Consequências. escrita por MedusaSaluz


Capítulo 3
Ameaça(s)




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Ao chegarem na sala principal da torre, Garfield e Ravena puderam ver os outros três titãs esperando-os, de pé, a frente do telão. A tela mostrava imagens de Cinderblock, o gigante de concreto, atacando prédios e construções no centro, gratuitamente, como era de se prever que este faria. Richard foi o primeiro a olhar para os dois membros da equipe que faltavam, sério e estressado como se podia esperar. O estômago da empata se revirou, não tinha humor para levar um sermão ou para discutir com o colega durante uma crise.

— Ravena, eu esperava o atraso... – O líder, ao observar a dupla, viu um detalhe inusitado: A garrafa de rótulo preto na mão da moça encapuzada. Levantou uma sobrancelha. Claro que podia sentir o cheiro de Mutano de longe, mas ela não bebia.  - ... e a garrafa vindos de Garfield, não de você.

A semidemônio respirou fundo. Todos na sala sabiam que se existia alguém para discutir feio e desafiar a paciência Asa Noturna, era Ravena. O inverso também era bem comum, só era mais perigoso para as pessoas ao redor. Richard Grayson com raiva? Só gritava mais que o normal. Ravena com raiva? Coisas explodiam. Pessoas explodiam. No sentido mais literal da palavra.

Pensando que as coisas poderiam ficar feias, Kory trocou olhares com Victor. O rapaz robótico queria quebrar a tensão sem ferir os seus circuitos. Victor lançou um olhar para Garfield. Os olhos do rapaz verde, por outro lado, não encontraram com os olhos do melhor amigo. O metamorfo pensava no que Ravena havia lhe dito e como queria contar para a equipe. Estava preocupado.

Ciborgue e Estelar estranharam o estado perdido e sério de Mutano. Trocaram outro olhar entre si, dessa vez em um misto de dúvida e preocupação. Algo de errado estava acontecendo. Não se referiam ao ataque de Cinderblock no centro ou ao evento isolado de confronto que poderia vir a ocorrer ali. A confirmação de que algo não estava no lugar foi muito clara:

— Richard, missão, por favor. – Ravena cerrou os olhos para o líder, quase apática, para a surpresa e o alívio dos titãs. Até mesmo de Asa Noturna, que apenas pigarreou e voltou ao assunto, como fora pedido pela amiga.

— Cinderblock, no centro. – Curto e grosso. Todos já deveriam ter percebido o que estava acontecendo mesmo. Passou a dar instruções mais específicas. - Ravena, Kory e Garfield, cubram o território aéreo e vão na frente para resgatar qualquer civil na área. Victor e eu estamos logo atrás de vocês.

Enquanto o titã cibernético e o líder se apressaram até a garagem, os titãs remanescentes não demoraram mais de um minuto para seguir a estratégia. Ravena e Estelar levantaram voo, navegando em direção ao centro. Mutano, ainda mergulhado em preocupações, tomou a forma de uma águia imperial, partindo um pouco depois delas, permanecendo na retaguarda.

A tamaraniana estava preocupada com a amiga. Não que o silêncio ou a calma normalmente fossem motivos para se preocupar. Ravena era assim. Só que algo em tudo aquilo não se encaixava. Estelar foi desconcentrada dos próprios pensamentos quando a amiga se desestabilizou durante o voo. Garfield, que assistia a cena de trás, pensou em avançar para ajudá-la, mas nem teve tempo, porque ela se estabilizou de volta sozinha.

— Não precisa se preocupar, foi só uma tontura passageira. – Ela disse para a amiga alienígena, que esboçava um semblante preocupado. – É esse dia... – Ravena só murmurou, mas a altura de sua voz era perfeitamente audível às habilidades dos colegas que lhe acompanhavam.

Após ouvirem o que ela dizia, passaram a pensar o que tinha aquele dia. Parecia que quando se precisava lembrar de datas, era ainda mais fácil esquecê-las. Contavam mentalmente os dias, as semanas, até que Kory, antes de a águia verde perceber, se lembrou de que dia era aquele. Sentindo-se culpada por não lembrar que sua amiga estava fazendo 21 anos, decidiu falar ali mesmo.

— Amiga Ravena, feliz aniversário! Sei que todos estão concentrados na missão, mas... - A empata soube exatamente o que a ruiva queria dizer, interrompendo-a com um sorriso.

— Obrigada, Kory. – Ela mesma não era grata por aquela data, mas não podia descartar o amor e carinho por qual sempre era tratada pela amiga.

Garfield estava se sentindo um idiota. Aquele era um dos piores sentimentos que ele poderia ter sobre si mesmo, mas dessa vez estava certo. Havia se esquecido completamente de que era o aniversário dela e, além disso, ficou enchendo-a falando de Terra quando ela mesma precisava de mais ajuda que ele. O cabelo cortado, o whiskey, aquela conversa estranha... ligando os pontos, conseguia associar que o motivo de Ravena querer ir embora tinha a ver com seu aniversário. Sabia que ela não era o tipo de pessoa que se sentia feliz em existir, mas ainda assim, por que naquele aniversário? Ela poderia passar por isso em qualquer outro. Precisava de mais peças para entender a imagem do quebra-cabeças que era aquela situação.

— Amigo! – Estelar, com os punhos e olhos brilhando em energia verde esmeralda, despertando a águia verde de seus próprios pensamentos. - Tem gente precisando de ajuda! Vamos! – Ela mesma partiu, para atacar a criatura.

Ao olhar o cenário de cima, Mutano viu apenas um prédio de apartamentos semi-destruído, uma locadora sem salvação alguma e sua lanchonete 24 horas favorita em um estado lamentável. Ravena fazia um bom trabalho tirando os civis do prédio em segurança enquanto estelar tratava de distrair o monstro destruidor com seus ataques. Ele avançou para cima de Cinderblock, mudando sua forma para um grande tiranossauro rex, pousando no chão com violência e partindo para o ataque. Defender a cidade acabava por tirar sua cabeça de todas as questões que lhe afligiam. Infelizmente, não funcionava assim para todo mundo.

Ravena tentava fazer o melhor que podia afastando as pessoas. Os moradores do prédio, ainda em seus pijamas, agradeciam a heroína por ela ter garantido a evacuação segura dos mesmos. Ela não conseguia responder, porque sua cabeça pulsava em dor a cada momento que criava um escudo de energia negra para defender os civis. Aquilo nunca acontecera quando usava seus poderes. Temia pelo que poderia acontecer consigo mesma, mas não abandonaria o dever.

Olhou para o outro lado da rua, na lanchonete 24 horas. Viu três jovens tentarem deixar o lugar abaixados, tentando passar despercebidos pela criatura que atacava os outros dois titãs. Um rapaz atlético de pele negra e tranças no cabelo, tomando a frente. Uma garota de curtos cabelos castanhos, logo atrás dele, claramente chorando de medo. E uma garota de longos cabelos loiros, grandes olhos azuis, um porte corajoso e maquiagem borrada.

Terra.

O resto foi como uma avalanche de imagens. O grande tiranossauro verde viu a garota, se distraiu, levou uma pancada e foi ao chão. Estelar, preocupada com o colega, foi lançada em direção a locadora destruída. A criatura avançou na direção do trio e Ravena fez o que deveria ser feito. Em questão de meio segundo, ela estava à frente deles, erguendo o escudo antes que o impacto dos punhos de concreto os esmagasse.

— Corram o mais rápido que puderem! – A cada golpe que o escudo levava, a empata era forçada a recuar um pouco. Olhou para trás, os três paralisados. – Agora! – Dada a ordem, os dois primeiros da fila se aceleraram, a terceira, Terra, ou Tara, como gostaria de ser chamada, se sentiu obrigada a ficar só para dizer algo à moça encapuzada.

— Obrigada. – Após dito isso com a voz assombrosamente familiar, ela correu.

No momento em que os olhos violeta encararam Cinderblock por trás do escudo negro e suas mãos começaram a tremer, ela pensou que acabaria ali. Por desgaste ou pelas mãos daquilo. Quase estava desistindo. Sua cabeça pulsava mais e mais. Estava tão exausta, que não conseguiu se sentir feliz pelo reforço ter chegado.

Um canhão de raios laser azuis acertou o gigante de concreto bem no peito, de modo que foi afastado de Ravena. E ela pode ver Kory e Garfield se levantando para lutar. E o bumerangue azul explosivo sendo lançado. Quando percebeu que estavam longe o bastante, ela se permitiu cair de joelhos.

A dor era imensa e não estava apenas em sua cabeça: a sensação torturante subia e descia por sua coluna, da primeira à última vértebra. Olhando para o chão, ela viu sangue, mesmo que não houvesse sido ferida em nenhum momento desde que chegara ali. O sangue ainda pingava. Levou a mão até o nariz, só para ter confirmar o que já havia percebido: seu nariz sangrava como uma torneira. Foi então que a tosse veio. Incessante e dolorosa, terminava com o gosto de ferrugem em sua boca. Sentiu-se a ponto de cair e apoiou as mãos no chão. A tosse não parando. Em quatro apoios, sentiu necessidade de cuspir o liquido vermelho que lhe preenchia a boca. Foi quando, no ápice da dor em sua coluna, ela parou de resistir. Desmaiou ali mesmo, em campo de batalha. Só conseguindo ouvir a voz de Victor gritando seu nome.

Tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

Mais um! Esperam que tenham gostado!
Beijos de Luz!



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