A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 5
Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que o cap. ficou grande, mas vai valer a pena.



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Maya

 

(Tudo bem. Onde estávamos?... Ah é, a empousa.) Enfim, vi ela explodindo em poeira e logo depois adormeci por causa do veneno. Ele se espalhava lentamente, fazendo meus músculos adormecerem. Lembro de ter dito alguma coisa, não sei bem o quê, talvez "ferida". Ouvi uma risada e logo depois, vozes. Uma era suave e harmônica de um rapaz e parecia estar falando em latim. Enquanto falava, senti o veneno saindo e evaporando. Uma sonolência começou a tomar conta de mim e adormeci completamente antes da voz parar.

O sonho parecia ser uma continuação do anterior. Eu ainda estava na arena, deitada de bruços no piso arenoso. Minhas costas ardiam como nunca e eu sentia meus pulsos presos. E então, a visão mudou. Eu ainda estava na arena, mas dessa vez, parecia que estava flutuando. Olhei para baixo e vi eu mesma desmaiada. Os monstros explodiam em vivas com a batalha. Anteu e Luke aplaudiam a dracaenae, acompanhados pela arquibancada enquanto ela saía do centro da arena. Um meio-sangue com um tapa-olho tirou as correntes de mim e cortou a parte do chicote que me amarrava. Ele checou se eu ainda respirava e, quando viu que aparentemente não (até hoje não sei como), ele começou a arrastar meu corpo para fora da arena. Ele me levou até uma das saídas do lugar e me largou em um corredor qualquer do labirinto. Senti que alguma coisa me puxava e meu "espírito" foi sugado de volta para meu corpo.

Não sei por quanto tempo fiquei desacordada, poderiam ter sido horas ou dias, o tempo no labirinto é uma coisa estranha. Acordei sentindo gotas frias na testa. Estava de lado, suja por uma mistura de sangue e poeira. Meu corpo estava todo dolorido, principalmente as costas. Tentei me sentar. Meu corpo estava bastante pesado mas consegui com um pouco de esforço. Levei a mão por cima e toquei as costas. Os cortes do chicote já estavam cicatrizando e a marca do ferro em brasa começava a criar uma espécie de "casca". Levei a mão ao rosto onde a dracaenae havia cortado e senti as cicatrizes no olho, nariz e boca. Estremeci e minha visão ficou turva. Pensei que fosse desmaiar novamente, mas logo tudo voltou ao normal. Olhei em volta. Estava em algum tipo de caverna. Ás minhas costas e à frente, dois tuneis se estendiam infinitamente para o labirinto. Do túnel às minhas costas, vi uma marca funda no chão que seguia até mim, como se tivesse sido arrastada até ali. O solo era de pedra coberto de areia e estalagmites e água pingava das estalactites. Estava escuro, mas aos poucos meus olhos se acostumaram e pude ver melhor o ambiente. Pude sentir uma certa pressão sobre a caverna. As goteiras continuavam e o som da água se chocando contra o chão de pedra se juntando em poças ecoava na caverna. Em um ato de curiosidade, abri a boca e deixei que a água molhasse minha garganta seca. Esperei e quando pingou, recuei com o sabor. Esperava água doce, mas era salgada. Eu estava em uma espécie de caverna subterrânea abaixo do nível do mar.

Inspirei profundamente e me levantei. Dei alguns poucos passos cambaleantes e alcancei a outra entrada do túnel e, exausta, perdida e ferida, adentrei sozinha no labirinto.

Vaguei pelos corredores por dias procurando uma saída, encontrando apenas mais quilômetros e quilômetros de corredores intermináveis. Quando pensei que ia morrer pela sede, encontrei um pequeno riacho onde a saciei, mas não consegui ficar muito tempo porque uma Náiade começou a atirar pedrinhas em mim me expulsando e tive que voltar ao labirinto. Não sei por quanto tempo andei depois disso, mas sei que, em determinado momento, uma pequena luz numa das paredes me chamou a atenção. Olhei mais de perto e pude distinguir a letra grega Δ (Delta) em um azul brilhante. Uma esperança de sair daquele lugar me deu energias. Apertei a letra e a parede começou a se retrair devagar formando uma escada que subia para a superfície. Subi correndo e, depois do que pareceram ser milhares de degraus, uma pequena porta de madeira paralela ao chão bloqueou a passagem. Comecei a empurrar desesperadamente tentando abri-la mas parecia que alguma coisa estava impedindo ela por fora. Uma raiva incontrolável começou a tomar conta de mim. "Não vou deixar essa porcaria me parar." Penso.

"VENIT!" Grito. Sinto o colar sumindo e na minha mão direita, um machado parecido com os que os bombeiros usavam apareceu.

Segurei seu cabo com força com as duas mãos e comecei a golpear a porta. Lascas de madeira voavam por todos os lados até que finalmente consegui abrir um espaço na porta, grande o suficiente para que passasse meu braço. Soltei o machado e enfiei o braço pelo buraco até o ombro. Apalpei em busca do que quer que estivesse impedindo a porta até que senti, uma superfície fria de metal. Tentei empurrar, mas era muito pesado, então puxei meu braço de volta e recomecei a golpear a porta com mais força até que senti o machado perfurar o metal. Água doce começou a jorrar da abertura encharcando a mim e a escada (tenho que dizer, foi revigorante). Esperei que tudo saísse e tentei empurrar novamente a porta. Dessa vez ela cedeu e, quando saí, deitei-me no chão arfando com o esforço. Fechei os olhos por alguns minutos. Devo ter cochilado, mas não importava mais. Eu finalmente tinha saído daquele inferno. Ri baixinho para mim quando abri os olhos.

"Consegui." Disse para mim. Quando me sentia já bem o suficiente para andar sem desmaiar, me sentei e olhei o lugar.

Estava em uma espécie de depósito, provavelmente em um supermercado. Era bem amplo o lugar, lotado de caixas de papelão empilhadas cheias de produtos de limpeza e enlatados. O lugar era iluminado por umas pequenas lâmpadas fluorescentes verdes. À esquerda, uma escada fina dava acesso ao nível superior. Me levanto e vou em direção a escada. Subo até o topo e encontro uma pequena porta de madeira pintada em vermelho. Giro a maçaneta e ouço um click da porta se abrindo.

As luzes do supermercado estavam desligadas então deduzi que estava fechado. O lugar era todo em branco com fileiras de prateleiras lotadas de artigos e limpeza e comida. Avancei em direção a uma fileira quando uma sirene começou a tocar. O alarme havia disparado. Corri em direção à entrada do lugar para sair logo antes que arrumasse problemas com a polícia local. Pelas portas de vidro, via uma rua com vários prédios em frente e alguns carros estacionados no acostamento. Usei o machado para quebrar as portas e saí. 

Peguei um jornal que estava preso no limpador de um carro qualquer. O jornal era de São Francisco. Ele datava o dia 13 de setembro. Havia entrado no labirinto em maio, o que significa que eu estava a quatro meses lá em baixo. Me senti tonta e precisei me apoiar no carro para não cair. Tentei ignorar esse fato e olhei as notícias. A manchete na primeira página exibia em letras grandes a seguinte frase:

Uma tempestade furiosa se alastra pelo país. Os meteorologistas indicam que ela deve chegar a Nova York até o final do mês. E ao lado, uma foto em preto e branco de um gigantesco furacão.

"Reditum" digo. O colar volta a meu pescoço. Dobro o jornal e o enfio no bolso da calça. "Então Luke conseguiu." Digo para mim mesma. Se tudo tivesse dado certo, Tifão chegaria antes do fim do mês e o ataque ao monte Olimpo começaria em poucos dias. Suspiro. "Ao menos eles achavam que eu estava morta. Estava livre e minha família não corria perigo." Penso. Começo a andar pela cidade pensando numa forma de voltar já que estava sem dinheiro quando tudo começa a girar. Minha visão fica embaçada e começa a escurecer. Sinto meu corpo pesado e minhas pernas cedem. "O que?!" Penso sem entender, até que cai a ficha. Eu estava a 4 meses sem me alimentar, parecia menos tempo no labirinto, mas mesmo assim era muito tempo. Meu corpo não aguentava mais. Caio de bruços na calçada. Não conseguia me mexer, mas ainda estava consciente.

Depois de algumas horas, sinto alguma coisa fungando meu calcanhar. "Cachorros? Ótimo, muito legal." Sinto o animal cheirando meu corpo todo bem rápido. Não, não era um cachorro, eram dois. A respiração estava rápida demais para ser só um. Ouvi seus passos e ele começa a cheirar meu tórax. Senti duas cabeças empurrando meu corpo, o virando para cima. Senti que eles cheiravam meu braço, mas quando seus focinhos tocaram o bracelete, recuaram. Andaram até minha cabeça e tive o vislumbre do monstro. Era um cão "normal" exceto pelo fato de ter duas cabeças no mesmo corpo. "Ortros" pensei. Ele é o cão de Gerião, mas se estava no mundo mortal, ou Luke havia conseguido uma aliança com o cara de três corpos, ou ele estava morto. Ortros bufou uma vez como se me desaprovasse. Depois ele me segurou pela gola da camisa e começou a me arrastar para o que parecia ser um beco sem saída.

Quando parou, vi um homem alto o suficiente para fazer Michael Jordan parecer nanico.

"Ora ora, o que temos aqui?! O mestre vai ficar feliz em te ver." ele disse. E apaguei de cansaço.

O sonho mudou. Agora, eu acordava em uma espécie de cela. Estava deitada sob um suporte madeira preso à parede por correntes. As paredes eram de concreto com uma visível infiltração e lodo que cobria boa parte destas. A quarta, era formada por grossas barras de ferro atravessadas em alguns pontos. Uma "porta" também feita de grades dava acesso ao corredor. Haviam outras celas, mas estavam vazias. Me levantei e ouvi o tilintar de correntes. Olhei meus pulsos. Estavam presos à parede oposta à da grade por uma corrente grande o suficiente para permitir uma "livre" movimentação no espaço. Andei até a parede até ficar a poucos metros das grades e estendi a mão para ver o alcance. A corrente de estendeu totalmente a um metro de distância da parede. Tentei esticar mais, mas estava sem forças. Me sentei na cama de madeira frustrada e examinei meu corpo. Eu estava magra o suficiente para poder contar minhas costelas e vértebras sem esforço nenhum. Sem chance que eu iria quebrar aquelas correntes. Levei a mão ao pescoço e senti o colar. Bom, ao menos não estava desarmada.

Um barulho de uma porta pesada de metal rangendo ecoou pelos corredores e ouvi passos. Prestei atenção e, pelo ritmo que eles ecoavam, deduzi que eram duas pessoas. Eles se aproximavam lentamente e pude ver que, à medida que se aproximavam, o corredor era iluminado por uma tocha. Quando chegaram a minha cela, vi meus carcereiros. O que trazia a tocha consigo era Ethan Nakamura, ele usava uma armadura completa de batalha e trazia presa ao cinto, uma espada e um molho de chaves. O outro, era Luke, mas estava diferente. Parecia mais carrancudo e trazia consigo uma foice. Seus olhos estavam dourados. Também usava uma armadura de batalha, mas estava sem elmo.

"Abra" ele disse. E foi que percebi que não era ele. Era uma voz rouca que parecia ser bem antiga e ecoava no lugar, a mesma voz que tinha ouvido no navio. Poderia ser o corpo de Luke, mas era Cronos que estava ali.

Ethan colocou a tocha num suporte do lado de fora da cela, abriu-a e ambos entraram. Cronos me olhou de cima a baixo aparentemente surpreso.

"Não esperava que alguém pudesse sobreviver tanto tempo sozinho no labirinto." Disse.

"Você ficou tempo demais no Tártaro, os tempos mudaram. Acho que as notícias demoram para chegar lá." Digo.

"Insolente! Como ousa?!." Ethan exclama pondo a mão no cabo da espada.

"Não Nakamura. Ainda precisamos de soldados e o fato de ela ter sobrevivido tanto tempo diz que ela é forte." Cronos diz e Ethan solta a espada. Ele cruza os braços e começa a me olhar de cara fechada.

"Não luto mais por vocês." Digo.

"Vai lutar." Cronos responde.

Raiva toma conta de mim e avanço sobre ele pronta para dar-lhe um soco. A corrente se estica impedindo meu ato e minha mão fica a centímetros do rosto dele. Ele nem se move.

"Vai precisar fazer mais que isso." Ele diz sarcástico. "E você vai lutar, ou se esqueceu que sua família está em perigo?"

A pergunta ficou suspensa no ar. Eu o encarava com ódio e ele sustentava meu olhar com uma expressão calma. Então abaixei a mão. Não respondi, apenas fui em direção à parede onde as correntes estavam presas e a esmurrei o mais forte que consegui. Senti os ossos de minha mão se quebrando e a dor tomando conta de meu braço, mas não gritei, nem demonstrei o menor resquício de dor. Não daria a eles o gostinho de saber que estava com dor. Apenas a deixei cair paralela ao meu corpo.

"Vão para o tártaro!" Digo.

"De onde acha que eu vim?" Cronos diz e dá uma risada gélida. Ouço ambos saindo da cela me deixando sozinha novamente. Encaro a parede enquanto seus passos se tornavam cada vez mais distantes. Ouvi a porta rangendo ao abrir e, um cheiro delicioso toma conta do lugar. Comecei a salivar com o cheiro e meu estômago roncou. "Carne?" Penso e me aproximo da grade em um estado hipnótico. Não estava mais no controle de meu corpo. A partir daquele momento, meus instintos tomaram conta de mim, e eu só queria chegar à fonte daquele cheiro, estava faminta. Comecei a puxar as correntes para que se soltassem da parede, mas nada aconteceu, então tudo ficou estranho. Senti meu corpo todo queimar arduamente com a sensação de que meus músculos se esticavam cada vez mais, até quase rasgarem. Não me aguento em pé e caio de quatro no chão, todos os meus músculos se contraindo ao mesmo tempo, os ossos crescendo e se arrastando dentro de, mudando de lugar, eu arfava desesperada em busca do oxigênio que custava encher meus pulmões e suava, gritando com a dor de meu corpo que parecia crescer de dentro para fora, rasgando a casca que antes era meu corpo. Minhas mãos rasgam, os ossos da mão esquerda se regeneram e são envoltos novamente pela carne, mas de uma forma diferente, dando lugar à imensa pata canina recobertas de uma pelagem cinza escura, que se espalha por todo o meu braço enquanto este crescia. Meu nariz começou a se alongar dando lugar a um focinho e senti uma cauda crescendo e então parou. Minhas mãos e pés haviam dado lugar a patas caninas e haviam crescido a ponto de as correntes cederem sobre o tamanho. Senti minhas costas roçando no teto. Não pensei e investi contra a parede. Ela cedeu instantaneamente jogando pedaços do cimento que a prendiam para todos os lados. Corri pelo corredor de quatro, esbarrando nas paredes e seguindo o cheiro que se tornara mais forte devido ao olfato animal. Depois de algumas viradas, encontrei a porta e me lancei contra ela. Ela voou longe. Saí em uma sala cheia de monstros, mas os ignorei.

"LOBO!!" Ouvi um gritar, mas eu continuava a correr perseguindo o cheiro. De fato, eu havia me transformado em um lobo gigante. Como?? Não faço a menor ideia. Mas naquela época, a descoberta desse poder me ajudou muito. Passei por corredores e monstros, derrubei algumas portas e devo ter pisado em alguns. A última que atravessei, se abriu em um vasto terreno que estava lotado de barracas e monstros que formavam longas sombras à medida que a tarde se transformava em noite. O cheiro estava mais forte e ergui a cabeça para ver melhor e vi o que parecia ser uma enorme vaca assando em uma fogueira rodeada de Lestrigões e cães infernais. O que fiz depois foi louco, nojento, repugnante e nada humano. Devo ter perdido naquele momento a parte de minha mente que me lembrava que eu era humana e ela foi substituída por um instinto animal imparável. Avancei sem pensar e pulei sobre a vaca começando a devorá-la inteira. Os monstros pareciam absortos com a repentina cena, mas não prestei muita atenção, estava muito ocupada arrancando pedaços enormes de carne com minhas presas e os engolindo inteiros para matar minha fome.

Devo ter comido metade da vaca quando senti um enorme soco que me lançou metros à frente. Caí encima de uma construção de madeira que se quebrou assim que aterrissei. Levantei e olhei em direção à fogueira onde um enorme ciclope gargalhava. Me sacudi para tirar as lascas de madeira presas no pelo e rosnei para ele. Corri em direção ao monstro que tinha me atacado. Ele tinha quase cinco metros de altura, mas não me importei. Pulei sobre ele e o derrubei em cima de algumas harpias que se transformaram em pó instantaneamente e comecei a mordê-lo e arranhá-lo até ele se desfez em poeira. Um cão infernal pulou sobre mim e começamos a rolar lutando. Outro me atacou pelas costas e comecei a ceder. Senti uma forte pancada na cabeça e caí atordoada. Uma rede foi lançada sobre mim e os monstros a esticaram nas pontas pressionando meu corpo contra o chão. Os cães infernais começaram a me morder e uivei de dor (literalmente). Uma rodinha de espectadores se formou para ver a luta até que uma voz alta e rouca surgiu no meio da multidão.

"JÁ CHEGA!" Cronos gritou. Os cães infernais saíram de cima de mim e eu fiquei no chão ainda presa pela rede. Senti as mordidas dos monstros se curando (mais rapidamente do que eu imaginava) mas deixei que eles acreditassem que eu estava indefesa.

Cronos andou até mim.

"O que está acontecendo aqui?!" Ele pergunta irritado.

"Essa coisa nos atacou." Um lestrigão responde. Cronos encara meu rosto e repara as cicatrizes que permaneciam na minha forma de lobo.

“Então descobriu novos poderes é? Vai ser muito útil!" Ele diz.

"Vá para o tártaro!" Digo. Me surpreendi, pois achava que ia sair um latido ou coisa do tipo, mas minha voz soou claramente. Começo a forçar a rede me levantando e um pensamento passa por minha cabeça. "Será?!" Penso, mas só testando para tirar a prova. Imagino novos ossos surgindo em minhas costas e se estendendo para ambos os lados, criando a partir de uma junta, novos ossos e depois recobrindo-se de pele e então, formando longas asas. A rede cedeu e me balancei para me libertar. Antes que pudessem me prender de novo, tomo impulso e levanto voo me afastando rapidamente do acampamento dos monstros. Minha fuga estaria correndo muito bem se não fosse pelo que ouvi depois.

"Faça." Ouço Cronos dizer pelo bracelete e olho pra baixo. Vejo um semideus montando em um cão infernal e este saltando em uma sombra e desaparecendo. Me desesperei. Á medida que me afastava, via que o acampamento dos monstros estava em uma estrada. Uma placa passou enquanto eu seguia a estrada, dizendo "Nova York 2.5 km" (aparentemente meus sentidos melhoravam quando eu estava na forma animal.). Acelerei em direção à cidade, batendo as asas o mais forte que podia e não demorou muito para que eu visse a silhueta da cidade ao final de tarde. Avancei como um raio e segui em direção a Manhattan. Se não tivesse comido aquela vaca provavelmente já teria desmaiado. Aterrissei a um quarteirão de minha casa e pensei em virar humana de novo. Senti meu corpo diminuindo e voltando ao normal. Ainda estava suja de sangue e minha roupa estava toda rasgada, mas não me importei. Quando me virei para a casa, de primeira parecia tudo normal. Corri até lá e, quando estava a alguns metros de distância, a explosão me lançou longe.

Ouvia um zumbido. Senti meu rosto quente e minha roupa ficou chamuscada. Me levantei atordoada e lagrimas começaram a rolar. Corri em direção à casa, ignorando as chamas.

"VÓ?! VÔ?! Alguém?!" Grito e começo a correr pela casa procurando por eles. Não havia ninguém no primeiro andar. Subo as escadas correndo e vou direto ao quarto deles. Abro a porta com força e os vejo, lado a lado na cama. Qualquer um diria que estavam dormindo exceto pelo fato de que um enorme corte de espada atravessava-lhes o peito. Corro até eles. Minha vó ainda tentava lutar contra o corte. Cheguei mais perto e pus sua cabeça em meu colo.

"Nós te amamos Maya." Ela disse num sussurro. Depois suspirou e senti sua alma abandonando seu corpo.

"Não....NÃÃÃO!!" Grito e, acordo nesse momento, ainda gritando.

Não estava mais na casa de meus avós, nem em casa. Estava no que parecia ser um quarto de hospital. Tremia e suava frio. A meu lado, alguém exclama:

"Caramba, você fez eu me molhar toda!" E Rachel se senta na maca na minha frente. O momento da explosão ainda passava em minha cabeça como um filme.

"Onde estou?" Digo enxugando o suor da testa.

"No hospital." Ela responde. Sinto meus olhos marejarem e meu nariz começar a arder.

"Ei, o que aconteceu?" Ela pergunta com um ar de preocupação.

"E-Eu...foi um sonho ruim." Digo e me deito na cama. Ponho o braço sobre os olhos tentando esquecer o sonho, mas não adianta. Tentei conter, mas as lágrimas começaram a rolar, molhando o travesseiro.

"Ei, Maya, quer falar sobre isso?" Ela pergunta. Me viro para a janela e ponho o braço debaixo do travesseiro.

"Não acho que conseguiria..." Digo baixinho.

"Escuta, sou sua amiga. Pode me contar."

"Foi...sobre meus avós." Começo, não querendo revelar muito, mas sei que Rachel não esqueceria fácil.

"O que aconteceu com eles?"

Silêncio...

"Eu não quero falar sobre isso. Pelo menos não aqui." Me defendo.

"Tudo bem. Vou falar com o médico para te dar alta." Ela diz e sai da cama. Ouço ela andando e abrindo a porta. Me sinto bem. Apesar de saber que ela voltaria a me perguntar, sei também que Rachel sabe a hora certa e sabia que eu não estava pronta ainda.

"Ei Rachel?" Chamo.

"O que foi?"

"Como vim parar no hospital?" Pergunto, mesmo já sabendo a resposta.

"Ha, é uma longa história, você vai gostar dela." Ela diz.

"Vai me contar tudo?!" Pergunto tentando forçar uma risada.

"Até os detalhes mais inacreditáveis, mas primeiro vai me contar de onde tirou essa ideia de cortar esse cabelo tão curto." Responde.

"Fechado." Digo. Levei a mão ao lugar onde a empousa havia arranhado e esfreguei. Senti as marcas das garras e recolhi o braço logo após. A porta se fecha e encaro o nascer do sol pela janela do quarto enquanto meus olhos me traíam e lágrimas e soluços começaram


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