The College C.R.U.E.L. escrita por Glads
— Ah! Oi, querida. – minha tia sorriu quando abriu a porta da sua casa – O Minho não está.
— Na verdade, vim falar com a senhora.
O nervosismo começava a tomar conta do meu corpo, como se algo ruim estivesse por vim.
E bom, estava mesmo.
— Claro, entre. – ela esticou a porta – Sua mãe está bem?
— Sim. – murmurei engolindo em seco e entrando.
— Você veio falar sobre o baile? – ela fechou a porta da casa.
Fiquei surpresa, afinal, ela não devia saber de nada.
— Como assim, tia?
— O Minho me contou o que fez e me pediu dinheiro para poder consertar o seu vestido.
— Ahn? – franzi o cenho – Ele fez o quê?
— Pensei que já sabia. – a titia deu de ombros – Afinal, já fazem semanas do baile e dias que mandou o vestido para a lavanderia e ele não voltou.
Demorei alguns segundos para ligar os pontos.
Eu tinha mandado meu vestido para a lavandeira e haviam me garantido que fariam o possível para a minha peça voltar ao normal.
— A senhora quer dizer que o Minho pegou o meu vestido na lavanderia e...
— E enviou para outra que vai deixar seu vestido branco novamente? – a mulher completou – Foi isso mesmo que ele fez.
Meu coração acelerou diante do fato.
— Ahn... Não, não era sobre isso que vim falar. – resolvi voltar ao motivo de ter ido pra lá.
— O que foi, então? – ela questionou.
— Podemos sentar?
Ela assentiu e me conduziu até o sofá.
— Eu vou ser direta. – respirei fundo – Minho é seu filho?
Os olhos da mulher se arregalaram e ela caiu sentada na poltrona um tanto surpresa.
— É claro que sim. – disse tentando regular a voz.
— Tia, eu...
Ela fechou os olhos e sussurrou:
— É a merda daquele trabalho. Não é? Eu já falei que devo ter me enganado quanto a tipagem sanguínea do Minho.
— Ele fez um teste e deu AB+.
A mãe de Minho se mexeu inquieta.
— De quem é o cordão militar do Minho? O tipo sanguíneo lá é B e alguém com essa tipagem, pode gerar um filho AB+ dependendo do pai.
Vi as lágrimas da minha tia começarem a escorrer.
— O cordão é... É da... É da mãe biológica dele. Durante o ensino médio éramos quatro amigos, sua mãe, Lilian, Yan e eu. Na faculdade, cada um tomou seu rumo e Lilian começou a servir o exercito, mas ela nunca perdeu o contato com Yan e assim que ele acabou a faculdade, os dois casaram. Minho veio logo depois e a Lilian... E ela morreu treze minutos após o parto.
Coloquei as mãos na boca e senti meus olhos marejarem.
— Foi quando sua mãe e eu fomos ajudar Yan com a sua perda. Como seu pai e sua mãe já estavam esperando você, fui a única que pude ajuda-lo com Minho recém-nascido. Assim que vi aquele bebê pequeno e indefeso soube que não importava o que aconteceria, seria a mãe que minha amiga nunca pôde ser, por ela, por Minho e por mim. – ela pausou e respirou fundo – Yan e eu seguimos sendo apenas amigos até o aniversário do nosso filho. Assim que todos os convidados da festa de um ano do Minho foram embora, estávamos arrumando a bagunça em uma hora e na outra nos beijando.
Minha tia não conseguiu mais se conter e começou a soluçar alto.
Corri até ela e a abracei forte.
— Minho pode não ser meu filho biológico, mas...
Antes que ela pudesse terminar de falar o barulho de algo no chão caindo foi ouvido.
A titia e eu nos viramos juntas e bem ali, próximo a porta havia um Minho de olhos arregalados e no chão próximo a ele um copo de café expresso derramado.
— Diga que não é verdade. – a voz do asiático ressoou pela casa.
Fechei os olhos percebendo que Minho tinha ouvido toda ou quase toda a conversa.
— Minho. – a mãe dele sussurrou em meio às lágrimas.
— APENAS DIGA. – ele ordenou sem se mover.
— É verdade.
E com um coração caindo em um abismo, vi Minho sair da casa apenas com uma calça jeans e uma camisa preta.
— Vá atrás dele. – a mulher a minha frente pediu – Por favor, vá atrás dele.
— Me perdoa, tia. – pedi enxugando as minhas lágrimas – Me perdoa.
Chuck tinha toda razão... Revelar o segredo trouxe consequência e eu ainda não tinha passado por nenhuma ainda.
Corri para a porta da casa, abri e entrei no carro de Minho, no exato momento que ele ligou o motor.
— QUE MERDA VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – ele gritou comigo.
— TE IMPEDINDO DE COMETER UMA LOUCURA! – usei o mesmo tom.
Ele bufou e começou a dirigir murmurando coisas como “isso não está acontecendo” ou “não pode ser”.
Fiquei calada por dez minutos, sem saber para onde Minho dirigia e tentando controlar meus próprios sentimentos diante de tudo isso.
— Karine. – Minho chamou por fim – O que você tem a ver com tudo isso?
— Eu desconfiei, desde... Desde aquela noite que você me contou sobre o acidente e...
— E NÃO PENSOU EM CONTAR PARA MIM? – ele bateu contra o volante.
— Eu tinha que saber se era verdade ou não. – argumentei.
— VOCÊ DEVIA TER ME CONTADO! – gritou novamente e abracei meu corpo – VOCÊ DEVIA TER ME CONTADO, SUA GRANDE IDIOTA!
Tudo o que vi depois foi uma luz.
***
Minho gritou com a menina.
Karine abraçou o próprio corpo completamente magoada.
Ela estava usando cinto de segurança.
Ele não.
O asiático fez uma ultrapassagem com o carro.
A garota se segurou no banco.
Ele foi arremessado do carro, graças a sua falta de cuidado. Ironicamente, por causa disso, sobreviveu.
Ela permaneceu no lugar enquanto o carro capotava.
O impacto de seis toneladas de um caminhão a noventa e cinco quilômetros por hora chocando-se direto com a frente do veículo teve uma força descomunal.
As portas do carro foram arremessadas para longe e o motorista foi jogado contra o vidro caindo próximo a uma árvore. O chassi foi lançado, bateu na pista e parou ao lado dele. As rodas foram parar do outro lado da pista como se fossem frágeis igual a uma folha de papel. O carro deixou de parecer um carro e transformou-se apenas em algo de metal completamente amassado.
O tanque de gasolina começou a pegar fogo no exato momento que o motorista do caminhão desceu cambaleante de seu veículo.
Como alguém pode fazer uma ultrapassagem tão arriscada?, perguntou-se o caminhoneiro que só queria chegar o mais rápido possível em sua casa para vê pela primeira vez sua netinha recém-nascida.
— Você está bem? – o senhor rechonchudo fez a pergunta retórica ao se aproximar do jovem motorista caído no chão.
— Ela... Ela tá no carro. Por favor... – Minho tentou se sentar, mas gritou de um jeito tão arrepiante que o senhor nunca esqueceu.
— Calma, filho. Vou ver se ela tá bem.
— Ela tem que está! – o garoto falou bravo e gemendo de dor.
Claro que o caminhoneiro não quis falar nada sobre o braço do jovem está torto ou sobre sua camisa está coberta de sangue devido algo enfiado no meio do abdômen dele.
O senhor trêmulo pediu ao Criador que protegesse o rapaz, que a menina estivesse viva e que ele não tivesse um segundo ataque do coração. Tudo isso em apenas cinco segundos.
O calor do fogo aqueceu o homem a ponto de tornar-se doloroso, mas ele precisava tirar aquela menina, cujos cabelos ele já conseguia vê, de lá de dentro.
Estava quente demais, a parte de trás do carro estava quase completamente destruída pelo fogo, ainda assim o senhor não desistiu.
Ele tinha visto o simples e puro amor nos olhos daquele rapaz.
Sem dúvida, ela é ou era o amor da vida dele.
“Deus queira que continue sendo”, pensou
E ele, já viúvo sabia o quanto doía perder o amor.
Finalmente conseguiu ver a garota de frente.
Seus lábios estavam azuis, seus braços cruzados, suas pernas unidas e por incrível que pareça ela parecia imaculada.
Imaculada demais.
O Sr. De Silva, esse era o nome dele, sabia muito bem o que estava acontecendo.
Sua falecida esposa tinha passado por isso antes que o pior acontecesse...
Com lágrimas, pela sua esposa e pela garota tão nova, ele a colocou nos braços antes que o carro explodisse e fez uma prece à Deus.
Aquele casal era tão jovem... Não mereciam ficar sem viver o amor deles...
Bastou deitar a menina ao lado do seu amado, para o carro explodir.
Nenhum deles pareceu se importar.
O caminhoneiro ligava para ambulância.
A menina parecia não respirar.
O rapaz tentava olhar para a garota enquanto gritava:
— KARINE! KARINE! KARINE!
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