Fênix Negra escrita por FireboltVioleta


Capítulo 25
A Pensão de Coquelles




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/721820/chapter/25

 

 

Coquelles era uma comuna francesa extremamente pacata e pequena - o que, de certa forma, foi uma agradável surpresa para Nora e Rayane.

— Menos de oito quilômetros quadrados – comentou Nora, relembrando da numeração que havia visto na placa de boas vindas do vilarejo – lugar ideal para passarmos despercebidos.

— È o  lugar ideal para qualquer um passar despercebido – corrigiu Hermione, num tom de fria censura – se a pessoa tomar todas as precauções necessárias.

Nora recuou um pouco, lançando um olhar de humor contido para Rayane.

— Me diz uma coisa – cochichou, conforme enredavam-se cada vez mais em meio á pequena comuna – será que ela sempre foi assim?

— Duvido muito – o sorriso de Rayane vacilou – eu a via nas fotos do Profeta Diário, sabe… ela sempre pareceu tão… viva. Tão feliz. Sobrevivente… a recém-casada… a mãe de uma bebê recém-nascida – sacudiu a cabeça – não posso culpá-la, Nora. O sofrimento pelo qual ela passou… qualquer mulher boa e decente também ficaria… assim.

O fato é que mesmos os sussurros penalizados de Blink ainda podiam ser ouvidos pela bruxa cabisbaixa que caminhava adiante.

Hermione suspirou, sacudindo a cabeça.

Ela de fato sentia-se uma assombração, cujo único propósito de ainda permanecer na Terra era o de vingar a morte de todas aquelas crianças.

De honrar a memória de sua pequena princesa.

Sentia-se como um corpo morto, perambulando sem rumo, cujos braços pesavam com o vazio que Rose havia deixado.

Colocou as mãos sobre a cabeça, resfolegando. Não podia se dar o luxo de deixar aquilo voltar a atingi-la outra vez.

— Há uma pensão aqui perto – sibilou, acossando-os para uma das esquinas – vamos pernoitar por aqui esta noite.






Nora esgarçou uma das lâminas da persiana que ocultava a janela, espreitando silenciosamente a ausência de movimento na rua, dois andares abaixo.

Numa tentativa de erguer uma atmosfera mais amigável com seus algozes, a jovem havia se oferecido para revezar a vigília com Rayane, possibilitando que Hermione e Renato dessem mais atenção á outros detalhes mais importantes.

— Só algumas pessoas transitando. Nada anormal – sussurrou para Blink – se eles desconfiaram de alguma coisa… ainda não sabem nossa localização.

Havia um tom angustiado em sua voz.

— Está preocupada, não é? - suspirou a garota, massageando a perna, que ainda se curava da hemorragia – com a sua família… - num movimento gentil, segurou a mão de Nora, afagando-a carinhosamente – eles ficarão bem, Nora. Você ouviu o que Cavallone disse… iremos salvá-los em breve.

Viu os olhos claros de Nora se voltarem em sua direção. Rayane viu um sorriso tímido brotar nos lábios da garota.

— Você é mesmo um anjo… sabia disso?

Segurou uma risada nervosa quando Stuart puxou sua mão, aninhando-a sobre o rosto. Sentiu seu coração saltitar, e sua pele ruborizar em reação ao toque.

— Nora… - suspirou – você….

— Não – cortou-a – eu não quero estragar o que aconteceu entre nós duas… por causa dessa missão suicida. Eu quero… manter isso. Independentemente do que vá acontecer.

Rayane não aguentou, sufocando o riso.

— O que? Acha que vou largar você com Weasley e fugir com Cavallone? - a ideia era tão absurda que a fez lacrimejar de humor.

Nora agarrou-se imediatamente á oportunidade de gracejar, apreciando aquele raríssimo momento de descontração.

— Ah, sei lá – deu de ombros – ele é bem bonito, não é?

De guarda baixa, surpreendeu-se quando Rayane a cingiu pela cintura, mordendo o lábio, como quem reprimia uma sonora gargalhada.

— Você é uma tonta, Nora – guinchou exasperadamente, afagando-lhe o ombro desnudo – até por que o rapaz está mais que interessado… em outra pessoa.

Nora arqueou uma sobrancelha incrédula.

— E você está interessada em alguém, Blink? – provocou-a.

— Talvez… - brincou, dando um beijo suave na testa de Nora – agora vamos parar com as gracinhas. Não queremos deixar aqueles dois com raiva.

Sorrindo, Stuart assentiu, voltando a espiar - juntamente de Rayane – o lado de fora da janela da pensão.





Renato havia percebido que os cochichos descuidados das duas ex-Comensais tinham afetado Hermione de forma extremamente negativa.

Desde o início da viagem, jamais a havia visto tão perturbada.

Após vários dias num torpor de insensibilidade e frieza, a mente da bruxa aparentava finalmente cobrar seu preço, reduzindo-a á um momento único de prostração e lágrimas.

Ela havia acabado de sair do banheiro ao lado do quarto, trêmula e lívida, como um animal arrastado e agredido contra sua vontade.

— Ah, la mia povera dolcezza…- encarou-a, segurando-lhe o queixo – tudo isso está exigindo muito de nós, non è vero?

A jovem ergueu o olhar inexpressivo para ele.

— Foi só uma crise de ânsia nervosa – replicou – já passou.

— Elas foram inconvenientes – titubeou Cavallone, grunhindo.

Hermione piscou, ainda sem esboçar qualquer emoção.

— Não posso julga-las. Eu só ouvi verdades – embora gélido, o olhar de Hermione estremeceu momentaneamente, com algum tipo de angústia velada -  eu… já não sou mais aquela bruxa que todos ainda se lembram – acrescentou hostilmente – aquela mulher morreu… no momento em que assassinaram nossas crianças.

Renato resfolegou, ainda abarcando o rosto da moça com a palma da mão.

Num impulso repentino, ignorando toda e qualquer cautela e sensatez, o bruxo inclinou-se, colando sua boca contra a dela, num inesperado e intenso beijo.

Embora uma das mãos tivesse fechado-se em punho, foi a outra que o empurrou violentamente, afastando-o num limite de mínimos segundos.

Cavallone ofegou, sentindo um rubor constrangido queimar sobre sua pele, vendo os olhos dela se anuviarem de cólera.

A palidez havia desaparecido, substituída por um intenso avermelhar enraivecido.

Ele nem fazia ideia do que diabos havia levado-o á fazer aquilo.

— Mi scusi – apressou-se em guinchar, retraído – eu não sei o que… - fechou os olhos com força, balançando a cabeça – foi… um momento de fraqueza.

Os olhos de Hermione rutilaram de modo ameaçador.

— Sim. Um momento de fraqueza – concordou severamente – que você nunca mais voltará a ter.

Ainda perturbado pelo que havia acabado de acontecer, Renato deu as costas, sem conseguir olhar outra vez pra Hermione.

Desta forma, não pôde ver suas mãos pousarem contra o peito, tentando abarcar o hediondo acelerar que aquilo havia causado em seu destroçado coração.





























Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fênix Negra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.