Os olhos de Cloe escrita por Misakijuro


Capítulo 3
Capítulo 2 – O despertar


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que gostem xD.



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Joguei um pouco de água no rosto, concentrei em minha respiração tentando acalmar. Em poucas respiradas fui me sentindo melhor. Acreditava na mentira que tinha dito. “Estresse, é apenas estresse” repeti inúmeras vezes para mim mesma enquanto estava no banheiro.

Quando sai, Sandy está apoiada na parede ao lado da porta me esperando com um Mocha Latte na mão, ela estende ele para mim, me observa, vendo se estou realmente bem.

— Obrigada. – Digo aceitando o café. – Vamos? – Pergunto meneando a cabeça em direção ao elevador.

Ela não respondeu, mas me seguiu. Ela ainda me observava. Então sorri e digo que está tudo bem, antes de entrar no elevador. Ela não acreditou, mas fingiu que sim. Foi melhor assim, não conversamos mais até chegar ao nosso andar. Nossas salinhas ficavam uma do lado a outra. Quando estávamos chegando perto delas, vi um homem na sala em frente à minha. O cara novo provavelmente.

Não entendi bem o que elas quiseram dizer com “Ele é lindo!”. Ele é bonitinho, não do tipo de tirar o folego, tampouco a pessoa mais bonita que já tivesse visto, este lugar pertence ao Louis. O novato é um cara normal, um bonito do tipo paisagem, aquela que de trás sentimentos agradáveis por apreciar como a chuva. Olhei para Sandy com cara de quem pergunta “É ele?”, e ela respondeu fazendo um sim com a cabeça.

— Não sei como explicar, ele não é tão bonito assim, mas não me sentiria mal por olha-lo o dia todo. – Confesso a Sandy num sussurro próximo ao ouvido dela.

— Sério? Eu o achei lindo! Preciso até de um babador! – Diz ela toda sorridente e fingindo limpar a baba.

Com isso, nos duas rimos, a tensão que estava ao nosso redor tinha ido finalmente embora. Ela voltou a ser a tagarela de sempre, contou sobre uma conversa que teve a noite passada com um cara numa boate enquanto entravamos em nossas salas. Em minha sala, guardo o remédio que comprei mais cedo.

O cara novo estava usando jeans rasgado com uma camiseta social por fora, e que, para variar, estava com uma mancha de batom no colarinho. Balancei minha cabeça em negação quando notei isso. Lucca teria um troço. Ele deixava bem explicito sua opinião por “roupas sociais apenas, bem passadas e limpas!”. Por isso sempre optei pelas cores escuras, disfarçavam mais os vincos, assim poderia manter meu emprego por mais tempo.

Fora as roupas, o cabelo dele estava todo bagunçado, sem dúvida Lucca teria um troço. Tentei passar uma mensagem por telepatia para Sandy, seria bom que alguém avisasse ele sobre isso. Acho que ela entendeu o que eu quis dizer, pois concordou com um sorriso torto e preocupado. Quando se levantou para ir lá uma das gêmeas apareceu deixando um arquivo na mesa dela. Sandy não é como eu, ela não aceita muitas coisas com facilidade, tem uma personalidade um pouco forte algumas vezes. Em resposta a loira, jogou-lhe a pasta no peito.

— Não vou fazer. Nem vem! – Exclama irritada e fuzilando a loira.

Elas entraram em um debate. Achei melhor dar um aviso eu mesma ao cara, assim ele podia tentar se arrumar um pouquinho antes de nosso chefe vir nos verificar. Sai do meu cubículo e fui até a entrada do dele. A outra gêmea estava se empoleirado na mesa dele, conta um monte de coisas para ele, que passa a ideia de quem não estava nem ai para ela. Um sorriso quis aparecer, mas o escondo. Bato de leve na madeira da porta para chama sua atenção. Ele me olha, dá um sorriso como se eu o estivesse salvando. Desta vez a risada quase se solta de minha garganta.

O cabelo dele é marrom escuro, com algumas luzes naturais de marrom claro. Olhos castanhos claros com a borda meio esverdeada, são bem diferente, encantadores. Sem barba, rosto liso, como se nunca tivesse que usar uma lamina de barbear, talvez usasse cera. Também não tinha qualquer marca de espinha ou catapora, é um rosto realmente liso. Os três primeiros botões de sua camiseta estão abertos, revelando parte de seu peito, não mostra muito, deixando o resto para imaginação. Outra coisa que se podia notar é que ele frequenta a academia, mas apenas para não ter gordurinhas a mais, não era todo musculoso, um pouco tonificado apenas. Como diria Sandy, “ele está ao ponto.” Realmente está.

— Sim? – Pergunta.

Seus olhos parecem percorrer cada detalhe de meu corpo, ele passa delicadamente e lentamente seu olhar em cada ponto. Quando seus olhos finalmente chegam nos meus noto um brilho malicioso ali.

“Idiota.” pensei, sinceramente, depois daquela olhada, pensei em deixar ele no “que se vire”. No entanto, não era tão má assim. Lucca iria ficar realmente irritado se o visse assim e acabaria descontando nos trabalhadores.

— Lucca, nosso chefe, não gosta muito desse estilo... – Digo apontando para as roupas dele. – Aconselharia-

Não pude terminar pois a outra irmã apareceu tentando chamar atenção. Ela me empurrou para poder entrar na sala dela, que mal cabia os três ali. Entrou desfilando o balançando o quadril, lembrava aqueles bonequinho de carro que ficam balançando a cabeça.

— Ela é louca, não dê atenção! – Exclama com exagero.

O cara olha para ela com uma sobrancelha levantada. Depois volta seus olhos para mim. Ele não acreditou nela, percebi pela piscadela discreta. Depois voltou para ela puxando-a para próximo de si, o quadril dos dois remexiam.

Revirei os olhos virando-me para voltar a minha sala.

— Ele vai te despedir com essas roupas. – Advirto alto o suficiente para que escute.

As gêmeas riem como se aquilo tivesse sido a piada do ano. Encolhi os ombros. Sandy me mandou um olhar que dizia “não liga não”, mas sinceramente me sentia irritada. As loiras sempre conseguiam me irritar a este ponto. E para melhorar ainda mais, a pasta que Sandy recusou estava em minha mesa. Mordi o lábio para não me deixar levar.

Enquanto trabalhava não olhei para ele, contudo, tenho a certeza que ele me deu alguns olhares de vez em quando, não sei que tipo de olhar foi, mas o sentia. Minhas bochechas queimavam, e eu tenho a sensação de que isso o agradou. Não muito tempo depois ele saiu em direção ao banheiro.

As gêmeas vieram até minha sala, não pediram permissão, também não bateram, apenas entraram e sentaram sobre a minha mesa. As duas estava com um pequeno sorriso irritado nos lábios. Segurei a vontade de revirar os olhos.

— Quem te deu o direito de falar com ele? – Questionou Rose.

— Terminou o que te pedimos ontem? – Interroga Lucia ao mesmo tempo que rose.

Elas se entreolham, parece que uma está brava com a outra por terem feito perguntas diferentes e ao mesmo tempo. Enquanto elas discutem entre si silenciosamente voltei minha atenção ao meu trabalho.

— Você não respondeu ainda, querida. – Expõe Lucia com veneno em sua voz.

Não levantei os olhos para elas, continuei meu trabalho no computador. Mordi o lábio novamente, traguei uma ou duas respiração antes de dar a elas uma resposta.

— Está na mesa de vocês. Entreguei ontem. – Respondi fingindo uma atenção completa no computador.

— Que ótimo, o de hoje você precisa entregar logo, viu? Mas ainda falta uma resposta flor! – Argumenta Rose tão venenosa quanto sua irmã.

Elas falaram mais algumas coisas, não prestei atenção. A dor de cabeça tinha voltado. Eu definitivamente precisava procurar um médico. Abri a segunda gaveta da escrivaninha, peguei a caixa de comprimidos, procurando o para dor de cabeça que comprei mais cedo. As gêmeas continuavam a falar, agora irritadas, as vozes estavam mais finas e altas. Não liguei. Peguei a cartela de comprimidos, saio do cubículo dando um leve empurrão nas duas para ter passagem. Era a primeira vez que fazia algo do tipo, não me senti mal, fiquei até feliz por fazê-lo. As loiras soltam fogo pelas ventas, me seguem até o bebedouro no canto da lateral esquerdo, era o mais próximo do meu escritório, também ficava próximo do banheiro. Peguei um pouco de água e engoli três comprimidos de uma vez.

Elas batem no copo, fazendo a água cair sobre minhas roupas. Lucia empurra meu ombro perguntando quem eu achava que era, e se eu sabia quem era o pai delas. Mesmo assim, continuei a ignora-las. Peguei o copo do chão e o joguei no lixo. Voltando para meu lugar o cara novo sai do banheiro. Ele tinha arrumado a blusa e o cabelo. Ainda estava ruim, não achava que ele teria salvação hoje. Ele me olhou em seguida fez um gesto com as mãos para as roupas, eu balancei a cabeça em mais ou menos. Achei que veria decepção em seus olhos, mas tudo o que eu vi foi diversão. Ele sabia que iria levar bronca.

Quando o moço saiu do banheiro as gêmeas grudaram nele imediatamente, então, aproveitando a distração delas, volto em paz a minha salinha.

— Você está bem Cloe? – Perguntou Sandy por cima da salinha. Ela tinha me visto pegando o remédio, soltei um suspiro. Depois frase as sobrancelhas. – Você está molhada. – Avisa.

— Estou sim, é só com um pouco de dor de cabeça, como tomei o remédio deve voltar logo. As roupas são culpa das loiras. – Respondo voltando a olhar o computador.

O arquivo que as gêmeas deixaram são gráficos que Lucca irá usar na reunião de hoje, tinha muito o que fazer ainda, fora isso, tenho meus próprios arquivos para terminar, o dia seria tão longo quanto o de ontem. Pego as folhas espalhadas sobre a mesa, procurando os valores. Tenho o costume de bagunçar as folhas.

— Quer ajuda? – Sandy ofereceu, ela se sentia culpada.

Não aceitei. Não gostava de depender da ajuda de outros. Fiz o trabalho tão rápido quanto consegui. O remédio tinha amenizado a dor então conseguia me concentrar.

Lucia e Rose ainda estavam na sala do cara novo. Entretanto, mesmo que elas tentassem de todas as formas chamar sua atenção, ele já não dava mais. Seus olhos observavam todos no trabalho. Volta e meia também fazia alguma anotação. Quando elas tentaram ver o que ele escrevia, o moço pediu, irritado, que elas se retirasse. Foi um grande choque para as duas, quando elas permaneceram sobre sua mesa, ele as puxou pelo punho para fora.

O andar ficou em silêncio com essa atitude, em alguns olhos brilhavam admiração pela coragem do rapaz, em outros medo pelo que poderia vir assim que Lucca soubesse disso. Apesar disso, todos estavam segurando o riso. Ninguém antes tinha feito algo semelhante a elas, então ver a reação das gêmeas era um tanto cômico.

Terminei fui até a sala de impressão. Conclui o que as loiras tinham me dado e o meu próprio trabalho, sentia-me orgulhosa de mim mesma. Quando volto para minha sala encontro o chefe do setor. Lucca está me olhando, se encontra sentado em minha cadeira, está agitado pois fica batucando com o pé no chão, sua respiração está rápida e curta. Algo estava errado. Olho para ele esperando para ver se ele ia dizer algo, mas depois de um silêncio assustador levanto a pasta e entrego a ele.

— Aqui estão os arquivos, estava os imprimindo. – Digo estendendo as pastas.

Ele ainda tem o olhar de ódio, “Será que fiz algo de errado?” me pergunto. Ele pega a pasta da uma folheada.

— Revisou? – Questiona semicerrando os olhos.

— Três vezes. – Respondo.

— Minhas filhas contaram que alguém foi rude com elas hoje. Por acaso foi você? – Ele tem um olhar bem sério.

Engulo em seco, sussurro um não para ele, que parece não acreditar. É por isso que ele está tão irritado comigo, as irmãs tinham dito que eu fui rude com elas. Meus olhos ficam quentes, queria chorar.

Alguém toca em meu ombro esquerdo me puxando delicadamente para trás. Vejo a calça diz toda rasgada. É o cara novo. “Por que ele está aqui?” me pergunto. Ele também tem uma expressão séria.

Lucca olha ele de cima a baixo. Seu rosto ganha um tom avermelhado. Se antes ele estava irritado, agora ele está realmente prestes a explodir.

— Fui eu quem foi rude com elas. – Fala em tom bem alto.

Meu queixo cai, o salão cai no silêncio, nem as respiração se conseguem ouvir. Não sei se o cara é idiota ou muito corajoso.

— Jovem, para sua sala. Agora! – Adverte Lucca.

O rapaz não se mexe. As gêmeas me puxam e entram no cubículo, elas tentam acalmar o pai, mas não adiantou. Ele sai puxando elas e o moço até a salinha da frente. Xinga, briga, grita... Todos no andar abaixam a cabeça. O cara novo não fez nada, ouviu sem medo. E eu podia jurar que vi um sorriso em seus olhos.

Lucca segue para sua sala seguida de suas filhas. Ainda bem que lá era a prova de som, porque ele está brigando com elas também. Uma delas começou a chorar. Todos tinham medo dele, Lucca era um cretino. Uma batida na madeira me chama atenção. O cara novo está lá, com um sorriso no rosto.

— Vai me agradecer? – Pergunta feliz.

Franzo o cenho me perguntando se ouvi direito.

— Ahn... De nada!? – Soou como uma pergunta.

O sorriso dele aumentou, ele cruza os braços o que faz o decote causado por seus botões aberto descer. Desvio os olhos para meu computador.

— Obrigado pelo conselho das roupas, porém, mesmo assim levei bronca. – Anuncia fingindo uma tristeza.

Olho em confusão para ela, o que o leva a ter um sorriso no canto dos lábio.

— Seria pior se eu não tivesse me arrumado? – Pergunta.

— Não sei, talvez se você não tivesse falado sobre as irmãs tivesse sido melhor. Mas você não se arrumou, quem vem trabalhar com as roupas que usou na noite de balada? – Questiono olhando para a marca de beijo em seu colarinho. – Enfim, eu acho que ele virá conversar mais com você depois. Provavelmente vá te despedir. – Encolho os ombros.

— Está preocupada comigo? – Indaga numa piscadela.

— Não. – Falo voltando meus olhos para o computador.

Era como se ele estivesse dando em cima de mim. Isto me fez desconfortável. Por causa de meu pai, poucos fazia isso, ele espantava os garotos para longe de mim. Como não sabia quem o que fazer, optei por o ignorar.

— Vou conseguir manter meu emprego. Estaremos trabalhando juntos pelos próximos anos. – Sua voz é aveludada.

Só há som do meu dedilhas no teclado, ele me encara, não retorno seu olhar.

— Meu nome é Aiden, como posso chama-la? – Além do veludo há uma nota sexual em seu tom de voz.

Mostro a ele meu cartão profissional sem retirar os olhos da tela do computador. Ele fica em silêncio, olho de esguelha em sua direção. Seu cenho está franzido e sua boca em uma linha, não parece bravo, mas com certeza indignado.

— Mais alguma coisa? – Pergunto olhando para ele.

— Ele é sempre assim? – Rebate ele outra pergunta.

— Sim. – Informo.

— E vocês tem tanto trabalho assim todos os das? – ele aponta para a mesa.

— Sim. – Digo fazendo minha bagunça com as folhas.

— Pode me olhar quando falo? – pergunta.

Sua pergunta me pega de surpresa, quase soava como se estivesse angustiado. Quando o olho, ele está sorrindo de novo. Acho que imaginei a angustia.

— É melhor você voltar para sua sala. Lucca não gosta de conversas durante o horário de trabalho. – Explico.

O queijo dele cai, em seguida, semicerra os olhos. Ele tenta articular mais alguma coisa. Por fim, balança a cabeça.

— Desculpa atrapalhar. – Fala, sua língua passa irritada pelo lábio inferior.

Ele passa a mão por seus cabelos o bagunçando, dá uma piscada pala Sandy, que olha por cima de sua salinha para nós. Ela sorri de orelha a orelha. Com isso, Aiden sorri também, mostrando os dentes brancos. Se afasta me dando um último olhar de analise antes de entrar em seu cubículo.

Sandy me mandou duas mensagens, uma dizia que eu era sortuda por ter o olhar dele, na outra ela me xingava por não retribuir os olhares dele. Depois disso, deixei o celular no mudo. Estava tão atenta aos gráficos que não vi a hora passar, Sandy entra saltitando pelo me cubículo me puxa e diz para irmos almoçar. Mal tive tempo de salvar os arquivos e pegar minhas coisas enquanto ela me arrastava para fora.

No elevador ela continuava com o sorriso inocente de sempre, o que me levou a sorrir junto dela. Sandy era contagiosa. Paramos no andar terceiro para pegar a Selly, que estava esperando por nós. Sandy contou o que tinha acontecido, sobre a bronca que Aiden levou por ter rejeitado as gêmeas. Sandy riu um pouco lembrando-se das expressões dela. Isto quase me fez rir também. Já Selly era boazinha demais para rir da desgraça de alguém, ela até brigou com Sandy por estar sendo cruel.

Sally queria que a gente se transferisse para o andar dela. Tem duas formas de conseguir isso, uma delas é trocar de lugar com alguém do andar que você vai, ninguém quer trocar conosco. Todos conhecem a má fama de Lucca. A segunda forma é com uma autorização. Eu e Sandy já tínhamos pedido a algum tempo e até agora não obtivemos resposta.

A hora do almoço passou voando, não tive tempo nem de ir ver Louis e agradecer pela ajuda, também me desculpar por ter saído tão rápido deixando-o preocupado.

Sandy disse que iria pegar café e avisar o Louis que eu estava bem, ela nunca chegava no horário pós almoço. Pediu que subisse primeiro, foi o que eu fiz. Parecia não haver ninguém ainda no andar. Caminho até minha salinha, uma das gêmeas está lá, sentada na minha cadeira. Coloco a bolsa na escrivaninha.

— Sim? – Pergunto olhando disfarçadamente ao redor vendo se ela tinha destruído alguma coisa.

— Tenho mais trabalho para você! – Responde batendo numa pilha de papeis que estava na mesa. – Revise. – Diz ela sorrindo enquanto se levanta e sai.

Me espreguiço na cadeira. Eu amo ela, é flexível e tinha rodinhas. Estralo os dedos, pescoço e fecho os olhos por um momento. Uma batida leve na madeira me faz abri-los. Aiden está na porta, seu olhar está sobre as folhas na mesa.

— Olá! – Disse ele mexendo nos cabelos.

— Olá. Precisa de ajuda? – Pergunto.

Aiden está sorrindo, não é um que mostra os dentes, entretanto, é bem grande. Anda como uma predador aproximando da mesa, as folhas chamam sua atenção por um momento, pega algumas e lê, sua testa e cenho franze.

— Por que isto está aqui? Não faz parte da empresa. – Declara.

— Não? – Indago confusa.

— Não, não dessa empresa. Como veio para aqui? – Questiona.

— Uma das gêmeas me deu. – Respondo encolhendo na cadeira.

— Elas fazem isso com frequência? – Interroga.

— Alguns dias sim. Nem sempre sou só eu... – Falo.

— Você não recusa? – Pergunta indignado.

— Não... – Sussurro. – Como você sabe que não são gráficos da empresa? – Indago.

— Não temos alguns dos componentes que aparecem nestes gráficos. E eles parecem antigos. Elas fizeram isso para te manter ocupada e estressada. – Sua voz está suave agora.

Meu peito se aperta. Jogo a pilha de folhas no lixo.

— Obrigada. – Agradeço.

— Que tal você agradecer me comprando um café mais tarde? – Diz com um sorriso no canto dos lábios.

— Fico só com as palavras por enquanto. – Anuncio.

O sorriso some.

A dor de cabeça volta, abro a segunda gaveta da escrivaninha, pego a cartela de analgésico. Só tem mais dois comprimidos, espero que eles aguentem até que o trabalho termine.

Levanto e vou em direção ao bebedouro. Aiden me segue, e até ajuda a caminhas para lá, me pergunta se estou bem, falo que sim, mas ele não acredita. Me entrega um copo com água, porém não consigo pegar o copo, a visão escurece.

Procuro a parede atrás de mim, encosto a cabeça nela, esperava que o frio aliviasse a dor, minha cabeça parecia que ia explodir. Ele tocou em meus ombros, me dando uma maior equilíbrio. E depois disso, como num déjà vu, a cena se repete, mas é um real déjà vu. Por que as duas cenas realmente aconteceram, ao menos em minha cabeça...

Exatamente como tinha acontecido com Louis, meus olhos coçaram, minha visão clareou, quando eu abro os olhos vejo uma criatura estranha, linda. Tem os cabelos da mesma cor que as folhas secas de outono, até parece que realmente há algumas folhas ali, bem curto, do mesmo tamanho do Aiden “normal”, também possui dois gravetos presos nos fios de cabelo, quase como antenas. Os olhos são um pouco maiores e o verde da borda está mais nítido. A orelha é pontuda, como a de um elfo. E ele tem um rabo fino, comprido e pontudo. Ele o balança.

Mesmo que ele seja uma criatura linda eu me sinto assustada. Sou capaz de sentir meu coração martelando do meu peito até as costas.  Pensei que queria correr, fugir daquele ser estranho, mas não é verdade, queria o tocar, algo me impelia a fazer isso.

Pensei que assim que estivesse perto o suficiente a imagem iria desaparecer, como aconteceu com Louis, mas minha mão roçou seu rosto. Era quente, como um ser humano, um pouquinho mais quente talvez, “Febre?” me perguntei. Também era bem macia e delicada ao toque. Devia estar alucinando, ficando louca, isso explica tudo.

Ele grita com alguém que sai do elevador, me deita no chão, levantando minhas pernas. Deve achar que minha pressão caiu. Minha mente quase cai no silêncio, antes disso, ela viaja por uma lembrança de um dia quando voltava da escolinha com meu pai, eu vi um rabo de cobra nele também, tentei brincar com a cauda enquanto ela balançava. Papai ficou bravo por isto, muito bravo, gritou comigo e me arrastou para o carro. Naquele dia não fomos para casa, foi a primeira vez que tomei o “suco de aniversário”. Robert me levou para a casa de um homem velho, lá, os dois me forçaram a beber o suco, o dia de meu trauma, lembro do homem falando algo sobre ter de tomar uma vez por ano, e papai o xingando, dizendo para fazer algo permanente. Está lembrança nunca tinha sido tão clara antes.

Logo depois de tomar o suco fedido e ruim, o rabo de papai havia desaparecido, as orelhas e focinho de cachorro do homem que fez o suco também. Fiquei triste no início, mas depois me esqueci, achei que tinha sido um sonho.

Após esta lembrança, escutei que alguém conversava algo sobre ambulância. Sandy estava ao meu lado, me chamando, falando para responde-la. Haviam chegado mais pessoas na sala. Entretanto, eu só via Aiden diferente. Me perguntava o porquê. Minha garganta fechou com a hipótese de ter que ir ao hospital, se eu fosse, papai iria vir aqui, não queria ele aqui. Um desespero quis me tomar mas não me alcançou, era tarde, eu iria apagar a escuridão voltava. Estava cansada de lutar com ela. Minha mente estava vaga e confusa. Não podia ouvir as vozes, nem via ninguém. Aiden me levantou em seus braços, minha cabeça apoiou em seu peito e eu dormi.

Uma pequena parte de mim tinha esperava acordar e me encontrar em casa, na cama. Que isso fosse apenas um sonho ruim. Desejava realmente que fosse assim.


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