos dele em um beijo suave, deixando que se demorasse; se ela não o conhecesse bem, poderia achar que ouvira seu coração se partindo. Então se afastou, e levantou, deixando a sala; somente percebeu que deveria ter sido ele ao sair. Não parou, no entanto, percebendo que tinha para onde ir.

A mulher gorda a cumprimentou ao abrir a porta. A sala da grifinória já estava escura, e vazia, com exceção dos cabelos castanhos espetados em frente à lareira. Andou devagar, silenciosa como uma sombra e tapou os olhos deles com as mãos.

— Opa, quem será? — ela sorriu, mas permaneceu calada, ele inspirou profundamente — Então tenho que adivinhar, já que não vai falar.

O coração de Lis perdeu o compasso com o carinho com que ele tocou suas mãos, traçando cada dedo com delicadeza e bem lentamente, parando um pouco no anel de pedra negra no dedo anelar, uma lembrança de sua mãe, e na pulseira, presente que ganhara do Escórpio. Então pegou seus pulsos, afastando-os do rosto; a ruiva estava tão paralisada que nem protestou.

— Você achou — ele beijou um dos pulsos — que eu não te reconheceria — ele beijou o outro — Lis? — ele falou o seu nome enquanto soltava suas mãos e então olhou para ela — Senti seu cheiro de rosas assim que se aproximou.

Ela sorriu, e o olhou, então o sorriso murchou em seu rosto.

— Terminei com ele — James se endireitou imediatamente, e, pegando-a pela mão, a guiou para que se sentasse ao lado dele no sofá, então a abraçou, enquanto ela encarava o fogo crepitante na lareira.

— É mesmo? E como você está? — James começou a mexer em seu cabelo, perto da nuca, e ela fechou os olhos, apreciando a carícia.

— Estou bem; me senti meio culpada no começo, mas… acho que ele entendeu porque eu tive que romper.

— Ele vai acabar dizendo que terminou por minha causa.

— Aí já não é problema meu — James havia parado de mexer em seu cabelo e ela o olhou, indignada. Por que parou? Ele recomeçou imediatamente.

— Está carente, hoje.

— Estou, e agora que não tenho mais o Nikolai, você vai ter que lidar com isso.

— Sou substituto dele, então? — a voz dela ao responder era tão baixa que ele quase não escutou.

— Não, você nunca será substituto de ninguém, James. Nunca — ela enfatizou a última palavra ao olhar para ele, e então olhou para o livro de transfiguração que estava no braço do sofá — Eu te atrapalhei?

— Você nunca atrapalha, sabe disso. Apenas interrompi minha leitura para dar atenção à minha linda amiga.

— E quem é essa? Eu conheço? — ele riu e beliscou seu nariz — Tem algum livro interessante para que possa acompanhá-lo nesse prazeroso passatempo?

— Deve ter algum em meu quarto, Tia Hermione me mandou essa semana.

Lis levantou e subiu correndo as escadas para o dormitório masculino. Franziu o nariz para a bagunça que encontrou, meninos. Abriu o baú de James, estava cheio de papéis e algumas ervas, o que geralmente indicava que ele estava planejando algo; pensou em olhá-los mas preferia quando era surpreendida pelos planos dele e, se ele a deixara subir, era porque confiava que ela não fosse se meter nos negócios dele. Então apenas pegou um livro que pareceu curioso e desceu para a Sala.

Uma garota estava perto de James, rindo de algum comentário que ele havia feito, e ela parou. Ele a viu, sorriu, e disse para que se aproximasse; a garota a olhou apenas uma vez antes de dar um aceno sem graça e sair.

— Já está recebendo convites para o baile?

— Quem faz o convite sou eu, e não elas.

— E já sabe quem vai levar?

— Quando eu descobrir, moça, você será a primeira a saber — ela riu e ele fez um gesto para que se aproximasse, então a deitou no colo, mexendo em seu cabelo. Ela fechou os olhos, se aninhando — Você não é melhor que um gato manhoso, sabia? — a única resposta dela foi um grunhido — Você não ia ler? — Ela pretendia responder, mas o cansaço pesou em sua cabeça, em seus músculos, e a risada dele foi a última coisa que ouviu antes de cair no sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Still Alive" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.