“Convide ela para sair!”

“Não!”

“Faça isso logo!”

“Não posso!”

“Por que diabos não pode?”

“Porque não!”

“Porque não não é resposta, Berry! Você tem tido essa crush na Quinn por seis malditos anos! E tem enchido meu ouvido com isso todo esse tempo também. Já passou da hora de você criar coragem e chama-la para sair. Ela tá sentada bem ali, completamente sozinha. É a sua chance! Então vá!” Santana grita, completamente frustrada comigo. Eu fico em pé, mantendo meus pés firmemente no chão e meu queixo levantado no ar, desafiadoramente. Santana estreita seus olhos para mim e cruza os braços sobre o seu peito, enquanto me encara. Isso é o que eu chamo de postura Lopez-não-está-para-brincadeira. E julgando pelo rosto de Santana... Ela realmente não estava para brincadeira.

Santana tem sido minha melhor amiga desde o primeiro dia do jardim de infância. Nos conhecemos no escorregador do parque, durante o recesso. Azimio Adams tinha me jogado na areia, me chamado de idiota e insultado meu nariz. Santana, que estava por perto naquele momento, puxou Azimio pelo nariz e então empurrou ele na areia e disse que ele era “muito mais idiota”. Azimio saiu correndo e chorando para a professora, e Santana me ajudou a levantar, disse que eu era bonita e que eu tinha um nariz adorável. Então ela perguntou se eu queria brincar com ela e ser sua melhor amiga, e claro, eu concordei. Tirando a escola primária, Santana e eu estudamos juntas no ensino fundamental, ensino médio e agora, na faculdade. Nós crescemos em Bumfuck, Ohio, mas conseguimos nos mudar assim que nos formamos. Agora, nós estudamos na Universidade de Nova York e estamos no nosso terceiro ano. Quinn Fabray também estudou como a gente no ensino médio e também veio para NYU. Mas nenhuma vez, em todos esses anos, conversamos. Eu tenho quase certeza de que ela nem mesmo saiba que eu existo. Embora eu saiba que eu tenha tido chances de ela me notar, eu não tenho coragem para me aproximar dela. Tipo agora.

“Santana! Eu não consigo.” Eu choramingo pateticamente para ela. Ela revira os olhos para mim e segura os meus ombros, me forçando a olhar nos olhos dela.

“Você pode e você vai. Olha, Berry, eu tenho que admitir que você pode ser extremamente irritante algumas vezes e sua obsessão pela Barbra é assustadora, mas você é extremamente amável e por baixo de todo esse xadrez e meias até o joelho, você é uma garota de 20 anos extremamente gostosa, com um corpo de tirar o fôlego de qualquer um. Você precisa ter mais confiança em si mesma, Rachel! Agora olhe, Quinn ainda está lá sentada sozinha. É a sua chance de fazê-la saber que você existe. Eu acredito em você, anã!” Santana diz sinceramente.

“Eu não p-”

Antes que eu pudesse terminar de falar, Santana me empurra para frente, me fazendo esbarrar na mesa de Quinn. O movimento na mesa faz com que os olhos de Quinn paire sobre o meu em questionamento.

“Você está bem?” Os lindos olhos cor de avelã me perguntam. Eu assinto lentamente, um pouco atordoada pelo fato de que ela está sabendo da minha existência agora. Ela me dá uma última encarada antes de voltar sua atenção para o seu livro. Eu continuo ali, silenciosamente observando ela. Eu abro minha boca para falar algo –qualquer coisa— mas nenhuma palavra sai. Eu pareço uma louca, parada em frente a sua mesa, observando cada movimento dela, completamente de boca aberta. Quinn olha para cima novamente quando ela percebe que eu continuo ali. Ela olha para mim com os lábios pressionados e um olhar interrogativo. “Você precisa de alguma coisa?” Ela me pergunta, com sua sobrancelha arqueada.

“N-não. Me desculpa. Preciso ir!” Eu respondo ela, nervosa. Eu me viro e praticamente corro para a mesa que Santana está sentada. Assim que eu chego a mesa, Santana me olha com uma expressão de decepção misturado com diversão.

“Boa jogada, hobbit. Agora ela deve te achar uma idiota.” Santana diz sarcasticamente, revirando os olhos para mim.

“Bom, talvez na próxima vez você não me jogue na mesa dela!” Eu bufo para ela, cruzando meus braços sobre o meu peito.

“De que outra forma eu vou fazer você falar com ela? Nós estudamos na mesma escola que a Quinn desde o nono ano e caso você não tenha percebido, nós estamos no terceiro ano da faculdade. Você tem essa crush nela desde o ensino médio e desde então nunca teve coragem para falar com ela. Eu não vou deixar você perder mais seis anos se perguntando ‘e se?’” Santana diz para mim.

“Você está certa.”

“Eu sei que estou. Eu sempre estou certa!” Santana diz arrogantemente. Eu reviro os olhos para ela. Ela é o que eu gosto de chamar de personificação da humildade. (Isso é para soar sarcástico. Santana é tudo, menos humilde.)

“Mesmo que você esteja certa, isso não significa que eu vou fazer Quinn realmente me notar. Quero dizer, depois do que acabou de acontecer, eu tenho certeza que ela vai me ver como uma estranha que esbarrou na mesa dela e continuou a encarando descaradamente” Eu resmungo baixinho.

“É, isso pode ser verdade... Mas sério, Rach, eu estou aqui para te ajudar a conseguir a garota, mas se você não cooperar e se ajudar também, então a Quinn nunca vai te notar do jeito que você quer. Nós vamos bolar um plano para essa deusa loira querer te conhecer. E eu tenho certeza que uma vez que ela te olhar de novo, suas chances de conseguir fazer ela sair com você vão aumentar. Então, o que você diz, anã? Está pronta para deixar de ser invisível e finalmente conseguir ser notada?” Santana me pergunta com um olhar desafiador. Eu olho para ela e mantenho o olhar, me recusando a recuar. Ok, desafio aceito.

“Ok. Eu estou pronta. Qual é o plano?” Santana sorri maliciosamente para mim e eu posso dizer que pelo olhar que ela está me dando, eu não vou gostar do que ela está planejando.

Mais tarde naquele dia

“Então... Eu fiz uma pequena pesquisa sobre a Quinn.” Santana começa. Eu olho para ela incisivamente.

“Pesquisa?”

“Então... Eu andei perseguindo um pouco a Quinn.” Ela reformula sua frase. Eu reviro os olhos para ela. Claro que ela perseguiu. “E eu tenho percebido alguns lugares que ela gosta de ir, além da sala de estudos. Parece que ela frequenta o Starbucks em Miller Hall pelo menos duas vezes por dia. Além disso, enquanto eu andava atrás dela, enquanto ela estava no caminho para sei lá qual aula ela teria, eu percebi um panfleto da noite de microfone livre de poesias na mão dela. Quando eu vi o panfleto, uma lâmpada acendeu na minha cabeça. Quinn sempre me pareceu com o tipo de pessoa que gosta dessas coisas chatas. Então eu pensei... Por que não inscrever você para a noite de microfone livre? Então foi isso que eu fiz.” Meus olhos quase saíram para fora da minha cabeça.

“VOCÊ FEZ O QUE?! Santana! Por que você faria isso?! Eu nem gosto de poesia!” Eu grito com ela em descrença. Ela simplesmente dá de ombro para mim e pisca com um sorriso.

“Mas você vai fazer isso, anã. A noite de microfone livre é amanhã às 19h. São 18h agora, você tem um total de 25 horas para escrever um poema digno de 2 minutos. Quinn vai estar naquela plateia, te olhando e ouvindo cada palavra que você disser. Se isso não te motivar a escrever um puta poema, então eu não sei o que vai. Comece a trabalhar nisso!” Santana diz para mim, batendo as mãos antes de sair correndo para fora do nosso apartamento. Eu a vi sair em descrença, com meu queixo praticamente no chão.

É oficial: eu odeio a Santana. Eu realmente, realmente odeio. Pelo menos agora, eu odeio. Ugh. Ela é inacreditável, e não no bom sentido.

Eu arranco uma folha em branco da impressora e pego minha caneta. Sobre o que eu vou escrever? A maioria dos poemas são sobre amor, sexo, ódio, pobreza e morte. Então o que é que eu posso escrever para apresentar para uma plateia e que faça Quinn me notar?

Depois de duas horas encarando o papel em branco, finalmente algo aparece em minha mente. Começo a escrever o que eu penso ser o melhor poema de todos.

Quinn não sabe o que a espera.         

Na noite de microfone livre

“Você está pronta para isso, anã?” Santana me pergunta baixinho, enquanto nos sentamos no sofá perto do palco, onde a primeira pessoa está recitando sua poesia.

“Sim. Estou, definitivamente, pronta.” Eu a respondo com confiança. Santana olha para mim, impressionada com tanta confiança.

“Bem, eu fico contente. Sobre o que é o seu poema de qualquer maneira?” Ela pergunta, curiosamente.

“É uma surpresa. Você vai ouvir quando eu estiver lá em cima.” Eu respondo suavemente. Ela apenas balança a cabeça e volta sua atenção para o palco, onde a primeira pessoa acaba de apresentar. Uma vez que a apresentação acaba, a plateia começa a bater palma. Aproveito a oportunidade para olhar ao redor do público em torno de mim. Deve ter umas 50 pessoas aqui, no máximo. Daqui, eu consigo ver Quinn sentada em uma mesa com duas mulheres, uma asiática e outra morena. Eu acredito que a asiática deve ser a Tina, porque nós temos aula de atuação juntas, e a morena deve ser a Mercedes, ela está na minha aula de canto, e, definitivamente, tem uma voz incrível.

Tomo alguns segundos para babar em Quinn. Ela é linda. Seu cabelo loiro curto, lindamente bagunçado, enquanto ela usa uma blusa bege com decote em v, skinny jeans e um salto também bege. Seu rosto é tão delicadamente desenhado, que, de onde estou e pela pouca iluminação que tem, posso dizer que a maquiagem é leve e- sou forçada a sair do meu momento pelos dedos de Santana estalando no meu rosto.

“O que?” Pergunto irritada, por ter tirado minha atenção de Quinn.

“É a sua vez.” Ela responde. Eu pisco rapidamente para ela e viro para o palco e vejo a segunda pessoa descendo de lá.

“Então... nossa terceira apresentação é com... Rachel Berry. Suba aqui, Rachel.” O apresentador no palco diz. Todos mundo começa a bater palmas e eu me levanto do sofá. Santana sussurra um ‘boa sorte’ no meu ouvido. Enquanto eu subo no palco, meus olhos ficam embaçados pela luz que foca em mim. Enquanto meus olhos se ajustam a iluminação, eu olho para a multidão e vejo Santana bem a minha frente, erguendo seus polegares. Eu sorrio para ela antes dos meus olhos pairarem sobre Quinn. Quinn me olha curiosamente, como se ela já tivesse me visto antes, mas não tem certeza. Eu respiro fundo e penso comigo mesma, “depois de hoje à noite, Quinn, definitivamente, vai lembrar quem sou eu.”

“Olá a todos. Eu sou a Rachel Berry e meu poema é chamado Filha Única. Eu espero que vocês gostem.” Eu digo, suavemente.

“Você só tem um ovo

Você não vai fazer um omelete

Indo em uma só direção

Você não vai fazer um jet set

Irmão, irmã, onde estão vocês?

Não preciso de beliche no meu quarto agora

Droga, papais

Por que vocês só tiveram a mim? 

Sou filha única

O bastante para eles

Mas não para mim  

Filha única, filha única, filha única

A única Berry na minha árvore genealógica”

“Eu sou filha única.” Eu falo, terminando. Assim que eu termino o poema, há um silêncio mortal. Eu olho para a Santana e ela está olhando para mim, incrédula, enquanto as pessoas ao redor dela estão prendendo o riso. Eu olho para a mesa de Quinn e ela e suas amigas estão olhando completamente confusas. Eu rapidamente desço os degraus e me afundo no sofá ao lado de Santana.

“Bem, isso foi... É. Vamos dar uma calorosa salva de palmas para a senhorita Rachel Berry.” O apresentador diz. As pessoas na plateia, educadamente batem palma enquanto minhas bochechas coram de vergonha.

“Eu pensei que o seu poema era bom? Que merda foi essa?” Santana pergunta em um sussurro. Eu faço um beicinho. Eu pensei que ia ser bom.

“Eu não pensei que ia ser uma merda. Eu coloquei sentimentos nisso. Você foi a única que me inscreveu nisso aqui!” Eu digo a ela com um tom triste e acusador, o beicinho se tornando maior em meu lábio. Santana suspira.

“Você está certa. Me desculpa. Talvez devêssemos ter feito algo diferente...” Santana sugere.

“Tipo o que, exatamente?”

“Eu não sei. Talvez algo que não fosse fazer Quinn pensar que você é uma idiota. O que eu presumo ser o que ela deve estar pensando de você agora.” Santana diz para mim. Eu olho para trás, para a mesa de Quinn e vejo ela e suas amigas me encarando e rindo. Deixo escapar um suspiro triste e deslizo ainda mais no sofá. Santana olha para mim. “Nós vamos pensar em outra coisa amanhã. Você vai conquista-la, Rachel. Eu prometo.”