Proibido para menores de 70 anos escrita por Gabi Wolf, Giovanna Wolf


Capítulo 16
Hotel


Notas iniciais do capítulo

Como vai patota?



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P.O.V Nicolas

Depois de ter visto o show incrível de Manuel na moto- levando em conta que seus antigos colegas de motociclismo ficaram de boca aberta enquanto Manuel fazia aquelas manobras radicais.- decidimos que era hora de parar de realizar sonhos por um dia.

Encontramos o hotel mais próximo o possível, já que ninguém estava afim de emprestar a sua casa para o resto do grupo. Realmente, juntar várias pessoas diferentes no mesmo teto era bem complicado.

— Você foi radical Manuel! – falei, dando um tapinha amigável nas costas dele.

— Eu sei sou bom em tudo o que eu faço! – disse Manuel convencido.

E eu pensando que ele seria um pouco mais humilde... Aquele Manuel era tudo menos humilde.

— Bom, e o que devo falar de você tio Barnabé... Você foi simplesmente INCRÍVEL, tirando a parte que beijou minha mão, mas... – falei todo eufórico – como fez tudo aquilo???

— Um mágico nunca revela seus segredos...- tio Barnabé deu uma piscadela.

Chegamos na recepção ao entardecer. Não era um hotel cinco estrelas, mas, acho que ia dar para o gasto. Estávamos sentados em um sofá vermelho, enquanto Filomena e Francisco faziam a nossa reserva.

Ficou decidido que as meninas ficariam em um quarto –sorte delas, afinal só tinham três- e os meninos ficariam em outro. Ou seja, ia ser uma longa noite para mim.

Vovô Bento abriu a porta do quarto, com a chave enferrujada que havia recebido. O pequeno cômodo tinha cheiro de mofo e poeira. Pelo menos as camas estavam organizadas. Eram duas de casal e um sofázinho. E tinha uma janela que dava para a vista da pequena cidade onde estávamos morando.

Nada mal para uma única noite.

— Ai..ai...- Barnabé se acomodou na cama de casal, tirando suas velhas botinas e desabotoando sua camisa branca amassada. Fechei minhas narinas quando vi aquele pé de sola branca no lençol branquinho na cama.- Fazia tempo que eu não dormia em um hotel.

— Imaginei.- vovô Bento riu.- Acho que é hora de descansarmos. Passamos muitas emoções por hoje...

— Nem me fale.- Manuel deu um arrotão.- Se precisarem de mim, estou dormindo.

Pelo visto, acho que eu era o único que estava com pique naquele momento. E por alguma razão, imaginei que o quarto ao lado, o das garotas, deveria estar mais animado. Então sai do quarto e fui para o outro, que estava aberto.

— Iuuhuuuu!!- Valentína estava pulando na cama de casal só dela e da Camila, enquanto a Filomena tinha outra cama de casal só para ela. Que sorte. Não eram elas que tinham que dormir ao lado de gente roncando e chutando as paredes no meio da madrugada.- Eu sou um canguru! Eu sou um canguru!- ela cantarolava. Sorte dela que a mamãe e o papai não estavam ali, porque se estivessem, ela receberia um castigo na certa. Um mês sem sobremesa.

— Isso sim é que pular!- A Camila também estava pulando?!?- Isso é demais.

— Ah não!- reclamei em voz alta. Ambas pararam de pular e me viram na porta do quarto, de braços cruzados.- Vocês estão pulando?!? Que folga é essa! Estão achando que aqui é a casa da mãe Joana?

— Na verdade, aqui é o hotel da mãe Joana.- Camila respondeu, educada como sempre.- E não a casa dela.

— O hotel chama ”Hotel da mãe Joana”?

— Claro. Não sabe ler placas? – ela falou, como se fosse óbvio. Que tipo de hotel chamava “Hotel da mãe Joana” nos dias de hoje?

— Claro que sei.- franzi o cenho, irritado.

— Vai ficar aí parado ou vai fazer algo útil? - Camila sentou-se na cama, e perguntou enquanto tirava suas meias.

— Vem Nicolas!- Valentína me chamou.

Sabia que não poderia fazer isso. Porém, pensei duas vezes. Mamãe e papei não estavam ali. E se fossem brigar comigo por causa disso, iriam brigar com Valentína e Camila também. Portanto, não haveria problemas, haveria?

Rapidamente, tirei meu tênis e com minhas meias acinzentadas, pulei direto do carpete marrom claro para a cama.

Camila, surpresa, me observou. Comecei a pular na cama, e fui seguido por Valentína, que estava rindo de mim também. Camila mudou de ideia e começou a pular também. Acho que nunca tinha ficado tão eufórico na minha vida. Era maravilhosa aquela sensação de não se ter o peso da gravidade, como se eu estivesse pisando na lua.

— Te peguei! – Valentína anunciou, cantarolando, ao me cutucar.

— Ah, é?!?- decidi pegá-la de volta. Camila riu e decidiu entrar na brincadeira também.

Um travesseiro caiu no chão. O lençol estava desarrumado. Ouviam-se gritos e risadas de crianças por todo o corredor do sétimo andar do hotel. Dei uma cambalhota na cama. Valentína estava com o cabelo desarrumado. Nunca tinha visto Camilla rir tanto em um único dia. É realmente, foi divertido.

Eu estava pulando quando de repente, ouvi o barulho de algo duro caindo no chão. Olhei para Camilla:

— Você ouviu isso?

— Ouvi.- ela virou sua cabeça de um lado para o outro, como se procurasse algo.- Cadê a Valentína?

Ambos, depressa, olhamos para de onde vinha o barulho. Encontramos uma Valentína caída, de pernas pro ar, com seu vestido cobrindo parte de sua cabeça.

— Valentína? – Chamei-a. Desci da cama e coloquei seu vestido de volta no lugar. Ela forçou as sobrancelhas e as inclinou, seus lábios inferiores formaram um biquinho. Sabia o que isso significava.  Ah, não... Ela iria chorar.

E foi isso que aconteceu.

Camila imediatamente imitou o que eu havia feito- pois até aquele momento ela estava deitada na beirada da cama, só olhando a cena- e ajudou Valentína a se levantar. Vasculhei seu rosto, para ver se ela tinha machucado. E logo no início de sua testa, um fiozinho de sangue escorria.

— Nicolas!!- ela chorava. Então, inusitadamente ela me abraçou.

— Vamos limpar isso...- suspirei.

Camilla ficou nos olhando solidariamente, mas logo depois decidiu me ajudar. Colocamos Valentína em uma poltrona e tentamos secar o excesso de sangue com um papel higiênico que eu havia pegado no meu quarto provisório.

Filomena um pouco depois, abriu a porta do banheiro, e não demorou muito para que um pequeno alvoroço acontecesse.

— O que houve querida?- ela se agachou perto de Valentína e perguntou.

— Estávamos brincando na cama... e aí... Valentína caiu e bateu a cabeça.- Camilla piscou para mim e finalmente fiquei feliz por ela ter feito algo gentil. Porque se soubessem que estávamos pulando na cama, eu estaria bem encrencado.

Acabamos tendo que ir para o hospital, para dar uns pontos na testa da Valentína. Mas, acabou tudo certo afinal, porque logo em seguida, voltamos novamente para o hotel. Fiz questão de ficar com Valentína, antes de ela adormecer. Afinal, eu não pude deixar de me sentir um pouco culpado pelo que havia acontecido.

Ela estava quase adormecendo, deitada na cama, quando de repente, ela fez um pedido inusitado:

— Me conte uma história Nicolas?

— Agora?

— É.

— Mas... eu não sei que história contar.- admiti, sentado na beirada da cama.- Eu tenho uma ideia melhor. Por que você não pede para o vovô Bento?

— Ele já está roncando.

— O tio Barnabé?

— Roncando também.

— Manuel?

Ela tornou a assentir. Será que havia sobrado alguém mais, que não estava roncando?!? De repente, tive outra ideia. Antes que Filomena se deitasse e dormisse na outra cama, a chamei, mesmo sabendo que ainda não a conhecia muito bem.

— Tia Filomena?- Não queria ser meio folgado, mas achei que falar “tia” na frente do nome de uma pessoa era algo legal.

— Diga Nicolas.

— Você pode nos contar uma história? – Perguntei, desejando mentalmente que ela concordasse.

— Claro.- ela sentou-se na beirada da cama, ao meu lado e começou: - Era uma vez uma garota muito pobre. Ela morava com sua madrasta e suas meias-irmãs bem chatas. E um dia, ela soube que iria acontecer um baile no reino...

Ela continuou contando a história da Cinderella. Tanto Valentína como Camilla acabaram adormecendo. Tia Filomena realmente era uma ótima contadora de histórias. E quando ela terminou, decidi perguntar:

— Como você consegue? – Perguntei. Ela me olhou carinhosamente.- Ter paciência com todo mundo? Eu não sei... Fazer a Valentína dormir é praticamente uma tarefa impossível...

Ela deu uma risada baixinha:

— Ora meu querido... É simples. Posso ser velha, mas ainda assim me sinto como uma criança. Eu me lembro de quando era jovem e tento passar esse sentimento para os dias de hoje. Gostava muito de histórias de princesas e fantasias e acho que é uma das coisas que as crianças mais precisam hoje...

Ela falou aquilo e eu decidi ficar quieto. Acho que foi uma boa ideia a história de Filomena. Talvez, isso era o que Valentína precisava. Um pouco de histórias e carinho.

Suspirei. Quem sabe assim ela pararia de ser tão chata?


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