Os olhos de Cloe escrita por Misakijuro


Capítulo 2
Capítulo 1 – Início do despertar


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que gostem. Muito obrigada a todos que vieram ler e aqueles que comentaram o capítulo anterior s2.



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O maldito despertador estava berrando em meus ouvidos por bastante tempo, mas não conseguia levantar, me sentia cansada. Havia tido uma péssima noite, então estava pior do que quando havia ido dormir. Contudo, precisava ir trabalhar. Lucca iria me matar se faltasse mais um dia. Já faltei duas vezes neste mês.

Dando um longo suspiro me levantei e fui até a cômoda do outro lado do quarto para desligar a maldita coisa barulhenta. Puxei a primeira gaveta, pegando um conjunto preto de roupas intimas. Em sequência, abri a segunda gaveta, pegando uma blusa social azul escuro de manga longa e na terceira peguei a calça preta social de giz. Fui para o banheiro do quarto. Tomei um longo banho na água fria, em uma tentativa de acordar. Funcionou.

Meia hora depois já estava na cozinha, encarava um pacote que meu pai me enviara, ele chegou semana passada. Peguei o bilhete, relendo ele mais uma vez. Nem sei quantas vezes o li. Tampouco sabia porque fazia sempre isso, afinal, todos eles eram sempre iguais.

Olá querida, tudo bem?

Você não anda atendendo minhas ligações, isto me faz preocupado. Por favor, me ligue, preciso saber que está tudo bem. Não faça isso com seu velho, ele pode morrer, sabia!? — Dou um pequeno sorriso nesta parte, ele às vezes exagera, ligará para ele há duas noites, antes de receber a encomenda. Era difícil ligar todos os dias. – Bom, hoje é um dia especial, parabéns minha querida. 26 anos, quem diria? Parece que foi ontem mesmo quando me ligaram do hospital dizendo que você estava vindo.

Você me faz o homem mais feliz da terra, viu? Filha, como sempre, estou enviando o nosso “suco do aniversário” não esqueça de tomá-lo, é nossa tradição! E eu vou saber se você não o fizer, vou até ai e tiro a sua “liberdade” que me pediu há dois anos. Então não me faça fazer isso.

Beijos, te amo muito Cloe. E não esqueça de beber o suco!

Robert.

Se você me perguntar o que sinto por ele, minha resposta é claro, eu o amo, final ele é meu pai. Entretanto, o sentimento que andara ganhando nos últimos anos é o ódio.

Ele me fez prisioneira de minha própria casa por vinte e quatro anos, quer dizer, era a casa dele, porém, ele não tinha o direito de fazer o que fez. Não podia fazer nada sem a autorização dele, nem ir ao mercado sozinha ele deixava. Quem ouve diz “É que ele é protetor.” Bom, em minha mente proteção tem limites, aquilo não chega nem a ser superproteção. Mesmo quando vou embora, morar sozinha e tudo, continuo presa em sua teia. Ele sempre manda Mandy, uma senhora, fazer as compras de casa, ela vinha uma vez por mês. Além de me entregar as compras, faz uma verificação da casa, para ver se está tudo em ordem.

Tem amigos, comparsas e empregados em tudo que é canto da cidade, assim, pode sempre saber onde estou, o que estou fazendo, tudo, acredite em mim. No início ia para boates e baladas, no dia seguinte, ou as vezes, durante e própria festa ele ou alguém da equipe dele apareceria e me tirava de lá. Depois, meu pai fica um tempo em meu apartamento, o pouquinho que conseguia como, ir dormir o horário no horário que gostaria, assistir ou comer aquilo do qual gosto eram cortados. Tinha que assistir as programações e jogos idiotas do qual ele gostava.

Se o inferno existisse, eu muito provavelmente morava nele, por várias vezes pensei que estava morta e pagando pelas coisas que fiz errado em vida passada.

Com o tempo, para evitar que ele aparecesse, acabei pegando a rotina de casa-trabalho-casa. Era chato, porém melhor do que o ter aqui comigo.

Todos os anos tem o maldito “suco de aniversário”, é algo com um gosto muito desagradável. Odeio. Mas se não o tomo, leva uma consequência. Por quatro vezes tentei burlar meu pai e não tomar a bebida, o castigo que vinha em seguida, não compensava, era melhor beber. Teve uma vez que ele forçou a bebida em minha garganta com o cano de uma mangueira. É a primeira vez que me lembro de tomar o refresco, eu era uma criança, como tinha gosto e cheiro ruim, não quis tomar, então ele fez o que fez. Nunca entendi o por quê dele fazer isso. Está atitude me traumatizou por anos, com isso, me retrai, fiquei com medo do contato social. Eu posso o fazer, mas não tenho confiança alguma em mim mesma.

Eu estava cansada de tudo isso. Iria tentar mais uma vez dar um basta. Se não desse certo, eu não sei bem o que faria, todavia, sei o que eu não faria.

Na noite em que recebi a encomenda liguei para ele, disse que tinha bebido o suco, que estava tudo bem, falei também que não conseguiria ligar todos os dias, que era difícil, mas que iria tentar ligar mais.

Entretanto, não bebi. Não tinha a menor intensão de fazê-lo. Tinha chegado a está conclusão na notei passada. Eu iria mudar minha vida.

— Duvido que vá saber mesmo se tomei ou não. – Digo num suspiro triste.

Peguei a garrafinha, abri-a, o cheiro era horrível, estava bem pior do que me lembrava, tinha certeza que já havia estragado. Joguei o conteúdo da garrafa na pia, foi como se um peso saísse de meus ombros. Sorri contente comigo mesmo por minha decisão.

Abri a geladeira, peguei uma maçã verde de lá. Olhei para o relógio, eram cinco e meia da manhã, precisava sair para ir trabalhar antes que me atrasasse. Ainda bem que moro perto, não conseguiria acordar mais cedo. Não sou uma pessoa matutina então todas as manhãs eram difíceis para mim. No entanto, está estava ganhando. Desde meu aniversário vinha me sentindo meio doente, todos os anos eram assim, mas passavam em um ou dois dias, desta vez não, só ia aumentando o mal estar. “Acho que vou passar no médico mais tarde.” Pensei enquanto jogava o resto da maçã fora.

Fui para a sala, peguei o casaquinho preto em cima do sofá da sala, coloquei-o enquanto pegava minha bolsa na mesinha de centro. Sai do apartamento e fui para a rua. Manhattan estava fria, estávamos no final do outono, logo começaria a nevar.

Andei em direção ao grande edifício da companhia, ele ficava a três quadras do meu apartamento, era uma caminhada rápida. O céu ainda estava escuro devido as várias nuvens escuras, talvez fosse chover.

A cidade já estava em grande movimento, o trânsito é quase impossível, as pessoas gritam e xingam. Isso só fazia minha cabeça doer mais. Parei rapidamente numa farmácia no meio do caminho para comprar um analgésico.

Coloquei meus fones de ouvido para escutar algumas músicas suaves, uma tentativa de amenizar a dor, não tinha água comigo para engolir os comprimidos. Não funcionou, mas a música me deixa mais tranquila então continuei ouvindo. Quando chego nas portas giratórias da empresa guardo os fones na bolsa e entro.

Selly e Sandy estão conversando no sofá branco que fica no canto direito embaixo das escadas. É um dos lugares de lazer da empresa, tem computares na parede, revistas e livros na mesa e na prateleira, ao lado da parede de vidro que fecha esse recanto. Lá perto também tem a cafeteria que faz os melhores Mocha da cidade.

Eu não sou fã de conversar com as pessoas, mas eu amo essas duas, elas e Louis são as únicas pessoas daqui que conversam comigo também. Eu sou um pouco estranha então é complicado tentar fazer novas amizades e muitos preferem manter uma certa distância, eu acho isso até agradável. 

Selly me vê e começa a balançar com a mão para mim. Dou um aceno de volta Informando que as vi. Vou em direção a elas. Sandy está bem animada quando eu chego. Ela olha para mim, com um sorriso inocente. Ela é nova, tem apenas vinte e um e acredita que o mundo é bom, às vezes, a vejo como uma criança, foi por isso que não a afastei, o setor dela é no mesmo andar que o meu. Já Selly, age como se fosse uma mãe para nos duas, é a mais velha, está com trinta e três. É a chefe do terceiro andar, quando entrei, ela estava comigo no quarto andar, mas logo foi promovida, já era chefe a quase dois anos, me orgulhava disso por ela. Selly também é tia de Sandy.

“Mamãe” ficou do meu lado, mesmo quando tentei a afastar, é muito atenciosa e amorosa. Acho que ela deve adotar todos os animais que acha abandonados na rua, pois sempre tem algum pelo de animal de cor diferente em seus terninhos. Se o amor fosse uma pessoa, ele provavelmente seria a Selly.

— Qual é a novidade? – Pergunto tirando minha carteira da bolsa para pegar o dinheiro do Mocha Latte, depois coloco a bolsa no sofá ao lado de Sandy.

— Tem um cara novo na nossa equipe, ele é tão lindo! Estou a babar por ele, não sou a única, as gêmeas estão agindo como se estivessem no cio por causa dele. Elas o agarraram e não soltam mais. – Respondeu Sandy ainda com o sorriso no rosto, mas agora era um sorriso quase malvado, quase.

As gêmeas são as patricinhas do nosso andar. Não sabem fazer o trabalho delas direito então passam para qualquer idiota da equipe, que acaba sendo eu. Suspiro ao me lembrar de quanta coisa tive que fazer ontem por causa delas. O pai delas esconde isso dos supervisores, ele é o chefe do nosso departamento então não deve ser difícil para ele fazer isso.

— Ele deve estar amando ou apavorado. – Falo preocupada. – Meio que sinto pena dele. – Encolho os ombros. – Vou comprar o Mocha. – Aviso indo para a cafeteria.

Me preocupava pois as loiras gostam de brincar, se o cara, por um acaso, fosse alguém que goste de coisas sérias e acabasse se apaixonando por uma delas iria sofrer. Também, de uma maneira egoísta, eu desejava que elas jamais encontrassem seu par, mas elas são lindas, realmente bonitas. Elas prendem o interesse dos homens apenas com a aparência.

Na fila do café, a dor de cabeça começa a piorar a tal ponto que me deixa um pouco zonza e atordoada, a vista fica escurecida e a cabeça pesada. Tento dar um passo em direção as mesas, precisava sentar, mas apenas cambaleio perdendo o equilíbrio. Alguém fala alguma coisa para mim, mas não consigo escutar, meus ouvidos estão abafados. Uma mão encosta no me ombro e me guia até uma cadeira, eu acho. Me ajuda a sentar e abre meu casaco para que eu pudesse ter o ar entrando com uma maior facilidade. As mãos dessa pessoa passam em minha testa, limpando o suor que estava se formando depois descem e seguram minha mão num aperto firme.

— Cloe, você está bem? – Parece a voz de Louis, meu melhor amigo. Ele está preocupado.

— Louis? – Pergunto. – Estou, só com dor de cabeça, logo passa. – Murmuro colocando as mãos na cabeça. Minhas mãos tremiam.

— Yeah! Sou eu. Não está me vendo? – Pergunta balançando as mãos em frente aos meus olhos. Sua voz estava quase uma oitava acima. – Devo chamar o pronto socorro? – Indaga.

— Não é preciso, deve ser a pressão que caiu. – Sussurro sem forças de falar.

A dor começou a passar lentamente, aos poucos meus sentidos vão voltando ao normal. Louis está ajoelhado em minha frente, posso ver sua expressão preocupada, os olhos azuis cintilando, quase como se fosse chorar, o rosto branco pela preocupação. Bagunço um pouco a cabelo branco dele e coloco um sorriso no rosto. Ele tem o cabelo mais sedoso que já vi e senti, já pedi a ajuda dele para melhorar o meu, mas não teve resultado em meus cabelos. Não sei por que alguém tão jovem tem o cabelo daquela cor, mas fica lindo nele. Além de ser uma delícia ao toque.

Louis é a pessoa mais bonita que já vi. As vezes brincava com ele de que sua escolha sexual era um desperdício para as mulheres, e que, os homens eram sortudos por isso também.

— Estou melhor agora, obrigada. – Afirmo a ele.

— Você me assustou, pensei que fosse desmaiar. – Declara ainda preocupado, procura em meu rosto algo que denuncie de que ainda estou passando mal.

Dou-lhe um pequeno sorriso, para que acalmasse.

Meus olhos começam a coçar, como se algo tivesse entrado ali, quando os abro novamente, não sei que reação ter. Sei quem está na minha frente, mas não posso o reconhecer. É assustador. Quero gritar, mas acho que se o fizer vão achar que estou louca. Quero ir embora, mas sou incapaz de me mover. A mente fica em branco. O que eu vejo é um rosto que parece com o de uma raposa branca, tem um símbolo vermelho em forma de bola na testa, que desce formando uma ponta em direção ao focinho, a criatura está ajoelhada, tem cinco caudas espalhadas pelo chão, na ponta de todas tem um desenho semelhante ao da testa. Os olhos azuis, com uma pupila bem pequena. É o mesmo azul do Louis.

Mesmo que eu estivesse assustada com o que via, eu queria toca-lo. Ele está na forma de uma raposa, mas ela é linda. Eu quero tocar e acariciar os pelos, senti-los sobre meus dedos. Quando minha mão está prestes a tocar-lhe o rosto a imagem se vai.

Louis tem uma expressão ainda mais preocupado, também diz para que eu não chore. Ele colocou as mãos em meu rosto limpando lágrimas que eu não sabia que estavam lá. Em seguida me abraça, Selly e Sandy estão correndo para cá. Um soluço escapa de meus lábios, mais ainda não me entreguei ao choro. Tenho medo de não estar bem da cabeça, fico apavorada com está possibilidade. Quando as duas começam a perguntar o que tinha acontecido, não consigo mais segurar o choro. Meus amigos estão tentando me acalmar, descobrir o que aconteceu, entretanto, eu tampouco sei o que houve.

Selly falou sobre chamar uma ambulância, mas eu não deixo. Falo que estou apenas estressada, que tinha passado no médico já. Não queria preocupar as únicas pessoas que eu gostava. Quando os soluços cessaram, me levantei, mesmo contra os protestos deles, fui em direção ao banheiro. Precisava ficar um pouco sozinha, tentar entender o que tinha acontecido.


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Notas finais do capítulo

As explicações das criaturas, visões e personagens vão ser apresentadas aos poucos. No início pode ficar tudo meio vago, mas prometo que logo você irão entender õ/