Proibido para menores de 70 anos escrita por Gabi Wolf, Giovanna Wolf


Capítulo 14
O plano circense - parte 2




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P.O.V Nicolas

— Eu sei trapacear muito bem... – disse Francisco orgulhoso

— Acho que todos sabem disso duas-caras – disse Manuel

— Barnabé, Manuel e a garota vem comigo, enquanto Valentina, Filomena e Bento ficam distraindo o cara da bilheteria. – disse Francisco.

— Mas eu quero ir com vocês. – implorei

— Tudo bem, então o garoto vem com a gente – disse Francisco

Eu, Barnabé, Francisco e Manuel fomos ao interior do circo, e nos deparamos com uma cerca bem alta. Engoli em seco ao notar que teríamos que pular a bendita para entrarmos onde queríamos.

— Manuel, preciso de uma ajudinha aqui.- Barnabé pediu e Manuel logo entendeu que precisaria oferecer sua mão para que Barnabé pegasse impulso para atravessar a cerca.- Garoto, fique de vigia.

— Ok.- falei, sem ter muita certeza do que estava fazendo. Mas então, lembrei.- Isso não é ilegal? Tipo, podemos ser presos por invasão a domicílio, sabiam?

— E daí?!?- Manuel questionou.- Ninguém prenderia três velhos idosos caducos mesmo.

— Eu não sou um velho caduco!- protestei, ainda de olho se havia alguém por lá.

— Ah... Então aí eu não sei.- Francisco falou, como se não fosse ele que ia ficar trancafiado em uma prisão fedorenta por realizar o sonho maluco de uma pessoa que eu mal conhecia- e que ainda por cima era bem mal educada.

Bufei. Eu não era importante mesmo...

Barnabé conseguiu chegar ao topo da cerca e logo em seguida, como um gato de rua bem flexível- algo inimaginável para alguém da idade dele- ele pulou para o chão, gerando um ruído oco de terra dura. Em seguida, foi a vez de Francisco, que demorou um pouco mais, mas conseguiu atravessar também.

Através dos quadradinhos de ferro, percebi que faltava Manuel. Se ele achava que eu ia dar pezinho para ele pular, ele estava completamente equivocado.

Porém, ao contrário do que eu imaginei, ele não precisou de ajuda. E quando ele ia subir, perguntei:

— Mas, e eu? Vou ficar aqui também?

— Você escala a cerca também.- Manuel respondeu, como se fosse óbvio demais.

— Mas... Eu não sei pular cerca.- argumentei, preocupado.

— Relaxa. É como escalar uma goiabeira.- Francisco apontou.- Você consegue.

Tá. Ok. Eu consigo. Lembrando que eu nunca havia escalado uma árvore antes, muito menos uma goiabeira. E pensar que aqueles caras já haviam escalado muitas árvores na vida.

Depois de Manuel ter escalado, era minha vez. Respirei fundo. Fiquei de frente para aquela cerca enorme.

“Você não vai me deter cerca”. Pensei.

Coloquei um pé em um quadradinho, e agarrei outro bem firme com uma mão. Em seguida, ao perceber que estava firme, agarrei outro quadradinho com as mãos.

— Quer ajuda garoto?- Tio Barnabé perguntou.

— Parece minha avó escalando uma cerca.- Manuel riu.

— Eu vou conseguir, tá legal?!?- Falei um pouco irritado. Consegui sair um pouco do solo e seguindo os mesmos processos anteriores, eu poderia dizer, sinceramente, que eu estava indo perfeitamente bem para um iniciante fora da lei. Afinal, era a minha primeira vez.

E eu estava quase chagando no topo, quando:

— Garoto, você quer ser preso?!?- ouvi alguém gritar e achei que fosse uma policial. Seria o meu fim?!?

Quando percebi, ouvi um estrondo bem forte. Eu havia caído de bunda e tudo no chão de terra. Minha bunda estava dolorida. Eu teria conseguido se não fosse a tosca da Camila que havia gritado aquilo.

— Ei, porque você fez isso?!?- indaguei, furioso, me levantando no chão e espanando o pó vermelho do meu short.

Ela riu:

— Foi hilário. Faça de novo.- e ficou lá gargalhando, como se eu fosse um palhaço.

— Pombinhos! Não temos tempo.- Francisco parecia preocupado, olhando de um lado para o outro.

— Pombinhos?!?- perguntamos ao mesmo tempo, incomodados. Bem longe de mim gostar de uma garota tão arrogante como Camila.

E então, naquela confusão toda, Camila havia se aproximado da cerca.

— Vai escalar garotinha? - Perguntei, com a voz que fazia para Camila.- Cuidado para não quebrar a unha.

— Sossega Nicolas. Aprenda comigo.- ela então, repetiu os mesmos passos que eu, mas não pude deixar de ficar boquiaberto, ao notar a destreza com que ela escalava a cerca. Ela parecia um pequeno rato, escalando um muro.

Não conseguia segurar minha boca. Ela aterrissou suavemente. Parecia uma ginasta olímpica. Inacreditável.

— O que foi Nicolas, um gato comeu sua língua? – ela provocou.

— Não.- respondi.- Estou vendo o quanto você é leiga.

— Sei...

— Vamos logo crianças! Não quero passar a terceira idade na cadeia.- Francisco nos apressou.

Subi finalmente a cerca e cheguei ao outro lado. Agora, estávamos todos juntos.

— Então, como vamos entrar agora? Aqui está cheio de funcionários...- falei, olhando para ver se alguém havia visto o que eu havia feito.

— Deixem comigo. Me sigam.- Barnabé ordenou. Marchamos em passos lentos atrás dele. Achamos uma pequena brecha na tenda gigante. Acho que aquilo deveria ser os bastidores. Havia um funcionário na porta. Barnabé o cumprimentou:

— Como vai amigo?- e então, ascendeu o seu velho cachimbo.

— Ei! O senhor não pode entrar aqui! – o funcionário esgoelou.- Essa ala é permitida para apenas funcionários desse circo.

— Sério? Não estou vendo placa nenhuma...- Barnabé bocejou e arregalou os olhos. Deu umas batidinhas no seu cachimbo. Um pó preto caiu no chão, sujando o carpete vermelho. Percebi que havia caído um pouco no sapato lustroso do funcionário. Ele abaixou o olhar para a direção dos mesmos. Barnabé sorriu.

E então, como aqueles filmes de Kung-fu, Barnabé sacou sua bengala, que estava bem colada ao corpo, junto com seus braços e acertou em cheio a cabeça do pobre homem. O funcionário pareceu meio atordoado e antes de cair com tudo de cara no chão, apalpou o lugar onde fora ferido.

— Uau.- soltei bem baixinho.- Onde o senhor aprendeu a fazer isso?

— É a idade meu caro amiguinho. É a idade...- ele suspirou.

— Que legal! – exclamei. Barnabé seguiu para dentro da tenda. Ao virar pela esquerda, avistamos um grande espaço vazio, cobertos por arquibancadas organizadas em fileiras. Parecia um anfiteatro romano, daqueles que eu via em meus livros de escola. No centro, porém, um pouco mais para o lado oposto da tenda, havia um palco em forma de elipse. E sobre ele, estava uma cortina vermelha de veludo, que pendia do teto e se arrastava no palco de madeira.

— Acho que atrás daquelas cortinas estão as coisas...- Francisco opinou.- Devemos achar uma moto ali. Mas, acho que por enquanto, o melhor é esperarmos o show começar. O que acham?

— E vamos ficar escondidos até lá?- perguntou Manuel.

— Exatamente meu chapa.- Barnabé disse.- Mas não vamos esperar só escondidos...

— Como assim?- não pude deixar de ficar confuso.

— Vamos ficar disfarçados.- Francisco acertou em cheio, porque vi que Barnabé assentiu com a cabeça.

— E então ficamos disfarçados antes e durante o show? – Questionei.- Mas, onde vamos achar roupas de circo?

— Estamos em um circo, dãã...- Camila retrucou, como se fosse óbvio demais.- Deve ter alguns trailers por aqui, onde as pessoas se trocam. Podemos dar uma olhada e achar uma fantasia para cada um...- ela olhou para o avô, com um cara estranha.- Mas vamos ter que achar uma GG para você Manuel.

— Essa é minha netinha! - Manuel se orgulhou.- Mas ei! Eu não sou tão grande assim.

Todos rimos.

@@@

Eu e Camila ficamos com a missão de encontrar disfarces para todos, e para isso entramos no primeiro trailer que vimos. E graças ao bom pai do céu, Valentína havia ficado com o vovô, se não nosso plano iria por água a baixo se ela visse uma daquelas fantasias pomposas que havíamos encontrado em uma das araras de roupas que encontramos naquele carro móvel.

Sentei em um pequeno sofázinho disposto encostado na parede e esperei enquanto Camila escolhia algumas roupas:

— Vai demorar muito aí?!?- perguntei e percebi que estava parecendo meu pai quando minha mão parava naquelas lojas de roupas chiques no shopping, enquanto ele esperava em uma das poltronas acenando para tudo com o que é vestido que a mamãe mostrava a ele.- Precisamos correr antes que alguém nos ache bisbilhotando aqui.

— Calma lá, folgado.- ela replicou, passando a mão pelas diversas roupas coloridas. - Se está com tanta pressa assim, por que não me ajuda?

— Tudo bem então...- bufei, me levantando.

Cheguei perto da arara e peguei uma roupa qualquer. Na verdade, ela era rosa e bem frufru. Era um tutu de bailarina, cheio de purpurina e aquelas coisinhas que as garotas gostavam de usar. Imaginei que Camila se encaixaria muito bem nela, então estendi a peça de roupa a ela:

— Vista isso. É de menina.- ela fez uma careta de “Você ficou louco” e então, em um gesto inesperado, empurrou aquela coisa esquisita para mim.

— Eu tenho uma ideia melhor.- ela declarou.- Por que você não usa?

— Não! Isso é de menina. Eu não vou usar isso.- reclamei, jogando a peça no chão.

— Parece que temos um machista aqui...- ela suspirou.- Anda Cinderella, o príncipe não tem a noite inteira...

— Eu não vou vestir isso! – Protestei.- E eu não sou machista.

— Ah, você é sim.- ela fez um biquinho irritante, me provocando.- Claro que é. Está agindo igual a um.

— O fato de eu não querer me vestir como garota não me faz machista, sabia?- afirmei, levando em conta que a maioria dos homens não-machistas não se vestiam como mulher.

— Não tenho o dia inteiro.- ela cantarolou.

Eu sabia que isso ia dar encrenca...


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