Zombie apocalypse - You need to survive escrita por Gabii Amorim


Capítulo 28
O acordo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ♥



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#Scarlett Anders

A falta de sol já está começando a fazer efeito em cada um de nós. Mesmo as pessoas de pele mais escura começam a ficar pálidas devido ao tempo passado no subterrâneo.  Um dos seguidores da mulher com a enorme cicatriz, nos trás comida três vezes ao dia.
Não tenho comido bem, não tenho dormido bem. E o resultado disso tudo é um corpo fraco e uma mente vulnerável.
Faz cerca de uma semana, ou mais, que estamos presos aqui. O tempo passa rápido, mas não podemos registra-lo. Não temos nem mesmo um relógio de ponteiros para acompanhar as horas que se passam, faço cálculos sem nenhuma prova de estarem corretos, apenas para ter noção das horas que se passam.
A nossa prisão não é um luxo total, mas não reclamo. Prefiro estar aqui embaixo onde só preciso me manter quieta para continuar viva. É um velho porão empoeirado, com a presença de uma única lâmpada que pisca constantemente. Há apenas um vaso sanitário num canto afastado do cômodo. Só o uso quando a situação está precária, é muito constrangedor sem nenhuma parede para nos esconder enquanto fazemos nossas necessidades.
Me mantenho quieta e afastada de todos, sentada no chão, encostada na parede. Vez ou outra alguém tenta puxar conversa comigo, mas eu respondo com palavras pequenas, o mais vago possível.
Ruby me lança olhares indiferentes vez ou outra, mas ela já desistiu de tentar me convencer a conversar com todos como eu fazia antes do apocalipse zumbi.
— Oras, você sempre foi tão extrovertida. Este papel de garota excluída é meu, eu gostaria que me devolvesse ele. - Ela dizia.
— Estou gostando dele num momento. - Era a minha resposta.
Meu pai já desistiu de tentar me confortar por perder tantas pessoas em tão pouco tempo. Não precisei lembra-lo de que ele tivera as mesmas perdas.
Nefarius tentou me pedir desculpas pela nossa briga e sua crise de ciúmes diversas vezes e antes de cair no sono como todos a minha volta, o vi me lançar olhares arrependidos. Talvez eu devesse perdoa-lo, já que me dói tanto ficar longe dele. Ainda assim, nunca gostei de pessoas que desconfiam de mim, isso não mudou com o mundo. Tento sempre me mostrar digna de confiança, mas se mesmo assim ele não conseguiu confiar dias atrás, como poderia passar a confiar agora? Estamos presos num pequeno cômodo e o motivo de toda a sua desconfiança está sempre ao meu lado. Willie. Ele parece ser o único a entender o meu voto de silêncio. Ele não força assuntos, apenas permanece ali, ao meu lado, como se dissesse: Eu estarei aqui sempre que precisar. Gosto disso nele.
A tranca da porta de madeira gira produzindo um pequeno clique, quase inaudível. Todas as pessoas ali no porão estão dormindo, sendo essa sua única atividade disponível. Me levanto de um pulo. Pelos meus cálculos errôneos e desprovidos de qualquer precisão, ainda não é hora para a primeira refeição do dia. A não ser que eu esteja errada, ninguém deveria aparecer ali em menos de 2 horas.
A fechadura gira, a porta se abre num ruído chato. Ainda assim, todos permanecem quietos e presos num sono profundo. Menos eu.
A porta se abre e um garoto alto, de cabelos loiros e ondulados, olhos verdes e metade do rosto coberto por um lenço preto da um passo para dentro do aposento. Ele corre os olhos por mim, da cabeça aos pés, dos pés a cabeça. Após um minuto me encarando, ele resolve sair do transe.
— A capitã Brown exige a presença de um de seus líderes. - Ele diz com uma voz firme e ensaiada.
— Bom, como pode ver, todos estão dormindo. Mas tenho alguma influência sobre eles, alguma oposição? - Digo, afiada.
Ele me encara com os olhos semicerrados.
— Srta. Anders, certo? - Ele pergunta.
Não me dou o trabalho de perguntar como sabe meu nome.
— Apenas Scarlett, não estou numa posição melhor que a sua.
— Não. Eu diria que está bem pior.
— Existem alguns pontos de vista distintos.
Percebo que ele sorri, mesmo sob o lenço preto, vejo o contorno de seus lábios se abrindo e seus olhos provam que estou certa.
— Muito bem, Scarlett. Me acompanhe, você será a líder agora. - Ele diz.
Confirmo com a cabeça.
Ele se afasta para o lado me dando espaço para passar, passo pela porta e ele se apressa para ficar ao meu lado.
— Ela é tão má quanto parece? - pergunto após 1 minuto de silêncio.
— Não deveria perguntar isso para um de seus companheiros.
— Você quer dizer capacho?
Ele puxa o lenço e o deixa pendurado envolta do pescoço, deixando à mostra um largo sorriso.
— O quê lhe garante que não contarei sobre suas desconfianças para a capitã Brown?
— Se quiser, posso lhe poupar de tal preocupação. Eu mesma posso dizer. Ela tira nossas armas e suprimentos e nos prende num porão empoeirado, com um único vaso sanitário num canto, sem nenhuma privacidade. Eu deveria confiar que ela é uma boa pessoa?
— Tenho certeza de que o vaso sanitário é o que mais a incomoda. - Ele diz com um sorriso travesso no rosto.
— Vamos trocar de lugar e você me diz se gostou da experiência.
— Você é uma pessoa interessante, Scarlett. Como não derrubou aquela velha porta de madeira antes?
— Sei que a falta de privacidade não é o suficiente para me fazer querer voltar lá para fora.
— Está lá fora à muito tempo?
— Desde o começo.
Ele se cala por um momento.
— Por quê você a serve? - Pergunto.
— Talvez pelo mesmo motivo pelo qual você prefere o vaso sanitário.
Deixo escapar um pequeno sorriso. Meus músculos do rosto se contraem. Quanto tempo faz que me permiti um sorriso?
— Você não me disse seu nome - Digo.
— Aaron Turner.
— É um prazer conhece-lo, querido capacho.
Ele sorri.
— Igualmente, garota-sem-privacidade.
— Então... Tem ideia do que ela quer?
Estamos andando a apenas alguns minutos, mas parece que nunca chegamos a lugar algum. Passamos por corredores repletos de portas fechadas. A casa parece ainda maior por dentro.
— A capitã não costuma dividir suas ideias com qualquer um.
— Pensei que seu nome fosse Aaron.
Ele abre um sorriso maior ainda. Parece estar se divertindo.
— É aqui. - Ele diz parando enfrente a uma porta de ferro.
Ele da dois toques rápidos na porta antes que ela se abra revelando uma sala pequena, mas aparentemente confortável.
— Então, você é a líder? - Pergunta a capitã parada do outro lado da porta com um tom de desprezo na voz.
— Os outros estavam dormindo, Scarlett se disponibilizou para atendê-la. - Diz Aaron.
— Não que eu estivesse muito ocupada - Respondo no mesmo tom.
Ela solta um suspiro alto e da um passo para o lado.
— Entrem.
Passo pela porta e Aaron vem logo atrás. A pequena sala contem uma lareira pequena num canto, que da ao cômodo um ar aquecido e confortável. Uma poltrona está encostada numa parede com uma mesa e um pequeno sofá a frente. A capitã assume seu lugar na poltrona solitária do outro lado da mesa e aponta para que eu me sente no sofá. Aaron permanece em pé, ao lado da poltrona dela como se precisasse protege-la de mim. Uma garota fraca e desarmada. Seguro o impulso de rir de tamanha idiotice.
Após alguns segundos em silêncio, perco a paciência.
— Então... Vai dizer do que se trata ou vai continuar me olhando como se eu fosse um pedaço de chiclete que colou na sola do seu sapato? - Pergunto.
Aaron faz o possível para disfarçar o riso. Não é o suficiente.
— Você é uma garota atrevida, Scarlett. Você não parece temer a morte. - Ela diz apoiando o queixo nas mãos cruzadas.
— Isto é uma ameaça?
— Entenda como quiser.
— Já vi a morte perto demais, diversas vezes. Não tenho mais motivos para temê-la. Mas você parece temer a falta de poder mais que tudo nesta vida.
— Por quê diz isso? - Ela pergunta com os olhos semicerrados.
— Oras capitã, você nos capturou e nos manteve presos num porão como cachorros, simplesmente por pisarmos perto demais de seu perímetro. Que outro motivo teria para nos temer que não a perca do poder? Acha que poderíamos tirar todos esses homens de você? Não temos interesse em começar uma guerra aqui Brown, mas se abrir aquelas portas velhas de madeira, não hesitaremos em matar quantos for preciso antes de sermos abatidos.
— Quero propor um acordo - Ela diz encostando as costas na cadeira.
Lanço um olhar desconfiado para Aaron, mas ele dá de ombros como se não soubesse de nada.
— Continue.
— Precisamos de suprimentos, temos muitas pessoas aqui. Famílias, crianças pequenas.
Entendo o que ela quer de nós... Pelo menos uma parte.
— Por quê precisa que peguemos suprimentos para você? Estão em maior número.
— Não é óbvio? - Ela pergunta, abrindo um sorriso malicioso.
Levo alguns segundos para entender o ponto de vista da capitã.
— Somos descartáveis. Se morrermos, será um problema a menos para você - Digo. - O quê ganhamos em troca?
— Liberdade.
— É uma oferta muito boa, vinda de uma pessoa como você. O quê está escondendo de mim?
— Sou uma mulher de negócios. Temos um acordo?
— De quanto precisa? - Pergunto ignorando sua mão estendida.
— Um caminhão cheio seria suficiente. - Ela diz sorrindo.
— Se trouxermos seus suprimentos, nos devolverão nossas armas, nossas mochilas e nossa liberdade? - Pergunto encarando-a.
— Claro.
— Que garantia temos?
— Você tem a minha palavra.
Apoio o queixo nas mãos e aproximo meu rosto ao dela.
— De nada me vale sua palavra - Digo, quase num sussurro.
Aaron se mexe, desconfortável, mas não intervém.
Brown fecha a cara.
— O quê sugere? - Pergunta de mal humor.
— 20% de tudo que conseguirmos. - Digo, voltando a me recostar no sofá.
— Você não esta em condições de negociar, Scarlett.
— Não estou em condições de perder tempo nesta sala, Brown. Ou temos um acordo, ou me libere para voltar ao porão e planejar uma destruição em massa neste lugar. Somos poucos, sim. Mas não nos subestime. Já disse que não temo a morte, e levaria no mínimo 10 de seus homens comigo antes de cair.
Aaron me olha com os olhos arregalados.
A capitã pondera por alguns segundos, passando a mão pelos cabelos lisos e loiros, desfazendo alguns nós.
— 15% - Ela diz afinal.
— 20%
— 10% e mais alguns de meus homens.
— 15% e alguns de seus homens. É minha oferta final. - Digo. - Temos um acordo?
— Mais uma coisa. Precisamos de uma garantia de que vocês trarão nossos suprimentos.
A encaro com os olhos semicerrados, tentando analisar seus pensamentos. Sem sucesso, Brown é uma mulher indecifrável, consegue manter suas emoções fora de seu rosto na maior parte do tempo e isso me apavora. A possibilidade de não entender as pessoas ao meu redor, me apavora. Mas não deixo que ela perceba o quanto estou amedrontada.
— O quê sugere?
— Escolherei um de vocês para continuar no porão. Assim, você terá o que é meu e eu terei o que é seu.
Não confio nela. Mas sei que não faria mal a pessoa escolhida sabendo que estaremos com nossas armas, seus suprimentos e alguns de seus homens. Quase deixo escapar um suspiro de preocupação. Mas, o que mais podemos fazer? Passar o resto da nossa mísera vida presos num porão empoeirado, não é uma opção.
Me levanto e estendo a mão em sua direção. Ela se levanta logo em seguida e aperta minha mão.
— Temos um acordo.
— Partimos amanhã pela manhã. Tenha seus homens prontos. Precisaremos de armas se quisermos voltar vivos, e suprimentos.
— Posso lhe conceder isso.
— Ótimo!


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