A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 6
Passado Revelado


Notas iniciais do capítulo

!!!!! Galera, por motivos de falta de planejamento tive que editar esse capitulo, mas a boa noticia é que ja tenho até o Cap 10 escrito entao, dia 01/03/2017 sai o cap 7.



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Maya

Saímos do hospital ao amanhecer e fomos direto para o apartamento. Nem eu nem Rachel dissemos uma palavra sequer sobre o que tinha acontecido, até por que acho que me embolaria nas minhas próprias palavras e esse tempo me ajudou a pensar. Sentamos na sala quando chegamos, eu na poltrona reclinável e ela no sofá de dois lugares. Ela me olhava com uma certa expectativa. Depois de alguns minutos de silêncio, ela diz.

"E então?"

"Por onde eu começo?" Suspiro.

"Conte-me sobre quando foi morar com seus avós primeiro." Ela responde.

"Tudo bem. Eu fui morar com eles quando tinha cinco anos. Na verdade, minha mãe me deixou lá e sumiu do mapa." Começo.

"Por que ela te abandonou?" Rachel interrompe curiosa.

" Ela me odiava. Dizia que eu era um erro, um peso na vida dela. Dizia que eu só trazia problemas para ela, que sua vida seria muito melhor se eu não tivesse nascido, então, ela arranjou um namorado e engravidou dele. Quando descobriu, ela me deixou na casa de meus avós e foi viver com o cara. Eu também a odiava, ela fez todo o tipo de coisa comigo para que deixar bem claro que só ficava comigo por que o governo a obrigava." Explico.

"Que tipo de coisas?" Rachel pergunta um pouco receosa. Percebo que havia falado um pouco a mais do que deveria então omito essa parte.

"Isso não vem ao caso. A questão é, depois de um acidente que eu sofri, fiquei em coma por alguns meses e quando acordei, ela me levou para morar com meus avós."

"Ai você se livrou." Ela diz, ainda estava curiosa quanto à o que minha mãe fazia, mas isso é pessoal demais. Aceno positivamente e continuo a história.

"De início eu tive alguns problemas com eles, havia desenvolvido uma personalidade forte e um gênio muito anormal para minha idade e isso os assustava um pouco, além do mais, não é normal uma garota de cinco anos ficar semanas sem dizer uma palavra ou se recusar a ficar na companhia de qualquer pessoa. Demorou muito, muito mesmo, mas eu fui perdendo o medo deles."

Fez-se silêncio por um momento. Enquanto eu contava aquela parte, as lembranças voltavam e eu tremia e suava com a visão de minha mãe na minha frente.

"O que aconteceu depois?" Rachel pergunta.

"Eles me colocaram na escola. Isso me ajudou a distrair e com o tempo, as lembranças de minha mãe foram ficando no passado. Agora eu tinha uma família de verdade e foi assim até eu completar treze anos, até que..." paro e respiro fundo. Um nó se formou em minha garganta e lágrimas começaram a descer. Fechei os olhos e me recostei na poltrona. Repreendi a mim mesma, aprendi a ser forte esses anos, a não demonstrar fraquezas. Construí barreiras onde mantinha esses sentimentos, mas ao contar a história, cada palavra que saía parecia causar uma rachadura nessas barreiras, até que ela finalmente cedeu e a represa de sentimentos começou a correr solta. Levei a mão ao rosto e apertei os olhos tentando conter o choro, mas não conseguia. Três anos de mágoa guardados voltaram de uma vez e eu precisava aliviar esse peso, essa pressão toda guardada por anos já estava começando a me matar. Comecei a soluçar e as lágrimas continuaram a cair descontroladas. Rachel se levantou do sofá e se sentou a meu lado na poltrona. Senti quando seus braços envolveram minha cabeça e a levaram de encontro a seu ombro. Não impedi, apenas a abracei de volta e continuei a chorar e soluçar.

"Tudo bem, tudo bem. Já passou." Ela murmurava em meu ouvido para me acalmar. Ela começou a afagar meu cabelo com a mão direita e sustentar meu peso com a esquerda. Aos poucos, fui me acalmando e a respiração voltou ao normal. A blusa de Rachel já estava encharcada, mas ela não parecia se importar. Respirei fundo e me afastei de seu ombro. Ela me abraçou de lado e eu deitei a cabeça de lado em seu ombro. Meus olhos estavam vermelhos e inchados e o nariz ardia. Rachel não me pressionou para que terminasse, mas eu continuei mesmo assim. Havia omitido a parte que me envolvia no mundo mitológico, ela não precisava saber.

"Quando tinha treze anos," continuo "eu estava voltando para casa depois de uma viagem. Devia ser final de setembro, era noite e estava tudo normal, mas quando cheguei perto da casa, houve uma explosão. Eu voei longe e, logo depois, quando vi a casa em chamas, me desesperei. Eu corri para a casa procurando por eles, não os achava em lugar nenhum. Subi as escadas e fui até o quarto deles, foi quando os vi. O quarto todo estava em chamas. A estante de livros que ficava ao lado da cama deles havia caído sobre eles e a cama pegava fogo. Corri até lá e comecei a tirar os livros que estavam em chamas e a apagar o fogo da cama. Empurrei a estante para o lado. Meu avô já não respirava, mas minha avó respirava. "Nós te amamos Maya." Ela disse, e morreu. Eu não queria deixar seus corpos ali, e não deixei. Só fiquei lá, abraçada a eles. Respirei muita fumaça e desmaiei, ali, ao lado deles." Tomo fôlego. A partir dali as coisas só pioraram.

 "Quando acordei, os bombeiros estavam terminando de apagar o fogo dos escombros da casa. Minha perna estava embaixo de um bocado dos escombros e sabia que estava quebrada, não podia me mexer. Os Bombeiros levaram três horas para me tirar dos escombros e tirar os corpos dos meus avós. Me levaram de ambulância até o hospital. Eu ainda estava meio zonza e só ouvia um zumbido. Desmaiei de novo na ambulância, acordei só no outro dia, numa cama de hospital. Minha perna estava engessada e havia uma faixa na minha testa. Eu respirava por uma máscara ligada à um cilindro de oxigênio já que havia inalado muita fumaça. Depois de alguns dias no hospital, um detetive veio falar comigo. Disse que havia sido um defeito no aquecedor da casa que havia causado o incêndio, meus avós haviam morrido antes da ambulância chegar." Paro. Minha voz voltou a ficar embargada mas respirei fundo. Não começaria a chorar de novo. "Como eu era menor de idade, o Detetive havia ligado para o meu parente mais próximo vir me buscar.”.

"Era sua mãe, certo?" Rachel pergunta. Aceno positivamente.

"Ela apareceu na porta com uma cara de nojo olhando para mim. Se fingiu de boazinha na frente do detetive, fingiu que me adorava e veio com uma de "deixar você com seus avós foi a decisão mais difícil que tive que tomar" para que ele não desconfiasse. Quando ele saiu me deixando sozinha com ela, comecei a tremer e a suar. Fixei meus olhos nas minhas mãos e fiquei quieta. Meus instintos me diziam para correr e me esconder, mas eu não pude fazer nada. Ela fechou a porta do quarto, não haviam janelas, éramos só eu e ela. Quando ela se aproximou, eu mal respirava direito, era como se meus pulmões tivessem se esquecido como se fazia isso. Eu fiquei pálida, mas ela não demonstrou piedade. Ela segurou meu pescoço e o empurrou contra a cabeceira da cama. Eu levantei as mãos e segurei em seu pulso tentando afastar, mas ela era mais forte, ela apertou minha garganta e chegou mais perto. Fechei os olhos o máximo que podia e chorei de medo. Sentia seu hálito a centímetros do meu rosto. Sabia que ela não mudara com relação a mim. Ela sussurrou em meu ouvido "Vamos nos divertir querida, como nos velhos tempos." E pressionou minha traqueia impedindo-me de respirar até eu quase desmaiar de novo. Depois, me soltou e saiu do quarto e eu fiquei lá, encarando o nada. Na época, torcia para que eles entrassem em contato com minha tia para que eu não precisasse ir com minha mãe, mas eles disseram que minha mãe era filha única e que a mulher de quem eu falava era algum tipo de colega de quarto de minha mãe na época que eu morava com ela. Fiquei no hospital até que eu precisasse só de muletas para andar. Minha mãe me levou para casa do meu padrasto. Ele, o afiliado e o filho dela estavam em uma viagem e ela estava cuidando dos negócios da empresa dele, então não ficava em casa, mas não esperei que ela tivesse tempo para voltar a fazer comigo o que fazia antes. Assim que minha perna melhorou, eu fugi."

“Para onde?! "Exclama Rachel.

“Para a rua. Vivi como menina de rua por dois meses, aí, encontrei Jonathan."

"Jonathan?!" Rachel pergunta.

"Sim. Eu o conheci no Central Park. Estava perambulando, imunda e faminta, andei até estar próxima ao lago e foi aí que senti uma sensação calorosa e, quando levantei os olhos, o vi. Um homem que parecia ter 37 anos, cabelos e a barba castanhos escuros com algumas mechas grisalhas. Usava um terno preto e tomava um café num banco próximo ao lago, ele parecia distante, pensativo e triste. Eu me aproximei devagar e perguntei se ele podia me dar alguma coisa para comer. Ele me olhou com os olhos azuis bem claros e por um momento, eu pude jurar que eles haviam brilhado num tom verde. "Desculpe, eu conheço você?" Ele perguntou. Senti uma sensação estranha no estômago e pareci entrar numa espécie de modo automático. "Acho que não Senhor.", "Como se chama criança?" Ele perguntou. "Maya". Assim que eu disse meu nome, ele abriu um largo sorriso, depois me levou para comer alguma coisa. Enquanto eu comia, conversamos e eu descobri que ele era advogado. Quando perguntei por que ele havia me ajudado em vez de me afastar como as pessoas faziam, ele disse que havia tido um sonho."

"Sonho?" Rachel pergunta. Ela havia nos ajeitado de modo que ela estivesse sentada normalmente e eu estivesse com a cabeça em seu colo apoiada em um travesseiro, com os joelhos apoiadas no braço da poltrona e as pernas para fora. Ela me olhava com seus penetrantes olhos verdes cheios de expectativa. Seus lábios estavam abertos em um sorriso divertido enquanto eu falava sobre Jonathan. Abro um sorriso também e afirmo.

"Um sonho. Ele me disse que, na noite anterior, sonhou que um homem havia aparecido para ele e dito que encontraria uma menina que traria a ele a alegria que lhe faltava, e que essa menina se chamava Maya." Digo.

Rachel abriu ainda mais o sorriso e suas sardas começaram a ficar mais vermelhas que o normal.

"Owwnnnt que fofo. Parece até cena de filme!" Ela diz.

"Parece mesmo. Naquele momento, assim que ele disse aquelas palavras, senti uma sensação no estômago. Era como se tivesse encontrado um refúgio, meu porto seguro. Jonathan me levou para sua casa e me tratou como se fosse sua filha. Uma semana depois, enquanto conversávamos na sala, ele me perguntou sobre como eu havia parado na rua."

"E você contou?" Rachel parecia bem animada.

"Sim." Eu disse. "Eu sentia que podia contar qualquer coisa para ele. Eu tinha ganhado um amigo, um pai." Digo. Rio comigo mesma, ele era definitivamente um pai para mim.

"O que ele fez quando descobriu sobre sua mãe?"

"Ele pediu minha guarda na justiça. Minha mãe nem pensou duas vezes. Ela queria mais era se ver livre de mim." Respondo. Dou uma pausa e continuo sorrindo:

"Naquela época, meu nome era Maya Morgan Efair. "Morgan" era o sobrenome dos meus avós e "Efair" era o sobrenome da minha mãe, então, depois de pedir minha permissão, ele me deu seu sobrenome e eu passei a me chamar Maya Morgan Walker." Sinto meu rosto corar ao dizer isso. "Quando ele me deu seu nome, senti como se essa fosse minha chance de ter uma nova vida. O sobrenome de minha mãe era uma das únicas coisas que me prendiam a meu passado e ele me libertou. Vivi com ele desde então, até que tive que começar a faculdade e isso foi quando te conheci." Eu encarei o teto sorrindo por um tempo até que Rachel me despertou de meus devaneios.

"Sabe, uma coisa está me incomodando nessa história."

"O quê?"

"O Jonathan disse que no sonho, o homem havia falado que ele encontraria uma menina que faria a alegria dele voltar, certo?"

"Certo."

"Então, o que ele quis dizer com isso?"

Olho para ela de forma triste ao lembrar da história que Jonathan havia me contado quando me levou para morar com ele.

"Dezesseis anos atrás, poucos dias antes do meu nascimento, Jonathan estava voltando de uma viagem com a esposa e a filha."

"Ele é casado? E pai?" Rachel exclama surpresa.

"Era..." Digo. Sinto o clima ficar pesado.

"Céus." Rachel diz.

"Estava chovendo. Um animal entrou no caminho e, quando ele tentou desviar, o carro capotou. Ele acordou três dias depois no hospital. Quando perguntou pela família, o médico simplesmente abaixou o olhar e disse "Sinto muito." ."

Silêncio. Rachel estava abismada, mal piscava. Uma lágrima rolou pelo seu rosto.

"Ele nunca foi o mesmo depois daquilo. Se prendeu ao trabalho achando que ele o faria superar a dor. Ele me disse que eu o salvei, que trouxe uma nova luz a seu mundo, e ele também que me tirou da escuridão."

Rachel funga e limpa as lágrimas.

"Que história." Ela diz.

"Tem razão." Digo. Me levanto e olho o relógio da sala, 12:03. "Bom, vamos almoçar? Ainda quero saber como fui parar no hospital." Digo.

"Como assim?"

"Ué, você me deve lembra?"

"Maya Walker, você não pode simplesmente me contar uma história dessas e depois me chamar para almoçar, como se tivesse me contado uma história de um filme clichê!" Rachel diz e se levanta cruzando os braços na minha frente.

"Oh não! Deus, ela vai me matar!" Digo colocando a mão no peito e a outra virada na testa de forma dramática.

"Ah mais pode apostar que vou." ela diz. Ela se aproxima de mim e coloca meus braços nas costas e segurando meus pulsos de forma delicada. Acho que ela havia mudado de ideia sobre o almoço.

"Você foi condenada a me ouvir no almoço hoje pela coroa britânica. Tem o direito de permanecer calada. Qualquer coisa que diga pode e será usado contra você na hora do julgamento." Rachel diz imitando uma voz de prisão. Ela me empurra até fora do apartamento e fecha a porta com o pé. Quando solta meus pulsos para trancar, dou um empurrãozinho nela que se desequilibra e saio correndo pelo corredor gritando:

"ABAIXO A COROA BRITÂNICA!" Paro na escada enquanto ela tranca o AP. Ela se vira para mim e faz pose como se segurasse uma espada.

"MATEM TODOS OS REBELDES!" Ela grita e corre em minha direção e descemos as escadas correndo e gargalhando nesse pega-pega.


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