CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 13
CAPÍTULO 13 – O Aluno Pedroso




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As provas finais haviam ocorrido há cerca de três semanas, durante a penúltima e última semana de novembro. No jantar após a última prova o diretor anunciou que a escola permaneceria aberta até o dia quinze de dezembro, assim, a maioria dos alunos preferiram ficar um pouco mais, aproveitando a biblioteca, as estufas, o campo de quadribol e os outros recursos que a escola oferecia para os jovens.

Os pais de Maria haviam enviado uma carta para que ela voltasse na primeira semana de dezembro. Em resposta, a jovem pediu para ficar até o dia quinze, o que foi aceito pelos pais com ressalvas, aparentemente, teriam que adiar os planos de férias, o que não agradou de início. Assim, Maria conseguiu espionar o que acontecia com os meninos e descobrir seus encontros noturnos, Hugo sempre se encontrava com Roberto e Miguel com Eduardo.

Pouco depois do anoitecer, Maria saiu do dormitório e escondeu-se atrás de uma das árvores da propriedade, assim como fizera desde o fim das provas, ouvindo ao longe os sons das árvores cantantes próximo ao Jardim das Estátuas. Escolheu um lugar distante o suficiente da escola para não ser vista, mas próxima o bastante para ver se alguém aparecesse atrás da cozinha da escola.

Durante o período de espionagem, ela constatou que Miguel e Eduardo sempre desciam o caminho de pedra e iam para o Jardim das Estátuas, onde as estátuas de professores e bruxos famosos conversavam com os alunos que ali passavam. Era o jardim mais bem decorado da escola, com diversos tipos de plantas em canteiros organizados. Repleto de ladrilhos coloridos, com bancos e muretas branco pérola. O lugar era geralmente frequentado por casais jovens e apaixonados que usavam a quantidade de arbustos para se encontrarem as escondidas.

Já Hugo e Roberto desciam o outro caminho, em direção ao Portão Lateral e a Cabana dos Guardiões, às vezes fazendo uma parada no Mini-magizoo, quando além dos patrulheiros e aurores que ali vigiavam, havia um Guardião conversando.

Maria já havia seguido Miguel e Eduardo e descoberto que os dois praticavam duelos às escondidas, o que lhe fez entender qual era o “segredo” que Eduardo desejava que fosse guardado por Roberto. Entretanto, Roberto e Hugo, curiosamente, apenas tomavam leite com biscoitos e conversavam com os Guardiões. O que fazia Maria se questionar qual seria o segredo de Roberto?

Na hora marcada, Eduardo e Miguel surgiram. Miguel vindo do dormitório e Eduardo de dentro do Saguão Principal. Logo começaram a caminhada para o Jardim das Estátuas. Uma hora depois, Roberto saiu de dentro do Saguão e aguardou Hugo.

Maria decidiu agir. Aproximou-se com cuidado e disse:

— Boa noite, Beto.

Roberto deu um pequeno salto, fechou o livro que lia, deixando a capa à mostra o título: O Guia do Aluno Pedroso, Volume 4 – Invadindo a Cozinha e Outros Lugares de Castelobruxo. Maria conhecia o livro. Na biblioteca havia apenas um exemplar de cada um dos sete volumes dos livros.

O Aluno Pedroso, era um suposto estudante de nome Pedro que estudou em Castelobruxo e havia escrito sete livros onde explicava diversas formas de aproveitar tudo que a escola tinha a oferecer, desde que o leitor estivesse disposto a sair escondido à noite, arrombar algumas portas e eventualmente receber um castigo ou expulsão.

Os bibliotecários se esforçavam para se livrar dos livros da série, mas todos os livros foram encantados, impedindo que pessoas com menos de dezesseis anos os encontrassem e mesmo que algum aluno entregasse o livro para um adulto, o livro sumia assim que fosse tocado, reaparecendo em algum lugar da biblioteca dias depois.

— B-Boa noite, Maria... O que faz aqui?

— Pensei em dar uma caminhada até o Jardim das Estátuas e você?

— Eu, bem, nada. Estava só... lendo — Roberto tomou o cuidado de não mostrar o livro e o guardar na bolsa.

— Entendo. Bem, façamos companhia, então.

— Não precisa, Maria. Pode fazer sua caminhada, eu vou só ficar lendo, vai ser uma chatice para você.

— Verdade? Então acho que vou ter que convidar outra pessoa — ela olhou por trás de Roberto e disse: — O que acha Hugo? Vamos fazer uma caminhada?

— Oi, Maria — disse Hugo tranquilamente. — Vai nos acompanhar hoje?

— Acompanhar? Na leitura?

— Leitura? — Hugo pareceu confuso. — Que leitura?

— A leitura que Roberto vai fazer — respondeu Maria vitoriosa.

— Então ele vai ler sozinho. Vamos conversar com o Marcus hoje. Ele vai nos contar sobre a vez que encontrou um encantado na floresta. Você vem?

— Encantado? Que interessante. Vou sim, se não for problema a companhia de mais um.

— Claro que não — afirmou Hugo. — Vamos.

Por todo o caminho que levava da escola até a Cabana, Maria e Hugo conversaram e riram de coisas que ocorreram nos últimos dias. Entretanto, Roberto permanecia mais quieto que os outros, com a cabeça levemente abaixada, respondendo de forma monossilábico aos questionamentos e tentando esboçar um sorriso. Maria guardou a atitude suspeita em um cantinho de sua mente, como prova para ser usada depois.

Logo chegaram na Cabana onde Bernardo estava sentado em uma cadeira na ampla varanda, fumando um cachimbo e com a varinha suspendendo um sino de vento, tentando colocá-lo em um gancho no telhado.

— Noite, crianças — disse sem tirar os olhos do gancho acima.

Logo a porta abriu-se e Magda veio receber os jovens. Os cabelos estavam presos com um pedaço de tecido que ameaçava romper-se a qualquer momento.

— Boa noite, crianças. Venham, vamos entrar. Acabei de preparar um bolo de cenoura e alguns copos de leite. Quente para você, não é, Hugo? Vamos, vamos.

Hugo entrou sorridente. Maria olhou de modo expressivo para Roberto que tratou de entrar logo. Em seguida ela entrou, sorrindo para Magda. A porta fechou-se e Bernardo soltou um longo fio de fumaça, contente por ter prendido o sino de vento.

 

Marco falava de modo animado sobre suas visitas na Floresta Profunda. Havia uma parte da Floresta que estava dentro dos limites da escola, porém, de acordo com ele, essa parcela representava um quinto da extensão total da floresta que se embrenhava até os povoados e mais além.

— As pessoas do povoado afirmaram que seus animais sofreram ataques de chupa-cabra. Então, eu e Bernardo decidimos ver se encontrávamos alguma pista da criatura. Sabem, as pessoas dos povoados gostam de inventar certas histórias em volta de fogueiras, acredito que para tornar a vida mais interessante — contava Marcus com sua perna machucada estendida no sofá. — Perto do rio, nos separamos. Sabíamos que a criatura, caso fosse um chupa-cabra, não havia atravessado o rio. Poucas criaturas se aventuravam nas terras além daquele rio.

“Eu subi o fluxo do rio, enquanto Bernardo caminhou seguindo a correnteza. Passava quase uma hora e meia de caminhada quando eu vi, bem longe. Parecia um fantasma correndo, só que não brilhava como eles, nem era transparente e deixou pegadas no chão. Vocês já estudaram sobre os encantados? Não? Acredito que não. Pouco se sabe sobre os encantados, só que existem e estão por aí, mas eu não podia perder a chance de encontrar um deles.

“Eu caminhei mais para dentro, passei por algumas flores da alma que se fecharam com medo. Passei por um grupo de tangarás que estavam fazendo aquela dança estranha deles em um galho, deixando o pólen cair no chão da floresta, onde uma onça e um veado dançavam ritmados. Depois de um tempo eu o vi, ou melhor, ele me viu. Estava sentado em uma árvore, rindo de forma debochada para mim. Os cabelos mais vermelhos que os dos caiporas, como se fosse fogo vivo. Ele sorriu e então...

— Bolo crianças? — Magda aparecera na porta. Sorrindo enquanto trazia várias fatias de bolo e copos de leite em uma bandeja.

— Mulher, acabou de estragar o clima — reclamou Marcus.

— Que clima?

— O clima de suspense que eu tanto trabalhei em criar.

— Por favor, você não conseguiria fazer suspense nem se quisesse, homem. Leite, querido?

Hugo pegou sua caneca onde um fino fio de fumaça subia.

— Posso usar o banheiro? — perguntou Roberto. — Aproveitando a pausa.

— Claro, meu querido — disse Magda sorridente. — É no andar de cima, a porta à esquerda no fim do corredor.

— Obrigado — o garoto levantou-se e caminhou em direção a escada. Ao sair da pequena sala adentrou no corredor, com portas à direita, a esquerda e no fim uma escada vermelha. As paredes da esquerda eram repletas de fotos dos Guardiões, seus filhos e outras pessoas que ele desconhecia. A direita, estendia-se um grande armário, com vários nichos, gavetas e prateleiras repletas de instrumentos que brilhavam.

O coração de Roberto acelerou quando ele viu pendurado em um gancho um molho de chaves. Algumas noites antes ele havia questionado, de modo despreocupado, sobre os objetos das estantes até chegar nas chaves. Bernardo havia dito que as mesmas abriam qualquer porta dentro dos terrenos da escola, mas só podiam ser retiradas do gancho por um dos Guardiões.

Roberto colocou a mão no bolso, mas logo parou. Agora não. Tenho que esperar mais um pouco, ele disse para si mesmo e subiu as escadas para o andar superior.

Já estava quase na hora dos alunos voltarem para seu dormitório quando Magda apareceu novamente.

— Bem, acho que logo mais o toque de recolher será dado. É melhor vocês voltarem para a escola ou terão castigo por estar além de tempo devido.

— Sim, é melhor — concordou Maria.

— Um minuto — disse Roberto. — Acho que esqueci meus óculos no banheiro. Já volto.

De fato, o garoto havia retornado do banheiro sem os óculos, o que foi mais uma nota mental para Maria. Logo após ele sair, Maria espreguiçou-se e disse:

— Acho que vou ajuda-lo a achar os óculos.

Ela caminhou calmamente pela sala e entrou no corredor. Parou logo na entrada, sem fazer qualquer ruído.

Roberto estava usando uma luva marrom, bem maior que sua mão e guardava algo no bolso interno do casaco da escola, algo volumoso e pesado, que fez peso no bolso. Em seguida, ele subiu rápido as escadas enquanto guardava a luva em um dos bolsos traseiros da calça.

Hugo aguardava os amigos do lado de fora da Cabana. Estava em companhia de Bernardo e Magda que discutiam sobre o sino de vento. Aparentemente, Magda não gostava do objeto, mas Bernardo insistia em manter ali.

Maria saiu da casa pensativa.

— Ele encontrou os óculos?

A garota pareceu surpresa com a pergunta e logo acenou com a cabeça.

— Sim, sim. Acho que sim.

Antes que Hugo pudesse responder Roberto surgiu pela porta. Meio nervoso e tenso.

— Vamos, antes que nos deem castigos. Boa noite, Magda e Bernardo.

Os três caminharam pelo campo, até chegarem perto do Mini-magizoo.

— Vocês podem ir, tenho que entregar para os patrulheiros uma coisa que o Marcus me pediu — disse Hugo, ameaçando afastar-se dos dois.

— É? Que coisa? — perguntou Maria.

— Uma coisinha, logo chego na escola — disse Roberto, já mais distante dos dois.

— Não é aquilo que guardou no bolso, é?

Roberto pareceu ter sido atingido por algo. Parou imóvel no lugar, de boca meio aberta.

— Do-Do que está falando?

— Ele pegou algo? — Hugo aproximou-se. Gostava e confiava nos Guardiões, de modo que a ideia de levar um ladrão para a Cabana o incomodava.

— Sim. Usou uma luva velha para pegar algo e guardou no bolso — disse Maria.

— O que você pegou? — questionou Hugo.

— Na-Nada. Não sei do que ela está falando.

— Então vamos ver o que tem nos bolsos — disse Maria.

Roberto disparou para o Mini-magizoo. Hugo e Maria correram atrás dele. Um dos patrulheiros que fazia guarda levantou-se de seu banco e logo fez aceno para que Roberto parasse.

— Ei! Pode parar aí, garoto. O que pensa estar fazendo.

Esse era o ponto final de seu plano. Infelizmente, Roberto não havia decidido o que fazer para passar pelos patrulheiros, acreditava que pensaria em algo quando chegasse neste ponto do plano, mas descobriu que não tinha ideia de como passar por eles.

— Eles... estão... me seguindo — ofegou Roberto apontando para os dois jovens que pararam atrás dele, ofegantes.

O patrulheiro olhou por cima de Hugo, vendo os outros jovens aproximarem-se correndo.

— Mas que mer...

Foi a única coisa que ele conseguiu dizer. Houve um brilho e um baque, quando o outro patrulheiro caiu e sua cadeira no chão, atrás do patrulheiro que interrogava Hugo.

O homem virou-se e disparou contra uma pessoa que vestia negro e aproximava-se do local onde estavam. A figura revidou e o patrulheiro soltou um guincho estranho, depois caiu no chão sendo logo suspenso pelos calcanhares. Outro jorro de luz vermelha o acertou e ele ficou desacordo, rodando no ar de cabeça para baixo, poucos centímetros acima do chão.

— O que foi isso? — Maria perguntou.

Os três jovens sentiram algo os atingir e seus corpos ficaram rígidos. Em seguida a figura vestida de negro aproximou-se do Mini-magizoo e colocou algo como uma bola de espinhos no portão. Com um aceno da varinha a esfera incendiou-se. O fogo começou vermelho, mas logo tornou-se verde brilhante. A esfera explodiu e com ela os feitiços que protegiam o portão.

A figura apontou para os jovens e as pernas destes pareceram ganhar vida, enquanto o restante do corpo estava congelado. Os quatro entraram pelo portão, o homem mantendo a varinha na direção das crianças e sussurrando uma espécie de feitiço.

Assim que entraram, ele fechou as portas com um aceno e em seguida atirou uma gosma esverdeada na porta. Apontou a varinha e disse com uma voz grave:

— Ativar!

A gosma brilhou por um instante e logo começou a crescer, espalhando-se por toda a extensão do portão. Grudou-se na parede, no teto e no piso, tampando de forma completa a entrada e saída.

A figura então virou-se para os jovens que ainda permaneciam imobilizados. Apontou a varinha para Roberto, que estava mais a frente e disse:

Accio!

As chaves voaram do bolso interno de Roberto para a mão estendida dele. A risada que o homem soltou foi histérica.

— Afinal, vocês me serão úteis. Mobillicorpus!


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