Proibido para menores de 70 anos escrita por Gabi Wolf, Giovanna Wolf


Capítulo 17
O show de Filomena - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Depois de uma viagem longa- e bota longa nisso >o<- Estamos de volta, com mais um capítulo da história :)



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Acordei um pouco antes das oito porque havia perdido o sono, devido o fato de eu ter passado a noite inteira ouvindo a linda sinfonia de roncos dos meus companheiros de quarto.  Acho que vocês entenderiam a situação se estivessem no meu lugar. Que ciúme da Valentína. Deve ter dormido tranquilamente.

A primeira coisa que eu fiz foi ligar o celular para descobrir como realizaríamos o sonho da Filomena. Entrei no site de informações do The Voice Brasil e tive uma péssima surpresa. As inscrições haviam se encerrado há mais ou menos dois meses atrás. Ou seja, eles estavam entrando quase no final do programa.

E então percebi que teríamos que fazer isso do jeito difícil.

Logo após de quase todo mundo ter acordado- menos a Valentína, que como eu havia imaginado, estava dormindo como se estivesse deitada em uma nuvem- contei a notícia a patota e sugeri:

— Por que nós não invadimos o programa?

— Sei não... É muito arriscado. – Vovô Bento parecia não concordar.- Lembra do que aconteceu no circo?

— Quase fomos presos.- Manuel bufou.- Só de pensar em dividir o xilindró com esses velhos fedidos...

Percebi que Tia Filomena havia acabado de dar um sorriso triste. Mas, como se tentasse não se importar, levantou a cabeça e a meneou, sorrindo:

— Tudo bem, vocês não precisam fazer isso.- ela suspirou, se ajeitando na pequena poltrona de couro vermelha do hotel, enquanto o resto da galera se dividia sentados entre a cama e o sofá.- Manuel e Bento estão certos. Não é justo com vocês. Ainda há muitos outros sonhos para serem realizados e colocar todos em risco por minha culpa não é o que eu quero. Sinto muito, meninos.

Fiquei com pena de ter ouvido aquilo. Quase fomos presos realizando o sonho de Manuel, mas, isso não nos impedia de fazer o resto, não? Afinal, éramos uma equipe. Todos tinham direito a realizar seus sonhos, inclusive Tia Filomena. E pensando nisso, me levantei de onde estava sentado e protestei:

— Isso não é justo! – Disse, enquanto todos encararam minha ação repentina. Até mesmo Camilla ficara impressionada.- Começamos isso e vamos até o fim. E além do mais, Manuel- dirigi firmemente o olhar para Manuel- Não fomos presos. Estamos aqui, não estamos?!? E acima de tudo, somos uma equipe. É isso o que fazemos um pelos outros. Nos arriscamos. Tentamos. Vivemos.

— O guri tem razão.- Francisco se levantou, indignado.- Vocês são homens ou sacos de batata?!?- Acho que aquilo era um jeito de dizer “medrosos” na língua das antigas.- Coragem homens!

Por um momento, me senti em um daqueles filmes de guerra, onde um soldado animava os outros e acendia a tocha dos demais, montado a cavalo, em uma daquelas cenas heroicas e únicas. Realmente, era incrível ver Francisco falando com tanta disposição, como um cavaleiro medieval. Era o tipo de coisa que a gente raramente vê na vida real.

— Quem está comigo? - Francisco perguntou. Todos ficaram em silêncio.

Barnabé rapidamente, com ajuda de sua bengala, se levantou da cama onde estava, e em um gesto amigável, se colocou atrás de Francisco, dando-lhe alguns tapinhas nas costas. Acho que isso significava um sim.

Vovô Bento fez o mesmo e deu um sorriso solene.

Por sua vez, Filomena se ergueu- o corpo totalmente ereto, como o de uma rainha, com uma mão sobre a outra, levemente caídas a frente de seu corpo – e se pronunciou:

— Nada mais justo do que se arriscar.- ela começou.- Vivemos uma vez na vida. E se formos presos, quem se importa?!?

Ouvi um eu me importo baixinho e tinha parcial certeza de que vinha de Manuel.

— É nossa última oportunidade. Vocês não conseguem enxergar isso? Ou estão cegos pela falta de esperança e a ausência de auto-confiança?!? O Manuel que eu conheço não age assim... E o resto então, nem se fala.... Vocês precisam se esforçar ou tudo será em vão.... Não entendem?!?

A única pessoa que restava era Manuel, e o mesmo nem sequer havia levantado o olhar do chão. Estava pensativo, sua touca vermelha de motoqueiro caí-lhe sobre as suas arqueadas sobrancelhas esbranquiçadas.

Porém, como eu esperava, ele levantou o olhar lentamente e após coçar a sua viscosa barba de papai Noel, notei que um pequeno sorriso havia se formado debaixo daquele monte de cabelo todo.

— Estou dentro então.- ele falou, ao mesmo tempo que bateu a palma da mão em uma das coxas. Logo em seguida, levantou-se.- Estou cansado de fugir e me esconder. Não me importo tanto em ser preso. Na verdade, só um pouquinho.- ele cortou o ar com as mãos, como se mostrasse se sentir indiferente- Mas, isso não importa. Eu quero e vamos realizar o sonho de Filomena, custe o que custar. Nem que tenhamos que invadir aquela...- ele iria falar um palavrão, mas foi cortado pelos olhares de reprovação de seus companheiros- aquela sede de televisão.

Todos bateram palmas. Aquilo estava bom demais para ser verdade. Agora, o grupo havia realmente se reunido. Bom, pelo menos é o que parecia.

A folia era tão grande que alguém bateu na porta. Enquanto todos dançavam ou rebolavam a pança- como o Manuel- ou demonstravam outras maneiras de se comemorar algo, decidi atender a porta.

— Alguém pediu serviço de quarto? – Era uma camareira, que aparentemente estava confusa com tanta gritaria.

— Acho que não.- respondi.- Talvez mais tarde. Obrigado.

E antes que ela falasse mais alguma coisa, fechei a porta na cara dela. Nada pessoal. Mas é que quando se está animado, não se pensa muito nessas coisas. Era como se eu estivesse anestesiado ou mergulhado em tantas emoções boas ao mesmo tempo. Como se finalmente, o trem estivesse entrando nos trilhos.

Tia Filomena se aproximou de mim. Ela estava com um baita de um sorriso no rosto, exibindo dentes tão claros quanto um cristal recém-polido, contente.

— Obrigada Nicolas. Você é um garoto de ouro.- ela falou para em seguida despejar um beijo em minha testa.- É por isso que todos gostam de você sabia? E aliás- ela deu uma piscadela- Você se parece mais com seu avô do que você imagina.

Aquilo me deixou curioso. Meu avô sempre fora do tipo quietinho, que concordava com tudo. Como ele poderia ser como eu?!? Éramos dois casos bem diferentes, já que eu era bem mais agitado que meu avô, e além disso, quanto a aparência, eu não havia puxado nada dele. Do que Tia Filomena estava falando?

— Mandou bem Nicolas.- Camila se aproximou, batendo palmas. Imaginei que fosse um gesto sarcástico dela. Bem do tipo Camila.- Eu não teria feito melhor.

— Hã???  Você está tipo.... Me elogiando?!?- Isso havia me deixado mais confuso ainda. Primeiro ela me tratava como um lixo e depois, como um lixo de novo. E em seguida, estava sendo legal? Quem entendia as garotas? Tão.... Esquisitas.

— E qual é o problema disso?!?- ela estava surpresa.

— Nada.- respondi, antes que ela mudasse de ideia.- É que... Você não é do tipo que elogia.

— Como assim?!?- sua expressão mudara. Ela havia arqueado uma das sobrancelhas. Acho que não era um bom sinal.- Está me chamando de rude?

— Não, não é bem assim... Não leve para o lado pessoal mas- tentei soar o máximo delicado o possível, porque se não o fizesse, acho que teria uma tatuagem grátis de uma mão avermelhada estampada na minha bochecha.- Camila, você sabe do que eu estou falando, não sabe?

— Não, Nicolas. Não faço ideia do que você está querendo dizer.- ela disse em um tom um pouco nervoso. Comecei a soar frio. Eu iria apanhar. E muito.- Se quiser falar alguma coisa, desembucha.

— Eu só estava querendo dizer que... Você não costuma fazer essas coisas.- expliquei.- Você sempre me trata mal e por aí vai... É meio estranho ser elogiado por você. Não que eu não goste, mas é que, ainda assim, soa meio esquisito.

— Se não quiser, eu não te elogio mais.- ela simplesmente falou.- Acho que você prefere do outro jeito, né?!? Tudo bem então. Pode devolver.

— Devolver o quê?

— O elogio.

— E isso é coisa que se devolve?!?- eu estava indignado.

— Olha, Nicolas. Deixa para lá.- ela revirou os olhos.- Não dá para conversar com você. Eu te elogio e você não gosta, reclama o tempo inteiro.... Dá para escolher de que lado você quer ficar?!?

E então saiu bufando, como um dragão furioso. Eu, hein? Dá para entender essa menina?!?


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Notas finais do capítulo

P.S.: Desculpem-nos a demora, problemas técnicos.



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