Proibido para menores de 70 anos escrita por Gabi Wolf, Giovanna Wolf


Capítulo 6
O homem da moto bamba de perna de pau


Notas iniciais do capítulo

Gostaríamos de saber o que vocês acham da fic. Isso nos deixaria bem serelepes! Ideias, sugestões e comentários são bem-vindos! ;p



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P.O.V Nicolas

— Vovô, estou com fome...- Valentina reclamou enquanto o carro preto vagava a cidade.- Quero comer.

— Mas, você não comeu no asilo minha querida?- vovô perguntou educadamente.

— Não... A comida de lá é horrível! – Ela fez uma careta de nojo que até me assustou.- Não tinha nem bolacha.

Vovô Bento teve uma ideia:

— Que tal se antes de fugirmos, pararmos em alguma padaria, o quem sabe em algum boteco aqui perto... Lá deve ter pelo menos pão de sal.- então, com a barriga roncando assenti. Seria uma boa ideia comer alguma coisa salgadinha.... Uma coxinha ou sei lá...

Pedimos ao Uber que estacionasse na padaria mais próxima, para que fizéssemos uma boquinha. Descemos do carro e chegamos logo ao balcão.

Através do vidro cilíndrico, avistei alguns pãezinhos de queijo que estavam me dando água na boca. Já a Valentina queria algo mais doce, já que ela era uma formiguinha mesmo.... Eu me pergunto como ela comia tanto doce e ainda não era diabética.

Vovô e Tio Barnabé- mesmo ele não sendo meu tio, achei que seria um apelido carinhoso.- comeram alguma coisa também, e ambos sentamos naqueles banquinhos giratórios altos e sem apoio, com direito a usar o balcão de granito como mesinha.

— Satisfeito Barnabé? - Vovô questionou seu amigo que bebericava um copo de café quente. Puro. Eca...- Agora que conseguimos, o que faremos?

— Agora, meu caro colega de cadeira de balanço...- Barnabé soprou o vapor da xícara quente, fazendo a pequena fumacinha dançar no ar.- Estamos livres. Não há enfermeiras, velhos morrendo, ou remédios sem gosto. Na verdade, me sinto mais jovem, como se estivesse quarenta anos mais novo.

— Eu também. Sabe, eu não me lembrava o quanto era bom cuidar do meu próprio umbigo.- Vovô Bento se espreguiçou na cadeira. Dei um guardanapo a Valentina, que estava fazendo uma bagunça enorme com suas bolachas crocantes recheadas.- Para falar a verdade, não via a hora de dormir tarde, dançar, viver sem remédios!- Vovô se empolgou e desceu da sua cadeira e começou a dançar algo engraçado. Deveria ser um passo bem antigo. Eu e Valentina rimos.- Até minha artrite sumiu!- até que ele colocou as mãos nas costas, atordoado.- Ai! Acho que ainda não... Mas ainda vai sumir

— Vovô, o senhor é uma comédia...- minha irmã comentou.

Um pouco de silêncio. Umas mordidas e bebericadas se seguiram. Parecíamos cachorros vira-latas largados na rua. Nunca me senti tão largado. Nunca dormi tão tarde. Nunca fui tão irresponsável. E para completar.... Nunca fui tão feliz.

— Podemos começar as nossas vidas fazendo tudo o que já quisemos algum dia.- Barnabé sugeriu.- Eu ainda tenho os meus sonhos e você, tenho certeza de que ainda possui os seus. – Barnabé sorriu.- Os anos podem se passar, mas, acho que os sonhos e as esperanças nunca morrem.

Vovô Bento assentiu, concordando.

— Tive uma ideia: Você e eu podemos escolher um sonho, muito antigo, e o realizamos? É um bom começo, não?

Eu achava que o vovô iria responder logo de cara. Afinal, é isso o que eu faria se eu tivesse a idade dele. Compraria o carro mais caro do mundo, dirigiria uma Ferrari, viraria rei de uma ilha.... Tudo isso me pareciam bons sonhos.

— Mas, não sei não Barnabé...- Vovô disse com um suspiro.- Queria voltar aos velhos tempos, sabe? Com você, Manuel, Francisco e a Filomena.... Gostaria que fizéssemos algo juntos, como uma equipe. Lembra-se, de quando pegávamos laranja no sítio de nosso vizinho na chácara de meus pais?

— Corríamos até não aguentar mais. – Barnabé riu.- Bons tempos, meu amigo, bons tempos...- Barnabé contemplou sua xícara de café pensativo.

— Agora, não tem jeito. Cada um já se aprumou. Alguns já se casaram, outros sumiram sem dar notícia.- Vovô ponderou.- Não, isso não vai dar certo. Já fizemos muito até agora. Acho que eu e as crianças vamos para casa.

— Não vovô!!- interferi, colocando delicadamente a minha mão sobre o seu braço. Estava tão animado com essa coisa de fugir de casa.... Acho que estava cansado dessa vida monótona com os meus pais. Queria viver mais aventuras, emoções. Principalmente com o vovô, uma das minhas pessoas preferidas em todo o mundo.

Pensando bem.... Acho que ele era a minha pessoa preferida mesmo.

— Por favor vovô.- implorei- Não quero voltar a morar com meus pais de novo. Eu quero viver, como o senhor. Não quero virar um adulto chato antes que realmente eu faça coisas divertidas! Quero morar com você e o Tio Barnabé! – E então, fiz uma carinha de cachorrinho pidão.

Vovô Bento pensou. Franziu os lábios. Foram uns dos minutos mais decisivos da minha vida. Ele aceitaria meu pedido? Ou me colocaria de volta naquela vida chata com meus pais chatos e minha irmã chata para todo o sempre?

Olhei para o Tio Barnabé, que terminou de completar meu pedido:

— Ouça o garoto Bento.- ele assentiu.- Ele é um de nós. Quer viver e experimentar coisas novas. Que mal há nisso?!? Prefere vê-lo brincando com aquelas coisas tecnológicas, vidrado em uma tela de celular ou computador pelo resto da vida dele?!? Não quer mostrar a ele o que é ser uma criança de verdade? O que é correr, viver emoções, rir?

— Ei. Eu sou uma criança de verdade, tá legal?!?_ aí ele tinha pegado pesado. Não é porque eu gostava de jogar no computador que eu não era uma criança...- Não sou o Pinóquio.

Vovô Bento riu e bagunçou meus cabelos castanhos:

— Claro que não meu neto, claro que não...- eu ri com o jeito que o vovô me acariciou. Amava quando ele fazia isso. Era tão bom...Acho que ele havia aprendido com a vovó.- Tudo bem então, você venceu.

— Eba!!!- Eu e Valentína comemoramos ao mesmo tempo.

— Se é assim, que seja.- Vovô Bento deu um sorriso com sua dentadura branquinha- Vou ensinar meus netos o que é ser criança mesmo: andar de meias pela casa, brincar de pega-pega, rir, comer doce sem culpa.... É isso aí!!

E todos repetimos “É isso aí” como se fossemos um time de futebol e rindo como se fôssemos um grupo de hienas felizes.

Quando a comida acabou, fomos para a rua procurar um hotel. Estava decidido: passaríamos a noite na cidade. Assim, Tio Barnabé e Tio Bento poderiam escolher seus sonhos para realiza-los juntos depois.

Só que não esperávamos algo, já na porta da padaria. Encontramos um grupo de motoqueiros que haviam acabado de estacionar lá perto. Eles estavam brigando. Pareciam ser idosos, como o vovô e o tio Barnabé. Mas somente dois estavam discutindo, em voz alta.

— O que está acontecendo vovô? -Valentina estava assustada, escondida atrás das calças do meu avô.

— Uma briga.- Vovô Bento respondeu indiferente.- Coisas de gente que ficam até tarde na rua. Devem ter bebido.

— Bebido o quê? – Como aquela garota era curiosa meu pai do céu!

— Nada Valentína, nada. Eles não beberam nada tá?!? – bufei. Ela conseguia me irritar.

— Mas o vovô disse que...

Antes que ela completasse a fala, algo fez com que todos nós virássemos o rosto na direção dos homens que estavam discutindo. Um dos homens empurrou o outro com força, fazendo-o cambalear um pouco para trás e cair de bunda na calçada. Acho que eu teria rido, se não fosse algo tão sério. Então, jogaram uma espécie de capacete no colo dele e o deixaram sozinho.

Acho que o vovô ficou com dó do pobre homem, porque foi imediatamente na direção dele, para ajudá-lo a se levantar:

— O senhor precisa de algo?

O homem respondeu de forma mais ríspida o possível:

—Não! Eu sei me levantar sozinho.- e então levantou-se sem cerimônia. Vovô encarou o homem, sem mexer um músculo, virei para ver seu rosto, parecia que havia visto uma espécie de fantasma.

O homem também percebeu:

— Tá olhando o que coroa?

Eu já ia responder algo bem mal educado para o moço- ou melhor idoso- mas eu pensei duas vezes. Mal educação chamava mal educação... Era melhor eu não me meter com esse tipo de gente. Tentei me segurar o máximo que pude. Mas aí, me lembrei o quanto o vovô já foi humilhado na vida... Minha cabeça começou a ficar quente. Então, gritei:

— Olha como fala com meu avô seu mal-educado!! Vê se volta para escola seu...

Vovô tampou a minha boca logo na hora que eu iria falar um palavrão bem feio. E feio mesmo. Bota feio nisso.... Então ouvi um murmúrio sair da boca do vovô. Uma pequena palavra. Uma pequena pergunta:

— Manuel, é você?


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