Proibido para menores de 70 anos escrita por Gabi Wolf, Giovanna Wolf


Capítulo 4
Operação pé na tábua- Parte um




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Barnabé nos levou a velha biblioteca e astutamente trancou a porta atrás de si, quando entrou. Ele iria nos explicar seu plano, então eu e Valentina nos sentamos no chão, enquanto os dois velhinhos sentaram-se em uma mesa redonda forrada por um veludo esverdeado.

— O plano é o seguinte.- Barnabé começou, pegando um livro velho para rabiscar seu plano maluco.-  Vendo o quadro de avisos, percebi que hoje temos apenas duas funcionárias no período da noite. Ou seja, uma ótima oportunidade para fugirmos.

— Uau. O senhor é inteligente mesmo, hein?- comentei.- Você pode fazer meu dever de matemática de vez em quando?- perguntei, já aproveitando a deixa.

Ele fingiu que não me ouviu.

— Vamos gravar seu avô tossindo no seu celular e vamos o deixar reproduzindo a gravação em um banheiro qualquer. Assim a farsa irá parecer bem verdadeira.- ele apontou para mim e minha irmã.- Então, o Nicolas chama as funcionárias, falando que seu avô está passando mal no banheiro... OK?

— Ok.- respondi, como um cadete a seu capitão.

— Elas irão se distrair e se aglomerar no banheiro. Então, novamente, o seu dever é fechar a porta atrás delas e as trancará lá dentro. Assim não saberão que fugimos.- Barnabé parecia convicto.- Mas, para isso, necessitaremos de uma chave, que está disposta na terceira gaveta do primeiro armário da cozinha... E é nesse momento que Valentína entra...

Eu não estava entendendo, mas assenti mesmo assim.

— Há uma enfermeira dorminhoca que dorme em uma das cadeiras da cozinha. Ela é bem gorda, mas tem um sono bem leve. A única coisa que a assusta é um rato.... Por isso, já consegui um.- ele tirou incrivelmente um roedor de seu bolso, e nos mostrou. O pequeno rato remexeu os bigodes. E depois, o enfiou no bolso do paletó novamente.- Esse bichinho será a chave para o nosso plano funcionar, porque você Valentina- e apontou para minha irmã- irá colocá-lo no colo dela, o que irá fazê-la correr, e tentar mata-lo.

— Certo capitão! –  Valentina assentiu. Revirei os olhos. Tinha a certeza de que ela mal sabia o que estava fazendo...

— Finalmente, eu tento desarmar o alarme, enquanto seu avô pega a chave e entrega a você, Nicolas, para trancar aquelas barangas no banheiro.

Ele continuou:
— Bem-sucedido eu destravo o alarme e então todos corremos, ao abrirmos a porta, cuja chave também estará na mão do seu avô.

De repente, tive uma ideia que iria nos poupar muito tempo:
— Posso chamar um UBER? Assim pulamos a parte de correr.- sugeri.

— Que cara é esse?- meu avô indagou totalmente confuso. Eu ri:

— Não é uma pessoa avô. É tipo um táxi. A gente paga e ele vem... Só que tudo pelo celular.- mostrei meu celular com o aplicativo aberto ao meu avô.

Barnabé riu.

&&&

Praticamente todo mundo foi dormir ás 6:00 da tarde, já que as enfermeiras faziam questão de colocar a gente para dormir bem cedo. Acho que era como o povo da roça, que dormia cedo e acordava ás cinco da manhã.

Bom, não era nem preciso dizer que nós- crianças- não estávamos nem um pouquinho com sono. Na verdade, estávamos até bem agitados, ansiosos, eu diria.

Como um plano de emergência, eu e Valentina mexemos a maior parte do tempo no celular até cairmos no sono definitivamente. Estávamos em um quarto só para nós, dividindo uma minúscula cama de casal, enquanto o vovô dividia o quarto com Barnabé.

Conforme havíamos combinado, nosso plano ainda estava de pé. Só esperaríamos o sinal de Barnabé, que passaria um pouco antes de 00:00 no nosso quarto. Mas até lá havia muito chão...

Mas, aí, algo bem estranho aconteceu. Fui acordado pela Valentína, que como sempre era bem doce quando fazia isso.

— Nicolas, Nicolas!!- ela me chamou.

— O que foi Valentina?- perguntei, com a cara no travesseiro.- O que foi dessa vez?

— As paredes estão tremendo.- ela disse.

Achei que era mais uma daquelas imaginações malucas de príncipes e princesas dela e decidi ignorar. Ela me chacoalhou de novo.

— Valentina!- gritei, incomodado. – O que você tem contra o sono?!?

— Vem Nicolas, coloque seu ouvido aqui.- então ela me puxou para perto da parede. Encostei meu ouvido na parede fria e não demorou muito e entendi o que Valentína queria dizer. As paredes estavam realmente... tremendo. Ouvi um murmúrio bem alto do outro lado da parede:
— CÊS NÃO VÃO PEGAR MEUS NETOS!! NÃO VÃO NÃO!!!!- descobri que era a voz do vovô Bento, que gritava bem alto. Parecia que ele estava esmurrando a parede.- SEUS PATIFES!! VOCÊS ESTÃO MATANDO CACHORRO A GRITO. VEM! VEM! QUE EU MATO DOIS COELHOS COM UMA CAJADADA SÓ!!!

Decidi deixar esse fato de lado, apesar do vovô continuar gritando e jogando as coisas no chão. Ouvimos a voz das outras enfermeiras entrando no quarto, procurando acalmá-lo. Ouvi um barulho de vidro sendo quebrado e algo duro batendo com força no chão. Eu ficava feliz de ele querer defender a gente, mas eu não sabia que ele levava isso tão a sério.

Então, voltamos a dormir. Até que...

A porta do nosso quarto se abriu. Valentina me chamou com uma voz bem baixinha. Uma figura encurvada e meio cambaleante apareceu no quarto, e seguiu para a porta do banheiro da suíte.

A pessoa acendeu a luz e nem nos percebeu. Era um velhinho, que fechou a porta bem devagar. Fiz um sinal para que Valentina ficasse quieta, e finalmente ela me obedeceu. Ouvimos alguns barulhos bem constrangedores vindo do banheiro e um cheiro horroroso invadiu nosso quarto. O velhinho estava com piriri. E os barulhos de gases não paravam por aí.

Pois é. Bela noite em um quarto de asilo. Era tão boa, que voltamos novamente a dormir e então finalmente, fomos acordados por Barnabé. A operação iria começar.


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