O Passado Sempre Presente. escrita por Tah Madeira


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719856/chapter/2

Emília chega a casa dos tios,  adorava estar com eles, apesar de ter ido morar ali em um momento difícil de sua vida,  eles foram fundamentais,  sempre carinhosos e atento às suas necessidades não só física como principalmente as emocionais.

 

A porta foi aberta pelo rosto familiar da empregada que há anos trabalha para a sua tia.

— Boa Noite Ângela.

— Boa Noite Dona Emília, sua tia está na sala,  esperando por você.

— Obrigada.

Tudo ali é tão familiar, quanto em sua própria casa, afinal foram anos vividos ali, ela lembra o quanto foi difícil fazer a tia aceitar a sua partida,   Emília vai ao encontro da tia, a vê sentada olhando um álbum de fotos, cabelos curtos e escuros  ainda assim lhe davam uma feminilidade sem igual, não lembra se alguma vez a tia teve cabelos longos, Emília caminha devagar,  sem fazer barulho fica apoiada sobre o encosto do sofá, observando-a.

— Porque você não senta aqui ao meu lado,  assim podemos olhar juntas.—a tia diz  sem erguer a cabeça do álbum, pegando a sobrinha de surpresa.

— Como sabe que estava aqui?

— Minha querida,  não foram poucas as vezes que você chegou de mansinho assim—Zilda faz um gesto para ela sentar, Emília senta ao lado da tia,  que a puxa para um abraço —E também seu perfume é inconfundível  —ela diz ao seu ouvido, beijando a sua cabeça,  gesto esse que Emília recebia desde sempre e que sempre receberá.

Após o abraço apertado que a tia lhe dá, como se quisesse grudar Emília a ela,  Zilda lhe passa o álbum,  que contém fotos a partir do momento que Emília foi morar com ela e o marido, Luís, passam foto a foto,  comentando coisas no momento  em que elas foram tiradas, algumas risadas, Emília fica  levemente triste quando chegam em uma que foi a comemoração dos seus quinze anos,  não houve festa, apenas um jantar para eles que terminou de uma forma que nem gosta de lembrar. Zilda segura em sua mão, um toque de carinho e conforto.

—Você poderia ter a festa se quisesse, ela iria vir.— Emília sabe bem de quem ela fala.

— Não foi por ela que não quis fazer a festa,  a senhora sabe, mesmo se fizéssemos não seria como deveria ser, foi melhor assim.

—Emília  não acha que já é tempo de…

—Tia por favor,  não vamos voltar a esse assunto.— ela corta a tia, com uma rispidez que não queria, era sempre assim quando falavam de Vitória.

—Mas Emília…— Zilda insiste.

— Então como estão as minhas meninas?

 

Luís entra,  quebrando o clima de tensão que começa a surgir entre as duas, ele foi até a esposa e a beijou levemente os sus  lábios e um suave beijo na testa da sobrinha.

 

—Aceita beber algo Emília? —Seu tio perguntou indo ao bar que a sala tinha.

—Se o senhor tiver algo  da Beraldini eu agradeço. — ela sorriu pela piada interna dos dois, sempre bebiam vinho da própria empresa. — O senhor lembra aquela vez do vinho azedo tio?— ela diz mais para quebrar o clima, do que propriamente para rir.

— Emília não era azedo, você que quis constranger o rapaz.— diz  Luís entregando um copo a ela outro a esposa, volta para pegar o seu copo e senta ao lado de Zilda, entrelaçando sua mão a dela.

— Era sim tio, ainda ele disse ser o melhor vinho da casa, fui obrigada a pedir água para beber no lugar daquilo. —eles sorriem, conversam até o momento em que Ângela anuncia que o jantar está pronto.

 

O jantar transcorre tranquilamente entre eles, Emília e o tio lembram de quando trabalharam juntos para reerguer a empresa, ele quem a ajudou, na verdade ele ensinou tudo o que ela sabia, quando Vitória  se separou de seu pai, ela tentou voltar a comandar a empresa, fato esse que não foi bem sucedida, quando resolveu se afastar deixou a empresa na mão de qualquer um, nunca entendeu porque não deixou que o tio tomasse conta, quando foi possível a ela ficar a frente das empresas a mão não relutou, deixou, mas nunca mais ficou a frente dos negócios e era assim  desde então.

 

De volta a sala de estar os tios sentam lado a lado,  sua tia automaticamente segura na mão do esposo, que beija a bochecha da dela,  Emília adorava ver esses momentos de carinhos entre eles, sempre um atendo ao o outro, e não pode deixar de lembrar das poucas cenas que guardou de momentos como esse entre seus pais, do sorriso doce do pai ou do olhar apaixonado da mãe para ele, seu olhos ficam marejados, sua tia fala algo e ela nem presta atenção.

 

— Emília? Você está ouvindo? —nenhuma resposta —Emília? —usa um tom um pouco mais alto, conseguindo a atenção da sobrinha.

— Oi tia, estou sim. — ela  discretamente limpa os olhos.

— Sei bem.— a tia a olha com um olhar de duvida.—  Mas vou repetir, temos algo para informar a você.

Emília sente o coração pulsar mais rápido, senta mais ereta,  como se estivesse preparando-se para um empurrão.

— Pode falar.

— Bom você sabe que não gosto de rodeios, mas quero que me ouça bem. — Zilda sai do lado do marido e senta ao lado da sobrinha, segura em sua mão, com carinho . —A sua mãe está voltando.

Emília não se move,  parece nem ter ouvido,  não demonstra reação nenhuma, mas uma lágrima instantaneamente rola face abaixo, Zilda passa suavemente os dedos pelos cabelos dela, limpa a lágrima que caiu  e pergunta.

—Emília,  minha querida, você entendeu o que eu disse?

— Eu… eu… eu preciso ir —ela levanta, soltando-se da mão que a tia insiste em segurar apesar de seus movimentos contrários.

— Sua mãe está voltando menina —diz seu tio— E você não pode fugir disso.— ela  olha de um para o outro, olhos cheios de lágrimas, mas não quer  chorar.

— Eu fugir?  Não tio o senhor está enganado, não foi eu quem fugiu abandonando… uma filha… —agora  ela já chora, não se importa mais, mas não para de falar, os tios permitem pois há muito que ela guarda essas coisas dentro dela—… Não foi eu quem raramente vinha ver essa garotinha ou nas mais raras ligações não falava coisa com coisa ou só chorava, não foi eu quem expulsou o marido, não  deu uma explicação para a filha e se trancou no quarto—ela para um pouco de chorar, se recupera— Dando ali o início da minha solidão, que acabou dois anos depois,  de uma maneira pior que começou.

— Sua mãe estava doente… — sua tia fala calmamente, tentando a explicação de sempre.

— Acreditei nisso,  por um bom tempo—ela senta no sofá.  — Mas aí ao longo dos anos vi mães tão debilitadas,  passando por situações piores que de Vitória e nem uma deixou seus filhos.— ela limpa o rosto — Não caio mais nessa.

 

Ela pega sua bolsa e sai.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Passado Sempre Presente." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.