Pov Isabella 

Eu já estava morrendo de ódio!  Aquela garota acha que ela é quem?!  Eu não tive culpa em nada, ela já chegou no quarto se atirando em cima de mim , me atacando. É óbvio que revidei! Arranquei metade da roupa dela assim como ela rasgou metade da minha. Nesse quesito eu estava um pouco pior, ela havia rasgado meu short de dormir e os trogloditas não me deram tempo para colocar alguma roupa, ou seja, insisti até que um deles me deu seu paletó preto que ficou bem grande em mim, o que foi ótimo. Dava pra esconder boa parte do meu corpo. A partir de agora eu só durmo de calça jeans, sabe-se lá quando uma puta louca vai me atacar à noite novamente. Ela parecia fora de si, completamente maluca! Mas, isso não me impediu de revidar os tapas. 

Eu mal cheguei e já fui duas vezes para a enfermaria , já arrumei uma inimiga mortal e conheci um gay completamente gostoso e filho da puta. Isso poderia ficar melhor? Ah Isabella, tudo sempre pode piorar... Aqui estava eu, na sala do homem mais gostoso que já vi , totalmente descabelada , com sangue na cara , cheia de hematomas e arranhões, quase nua, enquanto ele estava completamente limpo, impecável, apenas com um pouco de cansaço visível em seu rosto. Também,  que horas seria agora? Tarde eu acredito, bem tarde. Ele me olha de cima a baixo , parece surpreso, ou sei lá  , assustado com tal situação.

— Bom, vamos lá. Amanda, você sabe melhor do que ninguém as regras daqui. A última coisa que você poderia fazer é entrar em uma briga, já que precisamos da sua aparência. Olhe pra você agora. Está horrível.  Abraham iria detestar saber disso. Não acha? - Amanda apenas encara o chão e assente com a cabeça.  Liam é totalmente frio.  - E você, Isabella. . Acho que gostou bastante da nossa ala de enfermaria. Mas enfim .. Você quase .. destruiu o rosto de uma das mais requisitadas do clube. Puxa, o Abraham vai ficar furioso. 

— Amorzinho eu não tive culpa alguma!  Ela que..

— Cala a boca! Eu já tô cansado das suas paranóias!  - Toma sua puta! - A partir de agora quero que você fique  na sua ou serei obrigado a te transferir. Fui claro?

— Ah não meu amor, eu te amo, você não pode fazer isso comigo! - Ela diz chorosa e avança pra cima dele. Cara ela é muito louca. Não parecia que ela estava bêbada. 

— Levem ela. - Os seguranças a seguram e saem com ela da sala. Ficamos somente eu e ele. Ele está sentado atrás da enorme mesa de madeira em sua sala, que parece mais a sala de um diretor de escola. Observo vários papéis e canetas e pastas ali em cima. Fico pensando se ali não teria informações sobre Alice.  - Vai ficar ai em pé parada igual uma estátua?  - Ele diz me tirando dos meus devaneios. Me sento à sua frente, do outro lado da mesa. 

— Eu juro que não tive culpa. .Com certeza eu não queria ir para a enfermaria novamente. - Faço cara feia.

— Eu sei que não teve culpa. Amanda já arrumou vários problemas aqui com outras meninas, mas todas sabem que ela tem sérios problemas de cabeça e de personalidade. Ela precisa tomar um remédio regulamente, mas infelizmente ela não toma. Meus homens são todos frouxos e conseguem ser enganados por uma simples mulher. Fique tranquila, não será punida. Mas, detesto brigas aqui dentro. Ok? 

— Ok. - Apenas afirmo. - Já posso ir? - Ele me encara fixamente nos olhos. 

— Você quer ir?  - Ele sorri de canto. Caraca, qualquer mulher cairia dura ali agora mesmo. Cruzo as pernas e seu olhar desce, acompanhando meu movimento. Sinto meu rosto corar. Ele morde o lábio inferior e aperto uma coxa na outra, involuntariamente. É, eu realmente preciso sair dali. 

— Acho melhor. - Digo firme. Me levanto. Ele rapidamente segura em minha mão.  É impressionante como sua pele é fria, bem diferente da minha. Aquilo me causa alguns arrepios rápidos.  

— Seja bem vinda. - Ele diz sorrindo. 

— Ótima recepção.  - Falo friamente e caminho em direção à porta. 

— Ãn, Isabella? - Me viro rapidamente para olhá - lo,  me arrependo segundos depois. - O paletó. Pode deixar que entrego ao Marcos .  - Ele diz calmamente com um sorrisinho de divertimento nos lábios. 

— Claro. - Retiro o paletó e jogo em cima da mesa. - Prontinho. - Ele sorri  maliciosamente ao encarar meu corpo de cima a baixo. Ah. Meu. Deus. Calma, você só tem que sair da sala. .Um passo de cada vez. Me viro e saio andando apressadamente. Preciso de ar. 

Lá fora um dos homens me aguardava para me levar de volta ao quarto. Ele lança olhares sugestivos à mim que ignoro completamente.  Tô cansada disso. 

De volta ao quarto , corro para o banheiro afim de me livrar de toda a energia negativa daquele lugar, o que é quase impossível.  Noto que Amanda não está no quarto, o que me desperta uma curiosidade. 

Deixo a água fria cair sobre meu corpo , tomo cuidado com os curativos feitos e quase grito quando cai água sobre alguns arranhões , aquilo arde. Muito. Fecho os olhos e me concentro no alívio que aos poucos vou sentindo. Sou traída pelos meus pensamentos que  se desviam para certo par de olhos azuis. O sorriso, o corpo.. Tudo nele é perfeito. Exceto por ele ser um dos homens a concordar e participar de toda essa merda. Isso me trás certa decepção, é estranho. Afasto esses pensamentos sem sentidos. Como será que estão os meus irmãos e o meu pai? Lembro de Adam , eu teria tanto de agradecer à ele, por tudo que ele está fazendo. Farei isso assim que me livrar de tudo isso. A responsabilidade dele é grande, mas tenho certeza que está se saindo bem.  Prometo não desistir de nada, por ele e por Enrique. 

Acordo com Alec sentado em cima de mim na cama. O peso dele me dá falta de ar. Não que ele seja gordo, mas, músculos pesam. 

— Alec por favor. .  Você tá me matando. 

— Bom diaaaaa princesa! Animada? – Ele diz saindo finalmente de cima de mim. Meus pulmões agradecem. 

— Pra ser a nova escrava Isaura?  Animadíssima.  – Me sento na cama abrindo espaço pra ele se sentar também.

— Escrava Isaura? - Ele ri.

— É, uma novela. Bom, eu acho que era novela. Cadê as outras meninas? – Reparo no visual de Alec. Ele está todo “largado”, mesmo assim ainda continua gostoso. Blusão, short e chinelo. 

— Elas estão tomando café, as outras que chegaram com você estão te esperando para irem juntas fazer os exames necessários.  Foram dar uma volta pelo clube, com Amanda. 

— Ah , nem me fale dessa garota! – Alec franze as sobrancelhas e sorri do meu grito histérico. 

— O que houve princesa? – Conto tudo a ele . Ao final , ele começa a ri da minha cara. Era só o que me faltava. 

— Você estava nua na sala do gostoso do Liam?! Não acredito! Eai, ele gostou do que viu? 

— Você escutou a parte que eu fui atacada por aquela idiota sem noção?  

— Claro amor, mas isso é normal. Ela sempre arruma confusão com alguém. Mesmo assim as meninas parecem idolatrar ela, por conta da sua beleza e pelo modo de como ela lida com tudo aqui dentro.. Então nem ligam para as confusões que ela arruma. – Alec explica calmamente. 

— Nossa, que nojo. Não fui com a cara dela. 

— Mas sua mão foi pelo visto! – Alec solta uma gargalhada , me fazendo ri também.  – Eu trato ela de boas.. Nunca teve problemas comigo então.. 

— Entendi. Mas , e agora? O que vamos fazer? 

— Primeiro você vai trocar essa roupa por que tem os exames pra fazer. Depois vamos tomar café e eu te mostro tudo. Ok? 

— Ok. – Me levanto e me arrumo, Alec me ajuda. 

Tive que encarar a enfermaria novamente. Céus,  as mulheres de lá já estavam cansadas de mim.  Liam não tinha aparecido.  O que foi meio estranho. Lembro de terem falado que ele é quem acompanhava tudo. 

Após ter feito os exames certinho , fui com Alec até outra área do clube na qual eu não conhecia. Aquele lugar era enorme. Não fazia idéia de quanta coisa ainda faltava para ver. 

— Bom, se Liam não estava .. Você não pode começar hoje. Sempre é ele quem decide isso. Mas vamos esperar,  de repente ele aparece ou alguns dos seus homens informam o que será feito. Mas isso tá estranho. – Alec diz enquanto caminhamos pelo clube . Muitas meninas limpavam por ali, a área que estávamos agora era aberta e podíamos facilmente ver uma pequena parte do céu . Estava lindo. Mais azul impossível. Víamos também diversas árvores altas que encobriam toda a extensão do clube. Lá fora deveria ser assustador à noite. Eu podia ver uma torre enorme com uma pequena casa ou cabine do lado de fora em meio às árvores, ali ficavam dois homens, pelo menos foram só esses dois que eu vi. Parecia mais um presídio. De certa forma era. Os muros eram extremamente altos. Se eu quisesse fazer alguma loucura, pular aqueles muros com certeza estava fora de cogitação. Ainda mais eu , que morro de medo de altura.

Tomamos café,  na qual eu peguei apenas duas ou três frutas que eles distribuíam, ou era isso, ou um pão doce com manteiga e suco. Alec comeu o mesmo que eu. 

— Ok,  mas e você?  O que faz o dia todo? 

— Ãn , nada... A maioria das vezes fico no quarto junto com os outros meninos que não estão escalados para fazer alguma coisa. O tédio aqui é magnífico. É raro as vezes que saio, tipo hoje. Odeio por que muitas meninas não sabem que sou gay e ficam dando em cima ..eu não me assumo de vez por que muitas aqui não são confiáveis. Os homens de Liam não são tão  amigáveis com os homossexuais. 

— Entendi.. 

— Exceto um. – Alec sorri docemente.

— Ãn?  Qual? – Ele segura minha mão e sai me arrastando. Odeio isso.  

Entramos novamente e ele me leva até a ala masculina. Entro no quarto junto com ele e me deparo com vários homens sem camisa, meu Deus, morri e fui pro céu.  Quanta beleza num só lugar meu pai. Acho que todos os homens bonitos do mundo estavam ali. Alguns deles jogam animadamente algum tipo de jogo envolvendo baralho. Outros fazem flexões ou abdominais. Como Alec consegue viver no meio daquele monte de gato sarado sem ao menos morder algum? Tá certo que nenhum deles me chamou tanta atenção quanto Alec , por que o meu gay era perfeito. Sem comparação.  Mas, eu ainda não havia percebido um homem que estava encostado na porta do banheiro me observando. Ele sim era um deus. Seus cabelos pretos eram longos , mas agora estavam presos em um coque perfeitamente arrumado. Ele tinha acabado de sair do banho, pois estava coberto da cintura pra baixo, o que me deu uma ótima visão de seus músculos fortes. Ele sim poderia entrar em uma bela disputa de beleza com Liam.

— Meninos por favor... Não estão vendo que temos uma linda dama como visita? – Ele se aproxima e sorri. Sinto meu rosto corar. Alguns nem dão importância ao que ele fala. – Perdão,  mas eu nunca a vi antes. Como se chama? – Ele segura a minha mão e leva à boca, me dando um leve beijo ali. Um gesto um tanto raro e doce. 

— Isabella. E o seu? – Alec não deixa de sorrir ao meu lado. 

— Mateo. Mas pode me chamar do que preferir. – Ele tinha um sotaque meio italiano mas falava muito bem o português.  

— Ah tá bom senhor “do que preferir“. Chega de dar uma de galanteador. – Alec diz interferindo na nossa apresentação. Eu poderia olhar para aquele homem o dia inteiro. Ele tinha uma pequena cruz tatuada no peito esquerdo, o que o deixava mais gostoso ainda. 

— Sempre estragando tudo Alec. Como vai em? Nem vi você saindo. – Ele dá um beijo rápido no rosto de Alec. O que me faz pensar se ele também seria gay. Doce, cavalheiro e gentil. Não sei não em.

— Tive que acompanhar a Bella. Mateo pode nos ajudar naquela sua idéia maluca . E ele é confiável.  – Olho para Alec querendo simplesmente voar em cima dele e encher de beijo aquela bochecha enorme. Ok, mais um passo dado. Mateo olha para nós sem entender nada. – Se troca que vamos dar uma volta. 

— Não dá .. Tenho trabalho agora. Mas...adoraria ter ver à noite Bella. Que tal? Você pode me contar o que pretende. 

— Claro, EU e a Bella vamos encontrar você sim. – Alec diz antes mesmo de eu conseguir abrir a boca.  – Mateo revira os olhos e sorri. Sorriso lindo por sinal. 

Mesmo depois que Mateo sai,  continuamos ali, conheço alguns outros meninos e são super gentis. Claro que nem todos. Conheço um pouco a história de alguns e assim como nós, a família deles também é ameaçada ou vigiada. Muitos são seguranças, como Mateo, outros são barmans, como Alec . Ainda tem uns que ajudam na limpeza e outros que dormem com as clientes, a mesma divisão que era para as meninas,  limpeza e prostituição. 

— Isso aqui já deu pra você, é apenas o seu primeiro dia oficial e eles estão te enchendo. Tá na hora de irmos pro seu quarto. Vem. – Os meninos fazem cara feia para Alec , eu estava jogando baralho com eles, eu e Júnior, o barman da noite passada, minha dupla, estávamos ganhando.  Meu boy magia sabe como acabar com minha diversão.