— Como você se sente? - perguntou Severus quando a carruagem parou.

  - Com náuseas. - ri.  

Ele sorriu. 

  - Eu nunca fiz isso antes. - murmurei

  - Matar alguém? - ele perguntou sarcasticamente

  Mostrei a língua para ele. 

  - Me aproximei de uma vítima. - eu disse - Eu sempre só mato. 

  Severus assentiu. 

  - Você vai se sair bem. - ele disse

  Sorri.

  - Eu sei. 

  O cocheiro abriu a porta e estendeu a mão para me ajudar a sair. Pensei em recusá-la mas percebi que ainda não havia me acostumado com o fato de estar de vestido. 

  Desci da carruagem e olhei para o castelo. Era uma visão impressionante, eu nunca havia visto nada tão bonito e tão esplendido na minha vida. Em volta do castelo, se estendia um jardim colorido e enorme. O que mais chamou minha atenção, porém, foi o casal parado em frente à porta. 

  Fui até eles timidamente e fiz uma reverência. Ambos eram muito belos, com feições sorridentes porém cansadas. 

  - Seja bem vinda, minha querida. - disse a Rainha

  Sorri. 

  - Muito obrigada, Majestade. 

  - Me chame de Euphemia, não há necessidade de tanta cortesia. 

  Assenti.

  - Espero que sua estadia aqui seja agradável, Princesa Lily Delacour. - disse o rei, sorrindo.

  - Só Lily basta, meu rei. - sorri - E eu tenho certeza que será. 

  - Fleamont. - ele sorriu. 

 Sorri. 

  - Nós pedimos desculpas, mas nosso filho, James, está atrasado para a sua recepção. - disse Euphemia - Ele tende a se esquecer de suas responsabilidades. 

  Assenti. 

  - Sem problemas, Euphemia, James e eu teremos muito tempo para nos conhecemos. - eu disse 

  - Espero que sim. - escutei uma voz masculina dizer, vinda do meu lado direito. 

  Olhei para a direção da voz e vi dois homens. Um deles tinha o cabelo na altura dos ombros, barba mal feita e portava um uniforme de soldado do reino. O outro, que presumi ser o príncipe, era o homem mais bonito que eu já havia visto em minha vida. 
Ele possuía cabelos castanhos, que pareciam não ter sido penteados naquela manhã. Seus olhos eram castanhos e suaves, e me encaravam com suavidade. Ele era a imagem perfeita dos príncipes que eu imaginava quando era criança, nos contos de fadas que minha mãe me contava.

  James riu e deu uma cotovelada na costela de seu amigo, vindo até mim em seguida, me tirando do meu transe.

  - Você decidiu aparecer, afinal! - disse Fleamont, sorrindo porém visivelmente irritado. 

  - Você me conhece, pai. - ele disse - Eu gosto de entradas inesperadas. 

  Euphemia riu. 

  - Desculpe-me pelo atraso. - disse James segurando minha mão e depositando um beijo nela - É um prazer conhecê-la, Lily. 

  - Igualmente, James. - sorri

  - Perdoe Sirius, pelos seus modos. - ele disse, gesticulando para seu amigo - Ele não é muito acostumado com garotas.

  Sirius revirou os olhos. 

  - Vocês dois vão assustar Lily! - disse Euphimia - Onde está Remus? 

  - Remus, o garoto perfeito, está vindo. - disse James - Ele disse que não pode correr pelo castelo. 

  - Ninguém pode correr pelo castelo. - disse Fleamont 

  - Ora, papai! Você tem que fazer escolhas! - ele disse - Você gostaria que eu viesse correndo ou que eu chegasse mais atrasado?

  Fleamont suspirou. 

  - Vem, Lily. - James sorriu - Vamos  te levar até seus aposentos. 

  Sorri e assenti. 

  Sirius foi até minha carruagem. 

  - Esses são seus pertences? - ele perguntou, apontando para meu malão. 

  - São. - sorri

— E você, quem é? - perguntou James 

  Me virei para onde ele olhava e percebi que havia esquecido da companhia de Severus. 

  - Esse é Severus. - eu disse - Ele é filho do braço direito do meu pai e meu melhor amigo. 

  James sorriu e segurou minha mão. 

  - Muito bem. - ele disse - Vamos levá-lo até seus aposentos também. 

Severus assentiu e pegou sua pequena mala, nos seguindo em silêncio. 

  - Por aqui. - disse James me puxando. 

  Entramos no castelo e me deparei com o hall magnífico. Milhares de velas estavam penduradas no teto, que era pintado como se fosse um céu estrelado. 

  - Uau - murmurei 

  James sorriu. 

  - Isso é maravilhoso. - eu disse 

  - Eu sei - ele riu - Demorei alguns anos para convencer meus pais a fazerem isso com o teto, mas agora eles admitem que ficou lindo. 

  Sorri. 

  - Eu poderia ficar deitada aqui por horas. - eu disse - E não é nem o céu de verdade. 

  - Você gosta de estrelas? - ele perguntou 

  - Muito. - murmurei

  James sorriu. 

  - Bom, eu vou levar nosso amigo Severus até o quarto dele. - disse Sirius, impaciente. - Vocês podem ficar ai admirando o teto. 

  James deu uma risada. 

  - Tudo bem. - ele disse - Depois ache Remus e Peter, eles precisam conhecer Lily! 

  Sirius assentiu e colocou minha mala no chão. 

  - Sim, senhor. E já subo com as coisas dela. - ele sorriu e se virou para Sev - Qual é seu nome mesmo?

  - Severus Snape - disse Sev, rispidamente. 

  - Certo, Snape. - disse Sirius - Me siga!

  Severus revirou os olhos e seguiu Sirius pelo corredor da direita. 

  - Ele não é assim. - eu disse a James - Ele está tendo um dia ruim. 

  James assentiu. 

  - Eu também ficaria mal-humorado se tivesse que ficar algum tempo longe de casa. - ele disse, dando de ombros. - Eu entendo. 

  Sorri. 

  Ele segurou minha mão outra vez. 

  - Venha! - ele me puxou escada acima. 

  Ele olhou em volta por alguns segundos e começou a correr pelos corredores. 

  - Corredores vazios foram feitos para que pessoas corram por eles. - ele sorriu, já se distanciando de mim.

  Sorri e comecei a correr, seguindo-o. 

  - Corrida até a última porta! - ele gritou. 

  Segurei a barra do meu vestido e acelerei. A vida de assassina havia me ensinado a correr bem rápido, para escapar dos aurores que vagavam pela região. James, porém, não estava de vestido e chegou na porta vermelha um pouco antes de mim.

  - Eu vou deixar você se instalar. - disse ele, ofegante. - Me avise se você não gostar do quarto, nós temos outros trinta a sua disposição. 

  Assenti, também com a respiração entrecortada. 

  Ele abriu a porta, fez um aceno com a cabeça e saiu correndo na direção oposta. 

  Dei uma risada e entrei no quarto. 

  A primeira observação que fiz foi que o quarto era maior que minha casa inteira. 

  Havia uma cama gigante ao centro, com seis travesseiros. As paredes eram azuis, com pequenos detalhes em rosa. Havia um armário gigantesco que, ao abrí-lo vi, estava cheio de vestidos. O banheiro tinha vários frascos com cremes de odor maravilhoso e uma grande banheira. 

  A luz entrava no quarto por uma grande porta de vidro, que era seguida por uma varanda com vista para uma parte do grande jardim. A cerca viva rodeava as paredes e pequenas flores desabrochavam, deixando a varanda com cheiro de primavera. 

  Senti os raios de sol baterem em minha pele e sorri, esquecendo por um segundo do porquê de estar ali naquele castelo. 

  Escutei uma batida na porta e me deparei com Sirius e outro jovem. 

  - Oi! - o outro sorriu - Sou Remus! 

  - Muito prazer em conhecê-lo. - sorri - Sou Lily. 

  Sirius sorriu. 

  - Posso colocar seu malão aqui? - ele perguntou 

  - Claro! - eu disse, saindo da frente da porta, permitindo a entrada dos dois. 

  - Você gostou do quarto? - perguntou Sirius. 

  - Eu amei! É lindo! - exclamei - Eu nunca havia visto um quarto tão grande quanto esse! 

  Sirius e Remus se entreolharam. 

  - Vocês têm quartos pequenos em Beauxbatons? 

  Arregalei os olhos. 

  - Eu quis dizer que nunca havia visto um quarto tão grande quanto esse fora de casa. - me expliquei - Mas a arquitetura de meu reino é bem diferente, de fato. 

  Remus sorriu. 

  - Eu li sobre Beauxbatons. - Remus disse - É um reino impressionate. 

  Sorri. 

  - Obrigada. 

  - Remus é nosso rato da biblioteca oficial. - disse Sirius apertando sua bochecha - Bom, te vemos depois então! O jantar é servido às sete.

  Assenti. 

  - É claro. - eu disse - Foi um prazer. 

  Remus sorriu e Sirius o puxou para fora do quarto. 

Fechei a porta com cuidado e me deitei na cama. Os seis travesseiros me amorteceram de uma forma de que eu não estava acostumada. Ao mesmo tempo em que fui invadida por uma por uma sensação boa, comecei a pensar no quanto era injusto tudo aquilo.

Eu estava lá, com seis travesseiros, enquanto meu avô e muitas outras pessoas estavam dormindo em colchões velhos e comidos pelas traças. Em seguida, eu iria para um jantar onde provavelmente poderia escolher entra centenas de opções de comida, e meu avô estaria comendo sopa, mais uma vez.

O rei e a rainha me pareciam ser pessoas gentis, mas eu não entendia como eles poderiam ser verdadeiramente bons, já que deixavam o povo sofrer daquela maneira. As duas opções me pareciam erradas. Eles poderiam ignorar o sofrimento do povo, o que os transformaria em tiranos, mas eles também poderiam não saber o que se passava fora dos muros do palácio, o que os faria alienados e negligentes.

Suspirei.

E também havia James.

James me parecia ser o típico príncipe mimado, mas ele havia sido tão doce comigo. Me apeguei ao fato de que James estava sendo gentil comigo momento por achar que eu era uma princesa, mas quando você vive sozinha por tanto tempo, tendo que lidar com o pior tipo de pessoa existente, você acaba se amolecendo quando as pessoas são boas com você. Ninguém havia me tratado do jeito que todos no palácio haviam me tratado, por incrível que pareça, naquele pequeno intervalo em que convivemos. Severus era bom comigo, Lucius também, de certa forma, mas era diferente.

Eu ainda estava pensando em James, quando ouvi uma batida na porta.