Proibido para menores de 70 anos escrita por Gabi Wolf, Giovanna Wolf


Capítulo 10
Lembranças só que não...


Notas iniciais do capítulo

Acho que esse foi um dos mais longos... Ufa! Demorou um pouquinho mais saiu... Ah, e mais uma coisinha, esse capítulo pode ser dedicado um pouco mais ao Nicolas. Esperamos que gostem!



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Depois daquela recepção calorosa entre amigos, Francisco nos convidou para entrar na humilde casa dele. Quando entrei, percebi que ela era bem menor que a mansão de Manuel- claro, não se compara uma casa com uma mansão-, na verdade, tratava-se de um simples cafofo.

A sala era praticamente composta por uma estante com uma TV velha- não tanto quanto a do asilo-, um sofá com alguns buracos e uma mesinha de centro, também de madeira. O resto era decoração.

Enquanto os velhinhos discutiam lá na cozinha, sobre o que iriam fazer para achar a última do grupo: a tal de Filomena, sentei no sofá ao lado de Valentína e Camila. A última estava jogando um jogo portátil- um PSP novinho em folha.

Sempre me sentia meio desconfortável na casa de estranhos, principalmente quando a mamãe me levava nas casas ricas dos amigos chatos dela, mas naquela vez eu havia me superado, por simples três motivos:

Primeiro: aquela casa era muito calorenta, já que tinha um teto bem baixo;

Segundo: a Valentína estava me irritando futricando nas coisas que não eram dela;

Terceiro: Estava ao lado de Camila, a pessoa mais antissocial que eu havia conhecido, mas também a mais bonita.

Resumindo, em todos os pontos, a minha situação estava ruim.

Levando isso em conta, tentei me distrair olhando o ambiente ao meu redor. Acho que isso funcionava de vez em quando. Percebi que na estante, o Francisco tinha um cachorrinho de brinquedo, daqueles que mexiam a cabeça para cima e para baixo. Era um tanto engraçado, destacando o fato que ele era verde.

Além disso, uma música preenchia a sala. E pelo que eu consegui ouvir, já que ela estava disposta em um volume bem baixo, o cantor não era do Brasil. Aguçando meus ouvidos, percebi que ele tinha um sotaque espanhol, ou melhor, a letra da música era espanhola.

Realmente o tal de Francisco tinha um gosto um tanto... diversificado. As paredes da casa dele, tinham alguns pôsteres de algumas mulheres antigas, que eu nem mesmo sabia identificar quem era, mas, a julgar pela qualidade da foto, percebi que elas eram bem velhas. Como diz minha avó: do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça.

— Nicolas, quero ir ao banheiro.- Valentína me pediu, de cabeça para baixo, esparramada no sofá onde eu estava sentado. Ainda bem que ela estava de meia-calça por baixo da roupa...

— Não tem como Valentína. O vovô está ocupado.- falei.

— Mas, Nicolas, eu quero! - Como eu detestava aquele jeito mandão dela. Era meio que um aviso, antes que ela começasse a chorar sem motivo e espernear no chão. Daqui a pouco ela começaria a chorar... E no resto, nem quero pensar no que ela faria...

Decidi evitar tudo isso:

— Tudo bem. Eu te levo.- eu me levantei e puxei a mão dela.- Vem, vamos achar um banheiro no andar de cima. Deve ter um lá.

Subimos a escada no andar de cima e entrei na porta a direita, já que estávamos em um corredor onde havia apenas dois quartos. Fechei a porta atrás de mim e nos deparamos com um quarto.

Não era muito elegante eu admito. Mas pelo menos era uma suíte, para minha alegria. Empurrei Valentína para o banheiro e esperei que ela fechasse a porta. Sentei na pequena cama de casal para esperar. Ouvi um barulhinho de água pingando.

— Tudo bem aí?- perguntei. Uma sombra se revelava escura debaixo da porta.

— Tudo.- ela respondeu.- Estou fazendo o número dois...

Ai, ai...Pensei que era o número um. Mas tudo bem. Ela já estava no banheiro mesmo.

Novamente, comecei a observar o quarto. Também não era lá aquela coisa, como o quarto em que eu e Valentína havíamos dormido noite passada, mas também transpassava um sentimento acolhedor. Tinha um toca-discos antigos e alguns daqueles CDs que mais se pareciam com uma pizza preta gigante. Era assim que as pessoas velhas se divertiam, eu acho. Dançando em discotecas, com aquelas largas calças boca-de-sino e aquelas camisetas engraçadas de bolinhas... Foi um tempo engraçado.

De repente, uma abelhinha chamada curiosidade me picou. Bem perto de mim, havia um guarda-roupa, que estava entreaberto. Percebi uma luz cintilante vinda de lá. Parecia algo brilhando com a luz do sol. Não resisti e abri o resto da porta velha de madeira. Ela rangeu.

Era uma caixa, rodeada por uma fita dourada. Retirei a fita, e mal acreditei no que vi dentro dela.

Eram fotos. Mas, não eram simples fotos. Eram literalmente AS FOTOS.

Naquele pequeno pedaço de papel preto-e-branco reconheci meu avô, quando ele era um pouco mais jovem. Ele estava vestindo uma roupa normal, para a época. E ainda era apenas um garotinho, um pouco mais novo que eu.

Seus cabelos loiros cortados em uma franjinha minuciosamente reta refletiam os raios de sol. Ele estava ao lado do que parecia ser Barnabé, agora, uma figura negra pequenininha, nada do que ele parecia ser na vida real. Na verdade, ele tinha um olhar bem triste.

Pensei por um instante, segurando aquela foto, o quanto o vovô e eu éramos parecidos. Apesar de tantos anos de diferença, no fundo, imaginei que éramos exatamente iguais.

Na minha mente, desenhei a imagem do vovô quando pequeno. Parecia um garoto, como qualquer outro. Imaginei-o pescando, como ele me dizia que gostava de fazer, ou se divertindo com seus velhos companheiros... O vovô, era uma criança, como eu. Dava para acreditar?

Isso explicava muita coisa. Sempre havia imaginado o vovô, como o vovô, sabe.... Aquelas velhas rugas, aqueles braços flácidos, aquele rosto de velhinho bondoso.... Se eu não tivesse visto aquelas fotos, nunca teria realmente me importado em imaginar como ele era da minha idade. Certamente, ele teria passado pelas mesmas situações, e tudo mais...

E agora, todos o tratavam como se ele fosse qualquer um.... Sem considerar o que ele já fora um dia... Isso realmente me deixava muito chateado...

— O que você está fazendo? – de repente, uma voz feminina perguntou. Virei os olhos para ver quem era. Era Camila, que havia me pegado observando as fotos, sentado na cama de casal. Ah, não...

— E-Eu?- levei um susto e rapidamente escondia foto atrás de mim, na esperança que ela não visse nada, apesar de eu sentir que já era um pouco tarde demais para fazer isso.- Nada...

— Você estava fazendo alguma coisa sim!- ela disse, convicta.- O que você está escondendo na sua mão?

— Já falei que não é nada!- falei, rapidamente colocando a foto no meu bolso traseiro da calça jeans. Depois me levantei para colocar a caixa no lugar onde ela estava e quando fui fazer isso, Camila teve a coragem de enfiar a mão naquele bolso.

Eu estava perdido...

— Isso é uma foto? – ela perguntou, olhando o que havia tirado de meu bolso. Ela parecia surpresa.- Era isso o que você estava escondendo? – assenti com a cabeça, um pouco inconformado com o que ela havia descoberto.- Onde você a encontrou?

— Me devolve isso! – não pensei em mais nada e me atirei contra ela. Estiquei as mãos com a maior força para pegar a foto da mão dela. Deixei a velha caixa cair no chão. Consegui agarrar a foto também.

Não, eu não ia perder a foto de meu avô. Se ela estava achando que iria me tomar aquilo, ela estava muito enganada.

Mas, apesar de eu usar toda a minha força para tomar da mão dela, ela também puxava a foto para si fortemente. Era uma espécie de cabo-de-guerra que eu nem sequer pensava em perder.

— Me dá isso aqui!- reclamei.

— Solta você! – ela puxou de volta.

De repente, ouvi um ruído de papel rasgado. Olhei para as minhas mãos. Estava a metade da foto e olhei na mão de Camila, lá estava o outro pedaço. Eu realmente, depois disso, comecei a me sentir muito mal por ter rasgado a foto de Francisco.

Camila olhou para o pedaço em suas mãos, surpresa. Ela também não sabia o que falar. Havíamos rasgado a foto.

E como se não bastasse, Valentína abriu a porta naquele momento e anunciou:

— Nick, terminei!- ela disse toda sorridente.- Ei, o que aconteceu aqui?

Rapidamente escondi o pedaço que estava na minha mão no bolso traseiro da minha calça, de onde ela nunca deveria ter saído. Camila também deu o seu jeitinho, escondendo a foto atrás de si.

— Nada. Só estávamos.... Conversando. – Menti. Decidi chama-la para descer- Vamos.

Valentína obedeceu, toda saltitante. Sobramos só eu e Camila no quarto. Um silêncio seguiu-se. Camila me estendeu o outro pedaço. Achei que ela iria dizer algo legal, mas ao invés disso, ela ordenou:

— Tô. Concerte isso aqui. Você fez a burrada.- e então colocou a outra metade nas minhas mãos e foi embora, sem mais nem menos.

Decidi não replicar, senão iríamos ter uma briga mais feia que o Manuel e Francisco. Enfiei a foto no mesmo lugar onde estava a outra e ainda incrédulo, desci as escadas, voltando para a sala onde estávamos. Como se nada tivesse acontecido.


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