Eu estava a endireitar um prato na enorme mesa de comida quando a porta se abriu e a Cat saiu de lá.  Subi as escadas o mais rápido que rápido possível e cheguei ao pé dela.

B- Parabéns!

C-  Olá! Então tu é que ficaste encarregue da comida? Medo...

B- Só roubei um brigadeiro, por enquanto... Olha está aqui a minha prenda.

E dei-lhe um envelope que ela abriu num instante.

C- Volta de dragão? Quem será que te deu essa ideia, Bia?

Ela é que tinha sugerido, pois eu tinha reclamado que não sabia o que lhe havia de oferecer. Fingi virar-me para ir embora.

B- Ah, ia me esquecendo, também tenho esta.

E puxei de uma caixinha vermelha.

C- Uma amuleto Targaryen! Vou usá-lo aquando do espetáculo de música baseado em Game of Thrones. Adorei!

Tinha conseguido convencê-la a ver, pelo menos, a primeira temporada.

B- Também arranjei um para mim! *

Íamos descendo as escadas até ao pé de uma caixa com uma etiqueta a dizer "Caixa das Prendas". Então, começaram a chegar o que me pareceram milhões de pessoas e o meu lado antissocial obrigou-me a pisgar-me dali.

Tirei um saquinho com rebuçados de passagem, comi um e pus os restantes no bolso do casaco. Pus a mão dentro do saco vazio, como uma espécie de luva. Cheguei ao pé de um cozinheiro a arranjar um lombo ainda cru. Toquei-lhe num ombro com uma mão, ele virou-se, eu rodopiei, tirei-lho com a mão enluvada e fugi a passo apressado. Antes de me enfiar na floresta, vi, de relance, o Jace a correr através do jardim em direção ao centro da festa.

Tinha deixado o Perzys amarrado a uma árvore para não assustar aquela gente. Ele de vez em quando guinchava por companhia. Fiz-lhe uma festinha e atirei o lombo ao ar. Ele cuspiu fogo e engoliu a carne queimada sem sequer mastigar. Era o segundo que lhe dava naquela noite, ele estava a crescer demasiado.

Dei-lhe uma palmadinha agradável e virei-me para ver o concerto que estava a começar. Ia chocando contra um Jace com um ar preocupadíssimo e cansado.

J- Preciso de ajuda... A Clary corre perigo... Todos corremos...

(Era estranho ouvi-lo a chamar a Cat de Clary, mas acabei por perceber.)

B- Explica TU-DO!

J- Primeiro, eu pertenço a uma organização de agentes secretos chamada Organização.

B- A Ca... Clary sabia? E, uau, que originalidade de nome!

J- Sim, foi das únicas a quem contei. Os superiores avisaram-me de que há a suspeita de um golpe de estado esta noite. Estamos rodeados de traidores, mas sei que posso confiar em ti. Acho que estão a planear matar a família real e/ou assaltar o palácio.

B- Golpe de estado?

J- Foi o que me disseram. Tentei avisar a Clary mas ela estava demasiado ocupada e não teve tempo para me ouvir. Desesperei. O que fazemos?

B- Quero falar com esses teus amigos...

J- Mas é segredo, nem te devia estar a... -ele olhou para o meu olhar de raiva- Vou fazer a chamada.

Fez umas coisas esquisitas e códigos no relógio e apareceram um gordo de óculos e um velhinho careca em boa forma, ambos em uniforme.

V- Quem é?

G- Agente J01, na festa principesca.

V- Que tal? Conseguiste identificar os...

B- Quem quer fazer o quê, quando e porquê?

Ambos deixaram de olhar para os ecrãs e arregalaram-se, primeiro para mim e depois para o Jace, a tentar evitar o meu olhar.

V e G- J! Explica-te!

B- Sou a única que o pode ajudar, sou amiga da Princesa, não quero desastres, expliquem tudo!

Eles deram-se por vencidos.

G- Estão a planear um assalto ao castelo para ficarem em posição de conseguir o reino, segundo as nossas suspeitas. Têm agentes infiltrdos e de certeza que convenceram alguns para o lado deles...

V- Não se pode confiar em ninguém e as nossas suspeitas já foram confirmadas através de escutas. Eles vão primeiro atacar o castelo, depois tratar da rainha e, no fim, do resto do povo. Ainda achamos que há mais qualquer coisa acerca de algo valioso secreto que só a rainha conhece.

J- Então como eles descobriram?

V- Não fazemos ideia, mas... O que se passa Barney?

O Gordo (chamado Barney afinal) tinha ficado pálido de repente.

G- Estão a... estão a vigiar-nos! A escutar-nos!

O Velho não hesitou a desligar-nos na cara e ficámos os dois no meio da floresta, a olhar preocupados para o relógio desligado. Então lembrei-me de um pormenor...

B- Eles ouviram-me a dizer que eu era uma amiga da princesa. Isso quer dizer que todas as outras correm perigo!

J- Mas... o que fazemos?

B- Vai vigiar as melhores amigas da Clary! Tens walkie-talkies à mão?

Ele deu-me um quando tirei uma miniatura do meu bastão do bolso.

B- Eu fico aqui, vai ver como está a festa e as pessoas de lá. Fico com o Perzys a pensar nalgum plano melhor.

Depois de mais um ou dois "Mas", ele finalmente se foi embora. Sentei-me. Aumentei o bastão para o tamanho de uma garrafa de água. Comecei a ouvir uns barulhos vindos do meu walkie-talkie.

J- O cozinheiro está a levar a Tatiana para algum lado.

B- Segue-os!

J- Ok. O problema é que acabei de ver um homem a falar com a Isa. Mesmo assim, acho que a outra está pior... Vou atrás deles, agora não fales.

B- Não estou a falar grande coisa...

Mas pronto, levantei-me com o intercomunicador numa mão e o bastão na outra. Comecei a sacudi-lo para ver se conseguia fazer com que aumentasse e a andar um pouquinho para ir aquecendo, preparando-me. Estava um pouco afastada do Perzys, mas ainda dentro da floresta, na altura em que senti uma coisa fina e fria nas minhas costas.Olhei para trás e vi um punhal. Senti um bafo a cebola e uma voz rouca.

—Larga os instrumentos, rapariguinha... Agora!