O céu tornara-se negro pela fumaça dos prédios que haviam sido destruídos. Não havia mais ninguém na cidade de Paris, pois a policia e o exército francês evacuaram todos os moradores das redondezas da capital do país. Ruas e avenidas estavam destruídas e diversos destroços se encontravam por onde quer que se olhasse, se mesclando entre fragmentos de cimentos e vidros quebrados de vários comércios. Por todos os lados podia se notar o rastro de destruição de Style Queen que agora havia se dirigido até a Torre Eiffel que, mais uma vez, era o cenário que os heróis travavam a luta final com o vilão da história que começara poucos minutos atrás.

“ – Volpina, cuidado! – Abelle gritou ao ver mais um destroço caindo em sua direção.

— Ladybug! – Bombz alertou disparando um raio dourado na direção do perigo que poderia atingir a heroína. A mesma balançou a cabeça em agradecimento e o loiro tratou de chamar a atenção dos demais. – Não podemos deixar que ela alcance aquele cara!

 – Eu vou acabar com vocês! – Stella Bourgeios gritou estendendo seu bastão mágico. – Todos vocês!”

Paon sentia que todas as forças do seu corpo haviam sido sugadas de si e que alguma coisa em seu corpo deveria estar quebrada. Jogada ao chão, a ruiva tentava evitar se mexer para não sentir os hematomas de seu corpo arderem debaixo de seu uniforme. Poucos centímetros longe de si seu namorado não estava muito diferente de si. Louis fraturara um de seus braços e a dor que sentia podia ser notada apenas no seu olhar. Olhou para a O’Greens quase inconsciente e com o braço que ainda conseguia mover direito tocou levemente sua mão. A garota lhe lançou um olhar que lhe cortara o coração e ambos não conseguiram evitar as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Mesmo estando quebrados e provavelmente próximos de encontrarem seu fim jamais iriam se separar novamente. Jamais iram negar seu amor novamente. Estariam juntos até o fim.

A heroína de azul olhou para a melhor amiga do outro lado do pátio do ponto turístico e mais lágrimas foram derramadas dos seus olhos. Não conseguia ver direito, mas através da visão embaçada pôde ver a raposa respirando com dificuldade, imóvel no local onde a Rainha do Estilo havia lhe lançado.

Reprimiu um soluço e desviou o olhar para os outros parceiros de combate estavam.

Marinette era socorrida por Adrien, ambos com sua transformação do miraculous chegando ao fim. Os dois jovens estavam acabados e com os uniformes rasgados em vários locais. Tentavam se levantar do chão, mas suas expressões indicavam que os machucados e fraturas não tinham passado longe dos seus corpos. Mas a morena não parecia só preocupada com a sua situação e sim com as figuras que estavam poucos metros de distância de si.

Félix e Bridgette estavam lado a lado, totalmente desacordados. Pequenos ferimentos estavam a mostra no rosto e pelo resto do corpo de ambos, mas mesmo assim a Dupain-Cheng sabia que estavam vivos. Engolindo em seco, encarou a terceira figura próxima a eles que já não tivera a mesma sorte que ambos. August era o seu nome. Não sabia de sua história, nem a ligação que tal homem tivera com sua prima e seu cunhado e muito menos quem era aquele desconhecido. Até aquele momento não conseguira compreender o porquê daquele simples cidadão ter se envolvido naquela história e, principalmente, sacrificado a sua vida por ela e sua equipe.

August estava morto, e Marinette sabia que tal fato teria um grande impacto na vida de sua prima mais tarde.

Adrien, por outro lado, prestava atenção na quarta e última figura presente embaixo da Torre Eiffel. Uma cabeleira loira totalmente despenteada estava agachada ao chão encarando o, mais novo e temporário até aquele momento, integrante da equipe dos seus amigos: Bombz. Ou Alex, como ouvira a mesma lhe chamar. Ela parecia muito abalada e o gatuno conseguiu perceber seus ombros balançando levemente.

— Por favor... – a loira suplicou o mais baixo que conseguiu. O garoto apenas tentou soltar o sorriso presunçoso que sempre carregava em seu rosto. – Não vá... Eu preciso de você Alex...

— Não abelhinha... Você... – o mesmo reprimiu um gemido de dor e voltou a encarar a mesma a sua frente. Com cuidado e sentindo o braço quase sem forças, acariciou o rosto da filha do prefeito e enrolou um dos dedos nos fios soltos e totalmente bagunçados de sua amada. – Você nunca precisou de mim. Dentro de você e dos seus amigos há uma coisa que eu nunca tive, mas pude presenciar nos poucos momentos perto de vocês. A amizade de vocês é tão mágica quanto o poder do cristal de Style Queen. – novamente sentiu um dor passar como uma onda por si e lhe arrancar um gemido doloroso. – Faça o que eu não tive a oportunidade de fazer Chloe... Use aquilo que você tem e não o que você gostaria de ter. Não faça como eu e vá pela cabeça dos outros... Senão...

— Alex... – chamou sem notar as lágrimas de seu rosto molharem o rosto do rapaz. O mesmo deu um sorriso fraco com tamanha preocupação de sua amada.

— Eu amo você abelhinha. – sussurrou sentindo o pesar em seus olhos. Queria dormir. Queria que a filha do prefeito de Paris soubesse dos seus sentimentos antes que fosse tarde. Antes do seu fim. Sua voz ficou arrastada e o mesmo que se esforçar para continuar. – Mesmo com esse seu nariz empinado, esse seu jeito metido... Mesmo... Mesmo com todas as suas falhas... Você é o meu sonho.

Chloe sentira um aperto enorme em seu peito, mas mesmo assim conseguiu deixar escapar um pequeno suspiro. Um mínimo sorriso apareceu debaixo das lágrimas.

— E... Você é o meu. – revelou, sentindo finalmente como era amar uma pessoa. Pela primeira vez desde que o conhecera a loira finalmente admitia o que sentia pelo rapaz.

Enquanto o resto de sua equipe tentava se recompor e se colocar de pé, o Zuberg deixava sua mão se abaixar lentamente do rosto da Bourgeios e olhava uma última vez para sua abelhinha, fechando os olhos e em seguida dando seu último suspiro.

Atrás de si, seus amigos sentiam a dor que a mesma estava sentindo na pele. Ladybug encostara sua cabeça no ombro de seu parceiro tentando controlar a vontade de chorar pela perda de sua amiga que acabara de reconquistar. Todos ali sabiam como era perder alguém, principalmente se você ama aquele alguém. Mas antes que qualquer coisa pudesse ser feita, gargalhadas malignas ecoaram por toda a torre na frente de todos.

Ainda não tinha acabado e a Style Queen com olhos fumegantes a frente de todos era a prova concreta daquilo.

— Finalmente o mundo será meu e não haverá mais nenhum rato miserável no meu caminho para me impedir. – a vilã escarneceu tocando com força sua arma no chão e fazendo a ponta redonda de seu bastão mágico brilhar intensamente. – Mas antes eu vou me livrar de uma vez por todas de todos vocês! SINTAM TODOS, O MEU IMENSURÁVEL PODER!

Um raio luminoso foi lançado na altura na calçada de cimento abaixo dos heróis e fez com que todo o firmamento próximo a poderosa Torre Eiffel se levantasse com o poder do cristal. Os cinco heróis que se levantavam e cobriram as retaguardas um do outro, certos que aquela luta seria o ponto final de suas vidas. Chloe ainda estava ajoelhada ao chão e encarava fixamente o chão, sem esboçar nenhum tipo de reação. Style Queen fez um movimento com suas mãos e quando todos ainda mantinham sua posição de luta, a vilã cerrou o punho lançando toneladas de cimento, ferros, encanamentos e principalmente poeira, que acreditava que era o fim para tais pragas em seu caminho. Sentiu uma sensação de vitória maravilhosa lhe invadir e se virou para começar a domíniodo seu próprio mundo.

Totalmente dominada pela poder que corria em suas veias, Stella estendeu uma de suas mãos e seu bastão desapareceu, onde deu origem a uma verdadeira luva feita de cristal negro surgiu até a parte de seu antebraço coberto pelo uniforme de areia amarela. Sob tal luva proporcionada por seu infinito poder havia uma pedra dourada estranhamente escura para a vilã da história, mas assim que a mesma esticou sua mãe para frente percebeu para qual finalidade aquilo servia: aguçava seu poder duas vezes mais que seu bastão.

Poder imensurável e sem fim para fazer o que quiser.

Com um simples abano de mãos fez aparecer diante de seus olhos dois grandes pilares laranjas escuros que, assim que ativados por seu bastão, abririam um grande portal para todos os lugares e países do mundo espalhando milhares de monstros e criaturas para causar caos por onde quer que passassem.

— Crysallis Restructiony!— gritou erguendo agora a mão que poderia fazer o que a mulher mais almejara em toda a sua vida presa.

Subitamente um disparo vindo de suas costas lhe atingira em cheio na luva que acabara de se formar. Bufando de raiva por ser mais uma vez interrompida, Style Queen se virou para encarar quem seria sua próxima vítima a experimentar seu poder aperfeiçoado. Uma expressão de surpresa tomou conta de seu rosto.

Ali, no mesmo local no qual tinha destruído todos os empecilhos do seu caminho, estava a herdeira do cristal. Chloe estava de pé lhe lançando um olhar mortal em meio a poeira que ainda se assentava do ar. Ao seu redor, diversas faíscas amarelas lhe apareciam e lhe deixava com um olhar sombrio e perturbador. Atrás, poucos metros de distância de onde a loira estava, havia uma bolha que protegera todos os outros heróis de sua equipe do último ataque da vilã. Onde eles estavam a salvo de sua inescrupulosa arma.

Logo a surpresa da Rainha do Estilo deu lugar a ironia.

— Renda-se abelhinha e eu pouparei a sua vida. – disse não ligando nem um pouco para tal pose heroica da garota.

Aquela foi a gota d’agua para a Bourgeios. A menção ao apelido que o garoto que amava lhe dera e que, por culpa dela, havia sido morto na sua frente para protegê-la fizera seus nervos explodirem. Uma força que a filha do prefeito não sabia de onde vinha nasceu dentro de seu interior e a mesma não a impediu de fluir por suas veias. Cerrando os punhos, Abelle ergueu a cabeça com toda a coragem que aflorava de sua pele e sentiu um calafrio subir por suas costas através das asas que sua transformação lhe proporcionava.

— Você é um monstro! – gritou o mais furiosa que conseguiu, mesmo sem saber o que iria acontecer. Os olhos antes azuis agora haviam se tornado um tom de safira intenso e cintilava tanto quanto o de Stella. 

Um raio amarelado surgiu do céu e atingiu a garota em cheio, fazendo com que uma onde de choque atingisse Style Queen e fizesse um grande temor aparecer em seus olhos. A herdeira do cristal havia finalmente atingido a fase de sua posse da coroa de Órion, ou seja, finalmente estava preparada para derrotar a sua inimiga. O cabelo loiro agora se tornara quase branco e dois grandes círculos de pedras acinzentadas surgiram ao seu redor. Seus olhos lembravam muito os de sua kwami Lily, na qual a super-heroína admirava sempre que conversavam a sós. As asas que seu miraculous lhe dava como habilidade especial se tornaram maiores, gigantescas e transmitiam autoridade assim como sua inimiga. Em seu pescoço o pingente ainda permanecia do mesmo jeito. E por fim, acima de sua cabeça pousava majestosamente a legítima coroa de Órion com todas as suas pedras, cada uma representando um teste que Chloe e seus amigos verdadeiros haviam passado para chegarem até ali. Todas as lutas, todas as lições, todas as conquistas. De fato tinha muito mais do que Style Queen pensava sobre si.

Agora estavam na mesma altura.  

Poder contra poder. Cristal contra cristal.

Mãe contra filha.   

***

— Mari? Marinette? – uma voz chamou, mas a garota não respondeu. Tudo o que via era a escuridão a sua frente. – Marinette? – a voz lhe chamou novamente, mais perto do que antes. Sentiu alguém segurar sua mão e prendeu a respiração. – My Lady, sou eu. Abra os olhos, sim?

A portadora do miraculous da joaninha obedeceu, ainda receosa. Abriu os olhos e rapidamente olhou ao redor. Se assustou quando viu todos seus companheiros ali, á sua frente, vivos depois do último ataque da Rainha do Estilo. Piscou os olhos diversas vezes até entender como estava ali. Deveria estar morta. Um pouco zonza, olhou para Paon amarrando um pequeno lenço esfarrapado no braço machucado de seu parceiro enquanto Volpina tentava fazer alguma coisa para ajudar. Mas todos tinham algo em comum: seus olhares estavam fixos para um determinado ponto longe de onde estavam.

Confusa, encarou o loiro ao seu lado, mas Chat Noir não retribuiu tal gesto. Seu olhar esmeralda estava direcionado para algo que estava a sua frente. Com as sobrancelhas arqueadas seguiu com olhos na mesma direção e então pôde ver em meio a poeira que abaixava. Era chegada à hora. Ali, poucos metros de onde estava, Abelle usava a coroa de Órion e parecia enfrentar Style Queen. Mas não era somente aquilo que lhe chamara a atenção.

A abelha estava diferente. Mas muito diferente mesmo.

— Chloe? – balbuciou, estonteada.

O que raios estava acontecendo ali?

Olhou ao redor e só então uma pequena luz de raciocínio entrou em sua mente. O ataque da Rainha do Estilo não tinha chegado até sua equipe porque a garota se colocara na frente e havia criado uma barreira com o seu poder recém-adquirido do cristal. E agora ela estava lá fora daquela grande bola de cristal amarelo enfrentando sua própria mãe para salvar seus amigos. Marinette não sabia se ficava orgulhosa de finalmente a filha do prefeito ter se tornado alguém responsável e justa, algo totalmente diferente do que era antes, ou se sentia preocupada com a mesma por estar apenas assistindo uma batalha que não poderia lutar.

***

Style Queen fechou o punho com força e o esticou na direção da Bourgeios, lançando uma grossa e poderosa massa negra gerada pelo grande cristal laranja sobre o dorso de sua mão direita. Instintivamente a loira fez o mesmo, que, por sua vez, lançou um digno “Came-Came-Rá” como diria Louis em seus bem-humorados ideais cômicos – o que naquele momento ele não estava nem um pouco louco de comentar – e que, na mesma proporção da vilã, se chocou contra o lançado por sua inimiga. Ambas estavam lutando com a mesma força e era quase tão difícil como juntar as duas partes de um ímã que se repelem, ou seja, impossível.

— Desista querida, você e este planeta não tem nenhuma chance contra mim. – propôs, impulsionando ainda mais o seu ataque.

Chloe havia derrapado para trás. A força que a Rainha do Estilo possuía estava tentando intimidá-la, mas a loira não se daria por vencida. Forçou os pés no chão o máximo que conseguiu e um circulo amarelo com o formato de seu miraculous da abelha apareceu na frente de suas duas mãos.

— Nunca! – gritou fazendo uma nova onda avançar com um ataque feito de cristais amarelos.

A vilã recuou enquanto todos os outros heróis assistiam a tudo apreensivos. Mais cedo ou mais tarde alguém iria perder aquela batalha e ninguém sabia o que aconteceria com eles e o mundo, em ambas as vencedoras. Com Alex morto, Bridgette e Félix sabe-se lá onde em todo aquele caos e Ladybug e seus parceiros impossibilitados de fazer algo que realmente ajudasse a abelha na luta, o destino de tudo e de todos estava a mercê da cena entre mãe e filha que acontecia na base da Torre Eiffel.

Mas Stella ainda tinha uma carta na manga.

— Pense o quanto poderíamos fazer se dominássemos o mundo juntas. Seríamos invencíveis! Imperadoras do mundo e até mesmo do Universo! – disse enquanto tentava suportar o ataque da mesma. Com um sorriso esforçado no rosto enquanto algumas gotas de suor se acumulavam em sua face, continuou: - Pense em como seríamos felizes juntas minha filha. Eu estou aqui, eu sou a sua mãe! Seu pai nunca lhe deu nem um pingo de importância, imagine como será agora que ele descobriu que você, a filhinha que ele tanto ama, corre um perigo diário enquanto sai por ai como uma super-heroína? Você acha que as coisas vão continuar as mesmas se você me vencer? Acha que as pessoas vão te aceitar do jeito que você é agora?

Chloe balançou a cabeça e tentou concentrar-se no que estava fazendo naquele momento. Não iria se distrair com tão pouco... Ou iria?

E se as coisas realmente ficassem estranhas se ela a derrotasse? Poderiam enfim ser uma família de verdade de novo se abaixasse sua guarda e fosse derrotada no lugar de sua mãe? Poderia finalmente compensar todos os anos longe daquela que mais precisava naquele momento? Sua mente lhe pregara uma peça e quando a loira se deu por si havia sido empurrada para trás, pega desprevenida pela inimiga.

— Chloe! – a mesma ouviu Ladybug gritar atrás de si, longe.

O esforço que fizera não estava sendo o suficiente e Abelle começava a se perguntar por que ainda pensara sobre o que Style Queen havia dito. Xingou-se mentalmente por dizer a Marinette que era tão ingênua com as coisas sendo que ela mesma também era. Além daquilo também havia aparecido outro problema para si: suas forças começavam a se acabar enquanto o ataque da Rainha do Estilo se tornava cada vez mais forte. Resistiu o quanto conseguiu, mas não adiantou.

Sua defesa havia sido rompida e a força de tal atrito lhe lançara para trás.

A última coisa que viu antes daquela imensidão amarela e negra que lhe lançavam para trás foi o barulho de algo se quebrando, como vidro e alguém correndo em sua direção.