A Herdeira do Olimpo escrita por Nogitsune Walker


Capítulo 13
In The End Of The Day (Part. 1)


Notas iniciais do capítulo

heeey people, sdds de vcs. Vcs n tem noção das noites em claro que eu passei nesse cap, espero que gostem. Quanto ao cap 14..bem..vou tentar postar o mais rapido possivel. Bjs Nogi :3
Ps1: Em algumas falas nesse capitulo, vão aparecer palavras em itálico e Negrito, porque foram ditas em "outro idioma". Teoricamente, seria assim o diálogo se a história fosse narrada na lngua do país em que se passa:

—You said you would be here before sunrise! (Luana)
(em negrito e itálico) -Desculpa Lua, o voo atrasou e.… (Jonas)
—In English, Jonas. English! I do not understand portuguese! (Luana)
—Okay, sorry. (Jonas)

okay, é só isso! Aproveitem o cap ^^ :3 ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720282/chapter/13

Luana

 

Meu pé já estava doendo de tanto bate-lo no chão do aeroporto. Jonas disse que chegaria antes do nascer do sol, mas o cabeça de cento sempre chegava atrasado, onde eu estava com a cabeça quando resolvi pedir a ajuda dele? Ah é, foi depois que Helkon sugeriu um ataque em grande escala.

Helkon chegou na mansão com um corte feio na orelha e Dexter, um dos melhores betas, mancava com um talho feio e eles não traziam nenhum semideus. Eles se curaram rápido, mas estavam bem irritados. Soube no mesmo instante que tinha sido a garota e aquele grifo, só eles conseguiriam fazer isso. Helkon chegou na mansão batendo forte a porta, impaciente, reuniu os melhores Betas da Alcateia (Eu, Dexter, Átila e Marcus) na sala de reuniões e anunciou que pretendia organizar um ataque em grande escala, atacar diretamente e durante o dia, quando eles menos esperavam que fôssemos aparecer.

"Está louco? Não somos tão fortes durante o dia! Estaríamos em desvantagem!" Dexter contesta. Ele era o nosso melhor estrategista e um dos mais fortes também. Ele era um africano, 1,80 de altura aparentava ter 30 anos, o cabelo preto cortado em estilo militar realçava seu rosto de traços fortes. Tinha olhos castanhos claros que adquiriam uma cor de chocolate quando se transformava num lobo pardo. Usava uma camiseta branca folgada, calça jeans e tênis e seus músculos serem bem definidos, era possível ver que ele era um pouquinho acima do peso devido ao vício em brownies. "Poderíamos atacar durante a noite, durante uns jogos de guerra que eles praticam, seria mais fácil pega-los desprevenidos."

"Mas aí estaríamos lidando com TODOS eles armados, não pequenos grupos." Lembrou Átila. Quem o olhava de fora achava que ele era um universitário comum fanático por RPG. Vivia de calças de algodão, blusas com estampas de animes e moletom e café, era um latino um pouquinho branco demais, baixinho e muito magricela. Aparentava ter 20 anos, tinha olhos verde-folha que ficavam mais intensos quando se transformava num lobo cinzento, um cabelo preto curto que vivia bagunçado como se não se preocupasse em penteá-lo depois de ficar horas jogando videogame ou cutucando alguma tecnologia mortal procurando peças para seus projetos malucos, um legítimo Nerd. Apesar da aparência e dos vícios, o cara era um Gênio quando o assunto era invadir, roubar, explodir ou fazer qualquer coisa que envolvesse ser rápido e discreto, a estatura pequena tanto na forma humana quanto na de lobo o dava essa vantagem. "E ainda temos o problema daquele grifo e o cara mascarado com asas que conseguiu derrotar Luana."

"Ei! Ela estava desprevenida, tenho certeza que Luana pode dar conta dela, certo Lua?" Encorajou Marcus, meu irmão mais novo, apesar de ser mais alto que eu, mais robusto e parecer ter trinta anos. Ele era moreno, olhos azuis como os meus, o cabelo castanho escuro era raspado nos lados e médio em cima, ele tinha uma barba preta bem aparada e tinha o péssimo hábito de fumar e achar que eu era invencível. Apesar de ser um pouco infantil, ele era responsável por nossas defesas e era muito bom no quesito. Antes da bruxa, ninguém nunca antes tinha atravessado as fronteiras da propriedade e quando aconteceu com a bruxa, ele ficou bem cabisbaixo, mas estava disposto a tudo a recuperar sua honra. Eu até o momento estava calada, pensativa, apenas os ouvindo discutir. Quando ouvi meu nome, levantei os olhos do chão e percebi que todos me olhavam com certa expectativa. Fico um pouco desconfortável com toda aquela atenção, mudo o peso de perna e limpo a garganta.

"É claro, não vai acontecer de novo. Pode deixar que eu cuido do grifo e do cara mascarado." Respondo. Eles acenam e voltam a discutir e apenas ouço a partir dali. Assim que saí da sala de reunião, liguei pra Jonas.

Jonas, era um amigo que conheci quando fiz uma viagem ao Brasil. Fiquei lá só alguns meses, descobri que lá eles também tinham lobisomens e que Jonas era um deles, apesar de serem beeeem mais loucos e estranhos que os dos Estados Unidos (Na moral, quem perde tempo caçando vacas?). Enfim, liguei pedi que ele viesse à Nova York, era praticamente o único com quem eu podia contar para o que eu estava planejando. Ele falou que embarcaria no primeiro avião e cá estou eu o esperando no aeroporto. Quando era quase 7 horas, ouvi o anúncio de que o voo Brasil/EUA tinha acabado de aterrissar e fui para a área de desembarque. Através do vidro, vi o momento que ele praticamente pulou para fora do avião com uma mochila nas costas e começou a correr em direção ao prédio, ele entra esbaforido e vem em minha direção assim que sente meu cheiro, me dando um abraço apertado. Assim que ele me soltou, dei um soco em sua barriga que o fez dar alguns passos para trás.

"Você disse que estaria aqui antes do nascer do sol!" Grito e cruzo os braços na frente do peito com raiva.

"Desculpa Lua, o voo atrasou e.…" Ele diz num português apressado (ele sempre faz isso quando fica nervoso). Reviro os olhos para ele e ergo as mãos pedindo silêncio.

"Em Inglês, Jonas. Inglês! Eu não entendo português!" Digo. Ele para no meio da frase e limpa a garganta.

"Certo, desculpe." Diz. Ele era um pouco mais alto que eu, da mesma altura de Marcus, pardo, lindos olhos cor violeta que ficavam roxos quando ele se transformava em um lobo negro. O corpo estava em forma devido aos jogos dele, mas um pouco magro, cabelo castanho claro grande com algumas mechas em estilo rastafári puxados para trás, uma barba pequena, um alargador 4mm e piercings nas orelhas e uma tatuagem com alguns desenhos geométricos que ocupava todo o seu braço direito. Usava uma calça jeans, tênis, uma camiseta azul escura de algum time de futebol brasileiro e uma jaqueta amarrada na cintura. Suspiro ansiosa.

"E então? Você conseguiu?" Ele acena sério e tira do bolso da calça um pedaço de papel e reconheço o rosto da mulher. Dobro a foto e guardo no bolso da calça.

"Sabe que eu poderia ter te enviado por e-mail, não é? Sabia que você me fez viajar na desgraça de um avião para entregar o caralho de uma foto? Sabia também que eu morro de medo de avião?" Ele exclama risonho, misturando um pouco português com inglês o que me fez ficar sem entender algumas palavras, mas acho que foi melhor assim já que tinha a leve impressão de que foram xingamentos nada amigáveis.

"Preciso de você aqui Jonas, porque se eu precisar lutar, você sabe que sozinha eu não aguentaria, e você e eu somos os únicos que aguentariam contra Helkon e a alcateia em uma luta direta, todo mundo sabe disso!" Revido. Inspiro fundo e completo "Eu não posso enfrentar isso sozinha."

Ele ruboriza e abre um sorriso, sabia que estava dentro. Na hora seguinte, expliquei a ele nossa situação e meu plano, ele se animou quando eu afirmei que era maluco, suicida e com chances quase nulas de sucesso, era o tipo de plano favorito dele.

"Então, acha que vai funcionar?" Pergunta.

"Não. Mas é melhor do que arriscar a vida da alcateia inteira." Respondo sincera. Levanto e vou até a caminhonete, ele me acompanha e senta no banco do carona, abre a mochila e tira de lá um par do que parecia ser protetores de antebraço feitos de couro com um lado em metal, prende cada um em um braço com a parte de metal virada para cima.

"Aonde vamos?" Pergunta enquanto ajeitava as tiras de couro.

"Vamos atrás do grifo e da garota, vamos precisar de sorte já que dá última vez eu quase levei uma bala na cabeça." Antes de ligar a caminhonete, ele puxa de leve meu queixo virando meu rosto para si e, rápido como uma flecha, me dá um beijo na boca e tão rápido quanto começou, ele terminou. Olho para ele e pisco algumas vezes, meus lábios estavam formigando e sentia meu rosto quente.

"O-o que foi isso?" Gaguejo.

“Para dar sorte, e acho que você me devia esse depois que me deixou plantado no aeroporto quando voltou para cá." Explica, os olhos brilhando em violeta e sorrindo de orelha a orelha (quanto a isso, digamos que ele estava perto de me dar um beijo no aeroporto quando eu meio que...cof, cof... fiquei com vergonha e saí correndo para o avião...cof, cof). Senti algo na boca do estômago, como se milhares de borboletas levantassem voo ao mesmo tempo.

"Mas, Caso não funcione, ao menos peguei o que era meu por direito e eles vão ter que lidar com dois lobos loucos e fortemente armados!" Responde flexionando os braços. No mesmo instante, três lâminas de 30 cm saíram da parte metálica de cada um dos protetores de braço, como se fossem garras, extremamente afiadas. Ele as cruza formando um X e tenta fazer uma cara séria quando diz "Eu sou o Wolverine!"

Reviro os olhos enquanto ele recolhia as garras e ria sozinho enquanto saíamos do aeroporto.

"Agora entendi porque você, Átila e Marcus se dão tão bem. São todos uns palhaços infantis." Ele coloca o braço em volta de mim e coloca a mão de forma dramática, dou um soquinho no braço dele e ele se afasta.

"Eu sei que você me ama, se não já teria me dado um tapa por ter te roubado esse beijo." Sussurra fazendo cóssegas na minha nuca quando falava. Suspiro.

"Pode até ser, mas antes temos um problema maior para resolver. Depois você pode flertar comigo à vontade, combinado?"

"Combinado!" Ele exclama e continuo dirigindo até a casa do Grifo.

(···)

"Certo, entendeu o que é para fazer?" Pergunto depois de revisar pela centésima vez.

"Hum, não atacar a não ser que seja caso de extrema urgência, deixar você tentar convence-los e não avançar neles quando sacarem as armas." Ele resume levantando um dedo para cada recomendação. Aceno e suspiro, descemos da caminhonete e vamos até a porta da casa do Grifo. Subimos na varanda e quando já ia tocar a campainha, ele abre a porta de uma vez e não estava com a cara muito boa. Estava com olheiras fundas, os olhos cor caramelo vermelhos inchados e respirava pesadamente. Ele fecha a cara e apera a porta e o batente esmagando a madeira e fazendo lascas voarem.

"Vocês...vocês!" Ele resmunga e esmurra a parede fazendo mais lascas voarem. "O QUE DIABOS VOCÊS QUEREM?!" Grita a plenos pulmões fazendo alguns pássaros da arvore em seu quintal alçarem voo desesperados.

"Calma, não queremos confusão." Começo. "Só queremos conversar com você e aquela sua amiga e.…"

O que se seguiu quase fez meu coração saltar pela boca. O homem avançou sobre mim e Jonas, fazendo nossos corpos rolarem sob a escada da varanda e caírem de costas no jardim, mantendo ele e eu presos entre suas pernas, seus olhos brilhavam de um jeito que me assustava.

"ELA ESTÁ LÁ POR CAUSA DE VOCÊS!" Grita erguendo a mão pronto para acertar um soco no rosto de Jonas, mas ele é mais rápido. Sem esperar pelo que se seguiria, ele encolheu a perna e lhe deu um chute no peito o fazendo voar e entrar de costas na casa, fazendo algo lá dentro se quebrar e um bocado de poeira levantar. Ele levanta de um salto e cerra os punhos à frente do corpo, ficando em posição de ataque.

"Pode vir pombinho." Ele diz empolgado. De dentro da casa, ouço o som da madeira rangendo e, de dentro da nuvem de poeira, uma imensa pantera negra, talvez maior que um cavalo, salta em direção à Jonas com as garras e dentes à mostra. Ele salta de braços abertos impedindo o ataque do imenso animal e, com o impacto, eles caem no chão e um combate corpo-a-corpo se inicia. Jonas deixara às lâminas à mostra e golpeava como um assassino impiedoso, tentando a todo custo atingi-lo, mas o grifo, ou pantera ou sei lá o que ele era, desviava e atacava com uma agilidade e força, bem, felina. Eu assistia perplexa tentando pôr os pensamentos em ordem até que o choque inicial se esvai.

"PAREM VOCÊS DOIS!" Grito. Eles param no mesmo instante, Jonas com um dos braços na boca do felino e com o outro preparado para acerta-lhe um soco mortal e a pantera com uma das patas estendidas e as garras à mostra a centímetros de seu rosto. Os dois viram o rosto ao mesmo tempo para mim, confusos. A situação teria sido engraçada se eles não estivessem tentando se matar. Viro para o imenso felino e falo gentilmente tentando acalma-lo.

"Olha, não fizemos nada e não estamos sabendo de nada, ok? Quem está aonde?" Ele cerra os olhos em resposta e seu pelo se eriça, fazendo-o parecer bem maior. Jonas pareceu ficar inquieto.

"Ei mano, eu ainda preciso desse braço." Diz tentando parecer calmo. O felino o olha irritado e, com um movimento, gira Jonas e o lança com a boca em minha direção. Ele cai de bunda ao meu lado e se levanta esfregando desconfortável os músculos doloridos. A pantera começa a encolher dando lugar ao homem ruivo, ele fecha a cara para nós e anda em direção a casa pisando fundo.

"Vão embora, já tenho problemas demais e estou sem tempo para fazer caridade para um bando de vira-latas." Diz enquanto passava pelo batente da porta.

"Espera! Quem está aonde?" Pergunto antes que ele batesse a porta. Ele olha por cima do ombro.

"Ela, Maya, é uma prisioneira no acampamento por causa de vocês!" Grita e entra na casa pisando fundo. Olho para Jonas pelo canto do olho, ele parecia surpreso e ao mesmo tempo confuso. Ele abre a boca para perguntar alguma coisa mas desiste e acaba a fechando, recolhendo as laminas em seguida. Ando em direção à casa e faço sinal para que ele me acompanhasse.

Do batente da porta, vi o ruivo ocupado recolhendo alguns pedaços de madeira espalhados pelo chão que deveriam ter sido uma mesa antes e colocando alguns rolos de papel que exibiam vários desenhos de um vale em um sofá.

"Olha, sinto muito que sua amiga foi capturada..." começo.

"Deveria sentir mesmo, já que foi por causa de vocês que ela está lá." Ele resmunga me cortando, mas não ligo e continuo.

"..., mas nós podemos te ajudar a resgatar ela, se você nos ajudar." Ele para de recolher a madeira no mesmo instante e nos olha por cima do ombro.

"Não vou sequestrar semideuses para vocês. Para começo de conversa, era exatamente isso que estávamos impedindo seu bando de fazer!" Exclama.

"Do que ele está falando?" Jonas sussurra no meu ouvido. O homem ergue uma sobrancelha para ele.

"Você não está com eles, seu cheiro é diferente, então porque está com ela?" Ele questiona.

"Olha cara, não faço ideia desses sequestros de que falou, mas a Lua aqui deve não gostar muito já que me arrastou do Brasil para ajudar ela num plano bem insano, o que não é a dela, então...que tal você esfriar a cabeça enquanto conversarmos a respeito e tentamos ser amigos em vez de nos matar?" Jonas responde adiantando-se e estendendo a mão para ele. O homem o olha apreensivo e franze as sobrancelhas estranhando e relutante, a aperta."Me chamo Jonas Marconi."

"Kyetrus." Responde o ruivo. Sua expressão pareceu relaxar, mas ainda alerta. Me surpreendo, há menos de dois minutos estavam se matando e agora estão fazendo as pazes? Reviro os olhos. "Homens" penso enquanto Kyetrus se sentava em um sofá na sala cruzando os braços sério e eu e Jonas em frente a ele. Ele nos analisa por alguns segundos antes de começar a falar.

"Como eu disse antes, Maya é prisioneira no acampamento que seu bando está atacando porque acham que ela é uma de vocês, então, espero que seu plano seja bem convincente porquê ele é a única coisa que está me impedindo de ir agora acabar com a raça de vocês." Diz trincando os dentes.

"Entendo porque pediu minha ajuda, o cara é assustador." Jonas sussurra para mim. "Você disse que lutou contra a tal Maya, mas não estava transformada, acha que teria alguma chance?"

"Não tenho certeza, mas ela não estava nem se esforçando para desviar de meus ataques." Respondo. Ele engole em seco, mas não pergunta mais nada. Em seguida, volto minha atenção para Kyetrus. "Eu estava pensando em enfrentarmos a bruxa, rodos nós."

"Todos quem?" Pergunta.

"Você, Maya, nós os lobos e os semideuses." Digo. Ele me encara por alguns segundos e segura o riso.

"Acha mesmo que os semideuses vão ajudar vocês depois que raptaram vários dos deles? Ou que sua alcateia que fugiu de lá com o rabo entre as pernas vai aceitar voltar lá e enfrentar uma bruxa sem poder se transformar?" Exclama.

"Eu falei para ela que era insano." Jonas diz.

"Pode até ser insano, mas é melhor do que continuar com essa busca que não levará a nada." Eles me encaram sérios. Inspiro fundo e continuo.

"Como loba, posso conversar com os semideuses e falar com eles que Maya não é uma das nossas, depois entramos em um acordo com minha alcateia: eles ajudam a enfrentar a bruxa se devolvermos os semideuses capturados. Depois, descobrimos onde é a casa da bruxa e fazemos um ataque surpresa." Explicou meu plano.

"Isso se eles te ouvirem e você conseguir convence-los, o que duvido muito." Kyetrus responde. "Mas..."

"Mas...?!" Eu e Jonas perguntamos ao mesmo tempo.

"Essa é a melhor opção que tenho até agora. Enfrentar o acampamento sozinho seria suicídio de qualquer maneira. " ele afirma. Sinto como se um peso enorme fosse tirado das minhas costas e suspiro aliviado. "Mas vocês têm ao menos algo em se basear para procurar a bruxa?"

Olho para Jonas pelo canto do olho, ele acena. Do bolso da calça, tiro o pedaço de papel dobrado com a foto da mulher e estendo para Kyetrus.

"Jonas conseguiu essa foto dela. Segundo ele, ela viajou muito ao Brasil e sempre se hospedava no hotel que ele trabalha, então foi fácil arranjar uma foto." Kyetrus pega o papel e o abre. Assim que identifica o rosto da foto, sua expressão muda de séria para assustada e seu rosto perde a cor.

"Não...Não pode ser.…" murmura esfregando os olhos para ver se enxergava direito. "Isso é impossível."

Eu e Jonas nos entreolhamos, desconfiados.

"O que foi?" Pergunto. As mãos de Kyetrus começaram a tremer.

"Ela...ela é.…" ele gagueja, mas não consegue terminar a frase. Engole em seco. "Preciso falar com ela..."  E se levanta do sofá de uma vez.

"Ei, espera, falar com quem?" Jonas questiona esbaforido.

"Maya..." Kyetrus responde num fio de voz. Ele vai em direção ao quintal dos fundos da casa, onde havia um amplo jardim que se estendia por dez longos metros, uma área para churrasco anexada à parede da casa, uma mangueira nos fundos junta à cerca e um pequeno quarto de madeira nos fundos. Ele pega a mangueira e aperta o esguicho fraco, fazendo as gotículas de água formarem um arco-íris na manhã ensolarada que se tornava uma tarde. Com a mão ainda trémula, pega um tipo de moeda de ouro do bolso.

"Ó deusa íris, aceite minha..." Seu corpo trava de uma vez, ele para no meio da frase e olha para trás, as narinas abrindo e fechando rapidamente. Larga a mangueira de uma vez no chão, cerra os punhos e, de costas para nós e de cabeça erguida, anuncia em alto e bom som. "Podem sair, eu notei suas presenças."

Olho para Jonas que de cenho franzido, erguia o nariz de modo a fareja o ambiente. Seus olhos se arregalam de uma vez e ele cerra os punhos, virando-se para a casa e entrando em posição de ataque. Faço menção de farejar o ar também, mas a voz que se pronunciou foi o suficiente para que entendesse a gravidade do problema.

"Inacreditável." Ouço a voz familiar e grossa de Helkon. Me viro para a casa e dou de cara quando vejo em pé e com a expressão de desgosto, Marcus, Helkon, Átila e Dexter. Helkon avança um passo, seus olhos brilhando em vermelho e seu peito subindo e descendo de forma rápida, estava furioso. "Quem diria que dentre tantos, você seria a que me apunhalaria pelas costas, Luana."

Dou alguns passos vacilantes para trás, colocando uma distância segura entre mim e o grupo de minha alcateia. Marcus estava sem palavras, os olhos estavam sem brilho e ele me encarava com a expressão vazia, desacreditado. Átila e Dexter não estavam muito melhores, me encaravam surpresos pelo fato de terem me descoberto nessa situação. Era visível que todos estavam em um conflito interno: sabiam que dar as costas para um membro do bando é desonroso, um ato digno de exílio, mas ser pego traindo a alcateia, é como assinar a sentença de morte com sangue.

O clima estava tenso, os dois grupos se medindo de cima à baixo, qualquer movimento mal executado poderia dar início à uma batalha sangrenta. Eu, por mais apreensiva que estivesse, mantinha o contato visual com Helkon o tempo todo, travando uma longa batalha visual, o brilho de seus olhos oscilando, mas permanecendo vermelhos e sedentos de sangue, os olhos de um Alfa. Sinto que Kyetrus e Jonas estavam inquietos, desconfortáveis

"Calma Helkon, não queremos confusão aqui." Jonas diz erguendo a mão devagar.

"Cale a boca, Marconi! Você não pertence a esse bando, não tem direito de interferir!" Rosna Helkon para ele, que engole em seco e se cala. O Alfa se vira para mim, sério. "Luana, não quero ser forçado a te arrastar até o bando para um julgamento de traição, seja razoável e não piore as coisas para o seu lado."

Trinco o maxilar. Posso ter até escondido que agia em segredo de Helkon, mas nunca o trairia, e não seria culpada por isso.

"Eu não o traí, Alfa. Não irei a lugar nenhum para ser julgada por algo que não cometi." Retruco de queixo erguido.

"TRABALHANDO COM O INIMIGO PELA MINHAS COSTAS?" Ralhou. Minhas mãos começam a tremer e uma gota de suor escorre por minha testa. "Nós vimos os mapas, Luana. Me diga se isso não parece uma traição?!"

Marcus pigarreia.

"Por favor Lua, não piore as coisas" diz tremulo com a voz embargada.

"Eu posso explicar" tento dizer.

"Ah, você pode? Não me diga que foi pego no lugar errado e na hora errada"

"Sim, foi exatamente isso" Tento soar calma, mas a forma como ele começara a ficar semi-transformado era ameaçadora.

"E espera que eu acredite? Não seja sínico, sei o que vi"

"Mas eu po..."

"Não, não pode explicar isso. Você traiu a minha confiança Luana."

"HELKON!" Grito, minha paciência se esgotara. "Você não está analisando isso direito, a pressão está de corroendo e você é o único aqui cego o suficiente para não perceber! Está levando todos nós à morte com esse seu plano ridículo, não percebe?"

"Você...já basta. Seu tempo se esgotou!" Ele rosna. Dexter, Átila e Marcus entreolham-se pesarosos mas entram em posição de ataque.  Engulo em seco, não havia mais para onde correr, só me restava lutar. Meus olhos brilham em azul, os dentes crescem transformando-se em presas e as unhas se transformam em garras, eu estava pronta. Jonas se apressa ficando a meu lado, também semi-transformado, os olhos brilhando em roxo.

"Você não está sozinha, Lua." Sussurra. Assinto. Helkon fixa o olhar em mim, nos encaramos por alguns segundos e então...ele avança, se transformando em um imenso lobo negro de olhos vermelhos no ar e, correndo em minha direção assassina. Flexiono os joelhos, esperando o momento certo. Ele estava a cinco metros, quatro, três...avançava muito rápido. Eu iria pular, mas um borrão vermelho à minha direita chama a minha atenção e em milésimos de segundos, Kyetrus se interpõe entre mim e Helkon, erguendo o braço direito e sendo mordido logo em seguida, fazendo sangue esguichar da ferida em seu braço. Seus olhos caramelados estavam calmos, mas ao mesmo tempo sérios, eu estava boquiaberta, havia me esquecido completamente de sua presença. Ele ergue a cabeça e encara o lobo de Helkon nos olhos, que rosnava, mas não largava seu braço.

"Você. Está. Sujando. Meu. Jardim." Rosna e com o braço esquerdo, acerta um soco poderoso no focinho de Helkon. Ele cresce se se transformando em um lobo castanho tão grande como Helkon. Eles rosnam um para o outro, se rodeiam e, sem aviso prévio, partem para a briga, se mordendo ferozmente, eles rolam pelo jardim em uma confusão de pelos, unhas e dentes. Um toque de Jonas chama minha atenção, outros três enormes lobos avançavam em nossa direção. Um bege com olhos cor chocolate (Dexter), um pardo de olhos verdes um pouco menor (Átila) e um cinza claro de olhos azuis (Marcus) corriam em alta velocidade em nossa direção.

"Tente não os machucas muito, Lua." Jonas diz estralando o pescoço.

"Igualmente." Respondo. Juntos, nos transformamos. Eu em uma loba branca de olhos azuis e ele em um lobo negro de olhos roxos, apenas alguns centímetros mais altos que eu. Rosno para nossos oponentes que se aproximavam e pulamos para uma batalha sangrenta.

Por um bom tempo, tudo o que se via era uma enorme confusão de pelos, garras, dentes e sangue. Sentia o sangue pulsando em meus ouvidos, o corpo quente e as pupilas dilatadas por causa da adrenalina, a emoção da batalha tomando conta de mim fazendo com que meus músculos gritassem por mais. Eu rolava no chão lutando contra Átila, me esquivando de suas investidas e atacando em pontos que não fizessem danos muito graves, afinal, eles ainda eram minha família. Jonas parecia um furacão, corria de um lado para o outro atacando ferozmente Dexter e Marcus, mal dando chance para eles se defenderem, evitando seus pontos vitais. Em certo momento, acerto uma patada forte em Átila, que cai inconsciente no chão, olho em volta e vejo quando Jonas é lançado em um canto e Dexter e Marcus avançam em sua direção. Ele aparentava estar ferido, estava demorando para se levantar, não ia conseguir a tempo, Droga.

Começo a correr em sua direção, diminuindo rapidamente a distância entre mim e os outros lobos, só mais alguns metros, quase... e então, um ganido alto faz com que eu travasse no lugar, bem a tempo de ver um imenso borrão negro passar voando diante de meus olhos, acertando Marcus e Dexter e fazendo-os rolar pelo jardim. Olho para onde ele havia saído e vejo o lobo castanho de Kyetrus andando em direção ao amontoado de lobos derrotados com as presas manchadas de sangue e os olhos brilhando de maneira assustadora, causando um calafrio que me percorre a espinha e fazendo meus pelos se eriçassem. Ele anda até ficar ao meu lado, logo após Jonas se levanta e se prostra ao lado dele de cabeça erguida. Kyetrus cola as orelhas na cabeça, bate as patas dianteiras no chão e urra, um som alto o suficiente para causar um golpe sonoro que ricocheteou nos vidros próximos e os fez se quebrar, espalhando vários cacos pela vizinhança. Helkon se levanta mancando um pouco, rosna para nosso grupo e uiva, um sinal de retirada. Trota até o corpo ainda inconsciente de Átila e o coloca sobre seu lombo, batendo em retirada logo em seguida com os outros do grupo em seu encalço. Ninguém moveu um músculo até que os sons dos passos pesados se tornassem inaudíveis e, quando aconteceu, Jonas foi o primeiro a cair sentado, se transformando em humano.

"Cara, eu estou fora de forma." Diz enquanto arfava e enxugava o suor da testa. Estava com algumas marcas de garras pelo tórax, mas nada muito grave.  Me transformo de volta também, indo em direção a ele, me agachando ao seu lado e lhe dando um breve beijo na bochecha.

"Você está bem?" Sussurro preocupada. Ele sorri e com uma mão, puxa minha cabeça de leve para frente e me dá um selinho rápido.

"Melhor agora." Responde. Dou um suspiro aliviado e me ponho de pé em seguida. Kyetrus se transforma de volta em humano e limpa um pouco do sangue em sua boca, estralando os dedos e o pescoço em seguida.

"Ele era bom, mas estava abalado demais, desconcentrado demais." Diz. Ele mal apresentava hematomas da luta, apenas um corte aqui ou ali, mas não parecia muito abalado. Troco o peso de perna e coloco as mãos no bolso da calça, a tarde caminhando para um pôr do sol alaranjado.

"Eh, hum...obrigado." Digo sem graça. Ele me olha e dá de ombros.

"Abalado ou não, esse tal Helkon não estava aqui para brincadeira. Dava para perceber que eles não hesitariam caso precisassem machucar você, e como eu não tinha obrigação nenhuma de salvar suas peles, mas mesmo assim o fiz, digamos que vocês estão me devendo essa. " Fecho a cara para ele, que abre um sorriso sínico. "Ei, primeiro salvamos minha amiga e explicamos para ela, se ela topar, estamos dentro."

"Como assim? Pensei que já estivesse dentro." Pergunto confusa enquanto ele andava em direção à mangueira e ajustava o esguicho fraco formando o arco-íris novamente. Antes de fazer qualquer outra coisa, ele se volta para mim com o sorriso cínico maior ainda.

"Eu não disse que estava dentro, disse que essa era a minha melhor opção e que enfrentar o acampamento sozinho seria suicídio." Ele pega uma moeda no bolso e completa a frase de modo calmo. "Pode levar seu amigo lá para dentro e dar alguma coisa para ele comer se quiser, enquanto tento entrar em contato com Maya por mensagem de íris enquanto ainda temos sol. Vocês vão precisar estar descansados, vamos enfrentar vários semideuses furiosos."

"Ei...ei...espera! Só vamos te ajudar com sua amiga se nos ajudarem com o plano, ou então não moverei um músculo para ajudar sua amiga." Digo cruzando os braços. Ele ergue uma sobrancelha.

"Acho que não está em posição para discutir isso."

"Como assim?"

"Vocês me devem." Responde. Fecho a cara. Se soubesse que seria assim nem tinha vindo. Arriscar meu pescoço sem certeza de que eles ajudariam? Nunca.

Jonas se levanta e vem mancando em minha direção.

"Ahn...Lua? Ele tem razão sabe..." diz sem graça.

"De que lado você está?"

"Bem...ele aliviou nossa barra com Helkon e os caras da sua alcateia. Se não fosse ele, você já estaria entre a cruz e a espada à essa hora e eu já estaria morto e jogado em uma vala qualquer apodrecendo. ” Se explica. Enrubesço. Ele tinha razão, eu estava senso orgulhosa de mais, egoísta. Suspiro e o abraço de lado.

"Tudo bem." Ele dá um sorriso brincalhão e passa a mão pelos meus cabelos. Kyetrus dá de ombros e volta para o que estava fazendo.

"Ó deusa íris, aceite minha oferenda." Diz e atira a moeda no arco-íris, que atravessa este, mas não cai do outro lado, como se fosse jogada para dentro de um portal. "Maya Walker, Acampamento meio-sangue." Diz.

Por um momento, nada aconteceu, mas depois de alguns segundos, o arco-íris tremulou e passou a exibir uma imagem como em uma projeção holográfica. Kyetrus a observou por alguns segundos, em silêncio. Ouvi algumas frases sendo ditas em uma língua que eu não conhecia, e então ele simplesmente desligou a mangueira cortando a conexão e a largou no chão. Ele passou a mão pelos fios ruivos, jogando-os para trás e esfregando dos olhos.

"Isso não é bom...não é nada bom..." resmunga.

"O que foi? Não conseguiu falar com ela?" Jonas pergunta.

"Ela não estava sozinha, então não consegui falar com ela, mas esse não é o nosso maior problema."

"E qual é?" Pergunto.

"Agora, vamos atrás de Maya." Diz e atravessa o jardim a passos grandes, fazendo sinal para que eu e Jonas o acompanhássemos. Dentro da casa, pega duas mochilas em um quarto e segue para a garagem, entrando e sentando no banco do motorista de um Impala 67 preto. Assim que eu e Jonas sentamos nos bancos traseiros, ele dá a partida e começa a dirigir apressado, murmurando algo como "deuses ridículos" e "profecias estupidas". Me mexo desconfortável no banco.

"Hum...Kyetrus?  O que você viu?" Pergunto. Ele olha para mim pelo retrovisor.

"Eles receberam uma profecia." Diz curto e grosso. "E.…Maya foi reclamada."

"Como assim, reclamada?" Pergunto curiosa.

"Significa que o pai ou mãe olimpiano dela se mostrou, não é mais desconhecido." Kyetrus responde.

"E isso é ruim?" Questiona Jonas.

"No caso dela, sim." Responde enquanto fazia uma curva fechada para a direita e entrava em uma avenida movimentada no centro de Nova York.

"Porque?"

"Porquê...significa que os deuses a encontraram. Provavelmente não todos, mas o suficiente para despertar a curiosidade dos outros e, quando isso acontecer, será só uma questão de tempo até que o rabugento dos raios a encontre também." Responde resmungando. "Além disso...tem a bruxa."

"O que tem ela?" Pergunta Jonas.

"Ela é a..."

(Continua...)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Noooossa mano, que angustia.
a)Porque será que nosso Kye ficou daquele jeito quando viu a foto da bruxa? (mexendo os dedos de fora maliciosa)
b) De que profecia ele falou?
c) Quem é o pai/mãe olimpiano de Maya?
Descubra no proximo capitulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Herdeira do Olimpo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.