Fênix Negra escrita por FireboltVioleta


Capítulo 26
Erro




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Assim que o dia havia amanhecido, Renato e Nora haviam deixado a pensão, à procura de suprimentos para o caso de prosseguirem viagem nos próximos dias, ou reabastecer na eventualidade de qualquer emergência.

Sendo assim, apenas Rayane e Hermione haviam permanecido na pousada, aguardando o retorno dos dois bruxos, responsabilizando-se pela vigilância do local.

Hermione mal virou a cabeça quando Rayane se aproximou, carregando uma pequena manta nos braços. Havia se dedicado quase toda a manhã a cobrir as janelas com lençóis, tentando conter a congelante ventania que tinha começado a invadir as residências do vilarejo, devido à brusca mudança climática do litoral.

— Posso me sentar?

A bruxa fitou-a, assentindo lentamente, apontando com o queixo para uma das poltronas esverdeadas da sala.

Rayane acomodou-se na outra poltrona do cômodo, encolhida contra o móvel, parecendo curiosamente hesitante.

— Não parece estar aqui só para descansar – observou Weasley secamente, erguendo uma sobrancelha na direção da garota.

— De fato – Blink ofegou – não estou.

Um leve laivo de curiosidade pareceu percorrer o olhar inexpressivo de Hermione.

— Agora que estamos finalmente a sós – pontuou – acho que podemos nos dar ao luxo de nos conhecermos melhor, Blink… e conhecermos alguns segredos pessoais… se assim quiser.

— Claro – concordou a jovem, contraindo as mãos contra o corpo – acho… que é justo.

— Pois bem… - as íris castanhas a espreitaram seriamente – acho que você pode começar falando tudo que sabe sobre o ritual usado para o kindermoord.

Observou Rayane enrijecer, soltando um longo arquejo.

— O… kindermoord?

Hermione fitou-a. Sua boca contorceu-se levemente, formando uma linha rígida.

— Você esteve lá, não é? Por isso estava com os Comensais da Morte – deduziu – o que viu? Sabe de algo que possa nos levar até a Serpente, Blink?

Era uma memória que Rayane lutava para esquecer. A escuridão. Os gritos infantis. OS brados tresvariados. A tragédia que aconteceu em seguida.

— Eu…  não vi muito – confessou Rayane – me mantive… longe. Fechei os olhos – sua voz minguou, até tornar-se pouco mais que um sussurro – havia… uma criança – estremeceu ao se recordar – num altar… amarrada.

O rosto de Hermione empalideceu.

— Você a viu? - indagou, aturdida.

— Sim… uma… garotinha. Devia ter uns cinco… seis anos… eu acho – prosseguiu, tensa – ela gritava… chorava muito. Então Blackhole se aproximou… proferiu a maldição... ergueu uma adaga contra ela… e aí…

Não conseguiu continuar. O som da adaga mergulhando ainda parecia reverberar dentro de sua cabeça, repassando as terríveis memórias daquele dia.

Hermione retraiu-se.

— Uma criança. Uma garotinha – repetiu – nenhuma família deu queixa do desaparecimento de uma criança… - voltou a olhar para Rayane – então…

— É – a moça supôs, perturbada – eu imagino… que ela fosse a filha… de um dos Comensais. Provavelmente de sangue puro, já que foi a mediadora… para a morte de todas as crianças bruxas e mestiças.

— Você chegou a saber de qual…?

— O quê? Não! - ofegou a menina – eles simplesmente a levaram… não nos deram qualquer detalhe. Apenas… - concluiu, amargurada – nos fizeram assistir.

— Nenhum deles teria aceitado isso de cabeça baixa – rebateu Hermione – nenhum deles, por pior que fosse, sacrificaria um filho inocente para esta causa… - grunhiu em tom baixo – tanto que apenas as crianças aparentadas com Comensais da Morte sobreviveram. A família desta vítima… usou-a deliberadamente neste ritual.

Rayane arquejou, compreendendo.

— Acha que…?

— Achar? - a bruxa deu uma risada cínica – não. Eu tenho certeza. Seja quem for a Serpente… - seu timbre tornou-se sombrio e gélido – agora sabemos que teve sangue frio o bastante… para assassinar a própria família.

Percebeu que Rayane enregelou-se, saltando o olhar.

Aquilo levava a outra questão importante. Se a criança sacrificada era, de fato, a única que não havia sido comunicada ao Ministério da Magia, seria uma questão de tempo para averiguar qual havia sido o único registro omitido pelas terríveis baixas causadas pelo kindermoord.

E se achassem a criança… descobririam quem era a Serpente.

Era tão óbvio agora, que Hermione refreava a vontade de se estapear pela própria burrice.

— Poderíamos ter descoberto isto em Londres – vociferou, erguendo-se da poltrona, socando a mesa de centro no ato – como pude ser tão estúpida??

— Podemos procurar por informações aqui em Coquelles – comentou Blink – tenho certeza de que os aldeões podem ter visto algum acontecimento incomum por aqui. Isso poderia nos levar ao esconderijo da Serpente. Se quiser… eu e Nora podemos fazer uma caminhada de reconhecimento pelo local… e conversar discretamente com os cidadãos da província.

— Sim, sim – surpresa, Rayane a viu assentir em concordância – não é má ideia, Blink. Realmente não é má ideia.

Repentinamente, Hermione levou uma das mãos à cabeça, sentindo uma desagradável pontada sobre a testa.

— Weasley…?

— Estou bem – resmungou, sacudindo a cabeça – é só… uma crise nervosa.

Mesmo que o período em que havia passado ao lado dela fosse relativamente curto, Rayane percebia que havia algo muito diferente em Hermione.

Fosse por seu comportamento ultimamente impulsivo, ou pela predisposição que Hermione havia demonstrado em fraquejar momentaneamente, durante a viagem do quarteto pelo Eurotúnel, Rayane tinha certeza que alguma coisa estava fora do comum ali.

— Estava passando mal ontem à noite – observou.

— Já disse que estou bem, Blink – olhou-a exasperadamente, tentando se focar – pare de se preocupar com bobagens!

A garota guinchou alto, também pondo-se de pé.

Já havia visto aquilo incontáveis vezes, enquanto ainda morava com Mariah, muito antes de Bryan nascer.

Era impossível.

A maldição jamais teria permitido.

Exceto… se tivesse ocorrido horas depois do ritual.

— Weasley… - disse lentamente – dores de cabeça… crises de choro… algias no corpo – suspirou – você já passou por isso – afirmou, vincando as sobrancelhas, num misto de pena e sobressalto – e sabe o que significa. É uma possibilidade. Estiveram juntos… poucas horas antes do ritual, não é?

Hermione recuou vários passos, saltando o olhar.

— Não.

Aquilo não podia acontecer.

Não ali. Não agora..

As palavras seguintes de Rayane atingiram-na com a força de uma marreta.

— Sim… - sacudiu a cabeça – por alguma razão… de alguma maneira milagrosa… um esgar preocupado brotou no rosto da garota – provavelmente a senhora está grávida.

































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