O meio das férias estava se aproximando e junto com ele o fim dos longos dias de inverno na cidade de Paris. Aos poucos o sol voltava e dispensava o uso das roupas de frio, pelo menos durante o dia, dando um pequeno conforto para as pessoas que começavam a voltar de viagem naquela semana e principalmente para as que já moravam na cidade. Lila era uma dessas pessoas que não via a hora de sair de seu avião para estar de volta ao seu lar doce lar. Havia passado dez horas presa a uma aeronave e confinada a estar do lado daquele que menos queria estar aquele momento: seu próprio pai.

— A gente já chegou? – a morena perguntou para o garoto ao seu lado. O mesmo deu uma pequena gargalhada e negou com a cabeça, tirando os fones de ouvido.

— Só cinco minutos Lila.  

Desde a sua última discussão com Mario e a absoluta certeza de que não voltaria mais a Itália a gravar aquele filme idiota, Lila ligou diretamente para sua verdadeira mãe: Francisca. Imediatamente a mulher comprou uma passagem de ida para a capital da França e a garota pôde no mesmo dia ir para o aeroporto. É claro que se arrependeria de deixar uma oportunidade como aquelas escorregar de suas mãos, afinal, quem não gostaria de ser famosa um dia? Mas nada daquilo importava para a italiana e a mesma decidiu contrariar a vontade de seu pai assim mesmo. Pegando as malas já prontas para algum evento fora de sua agenda a garota foi rumo ao avião que a tiraria de toda aquela bola de neve.

Foi então que teve uma surpresa. Ou melhor, duas surpresas.

— O que você está fazendo aqui Sandro? – indagou surpresa, ainda segurando uma bolsa em suas mãos. – Não sabia que tinha um stalker.

— Você achou mesmo que iria se livrar de mim ragazza? – o garoto lhe respondeu com um sorriso brincalhão no rosto.

Sandro, ou “Sandrão” como a garota costumava lhe chamar, fora a única pessoa que Lila confiou e se divertiu em todo o tempo que ficou em Florença. Haviam se tornado amigos muito próximos: o mesmo era assistente técnico de todo o set de Hollywood que se transformava a cidade da pizza e ensinara a sua “atriz principal” tudo o que aprendera da parte das gravações. Com a altura poucos centímetros mais alto do que si, magro e com um humor que contagiava a qualquer um que se dirigisse, Sandro se mostrava cada vez mais interessado pela garota e esperava a oportunidade certa para lhe dizer o que guardava em seu coração.

— Na verdade eu nem suspeitei que você estaria aqui. – a mesma confessou se sentando na poltrona do lado do mesmo. – Deixe-me adivinhar, o meu pai te mandou aqui?

— Na verdade... – Sandro começou coçando a cabeça coberta de cabelos negros e apontou para a poltrona de trás.

Bem, aquela era a segunda surpresa. Seu pai estava sentado observando toda aquela cena seriamente. Pela sua expressão podia-se notar de longe que não estava nem um pouco contente com toda aquela situação.

— O que você está fazendo aqui? – Lila indagou indignada. – Já não basta toda aquela confusão que o senhor arrumou com o diretor no set de gravação?

— Se você realmente achou que viajaria sozinha para Paris você está redondamente enganada mocinha. – Mario respondeu com os braços cruzados e olhando com seriedade para a garota a sua frente.

— Eu não acredito nisso. – murmurou bufando de raiva. – Porque não me contou antes Sandro?

— Eu não queria estragar a surpresa. – o garoto respondeu sem jeito. Logo tornou a olhar para a morena e prosseguiu: - Ei, agora você vai poder me mostrar a sua cidade favorita. Quem sabe as coisas que vamos enfrentar com você lá de volta?

— Seja lá o que for será melhor do que olhar para a cara do meu pai. – Lila disse olhando esperançosa para o lado de fora da janela.

De repente a aeronave chacoalhou em pleno ar: havia sido atingida por alguma coisa e máscaras de oxigênio se penduravam sob as cabeças dos passageiros do avião. Houve uma gritaria e o medo tomou conta do local. Todos apertaram os cintos de segurança e aguardavam que tudo acabasse bem, algo que simplesmente seria muito difícil de acontecer. Lila apertava com força a mão de Sandro como se fosse a última vez que o veria, e, por alguns segundos, pôde ver o desespero nos olhos marrons do mesmo desaparecer e dar lugar a alguma coisa. Algo que ela tentava decifrar com toda a vontade de seu coração.

— Filha, se o pior acontecer... – Mario começou atraindo a atenção da italiana. Sentia seu coração pular dentro do peito. – Quero que você... que você...

— O que pai? – Lila gritou em meio as outras pessoas daquele avião.

— Eu te amo minha filha. – revelou fazendo os olhos da mesma ficarem um pouco marejados. – Me desculpe por tudo... Eu... eu sei que não fui o melhor pai do mundo... eu amo você Lila.

— Pai... eu...

Então o avião se estabilizou novamente impossibilitando a garota de terminar sua frase. Olhou pela janela e calou-se imediatamente quando viu algo suspeito na asa direita do avião. Era um nome escrito em dourado em letras enormes e bem visíveis.

— Bombz?...

***

Havia se passado uma semana desde o ocorrido de Chat Noir na Torre Eiffel e o descobrimento do estranho livro que Alex entregara a Chole, o clima entre o grupo de heróis se encontrava cada vez mais estranho. O motivo? Várias intrigas haviam surgido depois que a filha do prefeito ouvira os outros quatro parceiros falando de algo sem a sua participação e gerando assim certa sensação de desconfiança entre todos já há algum tempo. Por motivos de segurança, ou apenas desconfiança como Kattie dizia, Marinette reuniu todos na casa da O’Green para comentar sobre o último acontecimento dos jornais de toda Paris: o quase acidente que misteriosamente havia feito uma das aeronaves internacionais se desestabilizar por alguns longos minutos de puro pânico e desespero.

— Acham que isso possa estar relacionado a Style Queen? – Louis perguntou.

— Eu realmente não sei, mas tenho quase certeza que ela possa ter um dedo nisso. – Adrien respondeu olhando as notícias em seu celular sobre o assunto. – É muito estranho o avião ter problemas de repente e voltar ao normal em seguida.

— Por esse motivo reuni vocês aqui. – Marinette contou dando um pequeno suspiro. – Precisamos encontrar o escolhido de Style Queen que vai possuir o pingente da lenda. Sem ele não encontraremos nada e esses ataques vão continuar até algo mais grave acontecer.

— Esse nome... Bombz, o que será que significa? – Kattie murmurou observando a foto da asa do avião em seu computador. – Não parece ser outra língua tipo latim, grego ou algo assim.

— Pode ser outro vilão. – Louis sugeriu.

— Ou então ele pode estar junto dela. – Marinette concluiu em voz baixa. – Faz sentido: se o que lemos na lenda é verdade mesmo então Style Queen só terá poder absoluto quando as sete estrelas se alinharem no céu. E como cada briga a fortalece esse tal de Bombz seria a peça que faltava para a sua fuga adiantada. Como uma distração, entendem?

— Duas estrelas já estão alinhadas perto da constelação de Órion. – Kattie anunciou mostrando aos outros várias imagens de mapas estelares enormes. – Estão vendo essas estrelas espalhadas perto da Ursa Maior? É o tempo que temos até a chegada da nossa querida majestade segundo o livro que Chole nos entregou.

— Falando na abelha onde ela está? Ela mais do que ninguém nos deve respostas. – Louis indagou ainda distraído com sua parceira.

Do outro lado da porta estava a garota. Chole Bourgeios havia acabado de chegar ali por conta de outra pessoa: Alex Zuberg. O porque não havia entrado ainda? Ela queria saber até onde o seu nome iria parar e o que os seus amigos diziam de si pelas suas costas.

— Eu não a chamei. – Marinette disse indo ao encontro de Kattie e seu mapa estelar. – Acho que Chole está escondendo alguma coisa de nós e sinto que não é uma coisa boa.

— Porque está tão desconfiada dela assim My Lady? Ela ainda faz parte da nossa equipe não se esqueça disso. – Adrien disse fazendo a morena dar um pequeno suspiro.

— Eu sei Adrien, mas você precisa concordar que tudo isso é estranho. – Marinette justificou virando-se para o loiro novamente e lhe encarou. – Primeiro, mensagens falsas são espalhadas para todos da cidade; depois Chole quase foi atropelada dizendo vir para a sua casa sendo que nem lá você estava e então depois um livro contendo os segredos que nem Mestre Fu sabia aparece magicamente nas nossas mãos através dela. Não acha isso muita coincidência meu amor?

Chole teve uma vontade incontrolável de escancarar aquela porta com apenas um chute e gritar o mais alto que podia que ela não tinha nada a ver com Style Queen, com o incidente do avião e muito menos com esse tal de Bombz. Soltou um grunhido de raiva e se retirou dali o mais rápido possível, desejando nunca ter ouvido aquilo de Marinette. Com cada palavra de desconfiança da morena sua mente lhe levava de volta ao passado, de volta a uma situação que a loira temia voltar a lembrar e isso lhe deixava ainda mais irritada com a Dupain-Cheng. Ou melhor, com a sua super-heroína favorita: Ladybug. A passos largos e apressados a garota se afastou dali o mais rápido que conseguiu, porém, ela não sabia que tudo aquilo não passava de um plano e que do alto alguém lhe observava com o coração aos pulos.

— Não posso negar que é estranho Mari. – o garoto concordou se levantando e lhe tocando os ombros levemente. – Mas lembre-se que você precisa confiar nos seus parceiros, eles são parte de você Bugaboo assim como eu. – levantou seu queixo com cuidado e olhou naquela linda imensidão azul com um sorriso encantador. – Você promete para mim que vai pensar nisso?

— Eu prometo Chaton. – a morena respondeu, tocando-lhe os lábios docemente.

—Olha, eu não quero ser estraga prazeres pessoal... – Louis começou coçando a nuca nervosamente do lado da ruiva dos seus sonhos. – Mas eu acho que esse colar não fazia isso antes.

Todos estavam assustados: o pingente simplesmente estava flutuando e apontando para o norte, como uma verdadeira bússola feita do cristal de Style Queen.

Estava apontando para o escolhido e simplesmente voou em disparada janela a fora da casa de Kattie.

Sem pensar no que poderia ou não acontecer, Marinette simplesmente gritou:

— Peguem o colar!