TWD - Quarta Temporada escrita por Gabs


Capítulo 8
Oito


Notas iniciais do capítulo

"Nossa missão é levar Eugene a Washington, D.C."



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Logo nas primeiras horas da manhã nós desmontamos o acampamento e continuamos a caminhada por entre a floresta. Durante grande parte do caminho que estávamos fazendo até a estrada eu me mantive em silêncio, assim como os outros. Ver Glenn vivo e perto de mim me trouxe pensamentos sobre meu filho e Daryl, eles poderiam estar vivos também, assim como o resto da família.

Eu sabia que estava nutrindo muita esperança e também sabia que a decepção poderia ser imensa, mas não me importei.

Otimismo sempre foi o meu forte e não é agora que isso vai mudar.

— Gabi. – Glenn chamou minha atenção e eu virei um pouco o rosto para encará-lo. O coreano estava ofegante, como todos nós e todo suado. O sol da Georgia não perdoa ninguém – Você viu se alguém da família conseguiu sair? – Balancei a cabeça negativamente, sabendo que não poderia dizer aquilo em voz alta – E você, viu alguém dos nossos? – Ele resolveu perguntar para a mulher de rabo de cavalo

— Olha, tudo que eu vi foi minha irmã naquele pátio. – Tara lhe respondeu, respirando fundo – Nem era para ela estar lá. Ela tinha arma, mas a atacaram como um enxame. Nem era para ela estar lá. Eu fui por ele. Confiei nele. E depois ele simplesmente matou aquele velho.

— O Hershel? – Glenn perguntou, parando de andar e depois se virou para me olhar – Era o Hershel?

Balancei a cabeça positivamente, mordendo os lábios enquanto respondia de forma silenciosa sua pergunta.

— Sinto muito. – Tara comentou, parecia que ia começar a chorar novamente – Muito mesmo. Brian, aquele homem, contou que vocês eram maus. Sei que não é verdade. Dá para ver que não é, então o que fizemos, o que eu fiz... – Ela deu uma pausa, enquanto via o estado de Glenn – Cara, eu sou um pedaço de merda. Por que vocês vão querer minha ajuda?

— Não queremos. – Glenn falou para ela, depois de respirar fundo – Mas acontece que eu preciso da sua ajuda. Tenho que achar a Maggie.

— Quem é a Maggie? – Tara perguntou, balançando a cabeça negativamente

— A minha esposa. – Glenn respondeu, olhando para ela

— Vocês foram separados? – Tara perguntou novamente

— Eu estava no ônibus, daí desci para ajudar e ela não me viu. – Glenn comentou, balançando a cabeça negativamente

— Como sabe se ela conseguiu? – A mulher de rabo de cavalo perguntou, olhando para o rosto do meu amigo

— Não sei. – Glenn respondeu, negando com a cabeça – Mas o Hershel, o pai da Maggie, meu sogro, era um grande homem. Ele me disse que eu precisava acreditar, e é isso que eu vou fazer. – E então ele se virou para me olhar – Eu sei que esse seu silêncio não é nada bom, porque te conheço muito bem Gabriela, você sempre gostou de falar. – Ele se aproximou de mim – Encontraremos o resto da nossa família e ficaremos todos juntos novamente. Vamos encontrar o Teddy e o Daryl, eu te prometo isso. Não era para nenhum de nós estar vivo agora. Mas estamos. As coisas não acabaram.

Balancei a cabeça positivamente, enquanto sentia Glenn me puxar pelo braço para voltarmos a andar, enquanto a mulher dizia que queria acreditar no que Glenn falou. Eu também queria acreditar, mas no fundo sabia que não existia o Feliz Para Sempre dos contos de fadas.

— Quem é Teddy e Daryl? – Tara nos perguntou, passando a mão pelo rosto

— Meu filho e meu noivo. – Respondi, um pouco baixo

— Noivo? – Glenn perguntou, juntando as sobrancelhas – Daryl te pediu em casamento?

— Também fiquei surpresa. – Comentei com ele, brincando com a aliança em meu dedo – Ele provavelmente queria fazer as coisas do jeito tradicional, um bebê, um casamento...

Do outro lado da rua, alguns caminhantes chamaram nossa atenção. Copiei os movimentos de Glenn e deixei minha mochila no chão, para logo seguir meu amigo em direção aos caminhantes que se aproximavam.

Segurei a metralhadora ao contrário e assim que me aproximei o suficiente de um caminhante, lhe dei uma coronhada na cabeça, o mais forte que consegui. Escutei o barulho da faca de Glenn perfurar a cabeça de uma caminhante e me movi em direção ao próximo, repetindo a mesma coisa de antes, coronhada seguida por coronhada.

Quando todos caminhantes estavam no chão, vi meu amigo cair de joelhos, gemendo enquanto colocava a mão sob a barriga. No mesmo segundo eu me aproximei dele, mas assim que coloquei minhas mãos nele eu o vi desmaiar.

— Não. – Murmurei aflita, chacoalhando ele – Acorda agora... Porra Glenn.

Escutei um grunhido atrás de mim e antes mesmo de me virar e matar o caminhante, Tara atravessou a rua e acertou sua faca na cabeça dele.

— O que aconteceu com ele? – Ela perguntou, limpando a faca em sua calça

— Eu não sei....

Ao sentir o chão tremer e o barulho de motor chegar aos meus ouvidos, eu me levantei depressa, ficando um pouco mais à frente do corpo de Glenn e de Tara, enquanto apontava minha metralhadora em direção ao caminhão do exército que se aproximava.

— Gabriela...

— Cuida do Glenn. – Falei para Tara, sem me virar para vê-la – Eu cuido disso. Estou cansada desses filhos da puta roubando as coisas do...

Minha voz morreu assim que as pessoas que estavam dentro do caminhão saíram, carregando armas consigo. Por ver que Tara não cumprimentou ninguém, supus que eram desconhecidos.

E esbarrar com desconhecidos nunca é bom.

A primeira pessoa que desceu foi um homem grande, usava roupas militares e tinha um cabelo ruivo e um bigode. A segunda pessoa a descer foi uma mulher morena com dois rabos de cavalo baixos, usava coldres nas pernas e também estava armada. O terceiro a descer foi um homem meio gordinho, com um corte de cabelo mullet e sem dúvidas esse era o único que aparentava não saber se defender. Meus olhos passaram dele para uma mulher loira e duas coisas me chamaram atenção, seus olhos azuis chamativos e seu casaco azul marinho, com o emblema do Corpo de Bombeiros de Atlanta. Parecia médica ou algo assim, só podia ser.… E se ela era médica...  

A ideia de que ela poderia cuidar de Glenn sumiu assim que coloquei meus olhos na última pessoa desceu do caminhão. O homem também usava roupas militares e tinha descendências alemãs gritantes.

Jason Harris.

Os cabelos castanhos estavam um pouco maiores do que era permitido no exército e agora, ele cultivava uma barba por fazer. Os olhos verdes estavam vermelhos e aparentava cansaço. Ele vestia uma calça camuflada e uma regata preta, mostrando a mesma tatuagem que eu possuía no braço, a tatuagem de um Ranger e tinha duas dogtags penduradas no pescoço.

Por poucos momentos, esqueci sobre todos e fiquei ali, olhando para ele, olhando para o homem por qual eu fui apaixonada durante muito tempo e quase sorri quando ele abriu um de seus grandes e calorosos sorrisos, enquanto me olhava de volta.

Me olhava com saudade.

Jason deu poucos passos em minha direção e assim que ficou frente a frente comigo, fez questão de pegar a metralhadora que estava em minhas mãos e coloca-la no chão. Em seguida, ele praticamente me levantou e me sufocou em um abraço muito apertado. Eu o abracei de volta, enterrando uma de minhas mãos em seu cabelo enquanto colocava meu rosto na dobra do seu pescoço.

Ele estava aqui, Jason estava realmente aqui.

Porra, ele está aqui.

Me abraçando e sendo abraçado.

Deus.

O que eu estou fazendo?

— Espera um segundo. – Falei meio alto, tirando minhas mãos dele e fazendo o melhor possível para que ele me largasse – Jason, espera aí.

— O quê? – A voz de Jason saiu arrastada e percebi que ele pareceu fazer muito esforço para me colocar no chão novamente

Mordi os lábios, enquanto desviava o olhar e passava a mão nervosamente pelo cabelo. Como eu poderia dizer aquilo? Era a hora de dizer aquilo?

— Parece que o Harris conhece a mulher com a boca suja. – O homem ruivo chamou minha atenção assim que falou, seu tom de voz não era lá muito amigável - Sabia que você tem uma boca muito suja? – Ele perguntou, olhando-me nos olhos - O que mais tem aí?

Franzi minhas sobrancelhas, pensando não ter escutado direito e então voltei a olhar para Jason, perguntando silenciosamente se ele e seu grupinho iria realmente me assaltar e a resposta veio logo em seguida, com Jason crispando seus lábios de uma forma que eu nunca havia visto antes.

— Deixa ela em paz, porra. – Jason praticamente rosnou, estava olhando para o homem ruivo, seus olhos verdes estavam semicerrados

— Jason. – A mulher morena perto deles murmurou, olhando para ele como se estivesse surpresa por vê-lo falar daquela maneira

A voz de Tara chamando por Glenn ao fundo da discussão dos dois homens foi o suficiente para me trazer de volta a realidade. Olhei novamente para trás, para onde ele estava desmaiado, enquanto pegava a metralhadora do chão e um suspiro sofrido saiu dos meus lábios, atraindo toda a atenção de Jason novamente.

— Você tem água? – Perguntei meio baixo, para Jason, mas não estava realmente olhando para seu rosto, pois meus olhos estavam presos no meu melhor amigo – Ele desmaiou.

— Kylie? – Jason chamou uma das mulheres, e mesmo chamando apenas pelo seu nome, percebi que seu tom de voz estava cauteloso – Você poderia...

A mulher loira soltou um suspiro e afirmou com a cabeça, eu a vi dar a volta no caminhão e segundos depois, voltar com uma mochila nas costas e uma garrafinha de água nas mãos.

— O que vai fazer? – Perguntei alto, assim que notei que ela não tinha intenção nenhuma de me dar a garrafa de água – Ei.

A tal de Kylie me ignorou completamente e se ajoelhou perto de Glenn, colocou a garrafa de água no chão e levou uma de suas mãos para sua testa.

— Está um pouco quente. – A voz da mulher era calma e assim que ela abriu a boca, percebi que não era de Atlanta

— Está vendo mordidas? – O homem ruivo perguntou para ela, um tanto quanto curioso

— Ele não foi mordido. – Falei alto novamente, meio irritada com aquela situação

— Abaixe o tom de voz, Lopes. – O homem ruivo disse baixo, seus lábios estavam franzidos e assim que viu uma leve surpresa ser esboçada em meu rosto, ele completou – O que? Achou que eu não reconheceria a arrogância dos Lopes?

— Cuidado com o que fala, homenzinho. – Rosnei, olhando para ele

Ele não era um homenzinho, e sem dúvidas era muito mais forte do que eu.

Mas foda-se, quem ele pensa que é para falar da minha família assim?

— Vamos embora. – O homem ruivo disse um pouco alto e então olhou para Jason ao meu lado – Pegue o namorado da sua amiguinha e leve-o para cima do caminhão, a Weller vai dar um jeito nele.

— Ei. – Falei alto novamente, colocando minha mão espalmada no peito de Jason, impedindo que ele se movesse em direção a Glenn – Quem disse que eu quero ir com vocês?

— Como é? – Jason Harris perguntou perplexo, tão alto quanto, parecia que tinha acabado de levar um tapa no rosto – Escuta, querida... – Ele levantou a mão e antes mesmo de ser tocada por ele, eu me afastei, deixando-o ainda mais confuso – Amor, não faça isso. Nós acabamos de nos encontrar e...

A cada palavra doce que ele me dizia eu sentia como se um buraco estivesse se formando no meu estomago. Eu tinha que contar, precisava falar que agora tinha outro homem na minha vida e que eu tenho um filho.

Mas como dizer isso em voz alta?

Ao fundo, o som familiar de gemidos começou a se aproximar. Toda a nossa movimentação e as vozes altas estavam atraindo mais e mais caminhantes.

— Estão vindo. – A mulher morena anunciou

— Não me diga. – Retruquei alto, passando a mão pelo cabelo mais uma vez

— Porra. – Jason resmungou mais alto ainda, olhando para a floresta por cima dos meus ombros e depois se virou, para olhar seus amigos – Abe, liga o caminhão, Kylie me dá uma mão com o chinês, Rosita leve o Eugene de volta ao caminhão.  

— Ele é coreano. – As palavras saíram da minha boca antes mesmo de eu pensar sobre o que estava falando  

Mal tive tempo de falar mais nada, pois assim que me virei para vê-los pegar Glenn do chão, vi a gravidade da situação. Tinham muitos caminhantes se aproximando cada vez mais.

Depois de ser praticamente empurrada para a caçamba do caminhão, fiquei ali sentada, com os olhos cravados na mulher loira e a cada movimento que ela fazia em Glenn. Poderia ser médica ou o que quer que fosse, mas ainda era uma desconhecida.

— O que ele é seu?

Desviei o olhar da mulher e encarei Jason, meio surpresa pelo seu tom de voz e pelo ciúme que transbordava a cada palavra.  

Ele estava sentado bem na minha frente, do outro lado da caçamba do caminhão militar. Tara estava encostada no vidro que separava a caçamba e a cabine do motorista, onde aquela Rosita e o Eugene estavam com o tal de Abe. E mais ao meu lado, estava Glenn e aquela tal de Kylie.

— Ele é meu irmão. – Respondi de forma indiferente

— Irmão? – Jason repetiu, como se tentasse entender o fato de eu chamar um coreano de irmão – Ah, bom...

— Ei. – Tara me chamou, parecia apreensiva

Antes mesmo de olhar para ela, quando o caminhão passou por um ônibus muito familiar, eu entendi o porquê ela estava tão apreensiva.

Aquele era o nosso ônibus.

— PARA O CAMINHÃO! – Berrei, enquanto praticamente engatinhava em direção a portinhola da caçamba

O caminhão parou com um baque, quase cantando pneus e antes mesmo de qualquer um ali gritar comigo, eu pulei do caminhão, sentindo todo o meu corpo gritar com o que eu estava vendo.

Ali estava eu, me aproximando a passos largos do ônibus parado no meio da rua, corpos estavam amontoados e espalhados ao redor do ônibus que escapou da prisão com os sobreviventes. Eu conhecia a maioria das pessoas mortas ali, eles tinham virado caminhantes de algum jeito e agora estavam mortos, alguém os matou.

— O que você está fazendo? – A voz de Jason estava próxima – É só um ônibus.

— Não é só um ônibus. – Murmurei, e assim que cheguei perto o suficiente dos mortos e do ônibus, comecei a olhar ao redor, para os rostos dos caminhantes mortos, procurando por qualquer um que fosse do meu bloco de celas – Esse é o meu ônibus...

— Eu não.... Ei! – Jason segurou o meu braço, assim que me viu começar a caminhar em direção a porta de emergência do ônibus, a qual estava aberta, esperando por mim – O que está fazendo?

Puxei meu braço de volta, fazendo-o me soltar e mesmo assim, entrei no ônibus. Assim como lá fora, os caminhantes aqui dentro estavam mortos também e tomando muito cuidado, analisei cada pedaço do lugar, procurando por qualquer rastro que me contasse quem matou os caminhantes, como as pessoas viraram caminhantes e...

Droga.

Aquilo era muito para mim.

— Anda logo sua louca! – A voz do tal de Abraham soou forte e próxima

— Ei! – Jason reagiu no mesmo instante, praticamente berrando

Assim que sai do ônibus, segundos depois, ignorei todos que estavam fora do caminhão e caminhei em direção a Glenn, subi novamente na caçamba e agora, me sentei ao lado do coreano desmaiado e daquela mulher.

Minha mente estava a mil.

As pessoas saíram no ônibus e mesmo assim, estavam todos mortos.

Minha família foi separada.

Meu filho e Daryl estavam desaparecidos.

Glenn ainda estava meio doente.

Jason estava de volta.

Aquilo era muito para se pensar e sinceramente, eu só queria chorar.

Mas chorar não iria deixar as coisas como eram antes.

— Eu sinto muito. – Tara sussurrou, ela estava de volta na caçamba, e mesmo estando um pouco longe, eu a escutei sussurrar novamente – Sinto muitíssimo.

— Querida... – Jason murmurou, sentando ao meu lado e assim que senti ele colocar a mão em meu ombro, eu o olhei nos olhos – Se você pudesse.... Eu preciso entender. Você está de um jeito que eu nunca vi antes e isso é assustador.

O caminhão voltou a andar novamente, fazendo com que o vento começasse a bater em meu rosto novamente, fechei meus olhos por alguns segundos, respirando fundo, tentando criar coragem.... Mas eu os abri assim que senti os lábios apressados de Jason se chocarem com os meus. Com a mão, eu o empurrei nada delicadamente pelo ombro, fazendo-o se afastar bruscamente de mim.

Aquela era uma linha que eu não gostaria de ultrapassar.

Não de novo.

Daryl não merecia aquilo.

— Não me beije. – Falei para ele, e estranhamente, minha voz saiu suave

— O momento foi horrível, eu sei, mas eu queria muito isso. – Jason murmurou, encolhendo os ombros – Olha, - Ele disse, tirando uma das dogtags do pescoço – isso é seu. Peguei do seu armário no Benning, você sempre teve uma mania estranha de sair sem sua identificação.

Lentamente, peguei a placa de identificação de sua mão. Uma respiração pesada escapou pelos meus lábios assim que eu li meu nome e meu sobrenome ali, nas primeiras linhas, sendo seguido pelo meu codinome. Logo abaixo estava meu tipo sanguíneo, meu número de registro do exército e por último, dizia RANGER.

— Eu nem me lembrava mais disso. – Confessei, enquanto colocava a minha dogtag em meu pescoço, para depois esconde-la por baixo do poncho ridículo que eu usava – Obrigada.

— Não tem que me agradecer. – Jason murmurou, com um sorriso nos lábios enquanto voltava a se sentar na minha frente e então desviou o olhar por alguns momentos, olhando para a mulher loira trabalhando – Não se preocupe com seu irmão, Kylie é uma das melhores paramédicas que eu conheço.

— Isso é porque você só conhece uma Paramédica. – Kylie comentou e por alguns segundos, tentei reconhecer seu sotaque, ela desviou o olhar para olhá-lo e sorriu para ele, um sorriso carregado de ironia – Não seja puxa-saco, Jason.

— Se tem alguém aqui que pode afirmar que eu não sou um puxa-saco é a Gabriela. – Jason comentou com ela, rindo enquanto apontava sutilmente para a minha direção

Kylie olhou diretamente para mim por alguns momentos e pude jurar que a coloração das suas bochechas sumiu.

— Obrigada por cuidar dele. – Falei para ela, realmente estava agradecida por ter alguém capaz examinando-o

— É meu dever. – Ela murmurou, desviando o olhar para o coreano

— Bem, - Jason chamou novamente minha atenção - me conte por onde esteve.

— Você não vai querer saber. – Comentei, olhando atentamente para ele

— Vou sim. – Ele retrucou, sorrindo levemente – Claro que eu quero. E não poupe detalhes, tudo que envolve você me interessa.

— Ah. – Apenas murmurei, e sabia que parecia uma idiota naquele momento, totalmente desconfortável com suas investidas – Bem... – Mordi os lábios, pensando em como resumir os dois últimos anos da minha vida

— Não morda seus lábios. – Jason comentou, e desta vez, ele me olhava como se estivesse fascinado, como se eu fosse a pessoa mais interessante da Terra – Deixe esse trabalho pra mim.

— Jason, olha... – Falei meio alto, sentindo todo o meu rosto esquentar e não era de raiva, eu estava realmente com vergonha – Você tem que parar.

— Eu não estou fazendo nada, amor. – Jason comentou, franzindo as sobrancelhas

— Você está. – Retruquei, balançando a cabeça negativamente – Está dando em cima de mim e está deixando a Tara desconfortável, está me deixando desconfortável. – Falei, dando uma olhadinha na mulher de rabo de cavalo, a qual estava prestando minha atenção nas arvores borradas à nossa volta

— Desde quando você fica desconfortável com isso? – Jason perguntou confuso, ignorando totalmente Tara – Você sempre gostou.

— Eu não posso fazer isso. – Falei para ele, respirando fundo, pensando novamente em como lhe dizer aquilo – Olha, você queria saber por onde eu estive e.… bem, eu vou te contar. – Eu o observei me olhar atentamente, ele tinha ficado um pouco mais sério do que antes – Quando eu te liguei, no começo de tudo isso, você não atendeu...

— Eu est...

— Não me interrompa. – Resmunguei, fazendo com que ele soltasse um risinho e afirmasse com a cabeça – Bem, fiquei esperando em Mableton por um tempo e ninguém apareceu. Fiquei sozinha durante semanas, aprendi como sobreviver aos mortos e quando achei que já ficaria louca e morreria sozinha, encontrei um grupo de sobreviventes em uma pedreira próxima a Atlanta. – Sorri com a lembrança de Dale, T-Dog, Jacqui e todos os outros vivos e bem – Essa foi a primeira melhor coisa que aconteceu comigo, mesmo Adrian estando no grupo.

— Ah, porra, sério? – Jason perguntou alto, perplexo – Aquele filho da puta ainda está vivo?

— Não. – Respondi, balançando a cabeça negativamente – Ele morreu. E eu já disse, não me interrompa. Bem, continuando de forma resumida, aquele grupo me aceitou e foi lá que eu conheci pessoas maravilhosas. Como o Glenn. – Desviei o olhar por alguns momentos, até o coreano - E muitos outros. – Comentei, sendo bem vaga, pois eu não saberia explicar para ele o quanto aquelas pessoas significavam – Houve um acidente em Atlanta e um homem ficou algemado no telhado de um prédio, durante uma missão de pilhagem e tivemos que deixá-lo para trás. Mas voltamos no dia seguinte, quando o irmão dele voltou da caça e praticamente ameaçou todo mundo de morte. Voltamos por Merle, o homem preso no telhado, e pela bolsa de armas, a qual um policial tinha deixado cair no meio das ruas de Atlanta quando foi encurralado por caminhantes. Acabou que o Merle não estava mais lá e a bolsa de armas quase foi pega por outro grupo de mexicanos e não satisfeitos de quase nos roubar, eles sequestraram Glenn. – Respirei fundo, me lembrando de quando saímos do CCD e nos deparamos com o grupo inteiro da casa de repouso, todos assassinados – Depois que resolvemos as coisas em Atlanta, depois que tivemos algumas perdas, fomos para o CCD, onde quase morremos por A.I.t’s, mas conseguimos escapar nos últimos minutos do lugar ir para os ares. Bem, depois disso, voltamos a Atlanta, encontramos tudo acabado e depois de um acidente, quando um garotinho de doze anos foi baleado, fomos recebidos em uma fazenda, onde Glenn conheceu sua esposa, Maggie.... Você quer mesmo saber de tudo?

— Eu quero. – Jason me respondeu, logo em seguida

— Foi na fazenda que eu comecei a me envolver emocionalmente e fisicamente com outro homem. – Eu lhe contei, e fiquei em silêncio para ver sua reação, vi como seu rosto ficou vermelho e sua boca abriu, mas antes que ele falasse qualquer coisa, eu continuei – Essa foi a segunda melhor coisa que me aconteceu.

— Você... – Jason murmurou, mas depois ficou uns segundos em silêncio, olhando para o meu rosto – Você não falou sobre isso no passado.

— É. – Concordei, afirmando com a cabeça – Isso porque eu ainda estou com esse homem.

— Qual é o nome dele? – Jason perguntou, crispando os lábios

— Daryl Dixon. – Respondi, no mesmo instante – Ele é o irmão daquele homem que foi algemado em Atlanta, Merle.

— O homem que ameaçou todo mundo de morte? – Jason resmungou, como se me criticasse com seu olhar e seu modo de falar

— Eu disse “Praticamente”. – Resmunguei também, crispando os lábios

— Continua com a história. – Jason resmungou novamente, cruzando os braços em frente ao peito – Quero saber como você acabou sozinha com o marido de outra e uma garota.

Respirei fundo, sabendo que aquilo era apenas o começo de sua raiva e agora que eu tinha começado, teria que terminar de contar.

— A fazenda foi tomada por um bando de caminhantes semanas depois e essa foi a primeira vez em que o meu grupo se separou. – Eu lhe contei, me lembrando dos últimos acontecimentos da fazenda, ano retrasado – Mas nós nos encontramos no final e seguimos viagem por mais uns oito meses, nos mudando a cada dois dias ou menos.... Até encontrarmos uma prisão perto de Newnan, ela estava infestada de caminhantes e tivemos muito trabalho para torná-la um lar e quando achamos que conseguimos, depois da esposa do policial que tinha deixado a bolsa de armas cair em Atlanta dar sua vida para ter uma bebê.... – Todo o meu corpo estremeceu quando me lembrei do parto cesariano que Maggie fez em Lori

— O que foi? – Jason perguntou, descruzando os braços enquanto se inclinava para a minha direção

— Eu apenas me lembrei do parto dela, Maggie, a esposa do Glenn fez uma cesariana na mulher.... Não tínhamos nenhuma anestesia, nada.... Ela morreu, mas sua filha nasceu. – Contei, suspirando pesado – Bem, Daryl saiu no mesmo dia em busca de formula para a criança e voltou com algumas, mas tivemos que sair no dia seguinte, em busca de mais... Apenas Glenn, Maggie e eu. E na volta, antes de entrarmos no carro, o homem que deixamos algemado em Atlanta apareceu, ele literalmente surgiu do nada, com a mão amputada coberta por um metal de proteção. Merle conversou civilizadamente por poucos segundos e depois conseguiu nos sequestrar. Ele nos levou para uma cidade de sobreviventes chamada Woodbury, onde um psicopata reinava como Governador. – Me virei para Tara, balançando a cabeça negativamente – Esse é o Brian que você conheceu, mas nós o conhecemos como Philip, o Governador. – Voltei a olhar para Jason novamente, para continuar a história – Bem, para encurtar, meu grupo foi levado a cidade por uma mulher com uma espada e nos salvou do Governador momentos antes de sermos executados. Ah, espera. – Soltei um riso nervoso, tinha esquecido de algo – O Sam entrou na sala de interrogatório que eu estava, e foi assim que nos encontramos... ou ele me encontrou. Bom, depois que fugimos de Woodbury o Governador foi até nossos muros na prisão, arrombou nosso portão e jogou caminhantes em nosso gramado... E assim começou uma guerra sem fim, que infelizmente ou felizmente, acabou ontem. Não vou contar todos os detalhes, mas quando pensamos que o Governador tinha ido embora de vez, ele voltou com a porra de um tanque de guerra e passou por cima das nossas cercas, separando meu grupo mais uma vez e foi assim que eu acabei sozinha com o marido de outra mulher e uma garota.

— Olha, eu não tive a intenção... – Jason murmurou, e desta vez, foi ele que mordeu os lábios – Eu estou bravo com o que você disse e... Eu não penso direito quando estou bravo.

— Escuta, Jason. – Murmurei também, depois de respirar fundo – Muita coisa aconteceu desde que nos falamos pela última vez, foram dois anos e nesses dois anos, minha vida mudou. A mais ou menos onze meses, comecei a desconfiar que estava grávida, mas não dei muita bola porque eu estava com muita coisa na cabeça, estávamos em guerra com o Governador.... Mas quando as coisas passaram, quando o rastro do Governador esfriou, sai com Sam num certo dia, dois meses depois, procurar por você e acabei voltando para a casa com sua carta e três testes de gravidez, todos positivos. – Eu lhe contei, enquanto via a coloração sumir gradativamente de seu rosto – Daryl e eu temos um filho, um bebê lindo chamado Theodore. Eu não sei como ainda estou aguentando isso tudo, ficar longe deles nunca passou pela minha cabeça e agora que isso está acontecendo.... Em um momento eu estou toda cheia de vida, olhando meu filho dormir, com meu noivo ao meu lado e no outro eu estou olhando para todos os lados, procurando qualquer rastro deles e da minha família...

— ...Noivo? – Jason repetiu e assim que me viu mostrar a aliança em meu dedo, ele passou a mão pelos cabelos, muito transtornado – Caralho. – Ele murmurou – Puta que pariu.... Puta merda.... Eu pensei que.... Droga.

— Eu entendo que você passou muito tempo procurando por mim, mas...

— Não, você definitivamente não entende. – Jason resmungou alto, olhando para mim – Eu larguei o exército no momento em que eles mais precisavam, me tornei um traidor e arrastei homens bons comigo, com uma promessa que encontraríamos a Chefe da Infantaria, a filha do General e que tudo ficaria bem...

— Eu sinto muito. – Murmurei, olhando para seus olhos

— Você não parece estar arrependida. – Ele retrucou, balançando a cabeça negativamente – Eu soube assim que te vi que tinha algo diferente em você e não é apenas porque você está usando essa...coisa aí. – Ele apontou para o meu poncho – Seu olhar.... Você não é mais você.

— Eu gostaria de dizer que ainda sou a mulher que você conheceu, mas eu sei que não sou. – Comentei, encolhendo os ombros – Sinto muito se te decepcionei, mas tudo que eu sou agora é uma mulher destruída procurando por sua família, pelo seu noivo e pelo seu filho.

— Você soa como... – Jason soltou um riso, ele estava nervoso – Merda, eu nem sei como você soa.

O caminhão em que estávamos começou a diminuir a velocidade e parou. Isso foi o suficiente para que Jason se levantasse e fosse até o vidro blindado, tentar conversar com aquele tal de Abe que dirigia.

Perto de mim, Tara ficou tensa e assim que eu vi o que ela estava olhando, entendi. Tinham três caminhantes vindo em nossa direção. Eles chegaram até o caminhão e começaram a tentar subir na caçamba. Tara pegou a metralhadora e se levantou, caminhando em direção a borda da caçamba onde os caminhantes estavam. Eu me levantei também, indo logo atrás dela, para checar se valia a pena atirar.

— Não. – Resmunguei assim que vi os três caminhantes, e abaixei a arma dela – Eles nunca conseguirão subir aqui, estamos em segurança, Tara.

Ela me olhou, parecendo que duvidava se estávamos realmente seguros.

— É melhor não atirarem! – A voz de Abraham soou alta e meio irritada, e assim que os caminhantes escutaram sua voz, começaram a dar a volta no caminhão. Me virei para olhar o homem e o vi rir, enquanto descia do caminhão – Oh merda. Vejam o que temos aqui. – Ele matou os dois primeiros caminhantes e quando chegou a vez da caminhante mulher, ele riu baixo – Olha para você, docinho, toda desarrumada. – Ele acertou o rosto da caminhante com o pé de cabra que segurava e isso não fez muito estrago, pois ela continuou tentando agarrá-lo – Droga.

— Com dificuldades, Abe? – Perguntei a ele, mostrando que eu estava me divertindo com aquilo

— Quer vir fazer melhor, Chefe? – Ele retrucou e acertou novamente o rosto da caminhante, a desequilibrando e fazendo-a se encostar no caminhão. Abraham aproveitou isso e enfiou o pé de cabra no rosto da caminhante, mas não a matou, a única coisa que fez foi prendê-la no caminhão – Pode me emprestar um segundo? – Abraham perguntou levantando o olhar para a caçamba do caminhão, onde Tara estava segurando a metralhadora e assim que ela entregou para ele, o homem agradeceu – Obrigado.

A cara que a Tara fez quando Abraham esmagou a cabeça da caminhante com uma coronhada foi engraçada, mas não consegui rir daquilo.

— Dessa vez foi. – Jason comentou, estava perto da beirada da caçamba, olhando para o colega matar os caminhantes

— Tem uns trapos lá atrás, dá para limpar sua arma. – Abraham comentou, depois de jogar a metralhadora novamente para Tara e ele, assim como todo mundo, notou seu silêncio – O quê?

— Nunca vi isso antes. – Ela respondeu, olhando para ele

— Eu vi você fazer a mesma coisa, para salvar a pele da namorada do Harris. – Abraham comentou, depois de olhar para os caminhantes e focar seu olhar nela

— Você sorriu. – Tara comentou, balançando a cabeça – Estava sorrindo.

É, ele realmente parecia estar se divertindo com aquilo.

— Sou o cara mais sortudo do mundo. – Abraham comentou, com um sorriso no canto dos lábios e depois olhou para todos em cima da caçamba do seu caminhão – Que tal me ajudarem com um desses carros? Temos muito chão pela frente.

— Deixa comigo. – Tara murmurou, enquanto descia do caminhão

Assim que Jason também desceu para ajudar, eu voltei a me sentar perto de Glenn e Kylie. Repassei toda a conversa que Tara e Abraham acabaram de ter, ele disse: Temos muito chão pela frente.

Para onde eles estavam indo?

E porque diabos eu não perguntei antes?

Logo que o caminhão voltou a se mover e Jason me pareceu muito mais aberto para perguntas, resolvi sanar a minha dúvida.

— Para onde vocês estão indo? – Perguntei, como se não estivesse me perguntando aquilo por alguns minutos

— Washington, D.C.

Pisquei algumas vezes, pensando em ter escutado errado o que ele havia dito. E quando a certeza veio, junto com seu olhar questionador, meu rosto ferveu.

Washington o caralho, eu não posso sair da Georgia.

— Porra nenhuma!

— Ele está acordando. – A voz de Kylie soou apressada e eu me inclinei sobre eles, sobre Glenn, apenas para vê-lo abrir os olhos – Ei.

Lutando contra o que eu realmente queria fazer, fiquei ali perto de Glenn, vendo-o piscar confuso algumas vezes e tentar se levantar.

— Ei, não se mexa. – Kylie falou para ele, apressada – Toma um pouco de água. – Ela pegou a garrafa de água e a abriu, antes de entregar para ele

— Onde estamos? – Glenn perguntou, entre um gole e outro, ainda parecia meio fora de si

— Não sei. – Tara respondeu, depois me encarar buscando por respostas e viu que eu não as daria – Estávamos lutando com os mordedores e você desmaiou depois que saímos. Um amigo da Gabriela apareceu, não sabíamos o que fazer... o caminhão pareceu mais seguro do que à beira da estrada.

Glenn se sentou, olhando para mim com a boca meio aberta.

— Passamos o ônibus? – O coreano me perguntou

— Sim. – Minha resposta saiu baixa e longa

— Me diz que não é o que parece. – Glenn pediu, olhando para mim

— Estavam mortos. – Murmurei, desviando o olhar – Eu mesma verifiquei.

— Há quanto tempo passamos o ônibus? – Glenn me perguntou, estava zangado

— Umas três horas, ou menos. – Tara respondeu, ao notar a tensão entre nós

— Vocês. – Glenn falou alto, apontando de Jason para Kylie – Mandem parar o caminhão. – Ele nem ao menos esperou a resposta e se virou para o vidro logo atrás dele, onde bateu algumas vezes antes de gritar – Ei, pare já o caminhão!

Minha boca se abriu em perplexidade quando vi Abraham levantar o dedo do meio, sem ao menos olhar para trás ou parar o caminhão. Mas ele parou, apenas quando Glenn quase quebrou o vidro com coronhadas.

— Gabriela! – Jason falou depressa, quando me viu pegar minha mochila camuflada e colocar nas costas – Ei!

Eu lhe ignorei, aceitando a ajuda de Glenn para descer da caçamba e assim que estávamos os três em com os pés no chão, começamos a caminhar, fazer o caminho de volta.

— Aonde diabos vocês vão? – Abraham perguntou, olhava de mim para a Tara – Aonde ele vai?

— Merda. – Escutei Jason resmungar

— Não sei se suas amigas lhe contaram, mas estamos atrasados. – Abraham disse diretamente para Glenn, andando lado a lado com o coreano e se meteu em sua frente, nos fazendo parar – Preciso que deem a volta e levem suas bundas de volta ao caminhão.

— Precisamos ir. – Glenn lhe disse, ajeitando sua mochila em suas costas

— Parece que nenhum de vocês tem prestado atenção ao inferno que estamos vivendo. – Abraham disse, olhando para nós – Vou lhes dizer como evitar virar mais um morto-vivo panaca. Você acha companheiros fortes e ficam juntos como unha e carne. Precisamos de gente. Quanto mais, melhor. Precisamos um do outro. Mesmo com todos esses equipamentos não vão durar uma noite. Não sozinhos.   

— É, nós vamos arriscar. – Glenn retrucou, olhando para ele

— Terei de insistir que espere. – Abraham falou, e ao ver que Glenn ia tentar passar por ele, o empurrou levemente pelo peito. Isso fez com que Glenn grunhisse e agarrasse a mão dele – Acredite ou não, o futuro de toda a raça humana pode depender disso.

— Do que diabos você está falando? – Glenn perguntou, empurrando a mão dele e se afastando um passo, para me olhar – Gabriela, quem é esse cara? Quem são essas pessoas?

— Sou o Sargento Abraham Ford. – Abe se apresentou – Esses são meus companheiros. Segundo-Tenente Harris, Rosita Espinosa, Dra. Kylie Weller e Dr. Eugene Porter. Nossa missão é levar Eugene a Washington, D.C. Eugene é um cientista e sabe o que causou tudo isso.

Percebi que Glenn olhou diretamente para Jason e prendeu seu olhar nele, durante longos segundos. Eu tinha uma ideia do que ele estava pensando. O coreano passou a mão pelo cabelo, meio nervoso e desviou o olhar, para voltar a encarar Abraham.

— Tudo bem. – Glenn murmurou – O que houve?

— É sigiloso. – Eugene comentou, como resposta

— Ele tem falado com os mandachuvas em Washington no celular via satélite. – Abraham nos explicou, indicando Eugene com a cabeça – Nas últimas semanas, ninguém tem respondido do outro lado. E vimos como lidaram com os cadáveres lá atrás. Não gosto de admitir isso, principalmente com uma de vocês sendo tão arrogante, - Ele desviou o olhar para me encarar – mas precisamos da ajuda de vocês. 

— Desculpe. – Glenn disse a Abraham, depois de erguer a mão e me fazer ficar quieta e logo me olhou – Vamos.

Apressei o passo assim que o vi contornar Abraham e voltar a caminhar, Tara correu ao nosso encontro e respirou fundo.

— Ei. – Chamei a atenção de Glenn – Me desculpe, a culpa foi minha, a vida de vocês estavam em minhas mãos e eu achei melhor aceitar a carona.

— Achou? – Tara perguntou, olhando para mim – Você foi praticamente obrigada, o Glenn tinha desmaiado e estávamos sem munição. – E então ela olhou para o meu amigo coreano – Eu sei como voltar ao ônibus. Tomei nota de cara virada. Eu os levarei de volta, está bem?

— É aonde ela iria para me achar. – Glenn comentou, com os olhos fixos na estrada mais à frente – É aonde eu tenho de ir.

— É uma perda de tempo. – Abraham comentou, ele estava caminhando atrás de nós – A Gabriela contou o que houve, junto com uma história bem longa e entediante. Não há chance de encontrar sua esposa de novo. Viva ou morta. Principalmente porque, sinto dizer, ela se foi. – Glenn parou de andar novamente – Você não precisa morrer também. Vamos. Voltem para o caminhão. Façam algo com suas vidas. – Vi Glenn deixar a mochila cair de seus ombros e isso fez com que Abraham continuasse seu discurso – Quando as pessoas que amamos morrem.... Quando elas desaparecem, não quer dizer que precisa seguir o mesmo caminho.

Glenn se virou para ele e logo em seguida, acertou um soco em seu rosto. Um soco tão forte que o fez cair no chão e colocar a mão na boca.

— Puta merda. - Murmurei alto, encarando meu amigo coreano – Obrigada.

— Gabriela. – Jason resmungou meio irritado, ele estava perto de nós

— Ela está viva e vou encontrá-la. – Glenn falou para Abraham, sem ao menos se importar com os outros - Assim como o resto da nossa família. 

O coreano pegou novamente a sua mochila do chão e se virou. Assim que vi Abraham se levantar e xingar Glenn, enquanto corria para cima dele, saquei minha pistola. Corri assim que meu amigo caiu no chão, com Abraham em cima dele e atirei para o alto, em um aviso, mas assim que cheguei perto de Abraham, apontei minha arma para a sua cabeça.

— Sai de cima dele. – Rosnei

— Você não vai puxar esse gatilho. – Abraham retrucou, prendendo Glenn

Mirei a pistola um pouco para o lado e atirei novamente.

— A próxima bala vai atravessar sua cabeça. – Avisei alto – SAI DE CIMA DELE, CARALHO! – Berrei, e assim que notei que Jason estava se aproximando, assim como Rosita e Kylie, falei – Fiquem fora disso!

— Deixa. – Escutei Jason murmurando

— Deixa nada! – Rosita grunhiu – Ela vai...

— Você tem três segundos, Ford! – Falei alto, ignorando o grito de Eugene

Todos nós paramos o que estávamos fazendo quando escutamos tiros de metralhadora. Assim que olhei para trás, todo o meu corpo se enrijeceu.

Haviam alguns caminhantes mais para trás, perto do caminhão e Eugene estava atirando tudo de qualquer jeito.

— Eugene! – Abraham gritou, saindo de cima de Glenn e correndo em sua direção, assim como Rosita, Kylie e Jason – Pare de atirar, porra! PARA DE ATIRAR. PRECISAMOS PEGAR NOSSAS ARMAS.

Joguei minha mochila no chão e corri em direção ao caminhão. Assim que me aproximei o suficiente, apontei minha pistola na direção dos caminhantes e mirei em suas cabeças, antes de puxar o gatilho. Logo que Glenn e Tara se juntaram à nós na matança dos caminhantes, eu tive uma leve impressão de que não pararia nunca de chegar mortos pela plantação de trigo, pois sempre que dois caiam, mais três chegavam.

Mas logo que o ultimo caminhante caiu, me permiti relaxar.

Abraham tomou a metralhadora da mão de Eugene e quando foi guardá-la de volta no caminhão, algo no tanque chamou sua atenção.

A gasolina estava vazando, alguém tinha acertado um tiro no tanque de combustível e esse alguém provavelmente era o Dr. Porter.

— Porra. – Jason grunhiu, passando a mão pelo rosto, nervoso

Fazia mais ou menos uns dez minutos que eu estava encostada na lateral do caminhão, de braços cruzados, esperando Abraham arrumar o tanque de gasolina ou pelo menos ver se tinha salvação.

— Sabe, comandávamos um comboio em um desses. – Abraham comentava, e eu acho que não era para ninguém em especifico – Subindo uma duna, tinha um camelo, parecia que ia vomitar. Provavelmente porque o inimigo botou dois quilos de C-4 no rabo dele. Estávamos a seis metros da explosão que mandou a corcova do animal a meio quilômetro de distância. E fomos para a casa. – E então ele levantou um pouco a voz – Eugene, me diga como caralhos conseguiu detonar esse caminhão.

— Um estado alterado e ignorância de armas de tiro rápido. – Eugene lhe respondeu, enquanto lhe via sair de baixo do caminhão e se sentar no chão

— Ele fala sempre assim? – Perguntei num resmungo, desviando o olhar para Jason – Como ainda não deu um soco na cara dele?

— Muito esforço. – Ele resmungou

— Isso é seu? – Escutei Kylie perguntar a Glenn, ela estava segurando uma foto polaroid

Glenn pegou a foto de sua mão e a colocou em seu bolso, eu sabia quem estava na foto, era Maggie.

— Desculpe sobre seu veículo. – O coreano comentou, se aproximando de Abraham – Espero que consigam chegar a Washington.

Ele entregou a metralhadora que pegou emprestado no caminhão e deu meia volta, indo em direção as nossas mochilas, com Tara logo atrás.

— Foi bom vê-lo novamente. – Comentei, olhando para Jason – Mas acho que está claro que temos objetivos diferentes. – Desviei o olhar e encarei Abraham – A minha missão é outra, mas espero que tenha sucesso na sua. E Kylie... – Olhei para a mulher loira – Obrigada por cuidar do meu irmão.

Me afastei deles logo que a vi concordar com a cabeça e assim que passei por Rosita, murmurei o quanto aqueles brincos de argolas eram perigosos em um combate.

Claro que eu não poderia deixar de comentar.

E nem de imaginar a orelha dela sendo rasgada.

Assim que coloquei minha mochila em minhas costas e apressei um pouco meus passos para andar ao lado de Glenn, percebi que Jason e os outros de seu pequeno grupo estavam nos seguindo.

Parece que iriam com a gente.


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