#Willie Johnson

Parecia irônico que num mundo infestado de zumbis, os vivos ainda se confrontariam. Uma única olhada ao redor é suficiente para nos fazer aceitar que, mesmo sendo corrosivo, aquilo era o que acontecia com os vivos. A guerra não se fixava somente nos mortos e nem sempre encontraríamos apenas sobreviventes "Paz e amor". Não era mais necessário que se fosse mordido para causar o caos. Tudo, agora, se baseava em sobrevivência e a disputa por território fazia parte de tudo isso.
As pessoas a nossa volta pareciam terroristas e sobretudo, assassinos. Carregavam rifles e diversas armas pesadas capazes de causar um massacre num milésimo de segundo. Trajavam vestes negras e sujas, metade de seus rostos estava escondido atrás de um lenço igualmente encardido deixando apenas olhos frios à mostra. Aquilo não me impedia de sentir medo. Estávamos cercados por cerca de 32 dos terroristas e alguns deles mantiam zumbis atrás, presos por correntes nos pescoços. Me assustei com o fato de os zumbis não tentarem mordê-los, mas então percebi o motivo. Suas mandíbulas estavam quebradas e os braços cortados, mesmo que tentassem, não seria nada eficaz.
— Larguem as armas! - Ordena uma voz fria e autoritária de uma mulher.
A voz parece vir da mulher logo a minha frente. Seus olhos são azuis e frios como gelo, seu cabelo loiro cai como uma cortina sobre seus ombros. Ela segura com as duas mãos um rifle aparentemente pesado. Sua postura é reta e emana autoridade.
Rick faz menção de protestar e da um passo a frente, já é o suficiente para que os terrorista a nossa volta fiquem em estado de alerta. Cada um deles ergue sua arma ao mesmo tempo destravando o gatilho num clique que ecoa por entre as árvores.
A mulher loira parece impaciente. É a única que não se moveu, permanece parada com o rifle abaixado. Tenho certeza de que ela não precisa disso, um único sinal dela e toda a sua tropa avança como búfalos famintos.
— Agora! - Ela grita.
Rick recua os passos que havia acabado de dar. Lança um olhar para nosso grupo e se abaixa lentamente posicionando sua .38 no chão repleto de galhos e folhas secas. Todo o restante do grupo repete os passos do líder e em um segundo, já destruímos completamente a chance de sobrevivermos. Não que ela fosse grande. 
A mulher nos observa com os olhos semicerrados, provavelmente pensando nas muitas formas de nos matar. Meus músculos estão tensos e uma gota de suor desce pela minha testa, mas tenho certeza de que não tem nada haver com o sol escaldante que brilha sobre nós.
— Olha, não queremos confusão, só viemos aqui por que vimos a casa e achamos que estava vazia... Só queremos sobreviver. - Diz Henri.
A mulher continua a nos observar e as armas de seus companheiros continuam apontadas para a cabeça de cada um de nós.
— Como vieram parar aqui? - Ela pergunta com o olhar frio fixo em Henri que teve a petulância de falar.
— Estávamos apenas procurando um lugar seguro para ficarmos - Michonne responde.
— Parece seguro para vocês? - A loira pergunta.
Ninguém responde. Ela toma o nosso silêncio como um não.
— Deveriam ter imaginado que já tinha dono. - Ela diz.
— Olha, podemos ir embora agora mesmo e deixa-los em paz. Estamos numa grande desvantagem aqui. Você só precisa dar a ordem para que nos deixem passar e vamos embora. - Diz Henri.
A mulher parece não ter gostado nada dele. Ela franze as sobrancelhas grossas e num movimento rápido, arranca o lenço do rosto.
Meu estômago se embrulha com a visão. Sinto calafrios só de pensar como ela havia conseguido aquela cicatriz. Uma marca branca e grossa corta desde a sua boca até o tórax. Ela lança um olhar duro para Henri que, somado com a grande cicatriz, me faz tremer.
— Eu não preciso fazer nada. - Ela diz, dando passos decididos na direção de Henri até ficar cara-a-cara com ele.
— Não, não foi isso que eu quis dizer - Ele responde fazendo um grande esforço para manter a voz firme.
Ela continua a encará-lo por alguns minutos e então dá as costas e se afasta mancando. Aquilo não diminui a sua autoridade e o medo que sinto.
— Vocês não fizeram nada conosco. - Ela diz, mais para si mesma que para qualquer um ali presente - Mas isso não os impede de voltar e fazer depois.
— Não voltaremos - Rick diz com a voz firme. - Nos deixe ir e prometemos jamais pisar em seu perímetro.
— Hum - Ela se vira passando a mão pelo queixo - Não, não voltarão. Peguem as armas. - Ela diz para seus companheiros.
Num movimento rápido, dois deles recolhem as armas no chão e voltam a suas posições.
— As mochilas também - Ela diz.
Dois outros "terroristas" se aproximam e arrancam de nós nossas mochilas. Não ousamos reagir, aquilo acabaria pior do que já está.
Lá se vai nossos suprimentos e nossas armas. 
— Reviste-os.
7 deles se aproximam e começam a nos revistar, tiram de Rick, Michonne, Daryl e Henri uma faca e de Scarlett uma beretta que ela havia escondido nas calças. Luto contra o impulso de sorrir. Ela sempre tenta manter uma carta na manga. Mas desta vez não adianta, ela não pode manter uma arma escondida dessas pessoas.
— O que vai fazer com nós? - Pergunta Rick.
A mulher abre o sorriso ainda mais assustador que seus olhos.
— Vocês ficarão aqui.