A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 7
Problemas á vista e uma visita inesperada


Notas iniciais do capítulo

galera, esse cap demorou muito mesmo, sinto muito, mas a boa noticia é que dia 06/03/2017 tem cap novo! Aproveitem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720282/chapter/7

Rachel

 

Sinceramente, fiquei intrigada com os relatos de Maya sobre seu passado, como quando ela omitiu o que acontecera antes de ir morar com seus avós. Dava para perceber que esse tempo havia a afetado muito e até hoje afeta. Como sei disso? Quando saímos do apartamento, pude perceber algumas coisas em Maya que não percebi antes, mas que de alguma forma, sabia que sempre estiveram ali e eu não enxergava. Mesmo dentro do carro, ela parecia sempre inquieta. Suas mãos estavam sempre procurando algo para se manter ocupadas e por vezes vi Maya levando a mão ao seu colar. Ela o esfregava por alguns segundos como se pensasse nas lembranças de sua época de criança e logo depois, suas mãos voltavam à atividade inconstante de estralar os dedos, entrelaça-los ou girar alguns dos anéis que ela usava. Maya sempre olhava atentamente pelo vidro do carro, distraída, viajando, sempre com medo de encontrar algo ou alguém que fizesse com que sua mente viajasse ao seu passado.

 Vejo pelo modo que ela anda agora a meu lado, sempre olhando em volta, angustiada. Às vezes ela fixa o olhar em alguém por alguns milissegundos, mas logo depois, volta a ficar inquieta.

Fomos até um restaurante self - service para almoçar. (Uma coisa que eu descobri: o momento que Maya mais ficava relaxada, era quando estava comendo, vai entender.) A moça atrás do balcão onde a balança de comida ficava a olhou pasma quando viu a montanha de comida que Maya colocou. Ri baixinho enquanto a mulher tentava desesperadamente disfarçar a expressão. Maya foi na frente para pegar uma mesa e, depois de pegar meu prato, fui atrás dela. Ela havia escolhido um lugar perto de uma janela com vista para o ponto onde o rio East se unia ao rio Hudson e encarava a paisagem com um olhar vidrado e pensativo.

Sentei na sua frente e a encarei per alguns segundos. Ela mal piscava. Estalei os dedos na frente de seu rosto para chamar sua atenção.

"Ei, Maya." Digo. Ela desvia o olhar para mim e percebo que sua expressão estava vazia, ela ainda estava perdida em pensamentos. Ela estava apoiada com o cotovelo na mesa e sustentava o peso da cabeça com a mão direita enquanto coçava os cabelos curtos com o dedo indicador e seus olhos...pareciam estar num tom azul escuro. "Não é possível...ela tem olhos verde-mar." Penso. Olho novamente, com mais atenção. Seus olhos ESTAVAM azuis, um azul marinho, mas isso não era o estranho. O estranho era que parecia escurecer cada vez mais, até atingir um tom preto e depois, começaram a clarear lentamente, tornando-se vermelhos, depois laranja, amarelo e voltando para o verde. Devo ter olhado por bastante tempo porque, quando ela olhou para mim, (realmente para mim dessa vez) fez uma cara engraçada e falou:

"O que está olhando?" Disse com um sorriso de lado, revelando uma covinha no lado direito.

"Eu?! Hã...nada." Digo começando a comer meu almoço, tentando disfarçar.

"Estava olhando sim, eu percebi. O que foi?"

Olho para ela que também começara a comer, só que a uma velocidade espantosa, ela só não engorda de ruim mesmo. Foco em alguma parte de seu rosto, tentando achar uma escapatória, até que...

"Seu cabelo, tem várias mechas brancas. Eu não tinha notado antes já que os fios maiores e mais escuros os cobriam. Como isso aconteceu?" A pergunta pareceu pegar ela de surpresa, havia parado o garfo com macarronada a meio caminho da boca. Maya baixou o garfo e pensou por um instante.

"Depois que fui morar com meus avós eles me levaram num medico por causa disso também. O médico disse que tinha alguma coisa a ver com trauma ou um grau de stress muito elevado aí meu corpo reagiu assim." Ela explicou e voltou a comer. Depois de uma garfada ela falou:

"Ah é, quase que me esqueço!" Ela engole o que mastigava "Eu cortei meu cabelo curto porque queria começar o ano com um visual novo e já estava enjoada daquele corte. Agora, você ainda não me falou como fui parar no hospital."

Quase engasgo. Eu realmente havia esquecido disso. Bebo um pouco do refrigerante para aliviar a irritação na garganta.

"Quando eu cheguei no apartamento e entrei no quarto, você estava estranha. Não estava respirando direito e suava bastante, mas não gritava. Eu tentei te acordar, mas não deu certo, aí liguei para a ambulância. O médico falou que você teve uma tal de paralisia do sono." Explico.

"Então foi isso? Não sabia que o nome era esse." Ela responde.

"É. Ele disse que você viu uma coisa que seu subconsciente criou e ficou daquele jeito." Termino meu prato e uma dúvida brota na minha cabeça "A propósito, o que você viu, Maya?"

Ela também termina o almoço, levanta o rosto e me responde:

"Uma mulher, parecia um demônio. Tinha o cabelo de fogo, presas e fedia a cabra suja de cocô." Ela se levanta e vai até o caixa pagar nosso almoço. Fico congelada no lugar, pasma, olhando o espaço que ela estava sentada antes. Maya havia descrito perfeitamente a empousa e, no hospital, ela havia levado a mão a onde o monstro a tinha arranhado como se soubesse exatamente onde fora, e seus olhos, a cor deles parecia mudar, como os de Piper. "Deuses, será que ela é uma meio-sangue?! Mas ela já passou da idade de ser reclamada! Será possível?" Pergunto para mim mesma, mas acho que ela me contaria uma coisa dessas, ou, talvez ela não saiba...

 

Maya

 

Não foi difícil dizer o que eu vi naquela noite. O médico tinha fito a Rachel que era coisa da minha imaginação, então eu não tinha porquê mentir, mas ela pareceu um pouco surpresa quando descrevi a empousa.

Paguei nosso almoço e saímos do restaurante. Como as aulas começariam no dia seguinte, compramos nosso material e fomos conferir se estava tudo certo na faculdade. Não me lembro ao certo o que Rachel iria fazer, mas eu escolhi a área de direito, não por causa dos advogados nem nada, eu quero seguir carreira na polícia. Como vou terminar cedo, vou fazer também engenharia da computação e robótica ou designer gráfico (não me julguem, se tem três coisas que eu adoro são a ação, trabalhar com máquinas e desenhar). O campus ficava em uma área um pouco afastada do Brooklin, em frente a um terreno baldio rodeado por uma cerca de arbustos.

Assim que piso o pé na calçada do campus, sinto uma sensação estranha. Uma movimentação numa moita na calçada chama minha atenção e eu paro de andar.  Rachel continua andando mas para quando percebe que eu também tinha o feito.

"O que foi?" Ela pergunta alerta.

"Não sei, acho que foi um gato ou alguma cousa do tipo." Olho para lá e vejo a moita tremer "Pode ir na frente, eu te alcanço." Digo.

"Ok."

Ela vai em direção à universidade e eu vou procurar oque ou quem esteja ali perto. A moita ficava próxima ao acostamento e logo depois estava a pista e do outro lado, havia uma cerca viva feita de arbustos que rodeava a propriedade em frente a faculdade. Espio a moita e encontro alguns traços de grama amassada onde alguém havia pisado recentemente. Atravesso a pista e, quando olho para o gramado, vejo as mesmas marcas de grama pisada e algumas folhas da cerca viva caídas no chão. Ouço um som semelhante a um rosnado e, quando ergo o olhar, vejo dois olhos azuis brilhantes transparecendo através da cerca.

"Achou alguma coisa?!" Rachel grita para mim. Viro bruscamente para ela, que estava já na porta do edifício principal fazendo sinal para que eu me apresasse, sinto uma agitação do outro lado da cerca e volto o olhar para lá, os olhos haviam sumido. Ouço o som de algo pesado correndo e, bem ao longe, o som de um uivo seguido por vários outros em seguida. “Licantropos" o nome vem automaticamente na minha cabeça "lobisomens à essa hora nunca são bom sinal, eles nunca mostram sua verdadeira forma durante o dia. Alguma coisa aconteceu, droga, logo agora que minha vida estava se acertando." Varo para Rachel e vou em direção a ela.

"Não vi nada, foi só impressão!" Grito no caminho, mais tarde iria verificar isso de perto.

Nossas aulas começavam às nove horas de amanhã segundo Rachel. Disse para ela que iria na minha moto para ela não se preocupar em me esperar acordar para ir para o campus.

"Boa sorte para acordar amanhã então, as vezes acho que nem uma sirene ligada a um megafone consegue te tirar da cama." Ela faz piada, mas o que eu posso fazer? Dormir para mim é uma coisa quase sagrada, como comer. Rimos enquanto entravamos no carro e aos poucos, a paisagem da universidade foi diminuindo até desaparecer no horizonte.

(···)

Estamos no apartamento. A meu lado, Rachel dormia um sono pesado e tranquilo, era quase meia noite. Abro os olhos e me levanto devagar para não fazer barulho, saio do apartamento e sigo até a escada que dava acesso ao telhado do prédio. Ventava bastante naquela noite e inúmeras estrelas enfeitavam o céu de Nova York. Vou até o parapeito e me apoio, inspiro profundamente, faz muito tempo que não chamo Kye. Olho pra baixo, os carros pareciam de brinquedo na rua. Minhas pernas bambeiam, sempre tive um certo medo de altura, mas quando descobri o que podia fazer, ele se amenizou um pouco. Me concentro e o chamo em pensamento, "Kye", não há resposta. Tento de novo, dessa vez mais alto, "KYE", dessa vez, ele me escuta. Ao longe, ouço o som do pio estridente de um falcão e uma imensa criatura começa a se aproximar. Vejo seus olhos caramelo primeiro, eles brilhavam de leve como faróis na escura noite. Logo depois, seu corpo de leão começa a tomar forma e meu grifo pousa a meu lado no telhado.

"Olá princesa, senti sua falta." Ele diz. Ele era da altura de um cavalo normal, um pouco mais baixo. A penugem de cabeça era de um castanho escuro um pouco avermelhado e a de seu corpo era num tom bege.  Conheci Kye em uma viagem que fiz, quando estava na missão onde consegui o colar, acho que estava com treze anos na época. Entrei por acidente no território das amazonas e tive um pequeno desentendimento com Hyla, a líder delas. Numa fuga um pouco apressada, libertei Kye e fugimos juntos. Isso meio que salvou o pescoço dele já que ele estava sendo contrabandeado.

Desde então, ele vem sido uma espécie de amigo/sombra para mim e criamos uma espécie de "vínculo mental" o que significa que podemos conversar mentalmente, independente da distância entre nós.

"Também senti sua falta." Digo sorrindo e acariciando sua cabeça. Ele recolhe suas asas junto ao corpo e se senta fechando os olhos, como se o carinho lhe causasse sonolência.

"Por onde andou? Estava preocupado. Fiquei meses sem uma notícia sua, achei que os caras tinham te encontrado e te esfolado viva." Ele diz. Os "caras" a que ele se referia eram os deuses. Evitávamos falar seus nomes já que isso podia chamar a atenção deles para mim, o que não era uma opção.

"Estava dando um tempo, fugindo, tentando ficar invisível, o de sempre." Respondo. Sento-me de pernas cruzadas apoiando as costas no parapeito do telhado. Kye se deita e apoia sua enorme cabeça de falcão no meu colo e eu faço carinho nele enquanto pensava.

"Por que me chamou? Precisa que eu bique alguns traseiros para você?"

"Mais ou menos. Preciso que verifique uma coisa para mim."

"Pode mandar, sabe que o papai aqui perderia as penas por você, princesinha."

Sorrio, desde que nos conhecemos, tivemos uma relação quase de irmãos. Nos tratávamos por apelidos e sempre nos divertíamos quando ficávamos juntos. Kye fazia o tipo "irmão super protetor" e eu o tipo "irmã rebelde".

Lembro de uma vez, no tempo que eu morei na rua, um manticore havia me encurralado num beco. Ele estava prestes a lançar seu ferrão em minha direção quando Kye entrou na frente e levou a ferroada por mim. Eu consegui matar o manticore, mas Kye ficou à beira da morte. Para salvar sua vida, tive que fazer uma coisa que achei que só existisse em histórias de fantasia, mas como estava desesperada, pensei "por que não? Melhor do que nada."  Cortei minha mão e deixei que ele bebesse um pouco de meu sangue.  Pouco tempo depois, a ferida brilhou em branco e cicatrizou, mas não foi só isso que aconteceu. Kye adquiriu um pouco de minha capacidade de cura e meu dom de se transformar, o que significa que ele também podia mudar de forma. Não foi fácil ensina-lo a controlar isso (até para mim foi complicado aprender), mas com o tempo ele pegou o jeito e se acostumou a mudar de forma. Ele ainda prefere sua forma original de grifo, mas ele se transforma em humano às vezes quando vem me visitar.

"Lobisomens. Acho que há uma alcateia aqui em Nova York. São clandestinos, não pertencem a esse território, ao menos nunca os vi por aqui. Você pode dar uma olhada para mim? Ou tentar descobrir por que estão aqui?" Pergunto. Coço atrás da orelha dele (sim, grifos têm orelhas) e ele fecha os olhos emitindo um som do fundo da garganta, seria quase como um ronronar se grifos o fizessem.

"Pode contar comigo. Vou descobrir o que esses vira-latas vieram fazer no nosso território." Ele diz. Levanto-me e ele se levanta junto. Abraço seu pescoço e sinto sua respiração pesada em minhas costas.

"Obrigado, Kye." Ele bica minha orelha carinhosamente em resposta e levanta voo logo em seguida. Ele pia quando estava já a uma distância boa, eu aceno em resposta e vou em direção a meu apartamento.

(···)

Sempre tive sonhos estranhos, mas esse ganhou o primeiro lugar. No sonho, eu estava de volta ao acampamento, de volta ao chalé de Hermes que foi minha única morada lá por todo o tempo que passei lá. Dois garotos gêmeos estavam aparentemente limpando o chalé até que chegam no beliche que eu dormia na época. Quando um dos garotos varre embaixo, uma tábua solta no piso embaixo da cama range e levanta um pouco de poeira.

"Ei Travis, vem ver o que eu achei."  Diz o que varria embaixo do meu beliche. Ele arrasta a cama para o lado e puxa a tábua solta, revelando uma pequena caixa de mármore branco com alguns nomes entalhados em grego. Reconheci a caixa. Era onde eu guardava algumas fotos antigas minha com meus avós. Tive que deixá-la no acampamento quando me juntei a Luke no Princesa Andrômeda e sempre me culpei por tê-la deixado no último lugar a qual deveria pôr os pés depois do que fiz. O outro garoto, Travis, se aproxima do irmão e espia por cima de seu ombro.

"O que foi Connor?" Ele pergunta. Connor abre a caixa de mármore e retira de lá, um bolo de fotografias minhas na casa de meus avós amarradas com um elástico de dinheiro. Ele pega a primeira e analisa a foto que mostrava meu avô me ensinando a fazer um aviãozinho de madeira e a passou para Travis. Ele a olhou curioso e devolveu a foto ao irmão. Connor pegou outra foto. Essa mostrava meus avós sentados num sofá de couro com uma menina sentada entre eles olhando com a cara emburrada para a câmera.

"Você a conhece?" Travis pergunta.

"Não." Connor responde. "Há uma no final do bolo, parece mais recente." Ele diz e pega a foto. Nessa eu estava em pé, com uma mão atrás da cabeça e com a outra, apontava com o polegar para o lago de canoagem atrás de mim. Eu usava uma calça jeans escura e uma blusa do acampamento, botas e trazia comigo uma espada presa ao cinto. Aquela foi a foto que tirei depois da minha primeira captura a bandeira. Apesar de meu time ter perdido aquela partida, Quíron insistiu em fotografar o momento. Ele me disse que ninguém nunca havia lutado tão bem sem nenhuma proteção e sobrevivido para contar a experiência e me deu a foto de lembrança.

"Vamos levar à Quíron, ele deve saber quem é a garota." Connor diz e os gêmeos vão em direção à casa grande.

O sonho muda um pouco. Agora, Quíron olhava a foto com uma certa tristeza no olhar.

"Você a conhece não é, Quíron? Ela era uma campista?" Connor pergunta. Quíron suspira pesadamente, toma a caixa de mármore da mão do garoto e guarda a foto, fechando a caixa logo em seguida e a colocando sobre a mesa.

"Sim criança, eu a conheço e sim, ela era uma campista." Quíron responde.

"O que aconteceu com ela? Porque ela não está no acampamento? E porque ela deixaria uma caixa com fotos escondida no nosso chalé?" Travis indaga curioso.

"O nome dela era Maya, era indeterminada na época que esteve aqui. Um dia, pouco depois de a Árvore de Thalia ser envenenada, ela fugiu deixando uma carta pedindo que ninguém fosse atrás dela ou a procurasse e que ela não voltaria mais ao acampamento. Ela deve ter deixado as fotos quando fugiu e não quis voltar para pega-las." Quíron responde. "Nunca mais tivemos nenhuma notícia dela."

Os gêmeos pareciam um pouco desapontados com a resposta, mas a aceitaram e voltaram para o chalé para terminar a limpeza.

Quíron pega a caixa e encara algumas fotos. Senti um aperto no peito e uma lágrima rolou, eu o havia desapontado.

Uma ventania começa a me puxar do lugar onde eu estava. O mundo passa por mim como um borrão disforme e apareço logo depois em um chão de madeira. Aperto meu estômago me sentindo tonta e enjoada, apoio-me na parede para não cair. Passado o enjoo, analiso o ambiente. Era a sala de um chalé rústico, com o piso em uma madeira encerada e as paredes de pedra cinza enfeitadas por tapeçarias com imagens do campo. Uma escada subia para o andar superior onde deveriam estar os quartos e um cheiro delicioso de chocolate quente invadia meus pulmões fazendo minha boca salivar. Através das janelas, via-se uma paisagem montanhesca enfeitada por neve que caía em uma fraca nevasca. Dois sofás feitos de couro estavam postos em volta de um tapete de pele de urso pardo em frente a uma lareira que emitia um calor aconchegante no ambiente. Uma garotinha ruiva saiu da cozinha trazendo consigo duas xícaras com chocolate quente e alguns marshmellows.

"Desculpe por tira-la de seu sonho dessa forma, mas eu precisava falar com você, criança." A garota diz. Ela aparentava ter doze anos e usava uma manta em volta de si como uma capa. Estremeço ao reconhecer a deusa e ajoelho-me em submissão.

"Lady Hestia. A que devo a honra?" Pergunto de cabeça baixa. Engulo em seco ao sentir que se aproximava. (Tudo bem, não me sentia confortável muito próxima aos deuses, mas nem todos me odiavam, só a grande maioria deles.) Ela se senta na poltrona e bebe um pouco do chocolate quente.

"Levante-se criança, sente-se a meu lado." Ela diz e eu o faço, um pouco receosa. Ela me oferece o chocolate quente e eu aceito. "Há algo sobre você criança, algo que somente nós, deuses, sabemos, e algo que você também deveria saber, mas que por vontade de seu pai, isso não aconteceu." Estremeço. Nunca me importei com quem era meu pai, mas agora, alguma coisa me intrigava. Não ousava levantar o olhar, ainda não tinha vencido esse medo dos deuses e esse era um passo que eu não estava preparada para dar. Vendo que eu não falaria nada, a deusa continuou.

"Depois que você nasceu, seu pai tomou essa memória de você, para sua proteção. Ele sabia o que aconteceria caso tivesse conhecimento disso e preferiu livrar você desse fardo. O máximo que posso sugerir que faça, é investigue algo que começou a acontecer a pouco tempo no Acampamento, tem envolvimento total com essa lembrança." Minhas mãos começam a tremer fazendo com que o chocolate quase intocado tremule e derrame algumas gotas, até que Sinto uma sensação calorosa me envolver e a deusa toca em minha mão.

"Sei que teme aquele lugar, criança, mas não se preocupe, você está sobre minha proteção, sempre esteve." Suspiro profundamente e apoio minha cabeça em seu ombro, o medo começa se dissipar, como fumaça. A deusa me passava a sensação de segurança que só tive quando fui morar com Jonathan, toda ela gritava casa, família. Me acalmo com sua presença.

"Vou dar o meu melhor, Senhora." Murmuro.

"Eu sei que vai, sempre soube. Agora tenho que ir criança, não posso passar mais tempo nesse plano." Ela diz. O lugar começa a desaparecer e eu sinto que estou acordando. Me despeço silenciosamente da deusa e abraço o meu despertar.

 

 

(Duas semanas atrás.)

Luana

 

Eu estava correndo sobre duas pernas. Isso era estranho para mim. Havia me acostumado tanto a minha forma de loba que não o faria se algo extremamente errado tivesse acontecido. Não consigo mais me transformar, isso é impossível, não podemos simplesmente parar de nos transformar. O problema já alcançou todos os patamares, nem o Alfa escapou. Ele chamou por nós, precisávamos encontrar a fonte do problema e agora, corríamos a seu encontro.

Estamos todos reunidos, quase 40 lobos, todos discutindo qual seria o motivo de nosso problema. Eu não me pronunciava, apenas observava a discussão que seguia avidamente e o nosso Alfa que até agora, apenas ouvia atentamente as suposições, até que ela aparece. Um fogo gigante aparece do nada no meio da clareira em que estávamos reunidos. Todas as discussões cessam e por alguns segundos, o único som que se pode ouvir é o do crepitar do fogo. Pouto tempo depois, uma mulher surge no meio das chamas e estas se extinguem em sua presença. A mulher trajava roupas simples, uma calça jeans, uma blusa branca colada ao corpo, um colar de couro com algumas joias incrustadas e estava descalça. Tinha o rosto anguloso, olhos e cabelos castanhos e sua postura era a de alguém superior. Todos na alcateia rosnam com sua presença, mas ela parece não se importar com a ação. Novamente, apenas permaneço em silêncio, invisível. O Alfa é o primeiro que se pronuncia.

"O que é você e o que faz no meu território? Exige que me responda imediatamente!" Normalmente, ele era calmo com esse tipo de situação, mas os problemas recentes o estressaram a um nível assustador.

A mulher olha em direção a ele e posso jurar que o vi estremecer um pouco.

"Acho que não é um bom momento para exigir nada de um superior, lobinho." A mulher diz com um brilho estranho nos olhos. Ela olha para as unhas de forma entediada e continua. "Mas como estou de bom humor, vou responder suas perguntas. Sou uma bruxa, e quanto à o que quero em seu território, quero apenas um favor seu e de sua alcateia." Ela franze o cenho para a mão como se encontrasse um defeito macroscópico em suas unhas e suspira em frustração.

"E o que a faz pensar que eu faria esse favor à madame?" O alfa indaga sarcástico. A mulher levanta a cabeça e olha ao redor. A alcateia estava em posição de ataque contra ela, apenas esperando a ordem do alfa permitindo o ataque, depois, descreve um círculo com o dedo englobando todos nós em um único gesto e aponta para a lua cheia que brilhava acima de nós.

"Acho que já perceberam o pequeno inconveniente que afetou seu precioso território. Se fizerem o que eu mando, deixarei que vocês voltem a se transformar aqui." Ela responde. Isso afetou o psicológico de todos. Nos transformar era uma coisa tão vital para nós como respirar. Saber que alguém pode tirar isso de nós nos faz pensar que podemos ficar vulneráveis a ataques a qualquer momento. O Alfa andou de um lado para o outro, pensativo. Mudar de território seria mais trabalhoso para nós e havia a possibilidade de que morramos no processo, e ele não permitiria isso, além do mais, era uma questão de honra uma alcateia defender seu território.

"O que quer?" Ele pergunta, aceitando a prevista.

"Um meio-sangue, mas não um qualquer. Um meio-sangue diferente, especial, que só nasce uma vez a cada século. Ele nasceu nessa época, encontrem-no e o tragam para mim, vivo." Ela diz. Seus olhos brilhavam de maneira ambiciosa.

"E como quer que capturemos um meio-sangue se não podemos nos transformar? Eles são treinados e o acampamento é protegido pela barreira mística." Alguém diz ao fundo. A mulher revira os olhos impaciente como se essa fosse a pergunta mais idiota que alguém poderia fazer.

"Não podem se transformar nesse território. Ele está em outro, em Nova York, mas se quiserem se transformar em seu território novamente, vão ter que o trazer para mim. Vocês têm uma semana para saírem daqui."

"E como saberemos qual é o meio-sangue certo?" O alfa pergunta.

"Vão saber. Assim que o encontrarem, saberão que é ele." 

"Por que você simplesmente não vai lá e cuida disso sozinha em vez de se dar ao trabalho de impedir que nos transformemos em seu território para que façamos seu trabalho?" Pergunto. Ela se vira para mim ainda entediada.

"Porque minha magia não funciona dentro da barreira que protege o acampamento deles e é bem mais fácil fazer com que outros façam seu trabalho. Agora, tenho outros assuntos a tratar, e antes que eu me esqueça, lancei um feitiço sobre vocês para que consigam atravessar a barreira. Antes que perguntem, não teve efeito em mim por isso eu não o uso. “ Ela diz e desaparece em uma labareda. Suspiros pesados são ouvidos e o Alfa cai sentado recostado em uma árvore. Aproximo-me dele.

"Helkon..." começo.

"Não se preocupe Lua, vamos dar um jeito nisso." Ele diz quase de maneira automática.

"Mas, como saberemos por qual começar? Há vários deles, vai durar semanas." Pergunto. Ele fecha os olhos e massageia as têmporas pensativo.

"Aquela desgraçada..." ele murmura para si mesmo e me responde em seguida. "Vamos dar um jeito nisso também. Temos uma semana. Reúna todos da alcateia e diga que sairemos em missão. As chaves estão na caminhonete, vá até a cidade depois com os carros e abasteça de suprimentos, vai ser uma longa caçada." Helkon fala cansado. Ele se levanta e vai em direção à um casebre na floresta, onde ele guardava as bebidas da alcateia. Lobisomens normalmente não se embebedavam facilmente, e quando Helkon se dava ao trabalho de fazê-lo, a situação estava realmente feia. "Isso não vai acabar bem." Penso e vou em direção a caminhonete.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Herdeira do Olimpo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.