Na manhã seguinte

“Então, Rachel, eu acho que pensei em um novo plano incrível!” Santana diz, abrindo a porta do banheiro abruptamente, enquanto eu estou aqui, fora do chuveiro, completamente nua e molhada. Uma vez que Santana entra no banheiro, ela, descaradamente, olha meu corpo de cima a baixo. Eu fico parada, em choque, tentando mover meu corpo para que eu possa pegar minha toalha e me cobrir. Mas algo no olhar de Santana está fazendo com que seja difícil para eu me mover. Assim que Santana para de me... avaliar? Julgar? Verificar? Ela sacode a cabeça para si mesma e me olha nos olhos. “Ok, antes que eu fale sobre meu novo plano, eu preciso dizer: porra, mulher! Você tem um corpo maravilhoso. Você deveria considerar em participar de um threesome comigo e a Britt algum dia.” Santana diz com um sorriso malicioso. Finalmente meu corpo recupera a mobilidade e eu pego a minha toalha em cima da pia do banheiro e enrolo no meu corpo.

“Você é nojenta!” Eu respondo, sem expressão. Ela apenas sorri para mim e encolhe os ombros, nem admitindo, nem negando. Eu reviro meus olhos para ela e lembro que é de Santana que eu estou falando. Ela não tem vergonha. “Qual é o plano, Santana?” Eu pergunto a ela, a lembrando do por que ela invadiu meu banheiro, em primeiro lugar.

“Oh! Certo! O plano!” Ela diz, se lembrando do porquê veio aqui. Eu reviro meus olhos para ela novamente. “Ok, então, hoje mais cedo quando eu estava fazendo a minha corrida matinal, eu vi a Quinn sentada ao lado do poço dos desejos, na frente do Barnes and Noble. Ela estava sentada com aquele cara que eu gosto de chamar de boca de truta. De qualquer forma, eu decidi fazer uma pausa na minha corrida e casualmente me sentar perto deles. E quando eu digo perto deles, eu quero dizer longe o suficiente para não ser vista, mas perto o suficiente para ouvir cada palavra que eles diziam. E eles estavam falando sobre ir para alguma unidade de abrigo de animais... ou alguma coisa assim. Está previsto para acontecer no campus a partir das 14h de hoje, o que significa que começa em aproximadamente...” Santana olha para o seu relógio. “5 horas.”

“Ótimo... é isso?” Eu pergunto a ela. Ela sorri para mim e balança a cabeça. Eu gemo. O que mais ela poderia dizer para mim?

“Então, eu consegui um panfleto do evento para você. Ali diz que eles precisam de voluntários...” Ela diz, se afastando e sorrindo timidamente para mim. Meus olhos arregalam. 

“Não, não, não, não, não, não! Por favor, me diga que você não fez o que eu penso que você fez!” Eu falo para ela suplicante. Ela sorri de novo para mim e eu tenho a minha resposta.

“Desculpe, não posso te dizer que não fiz. Eu te inscrevi para ser uma voluntária. Mas olha, eu me inscrevi também, e inscrevi a Britt, então você não vai ficar completamente sozinha!” Santana se explica. Eu gemo ainda mais e saio do banheiro. Santana me segue. “Olha, Rach, esse plano pode funcionar! Quinn e o boca de truta também são voluntários! Rachel, você não entende como isso pode ser bom pra você? Você finalmente pode ter uma conversa decente com ela.” Santana diz, fazendo um ponto válido. Eu jogo a minha toalha e vou para a minha gaveta de roupas intimas, pego um sutiã e uma calcinha preta. Enquanto eu os visto, eu olho para Santana, com uma sobrancelha arqueada. Ela olha para mim interrogativamente.

“Tá bem. Eu vou fazer isso. Que horas temos que estar lá?” Eu pergunto, em derrota. Ela sorri para mim.

É bom que esse plano funcione.

Mais tarde, naquele dia – O evento

“Ok, então o que a gente precisa que vocês três façam, é ajudar a cuidar da estação de roedores.” O coordenador do evento disse para mim, Santana e Brittany. Aparentemente isso não é um evento de caridade para animais de estimação, mas uma adoção de animais. O campus tem uma parceria com alguns abrigos de animais e decidiu que a melhor maneira de conseguir um lar para os animais é levando eles para uma área com mais pessoas, em um ambiente mais aberto. Sendo assim, tem mais de 50 estações com mais de 300 animais. Todo esse evento acontecendo no campo de corrida da faculdade. Assim que ele falou sobre os roedores, meus olhos arregalaram e meu estômago revirou. Vejo Santana e Brittany com a mesma expressão que a minha. Uma expressão cheia de puro horror.

“Me desculpa, você disse estação de roedores?” Pergunto a ele, tentando esclarecer. Ele balança a cabeça e olha para mim, estranhamente.

“Sim, eu disse. Sua estação será composta de hamsters, porquinhos da índia e ratos, mas não se preocupe, todos estarão em gaiolas. Embora, enquanto você estiver aqui, será sua responsabilidade alimentá-los, enquanto esperamos que eles sejam adotados.” Ele diz, nos levando para a nossa estação. Assim que chegamos, vejo cerca de trinta gaiolas de roedores nojentos. Parece que no momento que chegamos na barraca da nossa estação, todos aqueles olhos se voltaram para nós, nos observando e calculando cada movimento nosso. “Então aqui estamos. Nós temos uma hora antes de o evento começar realmente. Agora, o que eu quero que vocês três façam, é se apresentarem aos outros voluntários. A cada duas horas, vocês vão fazer rodízio entre as estações, então eu acho que é bom vocês conversarem com as pessoas que estão atualmente em suas futuras estações. De qualquer forma, eu estou indo pegar uns refrigerantes e lanches para colocar aqui, e algumas folhas de assinaturas também. Agora, vão socializar!” O coordenador grita para gente em brincadeira. Nós sorrimos para ele e caminhamos para fora da barraca.

Assim que pisamos fora da barraca, eu e Brittany paramos de andar e cruzamos nossos braços sobre o peito, enquanto olhávamos com um olhar de morte para a Santana. Assim que Santana percebe que não estamos atrás dela, ela para de andar e volta para encontrar nossos olhares mortais. Ela cruza o braço sobre o peito também, mas de uma maneira defensiva. Eu e Brittany continuamos a olhar para ela, em silêncio, enquanto Santana começa a se encolher sob nossos olhares inabaláveis.

“Me desculpa!” Ela grita, com um olhar suplicante.

“Me desculpa? Santana! Você fez a gente virar babá de roedores pelas próximas duas horas. ‘Desculpa’ não vai nos tirar disso.” Eu digo para ela com raiva.

“Eu concordo com a Rachel, San. Os roedores são totalmente nojentos... e por mais gostosa que você seja e por mais que eu te ame... você não vai tocar nesse corpo aqui pelas próximas duas noites.” Brittany diz para ela, ainda com seus braços cruzados. A mandíbula de Santana cai e um olhar de puro desespero aparece em seu rosto.

“Mas Britt Britt!” Santana choraminga em um tom estranhamente infantil. Brittany olha para ela severamente e Santana rapidamente fecha a boca e afunda os ombros em derrota. “Ok.” Ela murmura.

Brittany e eu, ao mesmo tempo, reviramos os olhos para ela e voltamos a olhar para as outras estações. “Em qual estação será que a Quinn deve estar...” Brittany diz calmamente.

Santana e eu conhecemos Brittany durante nossa orientação de calouros aqui em NYU. Nós descobrimos que ela seria a nossa vizinha de dormitório e então combinamos de sair. Para algumas pessoas, Brittany pode parecer um pouco estranha e um tanto quanto burra, mas a verdade é que ela é um gênio. E quando eu digo gênio, eu quero dizer um verdadeiro gênio, tipo como se ela fosse um Albert Einstein. É uma loucura! De qualquer forma, Santana se apaixonou completamente por ela na primeira troca de olhares que elas tiveram, ou pelo menos é o que ela diz. E algumas semanas depois de oficialmente conhecer a Brittany, elas começaram a namorar. E aqui estamos nós, dois anos depois e elas continuam juntas e completamente apaixonadas. Eu não vou mentir e dizer que não sinto ciúmes do relacionamento delas, porque eu sinto. Elas me lembram um relacionamento que eu não tive e provavelmente nunca terei.

“Ali está ela, naquela barraca com os coelhos, parece que ela está trabalhando com o boca de truta, com a asiática e a Aretha. Nós deveríamos ir lá e nos apresentar.” Santana sugere, já indo em direção a barraca, com Brittany ao seu lado. Eu fico paralisada em meu lugar, muito assustada para ir até lá e enfrentar Quinn. Quando chegam à barraca, vejo Brittany imediatamente começar a conversar com Quinn e Mercedes. Santana, entretanto, está olhando ao redor, provavelmente procurando por mim. Quando ela me encontra e vê que estou no mesmo lugar que ela tinha me deixado, ela lança um olhar mortal e discretamente vem até mim. Eu balanço minha cabeça para ela e continuo parada. Seus olhos se estreitam e ela faz gestos ameaçadores, mas discretos, para mim. Em vez de deixá-la me intimidar para ir até lá, eu cimento meus pés no lugar e mantenho eles firmemente presos no chão.

Santana anda até mim e me olha em descrença. “Você está brincando comigo? Eu inscrevi a gente para essa droga para que você pudesse chegar perto de Quinn. Eu não fiz isso por mim ou pela Britt. Eu fiz por você. Agora você irá até lá e vai falar com ela.” Santana me diz, baixinho.

“Desculpa, eu não posso.” Eu digo a ela, voltando para nossa barraca infestada de roedores. Santana entra na barraca logo depois de mim, sentando-se na cadeira atrás da mesa que está montada na entrada da estação.

“Certo. Não fale com ela. Continue passando despercebida se é isso que você quer.” Ela diz, cruzando os braços, soltando um suspiro irritado.

“Certo!”

“Ótimo!”

“Maravilhoso!”

“Quando essa merda vai começar?” Santana me pergunta depois de uns minutos em silêncio.

Xxx

“Eu estou entediada pra caramba aqui e está quente como o inferno. Ninguém chegou nessa barraca e isso aqui começou há uma hora.” Santana reclama.

Ela está certa. Há centenas de pessoas neste evento e nem uma delas veio aqui. Não que eu as culpe. Os roedores são assustadores e repugnantes. Parece que todo mundo foi para a barrada dos cachorrinhos, gatinhos e coelhos. Parece que foram até para a barraca de répteis e anfíbios.

Daqui, eu consigo ver Quinn conversando com uma garotinha loira. E esse sorrido dela é a coisa mais linda que eu já vi. Eu continuo a observá-la até que meus olhos precisem piscar, e assim que eu faço, Quinn some. Eu procuro ela em torno de sua barraca, mas ela não está mais lá. Suspiro para mim mesma. Bem, lá se vai minha fonte de entretenimento da próxima uma hora.

“Ei, vocês. Como vão as coisas por aqui?” Eu ouço uma voz angelical dizer da entrada da nossa barraca. Quando eu olho para cima, vejo Quinn com toda a sua glória de deusa. Ela vira para mim e sorri gentilmente. Eu tento fazer meus lábios cooperarem e formar um sorriso, mas pelos olhares que Santana, Brittany e Quinn me dão, meu sorriso mais deve ter parecido uma careta.

“Tudo aqui é entediante, não tivemos uma só visita. E você sabe o que? Não culpo essas pessoas. Roedores são nojentos demais!” Santana diz com desdém. Quinn parece pensativa por um segundo e encolhe os ombros.

“Durante o ensino médio, eu tive dois hamsters e um porquinho da índia. Eles não eram tão ruins.” Ela diz com outro encolher de ombros. “De qualquer maneira, eu vim aqui para adotar um porquinho da índia para o meu priminho. Ele tem enchido o saco dos meus tios para ganhar um e eu pensei em dar de presente para ele.” Ela diz com uma pequena risada. Sua risada é tão adorável...

“Ok. Bem, Rachel vai anotar todas as informações para você.” Santana diz, olhando fixamente para mim. Todos os olhos se viram para mim e Quinn está olhando para mim com o mesmo olhar de ontem à noite. O olhar que se perguntava se me conhecia ou não.

“É... tudo bem. Uma de vocês duas pode chamar o pessoal da adoção aqui?” Peço a Brittany e Santana, tentando mascarar meu nervosismo. Santana sorri para mim e acena com a cabeça, saindo para encontrar à pessoa em questão. Brittany sorri para mim em encorajamento e senta em sua cadeira. “Você pode ler aqui e assinar nas partes onde pede?” Eu pergunto a Quinn com uma voz trêmula. Ela olha para mim com curiosidade, mas dá de ombros e pega o papel. Eu assisto enquanto seus lindos olhos cor de avelã leem a página. Ela tem essa beleza surreal que muitas mulheres invejam e continuarão a invejar, pelo resto de suas vidas. Ela é tão...

“Hum... o que você está olhando?” Quinn pergunta, me tirando do meu devaneio.

Minha boca se abre e fecha como um peixe fora d’água, enquanto meus olhos se alargam em pânico. Pense em alguma coisa, Rachel, pense! “Uh... hum... bem... uh... é...” Eu murmuro para fora. Deus, eu sou uma idiota. Ela olha para mim como se eu fosse a pessoa mais estranha da Terra. E agora, eu teria que concordar com ela.

“Ei, você que está querendo adotar um porquinho da índia?” Um cara da adoção de animais perguntou, entrando na barraca junto com Santana. Não fazia ideia de qual era o nome dele, e nem me importava. Ele fez piada sobre o meu nariz hoje mais cedo. Ele comparou meu nariz com um bico de pássaro. Quem diabos esse cara pensa que é? Ele desejaria ter um nariz como o meu. Ele está com ciúmes.

“Sim, senhor, o que eu tenho que fazer?” Quinn pergunta a ele. Ele dá a ela um formulário de adoção para ler e assinar.

“Uma das meninas vai te mostrar os animais nessa barraca, e quando você encontrar qual você quer, basta assinar os papeis da adoção que eu te entreguei e pagar a taxa. Depois de terminar, basta dar os papeis para uma das meninas aqui e levar seu novo animal de estimação. Obrigada por tirar um tempo e vir adotar um desses lindos animais.” Ele diz a Quinn, sinceramente, antes de sair. Uma vez que ele se foi, Quinn entra na barraca e começa a olhar em volta. Ela sorri suavemente para todos os bichinhos em suas gaiolas. Eu não entendo como ela não está assustada com isso, mas ao mesmo tempo eu acho que isso diz que tipo de pessoa ela é. Ela obviamente ama o mundo e todos os seus habitantes. Até mesmo as pequenas e assustadoras criaturas.

“Ei, Rach. Eu acho que nós estamos perdendo um rato...” Santana diz cautelosamente. Eu olho para ela em pânico e olho para o chão atrás do roedor perdido. Quando eu não encontro, entro em mais pânico ainda. Para onde o rato foi? Quinn continua a olhar ao redor, completamente inconsciente da turbulência interna e busca frenética que está acontecendo por trás dela. Quando nem eu, nem Brittany e nem a Santana vemos o rato, olhamos uma para a outra com os olhos cheios de pânico.

“Eu quero esse aqui.” Quinn diz com um sorriso caloroso, olhando o animal. Eu dou um sorriso trêmulo e aceno para ela. Ela anda até a mesa para assinar os papeis de adoção. Enquanto ela continua lendo e assinando o papel, eu sinto algo peludo em meu tornozelo. Seguro a respiração e lentamente olho para baixo para ver o roedor perdido sentado em cima do meu sapato. Ao ver o rato, eu solto um grito agudo que rapidamente chama a atenção de todos dentro de um raio de 60 pés. Eu começo a me sacudir e a chutar o meu pé no ar, para conseguir tirar o rato do meu sapato.

Santana e Brittany se afastam de mim, enquanto eu continuo me movendo freneticamente. Eu continuo chutando o ar, mas sem sucesso, o rato continua pendurado no cadarço do meu sapato.

Quando eu chuto o ar novamente, desta vez com mais força, meu sapato fica preso em uma das gaiolas dos hamsters, fazendo com que ele caia. No caminho da gaiola para o chão, ele atinge outra gaiola, que atinge outra gaiola, o que causa um efeito dominó de gaiolas caindo no chão. Eu assisto com horror o enxame de roedores, de olhos redondos, correndo livres ao redor da barraca, provocando gritos agudos e aterrorizados, não só meu, mas de Brittany e Santana também.

Uma vez que eu percebo que o rato não está mais no meu sapato, eu pulo para cima da mesa da barraca, derrubando alguns papeis e colocando pelo menos uma distância de 6 pés entre eu e os roedores. Santana e Brittany rapidamente seguem e correm até mim. Estávamos amontoadas, tremendo de medo com os roedores correndo livremente, e olhando para o chão nervosamente. É aí que percebo que Quinn ainda está de pé perto da mesa, com seu porquinho da índia e a gaiola na mão.

“Hum... eu volto mais tarde.” Ela diz para nós rapidamente. Ela coloca o porquinho em cima da mesa torta e corre em direção a sua barraca.

“Eu acho que precisamos de outro plano.” Santana diz depois de um atordoado momento de silêncio.

“Santana?”

“Sim?”

“Cala a boca.”