Sua cabeça latejava.  Uma dor lancinante brotava em suas costas, irradiando em ondas por todo o seu corpo, fazendo-o tremer de agonia.

Ronald piscou, vendo tudo voltar a entrar lentamente em foco.

Ainda estava na tenda, mas encontrava-se amarrado em uma das pilastras. Se debateu fracamente, o que só piorou a dor do corte que a facada havia causado.

— Ora, ora, ora.

Ergueu o olhar, ainda fraquejante.

Contraiu o rosto ao focalizar o Comensal da Morte à sua frente, resfolegando de raiva e fraqueza, ainda tentando inutilmente se desvencilhar das amarras.

Andrew Blackhole sorriu, agachando-se na altura do auror aprisionado, erguendo uma sobrancelha desdenhosa em sua direção.

— Você…

— Ah, não gaste seu fôlego – Blackhole gracejou, dando uma risada cínica – eu não consigo imaginar, de todos os motivos possíveis, um que possa me explicar o que um dos protegidos de Shackebolt estava fazendo neste acampamento.

Rony lutava contra a volta da inconsciência, rilhando os dentes de algia.

— Vocês… estavam aqui…

— Sim. De fato – o Comensal voltou a se erguer, dando as costas para seu prisioneiro por um curto momento – deve ter percebido, assim como eu… que não havia mais ninguém por aqui – virou-se outra vez, encarando-o – o que me deixa curioso… é não saber o por que. Será que você tem as respostas que procuro, Weasley?

— Eu não sei… de nada… - grunhiu, vincando a testa.

Não podia deixar que Blackhole tivesse a menor chance de ler sua mente ou suas memórias. Se isso acontecesse, sua esposa – assim como seus companheiros de viagem e seu provável plano – finalmente seriam descobertos, e estariam em grande perigo.

Tinha que distraí-lo… fazer com que continuasse a falar.

— Bem… isso é o que veremos, quando finalmente chegarmos à França – envergou a cabeça, segurando a cabeça do rapaz contra a pilastra – mas eu ando tendo… uma boa teoria.

Apontou para a escrita sangrenta na lona, soltando uma risada baixa.

— Eu não esperava este toque de cinismo dela – admitiu – eu já desconfiava há algum tempo, e sua presença aqui finalmente confirma nossas suspeitas. Quer dizer… muitos de nós ainda se amedrontam com a denominação que corre pela boca de todos – Rony o observou se aproximar de uma das linhas da frase – Fênix Negra – balançou a cabeça – depois do que houve com Ridark, todos começaram a temer este nome. Exceto nós… e a Serpente.

Então me veio um momento de clareza. Havia alguém. Uma pessoa que perdeu sua adorada filhinha no kindermoord. Uma auror treinada, com habilidades acima do comum, e com grandes chances de deixar sua sede de vingança arrastá-la para longe de sua família e de seus amigos, lançando-a numa jornada em busca de justiça. Eu sei… soa tão… clichê, não acha?

Então foi fácil supor que a queridinha do Ministério da Magia poderia muito bem ser nossa adorável seguidora. Afinal, não devia ser coincidência o rumor de que Hermione Weasley estava desaparecida desde o funeral de sua filha. E, decididamente… não poderia ser coincidência, agora, você estar aqui, correndo como um cachorrinho atrás de sua amada esposa.

As palavras dele atingiram Rony com a força de um tapa.

— O que… vocês já…?

— Se desconfiávamos? - Andrew deu de ombros – de certa forma, sim. Não nos importamos em investigar no começo, já que o incidente com Rockstell havia sido, por um bom tempo, um caso isolado. Mas então… desaparecimentos no bar do bosque… e agora, esse desaparecimento massivo no acampamento. Parece que realmente a subestimamos, não, é, Weasley?

— Seus… miseráveis… - ofegou, enfurecido – fiquem longe dela!

— Da sua esposa? - o bruxo gargalhou – Hermione Weasley ousou desafiar a Serpente – meneou o queixo, debochando - a bem-dizer, ela já é uma bruxa morta. Quando souberem o que ela fez aqui… entenderão que precisamos eliminá-la rapidamente. E isso não demorará, meu rapaz – reergueu-se – a boa notícia é que, se depender de mim, não deixarei que ela sofra inda mais. Vou ser rápido e preciso… - troçou sadicamente – exatamente o contrário do que você foi.

— Não...! - rosnou, voltando a se debater – se você tocar nela…

— Se? - Blackhole suspirou, sarcástico – estará com muita sorte se meus amigos não resolverem brincar com sua mulher, antes de encerrarmos este problema de uma vez por todas – declarou, enfático - você virá comigo para Coquelles. Quem sabe não a encontramos no caminho? Poderão ter a chance de se despedir, no fim das contas…

Gesticulando a varinha, o Comensal da Morte fez com que as amarras se soltassem da pilastra, mantendo-as ainda atadas nos pulsos de Ronald.

Embora tentasse investir o corpo contra o bruxo, Rony ainda estava enfraquecido pela perda de sangue, e teve que ser içado por Blackhole para se por de pé.

— Ande – ordenou – por hora, pode se aliviar, Weasley. Tenho que te manter vivo até chegarmos à Serpente. Então… apenas caminhe… e aprecie o nosso passeio.

Fraco, o rapaz foi forçado a acompanhar Andrew, a passos lentos, para fora da barraca. Mal tinha forças para soluçar de angústia, tentando não imaginar o que seria dele e de Hermione a partir daquele momento.

Querendo ou não, agora os Comensais tinham alguém do qual extrair informações, com ou sem consentimento.

Como havia sido tolo, achando que poderia se embrenhar sozinho pelo território inimigo. Havia sido extremamente rebelde e inconsequente, colocando todos em risco, preocupando-se doentiamente com salvar Hermione, em detrimento da própria segurança dos demais.

Já não se importava com o que lhe aconteceria. Pensar que poderia fazer com que encontrassem Hermione o angustiava mais do que qualquer outra coisa.

Preferiria morrer de uma vez, antes de poder dar esta chance a eles.

Se a chance fosse lhe dada, faria de tudo para consertar seu erro. Evitar mais sofrimento. Manter Hermione e todos os outros a salvo.

E então, se assim fosse necessário, se resignaria com seu destino, qualquer que ele fosse.

Tudo que importava agora era poder, de alguma forma, fazer com que Hermione pudesse sobreviver.

Mesmo que tivesse que matar – e morrer – para isto acontecer.