Inumana. escrita por Warden Dresden


Capítulo 2
A disformidade característica dos defeitos humanos.


Notas iniciais do capítulo

Então, eu voltei com meus textos para cá e, dessa vez, com foco nas inseguranças porque ninguém é de ferro e todo mundo sente alguma em qualquer momento da vida. Espero que gostem, porque eu adoro escrever isso.

AVISO:

Gente, sem comentários, isso daqui fica em hiatus! É bem triste dar tudo de si para fazer algo legal e passar batido, notado e ignorado.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/721826/chapter/2

Você encara seu próprio reflexo no espelho com uma insatisfação crescente. Sem dúvidas, seu último namorado estava certo quando disse que não passa de uma gorda estúpida que não sabe fazer nada direito. As palavras deles machucam, mas é impossível não encarar a verdade – está gorda e algumas estrias começam a aparecer nas suas coxas, o que já é praticamente um sinal de alerta que não pode ignorar. Quem vai te querer se for feia como é agora, afinal? 

As linhas vermelhas passeiam livremente por suas pernas e sabe, por conta de diversas reclamações de sua mãe, que elas irão se tornar roxas e, por fim, brancas como vermes se não as tratar o mais rápido que pode e deve. Respira fundo e arrasta os dedos pelas marcas com consternação. Por que precisam aparecer junto em você e tantas outras garotas passam dias e mais dias comendo comidas gordurosas e continuam magras e lindas? É nesse momento que chega à conclusão que a sua genética é horrível.

Pensa, de imediato, em sua amiga. Confiante ao mais extremo dos níveis e confortável com qualquer situação. É quase ofensivo que ela tenha muitas, muitas estrias e celulites e ainda consiga relacionamentos mais estáveis que os seus. A imagem dela de braços dados com a tatuadora de fios rosados baixinha e explovisa enquanto come um pedaço de torta faz sua garganta apertar em uma mistura de raiva, ciúmes, tristeza e dúvida. Você nunca irá ser tão bonita ou confiante quanto ela e seus defeitos que nem sequer parecem defeitos. 

A imagem no espelho parece rir de sua dúvida e ressentimento. As poucas – ainda, uma vozinha debochada grita em seus ouvidos, ainda – estrias parecem atrair sua atenção como uma luz em um cômodo escuro. E é impossível ignorar cada área um pouco menos impecável de seu corpo e não pensar em como seu antigo namorado olhava para você com aquele estranho olhar de adoração. Sabe de modo intuitivo que ele ou fingia muito bem ou ainda não era tão imperfeita e falhada quanto é agora. 

A constatação bagunça seu emocional – imperfeita, falhada, insuficiente – e lágrimas começam a descer. O reflexo parece debochar de cada uma de suas tentativas de engolir o choro e voltar à procurar seus defeitos, e assim persiste chorando e chorando como não se lembra de chorar há meses, talvez anos. Soa como uma desculpa para se quebrar dessa forma, seus erros são tão grotescos que a própria consciência quer lamentá-los como se fossem um tipo de tragédia nacional – irônico, é uma tragédia para você. 

Acaricia lentamente o corpo e descobre mais locais que odeia e odeia e não sabia que existiam. Cada um deles é como uma faca entrando mais e mais fundo, até encontrar a alma e dilacerar. Dói, dói demais e você se pergunta se um dia doerá menos. E se questiona também por qual motivo existem pessoas que não têm aqueles defeitos e outras que lidam tão bem com eles que parecem perfeitas? Tantas garotas na sua classe de direito são angelicais, e sua amiga, melhor amiga, anda esbanjando bom humor perante as críticas. 

Você a ama e a odeia com tudo o que existe dentro de você e os comentários que outras alunas fazem sobre o término do seu namoro são agulhas sob a pele, ferindo aos poucos e com uma precisão que a faz querer morrer e as matar. Nada é pior do que a raiva pura de seu corpo que ignora todos os seus esforços e tende à permanecer aquela bagunça odiosa e imperfeita, disforme e repulsiva que ninguém olha, que ninguém ousa elogiar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, gostaram? Bem, deixem críticas, sugestões, elogios e correções nos comentários que ficarei muito feliz em respondê-los!

Abraços,

Palavra Perdida.