TWD - Quarta Temporada escrita por Gabs


Capítulo 9
Nove


Notas iniciais do capítulo

"Santuário para todos"



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— Você não é da Georgia. – Comentei, olhando brevemente para a mulher loira que caminhava do meu lado, entre Harris e eu

— O que me denunciou? – Kylie perguntou, desviando o olhar dos trilhos em que caminhávamos para me encarar

— Seu sotaque. – Murmurei em resposta, rindo fraco

— É, me pegou. – Ela também murmurou, voltando a olhar para onde pisava – Sou de Illinois.

— Você me lembra alguém. – Comentei aleatoriamente

— Quem? – Ela perguntou, parecendo levemente interessada

— Andrea. – A voz de Glenn soou mais à frente

Confirmei com a cabeça, quase rindo. Glenn estava a muitos passos à frente de nós, liderando o caminho, mas mesmo assim estava atento a tudo, principalmente em nossas conversas.

Coreano intrometido.

— É, me lembra a Andrea. – Falei, afirmando com a cabeça – Ela era... da família.

— Termine de contar sobre Sam. – Jason comentou, segundos depois, quando viu que tínhamos terminado nossa conversa por ali – Você tem um péssimo habito de começar a falar uma coisa e mudar para outra.

— De acordo com você, parece que tenho vários péssimos hábitos. E isso não é verdade. – Resmunguei, olhando para ele com o canto do olho, estava mais interessada em tomar cuidado onde pisava do que falar sobre a busca que Sam e eu fizemos tentando encontrá-lo – Bem, onde parei?

— Na guerra. – Jason respondeu logo em seguida, assim que perguntei

— Guerra... – Repeti, soltando um risinho fraco – Um homem já me disse que aquilo foi uma batalha, como se lutássemos com espadas.

— Gabriela. – Jason rosnou, chamando minha atenção novamente – Por que infernos você não quer me contar?

— Ah, pelo amor de Deus. – Kylie disse alto, irritada, enquanto levantava as mãos – Já faz três dias. – Ela resmungou, alternando o olhar entre nós – Se resolvam logo, antes que eu os obrigue.

E assim que terminou de falar, ela apressou os passos, irritada com a gente, caminhando mais à frente para ficar ao lado do coreano.

— Sam e eu fomos até Morrow. – Comentei, longos segundos depois – E ele encontrou seu bilhete e me entregou. Nesse mesmo dia Daryl descobriu sobre você e eu tive que lhe contar tudo, até entreguei seu bilhete para ele ler. Obvio que assim que a discussão terminou e eu saí da nossa cela, ele rasgou o bilhete.

— Muito bem feito. – A voz de Glenn soou novamente

Se eu não soubesse que ele estava prestando atenção em nós, até poderia achar que ele estava falando aquilo para Kylie, mas sabia que não.

Pois em todos os três dias que passamos com eles até agora, Glenn passou a nos rondar e se meter em nossas conversas.

Isso era irritante.

Ele achava que eu iria me entregar aos encantos de Jason novamente e isso não era verdade. Não mais. Deixou de ser verdade a dois anos.

Mais à frente, o coreano parou em frente a um semáforo e logo que eu me aproximei, eu vi o porquê. Tinha uma placa ali, escrita à mão:

“SANTUÁRIO PARA TODOS.

COMUNIDADE PARA TODOS.

QUEM CHEGA, SOBREVIVE.

TERMINUS”

Logo abaixo, havia um mapa marcado com rotas para um lugar chamado Terminus, marcado com uma estrela.

Desviei o olhar da placa e encarei Glenn.

— O que acha? – Perguntei para ele, indicando a placa com a mão

— Pode ser. – Ele respondeu, olhando para a placa – Se ela também viu a placa, está indo pra lá me encontrar.

Aquilo era verdade, pois se tinha alguém mais otimista que eu, esse alguém é a esposa dele.

— Vai anoitecer em breve. – Comentei, passando a mão pelo rosto – É melhor encontrarmos um lugar para passar a noite.

— Faremos isso.

Ignorando a conversa sobre videogame que Eugene e Tara estavam tendo, decidi caminhar o resto da viagem ao lado de Glenn e Kylie.

— Se não encontrarmos ninguém no Terminus, não perderemos muito tempo lá, ok? – Perguntei ao coreano, desviando meu olhar dos trilhos por alguns segundos, apenas para olhar para o seu rosto – Quanto antes acharmos eles, melhor.

— Não é como se você tivesse que me dizer isso. – Glenn comentou comigo, balançando a cabeça negativamente – Não se preocupe, Gabriela.

— É impossível não se preocupar. – Murmurei, encolhendo os ombros

— Você tem dormido? – Kylie perguntou, desviando o olhar dos trilhos e do caminho que estávamos seguindo para me olhar, mas nem ao menos me esperou responder, antes de completar – Nem responda, estou vendo que não.

— Por que a súbita preocupação? – Perguntei a ela, dando de ombros – Eu estou bem.

— A pior coisa que você pode fazer é mentir para você mesma. – Ela retrucou, desviando o olhar para o chão, tomando cuidando aonde pisava

— Hoje à noite outra pessoa vai ficar com o seu turno de vigia. – Glenn me disse, respirando fundo – Você precisa descansar, dormir algumas horas vai te ajudar e nos ajudar.

Crispei meus lábios, evitando bufar com a preocupação desnecessária daqueles dois. Aquilo era o que eu menos precisava no momento.

O lugar que decidimos passar a noite foi nos trilhos a uns bons quilômetros à frente. Depois de quase discutir com Glenn, fui cumprir o meu turno de guarda. Eu sempre pegava o primeiro turno e depois de algumas horas, era obrigada a acordar alguém e pedir para que pegassem o segundo e último turno.

Mas ultimamente eu não estava acordando ninguém.

Encostada no tronco da arvore mais próxima do mini acampamento nos trilhos, observando meu grupo dormir e mantendo o olhar e o ouvido atento a tudo ao meu redor, suspirei pesado, passando a mão pelo rosto.

Estava cansada, sim, mas fechar meus olhos...

Não podia.

Nos últimos quatro dias, desde que fugi da prisão com Glenn e Tara, desde que encontramos Abraham e seu grupo, estava tentando arduamente fechar minha mente para certos tipos de pensamentos. Pensamentos que me distraiam o suficiente para ser morta e que só eram libertados quando meus olhos se fechavam.

Naquela primeira noite depois da prisão, quando era apenas Glenn, Tara e eu, percebi no meio da madrugada que pensar sobre meu filho, sobre Daryl e todas as outras pessoas que importavam para mim.... Eu não conseguia, simplesmente não conseguia deixar de imaginar coisas terríveis sobre o paradeiro deles.

E tudo isso piorou absurdamente quando vi o ônibus e os mortos.

Expulsei todos aqueles pensamentos quando percebi que Abraham estava se aproximando e quase, quase fiz uma cara de desgosto quando ele se sentou ao meu lado e bocejou.

— Vá dormir. – Murmurei, mantendo o meu tom de voz baixo – É a minha vez de ficar de guarda.

— E tem sido assim três dias seguidos. – Abraham retrucou, também cuidando do seu tom de voz – E em todos os três dias, temos a mesma conversa. Então não se ofenda, Chefe, mas já disse que não vou deixar a vida do Eugene na sua mão.

— Você sempre fala isso como se tivéssemos obrigado vocês a virem com a gente. – Comentei baixo, dando de ombros – Ninguém os arrastou, nem os obrigou.... Vieram porque precisam da nossa ajuda. E fala sério, só porque eu acho aquele homem irritante, não quer dizer que eu vou deixá-lo morrer por qualquer merda.

— Precisaria passar por cima de mim, para deixa-lo morrer. – Abraham rosnou e por alguns segundos, pensei que ele ia me empurrar, mas não fez nada a não ser a bocejar novamente – E mais uma vez, Lopes, seu papel nisso tudo é ajudar, não comandar. Sei que isso é difícil pra você, mas tem que entender que nem tudo gira ao redor do seu próprio umbigo.

— Não sabe nada sobre mim. – Resmunguei, olhando para ele de canto de olho – Não fale como se me conhecesse, Ford.

— Conheço o suficiente. – Ele retrucou, crispando os lábios – Acredite ou não, sua reputação vai além do Benning.

— Não tenho reputação alguma. – Eu lhe disse, balançando a cabeça negativamente – Pare com essa merda.

— O que? – Abraham perguntou, rindo baixo – Pisei no seu calo? – Ele sorriu, parecendo realmente satisfeito – Quando me contaram que a filha mais nova do General do Benning tinha entrado para o exército, não dei nem três meses para que você abandonasse a carreira militar, mas imagine minha surpresa, três anos depois, quando comentaram que tinha uma certa...

— Vai se ferrar. – Rosnei, empurrando ele com o meu ombro – Por que você não vai lá no seu saco de dormir e monta seu planinho para te levar até Washington?

— Porque eu já tenho um plano. – Ele retrucou, crispando os lábios - Nós vamos para o norte com vocês até achar um veículo certo perto dos trilhos. Então oito viram cinco.

— Oito viram três. – Murmurei, apenas para corrigi-lo

— Cada um com a sua missão. – Abraham também murmurou e depois me encarou – É melhor você ir dormir, Lopes. Durante todos esses dias, vi todos dormindo, menos você.

— Isso porque você também fica acordado. – Retruquei, balançando a cabeça negativamente – Vá dormir você, Ford. E me deixa em paz.

— Se acha que não dormir vai impedir que pense neles, está tremendamente enganada, Lopes. – Abraham comentou, como quem não quer nada – Faça algo por você mesma uma vez na vida e vá dormir, mulher.

— Você não me conhece. – Rosnei novamente, cansada daquela conversa e cansada mais ainda daquelas pessoas acharem que sabem o que é melhor para mim – Para de falar como se conhecesse, porra.

— Já disse que conheço o suficiente. – Ele rosnou também, semicerrando os olhos em minha direção

— Você não pode julgar uma pessoa pelo que dizem sobre ela. – Retruquei, tentando ao máximo deixar meu tom de voz baixo, mas não raivoso

— Nem mesmo pelo que seu próprio irmão dizia sobre você? – Ele perguntou, e ao ver o efeito de suas palavras sobre mim, continuou, depois de abrir um pequeno e sarcástico sorriso – Já trabalhei uma vez com o Chefe dos Blindados, aquele homem era bom, tenho que admitir, mas a cada dez palavras, cinco eram sobre você. O Harris me lembra ele, às vezes.

— O Andrew é realmente um homem bom. – Murmurei, crispando meus lábios – Não fale sobre ele no passado, ele não está morto, nenhum dos Lopes está.

— Claro que não estão mortos, fugiram com os rabos entre as pernas antes mesmo da mensagem do governo chegar. – Ele disse, rindo baixo, um riso que não me agradou nem um pouco – Fiquei surpreso ao ver que você não seguiu os passos deles, como a boa cachorrinha submissa que é.

— Cale a porra da boca! – Falei alto, empurrando-o mais uma vez – Já disse que não sabe nada sobre mim.

Ele me empurrou de volta, mais forte do que eu tinha lhe empurrado e isso foi o suficiente para eu me levantar, com o sangue fervendo de raiva. Abraham se levantou também e eu não me deixei ter medo por conta de seu tamanho, mas assim que eu ameacei bater nele, Harris se meteu em nosso meio, com os cabelos bagunçados e o rosto amassado.

Tínhamos acordado eles, todos eles.

— Eu fico de guarda agora. – Tara nos avisou, se aproximando de nós, amarrando seu cabelo no seu típico rabo de cavalo

— Você disse que não encheria o saco dela. – Jason disse meio alto, sua voz estava um pouco rouca, mas ele parecia bem acordado agora – É bom começar a honrar sua palavra, Abe.

— Pelo menos você soube criar bons soldados, Lopes. – Abraham me disse, e praticamente cuspiu meu sobrenome

— Vai se foder. – Grunhi, enquanto era puxada pelos braços, até o acampamento e enquanto via Abraham e Jason conversarem, me virei para a pessoa que me puxava, que praticamente me arrastava até os sacos de dormir – Pare com isso, loirinha.

Kylie soltou meu braço no mesmo instante, crispou seus lábios e olhou diretamente para os meus olhos.

— Não invente apelidos. – Ela praticamente rosnou – E também não levante a mão para os meus amigos, ou não serei tão amigável da próxima vez que falarmos uma com a outra.

— Eu cuido disso. – Glenn falou, levantando a mão para ela, como se pedisse que parasse e então com a mão livre, me segurou pelo pulso, me arrastando para longe dela – Vamos, Gabriela. Agora não tem desculpa, você vai realmente se deitar e dormir, ou vou te obrigar.

— Não foi culpa minha. – Falei perplexa, quando ele me largou, próximo ao meu saco de dormir – Eu sei que é criancice dizer isso, mas.... Aquele homem, ele tem algo contra a minha família e está jogando isso na minha cara.

Glenn resmungou dizendo que aquilo não importava agora e arrastou seu saco de dormir para o lado do meu, me olhou por alguns momentos e praticamente me senti obrigada a me deitar. Ele se deitou também e como se fosse algum tipo de carinho estranho, deu algumas batidinhas leves em minha cabeça.

Me senti realmente uma cachorrinha.

Mas aquele era o Glenn e eu não iria discutir com ele.

— Cuidaremos disso depois e o que quer que ele tenha contra você, vou te ajudar a colocar a limpo. – Ele disse baixo, respirando fundo – Agora por favor, dorme antes que eu te nocauteie e me odeie pro resto da minha vida.

Bufei, concordando levemente com a cabeça e puxei o saco de dormir até o meu pescoço, me cobrindo com ele. Ao fechar meus olhos e ao deixar a escuridão tomar conta, todos aqueles rostos conhecidos surgiram.


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Notas finais do capítulo

Criticas construtivas são muito bem vindas ♥

Ênfase no construtivas.

Beijo enorme e até segunda!

Bom final de semana ♥



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