The College C.R.U.E.L. escrita por Glads


Capítulo 3
Bipolar




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Ótimo! Acabei de discutir com a minha carona, pensei ao sair daquela casa deixando um Minho vingativo para trás.

Sinceramente? Eu não tive medo dele.

O pouco tempo que passei com sua família me fez perceber o quanto ele adora a mãe e a avó, então com certeza ele não me machucaria, já que a tia Kily, como chamo a sua mãe, me adora.

Pelo menos foi o que achei na época.

Cruzei os braços quando uma brisa fria bateu contra minha pele e assim que cheguei à calçada percebi que não fazia ideia de onde estava e como voltaria para a casa onde estou hospedada.

Olhei para trás e decidi que de forma alguma voltaria para aquela festa. Já bastava a ideia de chegar na escola conhecida como a garota que negou um beijo para o Minho.

É. A minha vida não estava uma das melhores.

Comecei a andar na direção que viemos, na esperança de encontrar algum mercadinho com um telefone.

Meu celular ironicamente tinha descarregado e de qualquer forma, minha mãe mandaria Minho em meu “socorro”. Então, não, obrigada.

Não cheguei a andar muito, quando um carro com os vidros baixos parou do meu lado. Por um instante, fiquei com medo de ser alguém de má índole, mas logo vi uma das meninas que falaram com Chuck.

— Karine. Certo? – a linda morena de olhos azuis disse.

Assenti.

— Uma carona? – perguntou.

Só então notei um rapaz ao lado dela no carro.

Cogitei negar, já que estava claro que talvez ela e o rapaz quisessem um tempo sozinhos, mas os pelos do meu corpo se eriçaram o vento gélido e pensei “Por que não?”.

Entrei corada, por causa do frio, no carro e suspirei.

— Obrigada. Vocês... Ahn... Clareanos, é, clareanos, são bem hospitaleiros. – disse colocando o cinto.

— Nem todos. – o rapaz de pele pálida e cabelos castanhos falou sorrindo – Eu sou Thomas, seu mais novo fã.

— Fã? – questionei assim que o carro começou a andar.

— Todos gostaram do que falou para o Minho. Estava na hora dele se tocar. – Teresa me encarou pelo retrovisor.

— Olha, eu não quero nenhuma repercussão, só não gostei do jeito que ele me tratou e do jeito que vi tratar outras garotas. – murmurei querendo mudar de assunto.

Os dois se entreolharam ao perceberem meu incômodo.

— Onde está morando? – a menina perguntou.

— Hummm... – gemi frustrada – Na casa do Minho.

— O quê? Então você é a garota que ia morar na casa dele? – Thomas arregalou o olho.

— Eu não moro na casa dele. Estou hospedada lá. Nossas mães são melhores amigas desde o colegial. Mas como sabia?

— Minho não falou outra coisa na última semana. – Teresa respondeu por ele.

— Espera. – balancei a cabeça de um lado para o outro – Vocês são amigos dele?

— Sim. – responderam juntos.

— Oh céus! – falei para eu mesma – Por que todos os amigos dele parecem está contra ele?

Teresa parou em um sinal, olhou para mim e disse:

— Nós sabemos o motivo dele ser um completo idiota. Nós conhecemos o verdadeiro Minho desde sempre e apesar de nós dois não os darmos muito bem, eu quero o melhor para ele e no momento você está sendo esse melhor, já que está jogando algumas verdades na cara dele.

— Claro que você também precisa dizer que sente prazer ao ver o Minho com cara de tacho. Não é Teresa? – Thomas abriu um sorriso.

A garota o olhou indignada, mas riu fazendo os olhos do amigo (pelo menos, achava que era só um amigo) brilharem e disse:

— Não posso negar, Tom.

Teresa voltou a dirigir o carro.

— Como amigo, vocês que deveriam jogar verdades. – falei sendo sincera até demais.

— Nós tentamos. Quero dizer, Newt, eu... Até o Gally! Todos tentamos, mas ele nunca parou. Talvez com você, ele finalmente entenda que só está fazendo mal a si mesmo.

Assenti.

— Qual é esse motivo, afinal? Por que ele faz isso com as meninas senão por prazer próprio? – me vi ansiosa demais para saber algo sobre o asiático.

Olhei para Thomas e ele nem se mexeu.

Teresa também não disse nada.

— Ok... Acho que me meti demais... – disse com uma estranha sensação ruim no peito.

O carro parou bem em frente à casa de Minho e respirei bem fundo, pronta para encarar as perguntas da minha mãe.

— Você é bem legal, Kah. – Teresa disse.

Franzi o cenho ao ouvir o apelido.

— Não ligue, ela dá apelido para todo mundo. – Thomas abriu um sorriso.

— Quase todo mundo. – corrigiu a menina – Apenas para as minhas pessoas favoritas.

— E eu sou uma dessas pessoas? Mal me conhece! – exclamei surpresa.

— O que posso fazer? Você acabou com o Minho!

Balancei a cabeça de um lado para o outro e abri a porta do carro.

— Obrigada por me trazerem aqui. Eu não sabia nem onde estava. Valeu mesmo.

Eles sorriram e saí correndo em direção à casa sentindo algumas gotículas de água caírem do céu.

Com os braços cruzados e o corpo trêmulo toquei a campainha da casa.

Eu acabei com Minho?, me perguntei pela primeira vez me autoflagelando.

Não devia ter feito isso!

E se o tal motivo for porque... Ahn... Por um bom motivo?

— Karine. – a porta se abriu e eu dei de cara com ele, o maior idiota de todos os tempo que pode não ser tão idiota assim.

— Minho!

Minha voz tinha soado surpresa demais, porque ele perguntou:

— O que foi? Por que parece nervosa?

— É o frio. – murmurei.

O vento bateu em mim novamente e eu tremi.

— Entra logo. – o asiático disse e eu diria até que quase com feição preocupada.

O calor da casa envolveu meu corpo e eu esfreguei uma mão contra a outra.

— Cadê a mamãe? – perguntei o vendo trancar a porta.

— Na cozinha.

Assenti e fui aos tropeços até a porta que dava acessa ao amplo cômodo onde tia Kily e minha mãe preparavam algo.

— Eles com certeza serão bons amigos, você vai vê! – a mãe de Minho parecia animada.

— Espero que ela consiga deixar a timidez. A Clareira muda uma pessoa, todos aqui são tão acolhedores... – minha mãe disse entregando uma colher de pau para a amiga.

— O que acha dona Yka? – tia Kily questionou – Os dois serão amigos?

A avó de Minho, também asiática, estava sentada em frente a bancada lambendo alguma coisa no dedo.

— Não existe amizade entre homem e mulher, ou eles estão apaixonados ou não se falam. – a senhora resmungou e então me viu – Não é queridos?

Olhei para trás e vi Minho em meu encalço.

Nossas mães olharam para gente e sorriram que se fôssemos as melhores coisas da suas vida.

— Oi mãe. – eu e Minho falamos ao mesmo tempo – Oi tia.

Nos entreolhamos e o vi abrir um sorriso.

A cozinha possuía móveis modulados e era espaçosa. A geladeira ficava no lado oposto à bancada, onde estava o fogão. A pia ficava embaixo do armário de guardar louças e ao lado do mocroondas.

Abracei cada mulher ali e Minho beijou o rosto delas.

— Como foi a festa? – mamãe questionou.

— Foi boa. – o asiático respondeu por mim – A Karine conheceu meus amigos.

Franzi o cenho. Elas ainda não sabiam que ele estava ali? Não ouviram quando apertei a campainha?

— Sério, filha? Conseguiu conversar com eles?

— Sim. – demonstrei toda a minha animação e decidi deixar toda a história com Minho de lado.

Nossas mães estavam tão animadas e eu não ia jogar um balde de água fria neles.

Contei brevemente o que tinha acontecido e estranhamente vi gratidão nos olhos do menino quando omiti os detalhes dele beijando um monte de garotas ou tentando me forçar.

— Ai que bom, querida. Seu pai ficaria orgulhoso! – minha mãe me abraçou.

Desde a morte do meu pai eu não conseguia falar muito bem, a não ser com minha mãe. De alguma forma, quando cheguei aqui algo começou a mudar.

— Você não tem pai? – Minho deixou escapar de olhos arregalados enquanto sentava ao lado da avó.

Engoli em seco e senti algumas lágrimas s acumularem nos meus olhos.

— Minho! – a mãe dele falou em um tom reprovador.

Mamã apertou meu ombro.

Estava prestes a responder quando a vovó, como logo passei a chama-la, disse:

— Minho. É um belo nome. Vou dá essa ideia para minha nora Lydia. Se um dia tiver um neto, quero o nome seja Minho.

Olhei para ela confusa.

— Quem é Lydia? – questionei, mas fui ignorada.

— Como assim, vovó? – Minho a encarou confuso – Eu sou seu neto, meu nome é Minho e sua nora, minha mãe, se chama Kily.

Encarei minha mãe e ela estava com os olhos surpresos, não a ponto de qualquer pessoa notar, mas eu, sendo sua filha percebi.

— Ela tomou os remédios hoje? – tia Kily perguntou preocupada.

— Todos. – o menino afirmou começando a acariciar o cabelo branco da senhora – Será que ela vai ter que visitar o Dr. George antes da hora?

— Filho, eu não estou doente! – a própria senhora disse e em seguida olhou para mim – Esse seu namorado hein, Kily... Eu já falei que só estou gripada, mas ele não aceita.

Todos olharam para mim.

Foi quando entendi.

Dona Yka sofria de Alzheimer, uma doença que causa a perda das funções cognitivas, como memória, orientação, atenção e linguagem.

— É. – sorri e ouvi o barulho da chuva caindo com mais força – O Minho tem que aprender mesmo...

Uma vez, vi na tv que temos de estimular as lembranças de um portador de Alzheimer aos poucos, sem negar diretamente o que eles dizem.

— Minho? – ela franziu o cenho – Sim. Ele mesmo. Eu disse para o neto que só estou gripada.

— Pois é, Minho. – fingi uma indignação – Sua avó já falou.

Todos piscaram algumas vezes, então o timer do fogão apitou.

— O brigadeiro está pronto. – minha mãe anunciou.

— Brigadeiro? – Minho perguntou.

— Um doce brasileiro. – tia Kily explicou – Vocês vão querer?

— Não. – a voz de Minho retumbou mais grossa que o normal.

Dei de ombros.

Minha mãe pegou a panela cheia do doce e juntas, ela, tia Kily e dona Yka foram para a sala comer.

Sem saber muito o que fazer, ia saindo da cozinha, quando uma mão me puxou.

— Hey. – Minho disse.

— Me solta. Ainda está doendo por causa do seu aperto na festa. – falei puxando meu pulso e o esfregando dramaticamente.

— Desculpa. – murmurou.

Encarei seus olhos e foi como se visse alguém diferente, não o menino que se achava na festa.

— Podemos conversar? – perguntou passando a mão no topete.

Meu coração acelerou por nenhum motivo em específico. Pelo menos foi o que pensei.

— Tá. – disse a contragosto.

 – Pode ser lá fora? Amo ouvir o barulho da chuva.

— Não sei... Eu...

— Sei que fui um idiota, mas, por favor, vamos lá fora.

Assenti e vi o garoto ir até a porta dos fundos.

Minho olhou para mim e maneou com a cabeça para que o seguisse.

Com certo temor saí e o frio bateu em meu rosto bagunçando meu cabelo mesmo amarrado.

Estremeci e vi Minho se sentar no degrau de madeira eu dava acesso a um gramado amplo.

A água da chuva caía em gotas grossas e intensas, quando ele começou a falar:

— Você ouviu tão bem quanto eu o que nossas mães falaram.

Concordei.

— Então queria pedir desculpas e em nome delas tentar ser... Ser seu amigo.

Ele me encarou em expectativa.

— Ok. – murmurei confusa sentindo meu celular vibrar no bolso.

— Ok? Olha, o pessoal me falou que você conversou com todos, mas fica difícil quando você não fala nada comigo. – ele bateu na própria testa.

Quis muito dizer que tenho medo de falar. Na verdade, quase contei o motivo do meu trauma, como se sentisse vontade de desabafar com ele, mas lembrei da sua idiotice.

— Não me sinto a vontade com você.

Ele me olhou magoado e dei de ombros.

— Você falaria comigo se eu fosse legal?

— Não precisa mudar só para que eu fale com você. – disse sinceramente.

— Mas quero poder conversar.

— Pra quê? Para se vingar? – acabei soando chateada.

— Eu... Eu tenho motivos. Ok? Tenho motivos para fazer o que faço. Não me orgulho, mas preciso. É como um vício. Sabe?

Recordei o que Thomas e Teresa haviam dito.

— Por quê? – o encarei confusa.

De repente ele abriu um sorriso fofo que quase fechou seus olhos completamente – quando contei à Kate mais tarde, ela disse “Tu é doida mulher? Aquilo nem olho tem de tão fechado que é. Como pode quase fechar os olhos?”.

— Se você começar a conversa comigo, como conversou com os meus amigos, eu te conto. Ok?

Assenti.

— Eu... Ahn... Se não for me intrometer...

— O quê?

— Cadê seu pai?

Suspirei.

Parecia que uma bola tinha se formada na minha garganta.

— Ele morreu. – murmurei.

Vi o asiático segurar a minha mão gelada por causa do frio.

— Quando? Eu lembro dele brigando com a gente quando sujamos o banheiro de pasta de dente.

— Você lembra de mim? – perguntei surpresa.

— Claro! – ele disse como se fosse óbvio e senti um arrepio percorrer a espinha por causa do frio, supus.

— Mas então? Quando seu pai...

— Um ano depois daquilo. – o interrompi.

— Sinto muito. – ele passou um braço ao meu redor e me puxou par perto.

O calor de seu corpo me aqueceu e inconscientemente deitei em seu ombro.

— Você está fria. – ele murmurou acariciando levemente meu ombro.

— Eu sei. – disse e então o vento bateu e a chuva caiu em cima da gente – Nossa. Eu estou toda molhada.

Rapidamente Minho me soltou e com o rosto muito corado falou:

— Hm. Por favor, não diga isso.

O encarei e o vi com a respiração desregulado.

Então percebi.

— Oh! Céus! Eu não quis dizer isso. – corei notando o duplo sentido do que havia dito.

— Eu sei. – ele passou a mão no rosto se levantando.

Sem saber o que fazer fiquei encarando o chão.

— Não fique com vergonha. A minha mente tende a ser maliciosa. – ele balançou a cabeça – A propósito, desculpe por isso e pela festa.

— Você tem certeza que não está chateado pelo o que eu disse? – perguntei quando ele esticou a mão para mim.

— Eu estou, mas vê minha mãe feliz é prioridade e se para vê um sorriso nela, tenho que ser seu amigo, então serei.

— Ah. Claro. – murmurei com algo como tristeza no peito.

— Mas isso não será um sacrifício. – ele segurou minha mão e me puxou.

O encarei sem saber o que dizer.

Ele abriu a porta, mas antes que entrássemos, deu uma olhada na chuva e suspirou.

— Desculpe por falar...

— Sobre meu pai? – o interrompi – Está tudo bem, estou acostumada.

— Não é isso. Eu disse que sentia muito e sei como isso incomoda para quem  perdeu alguém.

— Sabe?

Ele olhou para mim.

— Eu também perdi meu pai.

O encarei surpresa. Minha mãe nunca tinha tocado nesse assunto comigo.

— Oh! – foi tudo o que disse.

De repente ele não me pareceu mais tão idiota assim.

Meu celular vibrou novamente e Minho encarou meu bolso.

— Acho melhor vê quem está te procurando. – falou antes de entrar.

Peguei meu celular e vi que Gaby, minha prima tinha mandado algumas fotos suas, mas fui primeiro lê a mensagem de alguém desconhecido.

“Não confie nele. Não confie no Minho!”

Franzi o cenho e olhei de um lado a outro como se isso fosse fazer eu descobrir quem era.

“Na casa da árvore”, o mesmo número enviou.

Uma casa depois da que seria a minha, que que com certeza é da família de Chuck, possuía uma casa em cima da árvore e lá, por uma janela vi uma mão acenando.

Logo reconheci Kate e acenei de volta.

Pensei em perguntar como ela tinha conseguido meu número, mas desisti no meio do caminho e mandei:

“Por quê?”

“Apenas não confie”, ela mandou.

Ah! Se eu tivesse ouvido o conselho da minha amiga, talvez muita coisa pudesse ter sido evitada.

[...]


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