CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 12
CAPÍTULO 12 – Segredos




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A professora Hermenita aguardou até que todos os alunos do primeiro ano C entrassem e se sentassem em seus lugares. Assim que o último fechou a porta ela começou a aula:

— Bom dia, alunos. Como vocês sabem, daqui algumas semanas serão as provas finais do semestre. Portanto, estamos concluindo nosso cronograma de estudos desde ano. Nessas últimas semanas, estaremos estudando uma criatura que se assemelha aos bruxos de várias formas. Algum de vocês conhecem eles?

A professora apontou para um poleiro onde três pássaros de não mais do que vinte centímetros de comprimento estavam observando os alunos da sala. Possuíam a cabeça e o dorso negro, com a parte traseira e das pernas revestidos por uma plumagem amarelo vivo. A cauda era negra e os olhos ágeis.

Elizabeth e Roberto levantaram as mãos. A professora apontou para Elizabeth:

— É um japim, professora.

— Correto. O japim, ou xexéu, ou soldado, dentre outros nomes que tem, é um dos animais que possuem características muito próximas a nós, humanos, em relação a possuir ou não o dom da magia. Vários estudos estão sendo feitos com essas aves, mas podemos nos perguntar qual a razão dessas pesquisas, certo? Poderiam me dizer quais a propriedades mágicas deles?

Elizabeth e Roberto foram os únicos a levantar a mão novamente. Dessa vez, a professora apontou para Roberto:

— São pássaros copiadores. Eles imitam os sons que escutam com perfeição, principalmente o som de outros pássaros. Quanto a parte mágica, eles podem repetir feitiços proferidos.

— Correto, novamente. Cinco pontos para cada um dos dois. Os japins são pássaros capazes de copiar sons quase que com perfeição. Nas florestas, eles costumam imitar o som de outras aves. Porém, não são todos os japins que conseguem copiar feitiços. Nesse ponto, estas aves se assemelham aos humanos. Por mais que existam vários deles por aí, apenas alguns poucos possuem capacidade, assim como os humanos, de produzir magia. Assim, estudos são feitos para entender como a magia funciona com os pássaros. O por que de alguns executarem feitiços e outros não. — A professora olhou nos olhos de cada aluno, que ouviam com atenção. —  Prestem atenção.

A professora parou diante das três aves e pediu silêncio para os alunos. Apontou a varinha e disse:

Endi! Endi! Endi!

Três esferas de luz, do tamanho de bolas de tênis, saíram da ponta da varinha da professora e permaneceram flutuando na frente dos pássaros, que as analisavam com cautela. Alguns segundos depois as luzes se dissiparam e a professora repetiu com calma o feitiço de luz três vezes. Os pássaros observaram as esferas até que sumissem, sem nada fazer. Pela terceira vez a professora repetiu o feitiço, mas desta vez, um dos pássaros abriu o bico ao mesmo tempo e repetiu a palavra “Endi”. De seu bico surgiu uma pequena esfera de luz que ficou pairando à sua frente, próxima a esfera que a professora criara.

Mais uma vez a professora repetiu o feitiço três vezes e outras três esferas surgiram. Dessa vez, os três pássaros repetiram a voz da professora e a palavra mágica foi proferida, mas somente dois deles liberaram as esferas de seus bicos. O terceiro apenas repetiu o som.

— Veem? Dois possuem poderes mágicos e podem repetir o feitiço, mas um não consegue. O mestre Ricardo Glamoura é um conhecido Ornitológo Mágico. Ele diz que, quando entendermos a razão de alguns japins poderem usar magia e outros não, poderemos entender melhor o porquê de alguns humanos usarem magia e serem chamados de bruxos, enquanto a grande maioria não tem tal habilidade e são pessoas comuns. Dito isto, o trabalho de hoje será voltado a tais condições. Vocês usarão o restante da aula para pesquisar na biblioteca as diferentes características dos japins mágicos e quais outras criaturas podem ser encontradas com e sem o dom da magia, mesmo sendo da mesma espécie. Sugiro que comecem a ler A Semelhança entre Humanos e Criaturas Mágicas, de Lucilda Piveronna, e Por Que Nem Todos Podem Usar Magia?, de Eduardo Simneti, páginas vinte e cinco em diante. Antes do fim do período devem trazer aqui em sala os seus trabalhos, com não menos do que dez laudas. Podem ir.

 

Eduardo aproveitou que muitos alunos já haviam pegado os livros e começavam a fazer o trabalho para procurar Roberto. Não demorou muito e achou o amigo retirando alguns dos livros de uma estante. Aproximou-se, prestando atenção nos arredores para ter certeza que Maria não estava por perto. A garota insistia em aparecer em momentos como aquele questionando o porquê dos cochichos.

— Beto.

Roberto assustou-se e rodou nos calcanhares para ver o amigo.

— Que susto, Eduardo.

— Assustou-se? Anda fazendo coisas erradas?

— Não sei do que está falando —  defendeu-se o garoto e logo fingiu procurar algo em um dos livros onde estava escrito Feitiços Que Todos os Pais Devem Evitar Que Seus Filhos Conheçam. A capa do livro mostrava dois pais bruxos com círculos no lugar dos olhos, enquanto duas crianças corriam e sorriam com as varinhas em punho, liberando diversos feitiços em várias direções.

— Sabe sim. Acha que não tenho visto suas escapulidas durante a noite? Está indo ver os Guardiões com o Hugo?

— E se eu estiver? Não tem problema nisso.

— Não se for apenas para conhece-los. Mas se está indo para algo a mais...

— O que mais eu poderia querer?

— É o que quero saber — sussurrou Eduardo.

— Pelo menos não estou infringindo nenhuma norma da escola.

Roberto pegou as suas coisas e afastou-se de Eduardo, mas este não deixou barato e acompanhou o garoto.

— O que quer dizer com isso?

— Acha que não sei que você e o Miguel treinam duelo escondidos? Não me engana com as desculpas de tropeçar e cair para justificar os machucados.

— Mas é verdade... Eu não...

— Por favor, Eduardo. Você não é o único que se encontra com alguém atrás do Saguão Principal. — Roberto verificou os arredores para ter certeza de que ninguém estava ouvindo e falou mais baixo: — Você contou para ele? Sobre o que eu te contei?

— Não. Você contou para o Hugo?

— Não! Vamos fazer assim, você guarda o meu segredo e eu guardo o seu. Fechado?

— Mas você não está pensando em continuar com aquela ideia de...

— Shhh! — Roberto passou os olhos pelas mesas. — Não se preocupe. Já falamos disso, não vou fazer nada doido ou perigoso.

— Tudo bem, mas estou de olho. Não faça nenhuma besteira — disse Eduardo e afastou-se, indo para a mesa onde Miguel e Hugo estavam.

Roberto hesitou um pouco, mas logo acompanhou o garoto.

Por trás da estante saiu Maria, com uma expressão de dúvida e medo no rosto. Ela olhou para os garotos sentados na mesma e mordeu o lábio, preocupada com o que havia escutado e se perguntando o que seria o segredo de cada um.

 

Semanas Depois...

Passava-se quase dois meses da data em que a criatura deveria ter saído da escola. Orlando enviava uma mensagem atrás da outra para o Ministro do Meio Ambiente, dia após dia. A cada cinco mensagens, ele era respondido com apenas algumas linhas:

 

Estamos trabalhando para proceder com a extração da criatura. O Ministro pede paciência para que sejam concluídos os últimos procedimentos de extração.

Att.,

Secretário Chefe do Ministério do Meio Ambiente.

 

O Ministro do Meio Ambiente Mágico, Mariano, havia respondido as primeiras mensagens de Orlando, mas depois de perceber que o diretor tornaria o envio de mensagens um hábito recorrente, decidiu por passar a responsabilidade para seus secretários.

— Está tornando-se um absurdo — reclamou Orlando assim que despachou o corruíra pela janela, carregando sua mensagem salva na memória do pássaro pequeno.

Orlando preferia enviar cartas na maior parte das vezes. Os corruíras eram um dos meios alternativos de enviar mensagens entre bruxos. Era uma ave pequeno e agitada que precisava ser enfeitiçada para prestar atenção no que o bruxo dizia. Logo após o bruxo falar a mensagem para o pássaro, ainda precisava lançar feitiços de proteção na ave e soltá-la pela janela.

Orlando observou o pequeno pássaro atravessar as barreiras mágicas que envolviam a escola e que ele havia suspendido para que o pequeno pássaro cumprisse sua missão. Logo a pequena bola com asas tornou-se um ponto e sumiu no céu claro de dezembro.

Ouve uma batida na porta e em seguida os dois caiporas velhos entraram na sala. Estavam acompanhados de outros três caiporas, todos muitos nervosos e agitados. Orlando usou a legilimência e prestou atenção no desespero das pequenas criaturas.

A conversa com os caiporas durou cerca de uma hora, onde os pequenos repassaram suas preocupações para o diretor por meio das imagens, sensações e lembranças. Orlando nada podia fazer além de tentar acalmar as criaturas, repassando imagens tranquilizadoras de aurores e patrulheiros levando a criatura para longe. Ele mesmo estava transtornado e revoltado com a atitude do Ministro, a qual já suspeitava que iria ocorrer, mas não podia preocupar mais as pequenas criaturas.

Logo após as criaturas terem saído da sala, ainda revoltadas e pouco conformadas com a resposta do diretor, Cássio apareceu à porta.

— Por favor, Cássio — pediu Orlando. — Que sejam boas notícias.

— Receio que não, diretor. Posso?

Orlando deu passagem para o Secretário-Chefe que se sentou na cadeira de frente a poltrona bege do diretor. Em suas mãos havia um rolo de pergaminho que ele segurava de forma firme, amassando o meio do documento. A postura do secretário era preocupante por si só, estava meio curvado, preocupado com a reação que o diretor iria ter.

Assim que o diretor sentou-se na poltrona, Cássio entregou-lhe o pergaminho, meio receoso. Orlando desdobrou o pergaminho e leu seu conteúdo. As rugas se contraíram de modo assustador em sua testa. Os olhos foram do documento para Cássio, como se lesse ofensas pessoais no documento.

— Isso não pode ser verdade — disse o diretor fitando Cássio.

— Nos foi entregue essa cópia pelo Sr. Armando Casagrande agora a pouco. Como atitude pessoal, ele se certificou que permanecessem no Mini-magizoo quantidade que entendeu suficiente para garantir a segurança e logo partiu para falar com o Ministro de Segurança Mágica.

— Ele levava pessoas consigo?

— Sim, cerca de dez aurores o acompanharam.

— Então ele não deixou praticamente nenhum — concluiu Orlando. Após pensar por alguns segundos tomou sua decisão: — Já chega! Terei de ir pessoalmente ao Governo da Magia e falar com os Ministros do Meio Ambiente e da Segurança Mágica e, se for o caso, com o Presidente da Magia. É um absurdo o que está acontecendo.

— Não seria melhor mandar o Vice-Diretor? — sugeriu Cássio.

— Não me entenda mal, Cássio. Alexandre é um bom homem e executa suas tarefas com perfeição, mas cada vez mais acredito que ele seja mais propenso a lidar com criaturas mágicas do que com pessoas — o diretor levantou-se e começou a recolher seu relógio de bolso, alguns documentos de uma gaveta e o seu manto de diretor, negro com símbolos de luas e estrelas prateadas, com as iniciais CB nas costas, em destaque prateado. — Da última vez que ele foi, o deixaram esperando por cerca de duas horas sem uma resolução aceitável. Dessa vez vou eu e nem que tenha que ir mil vezes, mas farei com que a criatura saia.

Orlando saiu às pressas de sua sala, dando instruções para que Cássio ativasse o Portão Principal como chave de portal para o Governo da Magia. O pergaminho permaneceu aberto em sua mesa de carvalho, onde estava escrito em uma letra curvilínea com tinta negra brilhante:

 

Prezado Armando Casagrande, Chefe do Departamento de Contensão do Ministério de Segurança Mágica e chefe do Corpo de Aurores de nº Sete.

 O Ministro de Segurança Mágica, usando de suas atribuições administrativas e legais, sob a égide dos ordenamentos internos e da Constituição Bruxa da América do Sul, tendo ciência do presente pelo Presidente da Magia, convoca para que regressem as suas atividades no Ministério os aurores que seguem abaixo identificados:

 

Armando Casagrande, Chefe de Departamento;

Miguel Conrado Dantas, Sub-Chefe de Departamento;

Amélia Sandoro, auror;

Luíza de Paes Campos, auror;

Hernesto de Bonfica, auror;

Jubileu de la Condura; auror;

Camila de Bragança Sunset, auror;

Jorge da Silva Bueno, auror;

Cassandra Elvira de Assunção, auror;

Caetano da Luz Pedroza, auror.

 

Em respeito ao decreto de nº 467, promulgado pelo Presidente da Magia em 25 de agosto, o descumprimento à ordem acima constitui desobediência ao cargo e crime contra o nosso sistema legal e a Comunidade Bruxa da América do Sul, sendo aplicadas as sanções cabíveis, em caso de tal ocorrência.

 

Assinado,

Barbara Munhoz dos Santos,

Secretária do Ministro de Segurança Mágica.


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