Fênix Negra escrita por FireboltVioleta


Capítulo 27
O Tempo e o Imprevisto




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O torpor de negação abandonou Hermione aos poucos.

Como num reflexo já predeterminado, suas mãos escorregaram pelo corpo, enfim repousando suavemente sobre o ventre.

Havia uma pequena – quase imperceptível – elevação ali.

O choque da realidade estalou-se sobre seu rosto, como um tapa violento, fazendo-a recuar. Rayane a encarou, retraída, esperando que manifestasse qualquer reação.

— Weasley…?

Seus punhos se contraíram.

— Isso… é um imprevisto – disse enfim, com o maxilar contraído.

Uma risada fraca e incrédula escapou dos lábios de Blink.

— Imprevisto? - repetiu, sem acreditar – Hermione… você está esperando um bebê – sibilou – precisamos voltar para a Inglaterra. Agora.

Uma parte de Hermione – a mais sensível e emocional, que havia mantido amordaçada durante dias – concordava com Rayane.

Nenhuma mulher gestante poderia prosseguir uma viagem daquelas, e se expor [a qualquer tipo de perigo. O instinto maternal - que havia perdido há tanto tempo - teria lhe dito imediatamente para abandonar sua missão suicida.

Pela lógica, já não se tratava mais apenas de sua própria vida.

Porém, sua mente, agora praticamente impenetrável, via aquilo não como um empecilho, mas apenas como mais um estímulo para prosseguir.

Se quisesse trazer aquela nova criança ao mundo, teria de ser num universo onde a Serpente já não existisse mais.

Faria aquilo… ou morreria tentando. Ou seu bebê vivia num lugar seguro… ou sequer teria a chance ver a luz do dia.

— Vamos continuar – grunhiu – não diga nada para Cavallone ou para sua amiga. Isso ficará apenas entre nós.

— Weasley…!

Hermione ergueu a varinha.

Rayane foi erguida do chão por alguns segundos, sendo arremessada violentamente contra os caixotes do pequeno depósito da pensão. Logo à seguir, foi arrastada pelo feitiço não verbal da bruxa, até ficar diante de seu rosto enfurecido.

— Eu ainda posso mudar de ideia sobre te manter viva, Blink – rosnou em tom de ameaça, apertando a ponta da varinha contra o pescoço dela – é só tentar se interpor em meu caminho.

— Eu só não quero… que mais crianças sofram – choramingou a garota, súplice – chega de mortes, Hermione… por favor.

Por um ínfimo momento, um laivo de tristeza pareceu varrer o olhar gélido de Hermione.

— E é por isso que estamos nesta jornada – sussurrou em tom baixo – para acabar com isso… de uma vez por todas.

Sua mão relaxou, ao que Rayane voltou a pousar no chão, ofegante.

— Você não entende… - guinchou, massageando a garganta – por que você? Por que não esperar o Ministério agir, Weasley?

— E depender deles analisarem toda a situação, enquanto nossos inimigos se fortalecem e fogem de nossas mãos? - um sorriso frio cortou seus lábios, formando uma expressão ameaçadora em seu rosto – prefiro eu mesma dar cabo desta situação.

Viu Rayane assentir, suspirando, ainda contorcendo o rosto de dor enquanto se retirava da sala. Hermione meneou a cabeça em resposta, voltando a baixar o olhar;

Uma coisa eu sei. Pensou, num misto de amargura e desolamento. Pode estar aí. Pode, talvez, ter vindo numa tentativa de me salvar da perdição.

Fechou os olhos, angustiada.

Mas nem mesmo você vai substituir o vazio de ter perdido o meu verdadeiro raio de sol.







Ronald já não sabia mais quanto tempo havia se passado. Havia perdido a noção do tempo, durante sua lenta caminhada em direção ao Eurotúnel, na desagradável companhia de Andrew Blackhole.

— Coma – ordenou Blackhole, colocando uma tigela de sopa entre suas mãos atadas  - preciso te manter vivo por muito tempo ainda, rapaz.

De maneira desafiadora, Rony virou a tigela contra chão, fazendo seu conteúdo despejar-se de maneira grotesca sobre a grama ressecada.

— Estou sem fome – mentiu, rilhando os dentes de fúria.

Andrew deu de ombros.

— Como quiser, garoto. Apenas não me vá começar a morrer no meio do caminho… - vociferou - ou farei questão de largar seu corpo em pedaços no pântano mais próximo.

O rapaz virou o rosto de maneira rude, decidido a não facilitar em nada o avanço de seu captor. Cada segundo que o mantinha ocupado era tempo a mais para Hermione e seus comparsas avançarem, mantendo-se em segurança, longe do rastreamento de Blackhole.

Não me preocupo com isso – resmungou entredentes.

O bruxo se aproximou dele, sorrindo ao ver que Rony ainda se encontrava fraco o bastante para não ter vontade alguma de revidar. Era tudo que necessitava para transportar seu prisioneiro sem maiores problemas para Coquelles, o que bastaria para efetuar sua missão de entregá-lo à Serpente.

— Acha que está salvando sua esposa, Weasley? Só está prolongando o inevitável – declarou – assim que a encontrarmos, ela pagará por todos os inconvenientes que causou. Talvez correremos o risco de criar uma mártir… mas valerá a pena no fim das contas.

O ruivo soltou uma risada abafada, balançando a cabeça.

— Vocês… realmente subestimam aquela garota, não é mesmo – ofegou, gracejando de maneira amarga e exasperada – não fazem… a menor ideia do que enfrentarão.

— E você tem? - retrucou Andrew, erguendo uma sobrancelha cínica.

— Eu já vi – estreitou o olhar, abrindo um sorriso curto e irônico – e… sinceramente? Vocês não vão mesmo gostar do que verão…

O Comensal apenas riu de maneira desagradável, dando as costas para seu enfurecido prisioneiro, com absoluta despreocupação.

O auror corroeu-se de vontade de alvejá-lo desprevenido, mas a fraqueza e os pulsos magicamente atados o impediam de concretizar tal desejo. Contentou-se em fuzilar seu carcereiro com o olhar, tentando pensar numa maneira mais produtiva de sabotar sua perseguição à Hermione.

Suspirou, erguendo o olhar para o céu. O escuro dominava a pequena campina, lançando o brilho de dezenas de luzes cintilantes, que brotavam belamente contra o negro manto daquela noite.

Encarou a mais brilhante delas, sentindo algo apertar seu peito.

Desejou ardentemente que aquela mesma estrela estivesse faiscando sua serena beleza no céu do vilarejo de Coquelles. Que, talvez, Hermione também estivesse a contemplar a escuridão, com sorte admirando o mesmo admirável astro que fitava naquele momento.

Com alguma sorte, em breve, estariam juntos novamente.

E poderiam, outra vez, absorverem a beleza do céu, voltando a sentir esperança.


























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