A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 12
Quando eu tinha 13...


Notas iniciais do capítulo

Faaaala galera. Nesse cap descobriremos como Maya conseguiu o colar. Empolgados? Espero que sim. Estou simplesmente amando os comentarios, serio msm, é cada um mails lindo e louco que o outro kkkkkkk Quanto a o dia que vai sair o proximo, bem...eu nao tenho nada programado ainda ms prometo que vai ser o mais rápido possivel.
Aaaaah e vcs podem encoontrar fotos do serhumaninho q eu usei como Chris ao buscar Ryan Kelley, viu?



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Rachel

Estaciono o carro no pé da colina e subo devagar, ainda alterada pelo sono. Assim que chego no topo, percebo uma movimentação na área dos chalés. Várias tochas acesas se amontoavam no centro e ao redor delas, vários campistas curiosos se aglomeravam em um círculo tentando ver o que acontecia. Penso se alguém estaria ferido e aprumo o passo até o local, vejo um garoto com a perna toda suja de sangue e um talho na testa passar sendo carregado em uma maca até a enfermaria, mas mesmo assim a multidão não parecia nem perto de se dispersar. "O que raios está acontecendo?"

Chego na beirada da roda e encontro Nico em meio à multidão que murmurava impaciente.

"O que está acontecendo?" Pergunto me esticando na ponta dos pés para enxergar acima das cabeças.

"Chris conseguiu acertar um deles, mas não sem antes de destruir o punho de Zeus. Devem estar vendo se ainda está vivo ou coisa do tipo." Ele responde enquanto se esgueirava entre a multidão tentando chegar mais perto. Sigo ele até onde consegui e espio novamente por cima das cabeças dos campistas e vejo um rosto familiar.

"Céus, isso não pode estar acontecendo." Murmuro e empurro os semideuses na minha frente abrindo passagem.

"O que foi, Rachel?" Nico pergunta, mas o ignoro. Consigo chegar mais perto, o suficiente para identificar com clareza seu rosto e meus medos se concretizam. Corro até Maya, suas roupas e seu corpo sujos por sangue seco e poeira, vários arranhões recobrindo seus braços e um curativo improvisado no lado esquerdo de sua barriga que estava empapado de sangue. Ajoelho-me e coloco sua cabeça sobre meu colo. Seu rosto estava muito pálido, ela tremia, suava, seu corpo ardia em febre e ela balbuciava coisas que eu não entendia.

"Ei, Maya! Acorda, fala comigo!" Digo enquanto dava leves tapinhas em sua bochecha, ela mal demonstra qualquer reação. Desvio o olhar por um segundo e quase não percebo as imensas asas brancas que partiam de suas costas e se estendiam pelo chão, uma delas dobrada em um ângulo entranho, estava quebrada. Will e mais alguns do chalé de Apolo a enfaixavam e imobilizavam. Encaro as asas boquiaberta, não conseguia acreditar que aquilo era real, não podia ser real. Estava tão perplexa que nem notei quando Uriah se aproximou.

"Você a conhece, ruivinha?" Ele questiona sínico. Apenas aceno com a cabeça, ainda boquiaberta encarando as asas. Estendo a mão para toca-las, com medo de sentir que aquilo tudo fosse real, mas sinto sua plumagem macia e quente e tenho certeza que não estou sonhando. Sinto o músculo da asa quebrada se contrair sob meu toque e Maya geme de leve em meu colo.

"Porque escondeu isso de mim?" Sussurro. Ouço o som de passos de cavalo e Quíron se aproxima ficando ao lado de Uriah.

"Vou leva-la à enfermaria, esses ferimentos estão muito sérios, mas avise para que ninguém se aproxime, não sabemos o quão perigosa ela pode ser e avise também a Argos que fique atento a qualquer atividade suspeita." Assimilo algumas palavras do que ele disse e a compreensão destas me faz olhar incrédula para o velho centauro.

"Vão colocá-la sobre vigia constante? Tratá-la como uma criminosa?" Pergunto. Quíron me encara com um olhar triste e abre a boca para responder, mas Uriah é mais rápido.

"Não podemos nos arriscar, ela é a melhor pista que tivemos sobre os sequestros em semanas! Se prendê-la em um quarto significa que poderemos encontrar os nossos então sim, vamos prende-la como uma criminosa!" Ele diz e sai pisando forte em direção a enfermaria. Quíron suspira e se abaixa, pegando Maya no colo e cuidando para deixar as asas em uma posição confortável. Me levanto e o acompanho pelo caminho até a casa grande.

"Não se irrite com Uriah, ele está muito estressado com os sequestros e hoje foi a gota d'água, por pouco não perdemos Peter também, sabe como os dois são apegados." Ele diz tentando cortar o clima pesado. Ele andava devagar para que eu o acompanhasse sem muito esforço. Eu o seguia de cabeça baixa, pensativa, às vezes voltando o olhar para a cabeça de Maya que pendia nos braços de Quíron.

"Não entendo, eu conheço Maya, ela não seria capaz de estar envolvida nesses sequestros."

"Não sei se posso afirmar que você a conhecia, criança. Acredito que você só conheceu a parte que ela queria que conhecesse." Murmuro pensativa.

"Como assim?"

"Ela escondeu de você que era uma meio-sangue, escondeu sobre suas habilidades e sobre sua história, como pode garantir que a conhece a ponto de afirmar que ela não tem envolvimento nos sequestros se mal sabe um terço de sua história?" Ergo o olhar para ele que me encarava de forma triste, como se soubesse tanto sobre o passado dela e lamentava por mim que julgava saber. Paro de andar e ele faz o mesmo, virando-se de frente para mim. Desvio o olhar para as asas de Maya que pendiam semiabertas e depois volto para seu rosto.

"Posso mal conhecer um terço de sua história, posso não saber nem a metade sobre ela, mas o pouco que sei é suficiente para afirmar que ela não tem envolvimento com isso e para saber que ela não esconderia nada disso," descrevo um círculo com o dedo apontando para o acampamento de uma forma geral "a não ser que tivesse um bom motivo. Maya é minha amiga, Quíron. Convivo com ela há dois anos e posse te assegurar que, do mesmo jeito que eu colocaria a mão no fogo por ela, ela também o faria por mim." Ele me olha com a mesma expressão mas pude perceber uma pequena faísca de esperança se acender em seu olhar. Em seus braços, Maya arqueia o corpo para cima e fecha o punho direito com força, exibindo um rosto de agonia. Quíron se assusta com a ação repentina, mas logo se recupera. Sangue escorre por entre os dedos da Mão de Maya fechada em punho e pinga no chão do acampamento, depois seu corpo relaxa e ela afrouxa a mão. Quíron e eu nos entreolhamos e ele acena, seguro de leve a mão ensanguentada de Maya e estico seus dedos, exibindo a palma com quatro marcas fundas por onde saía o sangue. Na ponta de seus dedos ensanguentados, afiadas garras surgiram no lugar das unhas, mas que já voltavam ao normal. Com a mão tremula, ajeito seu braço sobre seu corpo, Quíron suspira pesaroso e continuamos nosso caminho.

"Rachel, há muito mais sobre ela que qualquer um de nós sabe. Mesmo quando esteve no acampamento, ela nunca se abria com ninguém, sempre ficava mais afastada dos outros campistas e evitava ao máximo o contato com todos. Ela sumiu daqui quando estava perto de completar treze anos e desde então, essa foi a única notícia que tivemos dela. Sua vida é um mistério para nós." Explica. Não respondo, sei que o que ele dizia era verdade, mas eu não sei se queria acreditar nele, então apenas o sigo de cabeça baixa.

Vamos até a enfermaria onde vejo Uriah debruçado sobre a cama onde Peter repousava com a perna e a testa enfaixada. Ele olha para nós de relance e fecha a cara para Maya, acho que ela ganhou um fã.  Quíron vai até uma cama mais afastada e deita Maya de bruços na cama, pega um pedaço de Gaze e troca as ataduras do ferimento em sua barriga. Sento em uma cadeira ao lado da cama enquanto ele o fazia.

"Não precisa ficar aqui, deve estar cansada." Ele diz terminando de trocar as ataduras e indo em direção à porta, recosto-me na cadeira e cruzo os braços.

"Não vou sair daqui até ela acordar. Quero conversar com ela, a sós." Respondo. Quíron acena concordando e sai da enfermaria sem dizer mais nada. Uriah sai logo depois, deveria querer falar algo com Quíron. Na cama, Maya dormia um sono pesado, volta e meia se mexendo e murmurando palavras sem sentido.

"Você deve estar bem curiosa para saber o motivo dela te esconder isso, não é?" Alguém diz ao meu lado. Quase dou um pulo, não havia percebido ninguém entrar. Olho para o lado e vejo uma menina que parecia ter oito anos, cabelos castanhos e olhos vermelhos, usava um vestido marrom e um lenço sobre a cabeça, reconheço Hestia.

"Senhora." Digo fazendo uma mesura com a cabeça. Hestia se senta ao meu lado e encara Maya com compaixão por alguns longos minutos antes de começar a falar.

"Não a julgue, criança. Maya não teve uma boa história com o mundo mitológico, é um assunto muito delicado para ela. Se quer um conselho, não a pressione." Diz a deusa. Suspiro e ela explica. "Ela não tem uma boa relação com os deuses ou com este acampamento, nos teme como uma alma condenada teme os campos da punição. Sequer teria vindo aqui se eu não a tivesse enviado"

"Você a enviou? Porquê?" Viro na cadeira para poder olha-la de frente, ela mantinha o olho fixos na minha amiga.

"Ela está caminhando para algo perigoso, algo que pode e vai destruí-la se ela não reagir. Haverá um momento em que ela precisará enfrentar seus piores medos, seu pior pesadelo, e quando esse momento chegar, se ela não estiver preparada para enfrenta-los, isso será sua ruína." Fico sem reação, apenas olhando para o rosto sereno da deusa. Depois de alguns segundos de silêncio, algo estranho começa a acontecer com Maya. Ela se debate várias vezes na cama e se agarra às bordas do colchão com força, fazendo o tecido rasgar e o enchimento sair, encosta a testa no travesseiro e começa a arfar e suar frio. Levanto de um pulo e vou até ela, toco em suas costas tentando acalma-la, mas toda ela se contrai com meu toque.

"O que foi isso?" Pergunto encarando minha mão, assustada. "Eu a machuquei?

"Não, não foi você quem a machucou." A deusa responde. Ela toca de leve nas costas de Maya e sua mão brilha levemente. Sinto sua energia tomar conta da enfermaria e, como se reagisse a ela, Maya relaxa e, lentamente, volta a se deitar. A deusa dá um sorriso carinhoso e acaricia seus cabelos.

"Lembre-se, criança, não a pressione." É a última coisa que Hestia diz antes de desaparecer no ar, sinto a energia da deusa me invadir e sou tomada por um sono profundo, sem sonhos.

Maya

É como se eu voltasse no tempo. De repente, tenho quatro anos de novo, estou sentada abraçando meus joelhos, estou em um quarto pequeno, mal me cabe deitada, todo o meu corpo dói, sintomas das feridas recentes, minhas mãos em carne viva de tanto esmurrar as paredes tentando sair, sem sucesso, e eu choro baixinho com a cabeça entre os joelhos. Não sei a quanto tempo estou aqui, não há luz, nem janelas, estou com fome e com sede, mas estou sozinha, ninguém pode me ajudar. Ouço passos do lado de fora e meu corpo instantaneamente se contrai de medo, mais passos, está perto. Para em frente à porta, a maçaneta gira e fecho os olhos firmemente, tremendo.

Ouço um "click", a porta abre um pouco, mas ninguém entra. Pela fina aresta que a porta entreaberta deixava, entrou o cheiro de algo doce, uma sensação calorosa me envolve e aos poucos, paro de tremer. Abro os olhos, devagar, a claridade me cegando, mas aos poucos me acostumo. Pela fresta, vi parte do rosto de uma mulher de longos cabelos castanhos e olhos vermelhos que usava um vestido marrom e uma faixa na cabeça, ela abriu mais a porta e estendeu a mão para mim. Me encolho com seu gesto, ela apenas me olha de maneira triste e recolhe a mão vendo que não vou segura-la. Na porta, ela coloca um copo com água e um pedaço de pão, se afasta um pouco e senta de pernas cruzadas esperando que eu os pegasse. Olho do pão para ela várias vezes antes de fazer qualquer movimento, não sabia o que aquela mulher queria. Depois de algum tempo, me arrasto devagar e pego o pão, a mulher apenas sorri e acena, perco um pouco do medo e estendo a outra mão para pegar a água, a mão ensanguentada manchando o vidro do copo. Como e bebo, a mulher sorri, sorrio de volta e coloco o copo no chão, a mulher o pega, se levanta e sai, me deixando sozinha novamente. Alguns segundos depois, ouço passos apressados do lado de fora da casa, alguém entra batendo a porta. Na ponta do corredor, ela aparece com uma garrafa de pinga quase vazia na mão e olha em minha direção, minha respiração falha, minhas mãos tremem, ela vem em minha direção, cambaleante, vou me arrastando para trás, me afastando dela. Ela anda mais rápido, não consigo fugir, então, ergo os braços para cima em forma de proteção e espero, algo duro me atinge na cabeça com força, seguido do som de vidro se quebrando, grito, minha cabeça dói onde a garrafa havia acertado e minha visão fica turva. Aperto as mãos forte, tentando aliviar a dor, a unha perfurando a pele e o sangue caindo.

"Isso é só um sonho, é só um sonho." Eu repetia para mim mesmo baixinho enquanto tremia, tentando me convencer de que não era real. Levo a mão onde a garrafa havia acertado e sinto o sangue molha-la, encaro minha mão. Ao meu lado, a pele de minha mãe começa a se ressecar e adquirir uma coloração escura, como se virasse terra, seus olhos mudam do castanho escuro para um verde e quando ela fala, sua voz sai rouca.

"Tem certeza, querida?" Ela diz. E começa a gargalhar. Sinto meu corpo afundar no chão, como se este me puxasse, o ar é sugado para fora de meus pulmões e tudo fica preto e não sinto mais nada.

O sonho muda, agora, estou em um quarto, sentada aos pés da cama com as mãos amarradas estendendo meus braços abertos em uma cruz, as roupas esfarrapadas e rasgadas mal escondendo as cicatrizes mais recentes, uma toalha grossa enrolada servia de mordaça, o cabelo longo caindo sobre o rosto sujo com sangue seco e poeira que pendia para frente. Ouço passos determinados do lado de fora e então, ela entra no quarto. Parece estar sóbria, não sinto cheiro de álcool. Estava usando uma calça de algodão com uma blusa de alça vermelha colada no corpo, seus longos cabelos castanhos caindo sobre seus ombros e os olhos cor chocolate me olhavam de forma dura com ódio. Em uma mão, trazia uma amolada faca de cozinha. Com a faca, ela arranha a superfície de madeira, fazendo meu corpo se contrair, ela ri quando nota o efeito que sua ação tem sobre mim, uma risada cruel, desumana. Puxo as mãos tentando sair, sem sucesso, apenas fazendo com que a corda irritasse minha pele e a cama balançasse.

"Não, não fuja." Ela diz como se realmente estivesse triste, chegando perto e fazendo rápidos estalos sucessivos com a língua, como se repreendesse uma criança malcriada. Ela se agacha em minha frente e passa a mão em meu cabelo, tirando-o do rosto. Tento afastar meu rosto de seu toque e ela torna a rir, meus olhos lacrimejam de medo. Em um movimento rápido, ela agarra meu cabelo próximo ao couro cabeludo e empurra de encontro à cama, passa levemente a ponta da arma sobre minha nuca e desenha um leve caminho dela até meu pescoço e depois à bochecha, parando na minha têmpora, todo o meu corpo se arrepia. Ela se debruça sobre mim e sussurra em meu ouvido.

"Vamos nos divertir um pouco, querida." E começa a rir como uma psicopata. Mordo forte a toalha enquanto sua faca passava por meu corpo, fazendo todo ele arder enquanto o sangue escorria pelas feridas abertas pelo corte da faca que era lentamente passada pelas minhas pernas, coxas, barriga, braços, todo o corpo. Me debato tentando me livrar, mas isso só fazia com que ela continuasse cortando, batendo, quebrando, não consigo aguentar, está doendo, tudo dói, perco e recobro a consciência várias vezes enquanto ela continuava incansavelmente.

"Isso é um sonho, não é real, não é real..." eu repetia em pensamento, mas era tudo tão real, tão vívido, como se eu estivesse revivendo todos esses momentos, cada corte, cada osso quebrado, sendo revivido.

Aperto algo tentando aliviar a dor, sinto que aperto mesmo sem ver, algo macio, algo me toca, meu corpo se contrai, ouço vozes, mas não entendo o que dizendo, como se houvesse uma interferência em um rádio antigo que me impedisse de entender. Sinto outro toque, mas esse é mais como se eu estivesse sendo molhada com uma água quente em um dia frio de inverno, o sonho congela e começa a se desfazer em uma nuvem disforme, a dor diminui até quase sumir e não tenho mais sonhos, apenas descanso enquanto me sentia flutuar e assim permaneço por boas horas.

(···)

Acordo tremula e suando por conta dos sonhos, minha cabeça latejando um pouco, minha visão embaçada aos poucos começa a entrar em foco. Estou deitada de bruços em uma cama de madeira, os braços ao lado do corpo formigavam. Gemo um pouco enquanto me sentava na cama, olho em volta e reconheço a enfermaria do acampamento. À minha direita, uma menina ruiva cochilava com a cabeça sendo sustentada pela mão apoiada na mesa de cabeceira, ela parecia muito com Rachel. Coço os olhos e olho de novo, era Rachel! Quase caio para trás quando a reconheço, o que ela fazia aqui? Como ela tinha atravessado a barreira? Essas dúvidas fazem minha cabeça doer.

Levanto da maca e sinto uma pontada na barriga, olho para baixo e percebo o curativo, me lembrando da noite anterior, o corte. Abro um pouco do curativo, deixando apenas o suficiente para que conseguisse identificar uma linha branca no lugar do corte, minha asa direita também parecia melhor então recolho-as. Ando até a varanda da casa grande, o céu exibindo uma tonalidade vermelho-claro que escurecia à medida que se afastava do nascer do sol. Ainda era possível distinguir algumas estrelas que sumiam à medida que clareava e a luz refletia no lago de canoagem. Suspiro e encosto no batente da porta, apesar de tudo, aquela era uma visão linda.

"Então, você acordou." Alguém diz. Olho para a esquerda e vejo Quíron em sua cadeira de rodas falsa com um casaco de tweed e as mãos cruzadas sobre uma manta que cobria suas pernas falsas, fitando pensativo o nascer do sol. Ruborizo, não esperava reencontrar o velho cavalo nessa situação, capturada como suspeita por um crime que não houvera cometido. Puxo uma cadeira e me sento ao lado dele.

"É uma vista linda." Digo tentando puxar assunto.

"É uma vista linda." Ele concorda. Ficamos em silêncio por alguns segundos. De baixo da manta, ele puxa uma caixa de mármore branco e a estende para mim, sem desviar dos olhos. "Acredito que isso seja seu."

Reconheço a caixa e me lembro do sonho que tive a alguns dias, vendo os gêmeos no chalé de Hermes encontrando a caixa escondida sobre um piso falso que eu havia escavado, pego a caixa e a coloco sobre meu colo.

"Obrigado." Ele acena. Os olhos cor de café pareciam distantes, em outra época. Suspiro enquanto via as dríades aparecerem na floresta e brincarem com animais silvestres. "Havia me esquecido do quanto esse lugar é bonito."

"Poderia ter ficado aqui, estaria segura. Em vez disso, preferiu fugir, seguir pelo caminho mais fácil e simplesmente tentar deixar tudo isso para trás." Meu rosto parecia queimar de vergonha enquanto ele falava. Remexo desconfortável na cadeira.

"Eu tinha muita coisa em jogo Quíron. Não queria desaponta-lo, eu não suportaria viver sabendo que estava decepcionado comigo, mas no final das contas não adiantou de nada." Chuto o gradil da varanda frustrada. Ele ouvia tudo com a paciência de um professor milenar, devia ter passado por aquilo tantas vezes, volta e meia suspirando. Ficamos em silencio por mais alguns segundos antes de ele continuar

"Por que fugiu daquele jeito?" Ele pergunta. Aperto a caixa me lembrando do ano que abandonei o acampamento, eu tinha treze, Thalia havia revivido há alguns meses e havia recebido uma ordem direta de Luke para ir em uma missão, logo depois veio o labirinto. Levo a mão ao meu colar e o esfrego lembrando da época.

"Muita coisa aconteceu. Eu não podia voltar, não me aceitariam de volta, então simplesmente sumi." Respondo. Ele olha para mim esfregando o colar, como se soubesse exatamente o que eu fizera para consegui-lo.

"Então, a história é verdadeira. Não acreditei quando Poseidon revelou que havia sido roubado bem debaixo do seu nariz e que o ladrão saíra vivo, mas cá está você, a prova viva de que não era uma simples história." Aceno positivamente, meus pensamentos voltando ao passado. As forjas, os tritões e ciclopes, o brandir das espadas e clavas e sangue, muito sangue inocente, derramado por mim e o colar. Minhas mãos tremem e suam, respiro fundo e tento afastar essas lembranças.

 "Não me orgulho do que aconteceu naquele dia, Quíron, mas o que está feito está feito, e eu não posso fazer nada para mudar isso." Ficamos mais um tempo em silencio, ouvindo o som dos pássaros que cantarolavam nos bosques. Ouço a madeira do piso ranger atrás de mim e olho por cima do ombro, me deparando com uma Rachel de braços cruzados que me encarava friamente com aqueles penetrantes olhos verdes. Quíron vê Rachel atrás de nós e começa a adentrar na casa.

"Vou deixar vocês a sós, devem ter muito o que conversar." Diz. Rachel vira de lado abrindo passagem para ele e volta me olhar. Abaixo a cabeça enquanto Rachel andava até ficar a minha frente, sentando no gradil da varanda e me olhando de cima. Silêncio.

"Você é uma semideusa." Ela afirma. Aceno constrangida.

"Você sabia sobre tudo isso, esse tempo todo você soube." Aceno novamente, não falo, parecia que tinha esquecido como se pronunciar as palavras. Estava sendo exposta à verdade pela minha melhor amiga e me sentia envergonhada o suficiente para não conseguir olha-la nos olhos e muito menos emitir um único som, sou uma covarde. Rachel inspira uma vez antes de fazer a última afirmação, uma respiração falha e insegura, mas conclui. "E estava ao lado deles."

"Estava." Afirmo baixando o olhar par as minhas mãos apertando fortemente a caixa de marfim. Uma facada teria doido menos. Rachel puxou uma cadeira e se sentou à minha frente. Receosa, levanto a cabeça para ela e sinto meus olhos marejarem e o nariz arder, um bolo se forma na minha garganta. "Rachel, eu..."

Ele ergue a mão e eu me calo. Ela olha em volta e inspira fundo milhares de vezes, tentando encontrar as palavras certas.

"Apenas me diga que teve um bom motivo par esconder isso de mim." Olho pra baixo e encaro a caixa onde as fotos minhas e de meus avós estavam guardadas. Um bom motivo? Aperto a caixa, os nós de meus dedos ficando brancos "Maya, por favor, diga que teve um bom motivo."

Olho-a nos olhos e inspiro fundo.

"Lembra no apartamento, quando te contei sobre meus avós?" Ela acena.

"Eles morreram num incêndio, você disse que foi um acidente. Mas o que isso tem a ver com você ter se juntado a Luke e esconder essa história de mim?"

"Tudo. Eu não te contei toda a história de quando fui morar com eles, só algumas partes que não envolviam esse mundo." Ela se recostou na cadeira e cruzou os braços.

"Estou ouvindo."

"Eu sempre vi os monstros, mesmo quando era pequena. Quando eu contava para eles, eles se assustavam e me mudavam de escola, eu nunca tinha entendido muito bem o porquê de eles fazerem isso e eles me faziam acreditar que era fruto da minha imaginação, mas isso mudou quando eu tinha dez anos." Rachel ouvia tudo de olhos fechados, como se imaginasse as cenas. Respiro fundo e continuo. "Eu estava no sexto ano, na saída da escola, esperando meu avô vir me buscar, e aí fui atacada. Havia uma górgona na escola, estava disfarçada de professora, estava só esperando que eu ficasse sozinha. Quando aconteceu, ela começou a me perseguir, junto com umas coisas pretas e peludas. Eu não sabia de nada naquela época então só consegui fugir assustada, e então, ela me encurralou em um beco, me segurou pelo pescoço até que eu ficasse inconsciente, me acorrentou eu acordei algumas horas depois em um navio, dentro de uma cela sendo vigiada pela górgona."

Pude jurar que ela havia prendido a respiração quando falei a última parte, mas foi tão rápido que poderia ter sido mera impressão. Ela fez sinal para que eu continuasse

"Quando recobrei a consciência, ela me levou até Luke. Ele me falou que eu era uma meio-sangue, falou que precisava de soldas e disse... Ele disse que..." gaguejo nessa parte. Depois de quase seis anos, ainda era difícil para mim. O bolo na minha garganta parecia aumentar, mas respiro fundo e concluo a frase. "Ele disse que, se eu não lutasse ao lado dele na guerra, ele mataria meus avós, sem hesitar. Então, eu me juntei à sua tropa, um sátiro me encontrou e trouxe ao acampamento e eu passei a atuar como espiã para ele, atuando quando fosse chamada para conquistas e tal, sempre em segredo. Eu não podia perder minha família Rachel, ela era tudo o que eu tinha."

Ela abre os olhos e me olha de forma dura.

"O que aconteceu quando você tinha treze anos? Quíron falou que você sumiu do acampamento e logo depois mencionou algo sobre Poseidon ter sido roubado. O que aconteceu?" Pergunta sem cerimonias, me encarando nos olhos como se procurasse qualquer mentira. A essa altura eu já não sabia mais se ela ainda era minha amiga, me sentia uma prisioneira sendo interrogada impiedosamente, o que de certa forma eu era. Se fosse assim, então eu não tinha mais nada a perder, estava presa, minha única família não sabia onde eu estava e não sabia se Kye conseguiria voltar, e lá no fundo, desejava que ele não voltasse, não queria que fosse capturado também. Quando eu tinha treze anos...isso foi quando eu conheci Kye, eu estava passando por Seattle, indo em direção ao mar para embarcar no submarino. Sim, eu me lembro disso. Decido não contar essa parte, ela não conhecia Kye, então não faria muita diferença.

"Quando eu tinha treze anos, Luke me enviou em uma missão suicida, a começar pelo lugar para onde ele me enviara. Ele queria que eu, junto com um bando de monstros marinhos e semideuses, invadíssemos o reino de Poseidon e explodíssemos as forjas. Isso deixaria seu exército em desvantagem com relação a armamentos e facilitando o ataque de Oceano. Encontrar o palácio foi relativamente fácil comparado ao resto da missão, levamos várias semanas até encontrar a localização exata, mas a partir daí foi fácil. Seguimos em um submarino da tropa de Luke até estar em uma distância segura e fomos à nado o resto do caminho, adquirindo oxigênio por meio de uma espécie de bolha de oxigênio que Luke havia conseguido. O plano era simples: encontrar as forjas, entrar sem sermos vistos, implantar as bombas de fogo grego e sair sorrateiramente, teria dado tudo certo se a forja não estivesse lotada de ciclopes e tritões armados. Nosso grupo travou uma batalha sangrenta contra eles, resistimos o quanto foi possível em vista da imensa desvantagem em que estávamos estando embaixo d'água com uma pressão enorme sobre nós e a dificuldade para lutar já que nossos movimentos eram atrasados pela correnteza, houve muito sangue derramado. Em determinado momento, quando a vantagem deles havia crescido mais sobre nós, tivemos que bater em retirada, mas eu não queria sair dali de mãos vazias, eu era muito orgulhosa, foi quando vi o colar. Ele estava mais distante, no canto leste da sala, pendurado em uma espécie de busto esculpido em corais e dentro de um vidro lacrado, parecia brilhar com uma aura diferente, quase como se pulsasse e emitisse uma energia diferente, e eu fui atraída até ele, não consegui me controlar." Faço uma pausa para respirar, Rachel apenas escutava atenta de olhos fechados, imaginando a cena.

"Nadei o mais rápido que pude e consegui alcançar o vidro sem conflitos, quebrei-o com o cabo de minha adaga e o peguei, mas quando me virei para sair, estava cercada. Quatro tritões de armadura e armados com tridentes e espadas, junto a cinco ciclopes com clavas haviam formado um arco à minha volta, impedindo que eu avançasse. Vejo outros saírem das forjas atrás dos semideuses e monstros de Luke, mas estes não se moviam. Engulo em seco quando os tritões apontam suas armas para mim. "Ponha as armas no chão e renda-se! Está cercada e se tentar lutar, juro por Poseidon que corto suas tripas fora, mesmo que seja só uma garota." Ele dissera. Eu com medo, a ameaça dele era bem convincente, mas eu não me mexi, não conseguia. Quando eles viram que eu não pretendia me render, avançaram sem dó e, nesse momento, eu não tive mais controle sobre meu corpo. Eles giravam os tridentes e as clavas, cortavam, espetavam, socavam, chutavam, todos determinados a me nocautear ou matar se fosse preciso, mas meu corpo estava em uma espécie de modo automático. Eu me esquivava de seus múltiplos golpes como se o mundo passasse em câmera lenta, como se eu tivesse todo o tempo do mundo para decidir a melhor forma de evitar seus golpes e o lugar certo onde golpeá-los. Eu não queria mata-los, só queria ir embora, mas como eu disse, eu não estava mais no controle do meu corpo. Meus instintos assumiram o controle e só percebi que não estava mais em perigo, quando me vi rodeada de cadáveres e coberta da cabeça aos pés de sangue inocente." Ela não demonstrava reação nenhuma e não fazia menção de se pronunciar, então tentei me explicar.

"Rachel, eu não estava no controle do meu corpo naquele momento, meus instintos estavam. Quando alcancei o grupo, mal entendia o que eles diziam, fiquei em estado de choque por vários dias, por isso não consegui voltar. Tentei me convencer que tinha sido em legitima defesa, mas não estava certo, de um jeito ou de outro eu havia derramado sangue inocente no território de um deus, e isso é como assinar a própria sentença de morte, então não retornei ao acampamento, continuei lutando ao lado de Luke, ainda não podia deixar que minha família fosse morta. Não te contei nada, porque tive medo de chamar a atenção deles para você, não queria que te punissem por minha causa

Rachel abriu os olhos e ajeitou a postura na cadeira.

"Eu ouvi a conversa entre você e Quíron, você disse que não podia voltar e agora eu sei o motivo, mas você também disse que não valeu de nada, e isso está me intrigando. Há mais, não é?" Aceno positivamente.

"Depois que consegui o colar, encontramos o labirinto e estávamos seguindo em direção ao acampamento, para um ataque surpresa, mas antes passamos pela arena de Anteu."

"O filho de Gaia, é eu sei. Eu estava lá quando Percy o derrotou. Mas isso não vem ao caso." Ela diz e pede que eu continue.

"Antes disso, eu tive que lutar contra uma dracaenae, para o divertimento dele e tal. Eu já tinha aprendido a usar o colar, e teria ganhado, mas não foi uma luta muito justa, ela jogou sujo." Digo, a voz começa a falhar quando me lembrava do ferro queimando minha pele. Inconscientemente, levo a mão às costas e sinto as cicatrizes. Rachel pigarreia.

"O que quer dizer?" Pergunta. Inspiro fundo, e me levanto. Tiro o casaco e me viro de costas para Rachel. Ela estranha. "Espera, o que vai fazer?"

"Acho melhor que você veja com seus próprios olhos." Digo e, com a mão tremula, ergo a camisa e lhe mostro minhas cicatrizes. Ela abafa um grito e sinto quando se levanta e passa de leve os dedos pelas cicatrizes que riscavam minhas costas de fora a fora. Meu corpo se arrepia quando ela toca o lugar onde a dracaenae me marcara com ferro em brasa, ela afasta a mão e eu abaixo a camisa e visto de novo o casaco. Me viro e deparo-me com uma Rachel perplexa sentada na cadeira, encarando o nada. Sento-me em sua frente e continuo. "Isso foi a dois anos. Eu não aguentara, quase morri naquele dia, quase. Acordei algum tempo depois, em algum lugar do labirinto que parecia uma caverna abaixo do nível do mar, sozinha. Vaguei pelos corredores por vários dias, mas como o tempo passa de uma maneira diferente, quando finalmente consegui sair, descobri que havia ficado quatro meses lá, Tifão estava quase alcançando Nova York. Acreditei que o exército achasse que eu estava morta, eu poderia voltar para casa e viver minha vida normalmente, mas quando tentei seguir caminho, meu corpo protestou e eu desmaiei sem forças, faminta. Um gigante lestrigão me encontrou e eu fui levada novamente as tropas de Luke. Quando acordei um tempo depois, estava acorrentada em uma cela, Cronos já havia se apoderado do corpo de Luke e estavam se aprontando para o ataque à Manhattan. Ele ainda se lembrava de mim, e disse que eu ainda teria que lutar ao lado dele se quisesse que minha família vivesse, mas eu estava no meu limite já, foi quando descobri meu dom."

"As asas?" Ela pergunta. (Ótimo ela havia me visto daquele jeito). Ao longe, o som da trombeta anunciando o café ecoa no vale, os campistas saem de seus chalés e atividades e começam a subir a colina. Vi ao longe alguns olharem um pouco receosos para a casa grande e cochicharem inquietos, o boato de um dos sequestradores ter sido capturado parecia ser conhecido por todos já. Volto a atenção para Rachel, quase havia perdido o rumo da conversa distraída com o acampamento.

"Não só as asas. Quando alcancei meu limite, meu corpo se rebelou, e algo não muito humano aconteceu naquele dia. Meu corpo tomou a forma de um imenso lobo, o que me permitiu sair da cela, mas assim que alcancei o lado de fora da minha prisão, bem, eu ainda estava faminta. Alguns monstros assavam uma vaca ali perto, eu não me controlei e os ataquei. Eles pareceram perplexos demais para reagirem e só o fizeram quando metade da vaca já tinha sumido. Lutamos e eles conseguiram me dominar, Cronos zombou de mim, mas eu era mais animal que humana naquele momento. Quando ele falou novamente sobre matar minha família, meu corpo criou asas e eu consegui fugir, mas teve uma consequência por eu ter abandonado meu posto e então, eu voei em direção à minha casa. Quando cheguei lá, voltei à forma humana e corri em direção à casa, quando estava quase lá, houve a explosão." Digo. A manhã quente do acampamento pareceu baixar vários graus, o dia perdeu um pouco do brilho e o mundo pareceu ficar sem cor. Uma lágrima rolou do olho de Rachel nas ela rapidamente a enxugou.

"Então, você não voltou ao acampamento por que estava com medo de ser morta por Poseidon, já que matou parte de seus súditos em seu reino, e o motivo de seus avós estarem mortos foi porque você fugiu e desistiu de lutar ao lado de Cronos." Aceno positivamente.

"O resto da história é verdade. Eu acordei no hospital, minha mãe foi lá me buscar, eu fugi para a rua e encontrei Jonathan, que se tornou meu pai adotivo."

"E quanto a você estar envolvida nos sequestros?" Rachel pergunta, mas pelo jeito que o fez, parecia já saber a resposta.

"Não estou envolvida, Hestia me enviou para ajudar, seu amigo que me confundiu com os sequestradores." Me defendo.

"É claro que não está envolvida, é o que todos dizem." Um garoto diz a nossa direita. Eu e Rachel nos viramos bem a tempo de ver dois rapazes vindo em nossa direção. Reconheci os dois da noite anterior, o da direita era Chris, o que havia me acertado com a espada. O da esquerda era Uriah, ele foi o que havia me encontrado ao lado de um meio-sangue desacordado e havia me rendido. Fico de pé e Rachel me acompanha. Chris acompanhava Uriah sem muito entusiasmo, com as mãos nos bolsos da calça e os olhos cinza tempestade vagando em um universo distante, já Uriah, me encarava com olhos azuis assassinos como se pensasse qual seria a melhor forma de acabar comigo. Percebi que eles tinham o mesmo número de contas nos colares de couro, devem ter chegado no mesmo ano no acampamento.

"Então, quem diria que essa foi a garota que conseguiu roubar e matar os servos de Poseidon bem debaixo do nariz dele e sair com vida!" Ele diz me olhando de cima à baixo com o nariz franzido em uma expressão de desgosto. "E muita coragem da sua parte aparecer por aqui, ou muita burrice!" Exclama praticamente cuspindo em mim. Começo a ser tomada pela raiva, meu maxilar trava e fecho as mãos em punho tentando me controlar.

"Qual é Uriah, porque não deixa a garota em paz e faz logo o que viemos fazer." Chris diz, apesar de parecer interessado no que Uriah dissera, talvez curioso com meus feitos. Ele pega no ombro de Uriah e tenta leva-lo para longe dali, mas o garoto se desenvencilha de sua mão furioso.

"Não deixo ela em paz, já que por culpa dela, Peter quase foi levado." Ele exclama. Faço menção de dar um passo e o enfrentar, mas Rachel segura meu pulso. Podia sentir minhas unhas se transformando em garras, o encaro lançando meu melhor olhar de: Se não calar a boca acabo com sua raça.

"Eu já disse que não estou envolvida nisso." Digo. Ele sorri ao ver que me irritava.

"Do mesmo jeito que não estava envolvida com o inimigo na batalha contra Cronos?" Ele provoca. "Talvez deva pedir ajuda para aquele seu grifo de estimação, ou talvez ele resolvera te abandonar ou te ignorar, do mesmo jeito que seu pai ou mãe olimpiano tem feito durante tantos anos."

Aquilo foi a gota d'água. Eu estava me segurando muito para não quebrar alguns dentes daquele cara, e teria feito se Chris não tivesse sido mais rápido, jogando-o contra a parede e acertando um belo de um soco na sua cara, causando um sangramento nasal.

"Já chega Uriah!" Ele diz. Uriah passa a mão no nariz e encara furioso seus dedos molhados pelo sangue. Por um momento, achei que ele fosse começar uma briga com Chris, eles se encaravam com puro ódio, em uma espécie de luta silenciosa que parecia não ter um vencedor, algo me diz que eles já lutaram muito antes. Depois de alguns segundos, Uriah sai pisando alto fazendo questão de esbarrar em meu ombro e no de Chris no caminho.

"Isso não vai ficar assim." Ele diz enquanto subia pelo caminho que levava ao refeitório. Depois que ele saiu, consigo me acalmar, recolho as garras e regulo a respiração. Rachel pigarreia.

"Então...isso não foi nem um pouco agradável." Ela se vira para mim com uma cara de surpresa.

"Grifo?!" Exclama.

"É uma longa história. Vou te contar, prometo." Digo.

"Tudo bem, já ouvi muita história por hoje." Diz enquanto massageava as têmporas. Olho para a direita e percebo que Chris me encarava pensativo. Poderia estar pensando milhares de coisas ao mesmo tempo, quase era possível ver as engrenagens de seu cérebro girando. Rachel também percebe que ele me encarava. "Ah, desculpe. Maya, este é Chris do chalé de Atena. Chris, essa é Maya, uma amiga minha."

Ele me cumprimenta com um aceno e continua me encarando por algum tempo. Algo no olhar dele me chamou a atenção, como um brilho diferente, mas desapareceu tão rápido que por um momento, achei que tivesse sido minha imaginação. Ele aponta para o curativo em minha barriga.

"Desculpe por isso, você me pegou de surpresa. Mesmo que seja suspeita por conta do que tem acontecido, não sou de machucar garotas ou qualquer um que esteja desarmado em desvantagem ou indefeso, sem motivo." Cruzo os braços e ergo uma sobrancelha para ele. Ele não me chamou de garota indefesa, chamou? Ah, mas isso não vai ficar assim MESMO!

"Por mais nobres que seus padrões possam ser, não sou uma garota indefesa e teria evitado seu golpe se não..." travo, por um segundo quase esquecera do clarão que vi antes de ficar desnorteada. O que foi aquilo? Não faço ideia, então decido não tocar no assunto ainda. "Enfim, não é nada com que eu não possa lidar, mas aquele cara não parece concordar muito com você." Digo apontando para o lugar por onde Uriah seguiu.

"Tento manter Uriah no controle, até porque sou um dos únicos aqui que ele não consegue derrotar, mas filhos de Ares tendem a ficar estressados quando estão muito abalados, ele e Peter não se desgrudam e o fato de ele ter te visto perto do irmão, bem...digamos que ele não vai muito com a sua cara." Explica.

"Vocês são irmãos? Por que se são, tenho que dizer que sinto por você ter um irmão e um pai que fedem à porco." Ele abre um sorriso de lado. Ao meu lado, Rachel ergue uma sobrancelha enquanto escutava nossa conversa, surpresa.

"Não somos irmãos." Responde. "Estamos mais para amigos rivais. Ando com ele mesmo só para impedir que quebre a cara de alguém. Eu sou de Atena."

Junto as sobrancelhas em dúvida.

"Pensei que os filhos de Atena fossem loiros, mas seu cabelo é escuro, quase castanho." Digo. Ele abre um sorriso maior e seus olhos cinza brilham em divertimento.

"Isso é um mistério tanto para mim quanto para você, nem Annabeth consegue explicar."

Ao meu lado, Rachel pigarreia chamando nossa atenção.

"Então, o que você e o troglodita do Uriah vieram fazer aqui?" Pergunta.

"Ah é, desculpe. Quíron está solicitando sua presença no pavilhão depois do café, a de vocês duas." Anuncia. Sinto um frio na barriga, Quíron não era de convocar ninguém, a menos que fosse para dar uma notícia ruim. Era assim desde a época que eu estava aqui. Rachel provavelmente sentiu a mesma coisa por que mudou o peso de uma perna para a outra desconfortável.

"Tudo bem." Diz e desce a escada da varanda, se dirigindo ao pavilhão. Faço menção de segui-la, mas Chris é mais rápido e me intercepta pelo braço. Olho para ele sem entender, o sorriso de seu rosto havia sumido.

"O que foi? Quíron não está nos convocando?" Pergunto soltando meu braço de sua mão. Ele acena, mas me olha como se eu estivesse esquecendo de alguma coisa.

"Ele está convocando vocês, mas na ocasião atual, você não está aqui como uma campista." O encaro sem entender.

"O que quer dizer?" Ele pareceu ofendido, como se a pergunta insultasse sua inteligência.

"O que quero dizer é que: " começa pacientemente, como se explicasse para uma criança que 2+2=4 "você não pode circular livremente ou armada enquanto estiver aqui, porquê tecnicamente, é uma prisioneira no momento e não podemos arriscar a segurança dos outros campistas."

Ele pega uma corda no bolso do casaco com a mão esquerda e estende em minha direção. Olho algumas vezes da mão para a corda e para seu rosto, assimilando as palavras que ele me dissera.

"Está querendo me amarrar? É isso mesmo?" Olho pra Rachel que havia parado de andar. Ela parecia sem graça e um pouco vermelha.

"Desculpe Maya, são as regras. Por favor, você já está em uma situação complicada." Diz enquanto mexia em umas pedrinhas com o tênis. Encaro Chris mais uma vez, apenas confirmando que ele estava falando sério. Como seu rosto não assumiu outra expressão, deduzi que era sério mesmo. Bufo em indignação e jogo as mãos para cima em desistência.

"Ótimo, muito bom." Tiro meu colar, entrego a ele e estendo as mãos para o filho de Atena. Ele a amarra à frente do corpo fortemente com a corda. Enquanto ele o fazia, resmungo alto.

"Passei anos pensando como seria se eu voltasse para cá e quando finalmente acontece, sou uma maldita prisioneira." (Bem, já estivem em situações piores, mas eu adoro fazer um drama.) Olho para o chão como se direcionasse a voz para o mundo inferior. "Está vendo isso Castellan? Cronos? Espero do fundo do coração que estejam sofrendo as piores torturas que os campos da punição podem oferecer porque, se não estiverem, eu mesma vou descer até aí e arrastar a maldita fuça de vocês por cada centímetro do tártaro e jogar tudo o que sobrar no fogo grego!"

Chris e Rachel começaram a rir. Ele me direciona um breve sorriso e começamos a seguir em direção ao pavilhão.

"A propósito, quem é seu pai ou mãe olimpiano?" Rachel pergunta. Dou de ombros.

"Indeterminada, nunca soube. Acho que nenhum deus gostaria de ter uma filha traidora, ou talvez simplesmente não se importam o suficiente para se dar ao trabalho de me reclamar." Respondo. Ela me dirigiu m olhar de pena e abriu a boca para falar alguma coisa mas desistiu, talvez não soubesse o que dizer, em vez disso, continuamos em direção ao pavilhão.


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