Page 23 escrita por JM


Capítulo 13
XIII - Words


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!!
Aqui está um capitulo novo pra vcs, repleto de emoções, palavras e promessas.
Espero que gostem!!
Obrigaada as queridas da Cath Locksley Mills e da Edilene Queen pelos comentarios no capitulo anterior, espero que gostem deste aqui também! (e que não queiram me matar, hahahaha).
Booa leitura a todos!!



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Ao ouvir a voz da morena, o ladrão sentiu o alivio invadi-lo de imediato. Ele não a tinha perdido. Ela ainda estava ali. Fraca e perdendo muito sangue, mas ainda estava viva, e ele não iria permitir que ela se fosse. Não iria deixa-la ir embora.

— Estou aqui meu amor. Eu estou aqui, vai ficar tudo bem. – falou o loiro, bem baixinho, fazendo um carinho no rosto dela, torcendo para que Regina abrisse os olhos, torcendo para que pudesse ver aquelas íris castanhas que tanto amava mais uma vez.

A morena, por seu turno, sentiu seu coração saltar de alegria ao perceber nos braços de quem estava. Robin. Ele a tinha encontrado. Ele ainda a amava, mesmo depois de tudo que ela havia dito, mesmo depois de seu casamento, ele não tinha desistido dela.

Desesperada para vê-lo de novo, nem que fosse uma última vez, Regina abriu os olhos, e a primeira coisa que viu foram seus amados oceanos azuis, reluzindo de preocupação e medo. – Pensei que nunca mais fosse ter um olhar desses direcionado pra mim de novo. – brincou, falando com um pouco de dificuldade por conta da dor lancinante que ainda a atingia e abrindo um fraco sorriso.

Diante das palavras dela, Robin sentiu seu coração se apertar. Era nítido que ela estava sentindo muita dor, e ele não sabia o que fazer para ajuda-la a melhorar. E pudesse, teria trocado de lugar com ela de bom grado, mas isso não era possível, e tudo que lhe restava era assistir agoniado ao sofrimento de sua linda morena.

— Shiii....não se esforça meu amor. Você vai ficar bem, eu prometo. E ai, quando você estiver melhor, nos vamos conversar e resolver as coisas. – falou, tentando utilizar o tom mais tranquilizador que conseguiu encontrar, embora sentisse seu coração martelar cada vez mais rápido, o medo se inflando por suas veias.

Uma lágrima solitária escorreu pela bochecha de Regina. Por mais que quisesse acreditar nas palavras de Robin, ela sabia que não eram verdadeiras. Sabia perfeitamente bem que sua vida estava correndo risco. Tinha consciência de que talvez não sobrevivesse, e se suas suposições se confirmassem, precisava que ele soubesse da verdade, ou ao menos a parte da verdade que ela podia contar sem colocar em risco a vida dele.

— Não Robin, você precisa me ouvir está bem? Preciso que você me ouça, eu...posso não ter muito tempo. – falou, finalmente colocando em palavras a preocupação que a atormentava desde o momento em que havia despertado.

— Regina, não. Não diga isso, por favor. Eu preciso que você fique bem, morena. Preciso acreditar que ainda temos uma chance. – as palavras de Robin saíram baixas e temerosas, e ele apertou ainda mais seus braços em torno dela, como se assim pudesse de alguma forma faze-la ficar.

— Não. Nós dois sabemos que isso pode não ser verdade. Eu posso não ficar bem então...preciso que você escute tudo que tenho pra falar, está bem? – Regina respondeu, esforçando-se mais a cada palavra dita. Ela via a aflição nos olhos de Robin, e queria poupa-lo disso. Odiava vê-lo sofrer, e queria terminar com aquilo de uma vez, mas não sem que antes ele soubesse o que ela tinha a dizer.

Robin não respondeu, apenas assentiu com a cabeça, sentindo seu coração pesar em seu peito, dolorido com a possibilidade de perder a pessoa que mais amava no mundo.

— Preciso que você me perdoe, Robin. Eu sei que te fiz sofrer. Sei que provavelmente você está muito magoado comigo, e te entendo. Eu...não posso te contar o motivo pelo qual agi assim, mas preciso que acredite em mim. Eu...menti pra você Robin. Menti quando disse que você era só um divertimento pra mim, eu...- as palavras de Regina se perderam em meio a um grito de dor que ela soltou quando uma nova pontada a atingiu na barriga.

— Shiii....calma, calma meu anjo. Você não tem que me pedir perdão de nada. Eu sei que você me ama, e é isso que importa pra mim. Esquece o resto, você precisa se concentrar em ficar boa. – respondeu o loiro, sentindo a dor do grito de Regina como se fosse ele quem tivesse gritado.

— Não...eu preciso continuar. Eu amo você Robin, de todo o meu coração. Não duvide disso nunca, mesmo que eu não esteja mais aqui, ou que você acabe me odiando. – falou a morena, respirando bem fundo antes de cada palavra que dizia. As mãos dela foram parar na barriga, e seus olhos se encheram de lágrimas. Mesmo se olhar pra baixo e ver todo o sangue que havia se perdido, ela sabia. Podia sentir que seu bebe, seu filho e de Robin, não estava mais ali, e a perda era devastadora.

— Isso não vai acontecer. Eu nunca vou te odiar, porque eu amo você Regina. Continuou tão apaixonado por você como fui desde o primeiro dia em que a gente se conheceu. Não se preocupe com isso, está bem? Você vai ficar boa, e nós seremos muito felizes. – respondeu o loiro, sentindo seus olhos se encherem de água assim como acontecera com os de Regina.

— Te amo. – falou a morena, que com algum esforço levou uma de suas mãos ao rosto de Robin, secando as lágrimas que pingavam de seus olhos em um gesto delicado e carinhoso.  Ele aproximou mais seu rosto do dela, e seus lábios se encontraram em um beijo lento, mas cheio de saudade e promessas.

Apesar de ainda sentir muita dor e de estar com medo do que viria a seguir, Regina se entregou ao momento. Fechou os olhos e permitiu que o beijo dele a levasse para longe, para um mundo diferente, onde não existia dor, tristeza ou culpa. Um mundo onde tudo que existia era aquele beijo, onde tudo que importava eram os dois amantes que haviam trocado seus corações.

Quando o beijo foi quebrado, ambos estavam sorrindo. Robin estava radiante em ter sua morena de volta, e tinha certeza de que ela iria ficar bem. Regina, por sua vez, estava feliz de ter tido um ultimo momento com ele. Se aquela fosse a sua hora de partir, ela iria feliz.

— Regina, preciso que me diga como te ajudar. Você perdeu muito sangue e seu bebe....- o ladrão não terminou a frase. Como podia dizer a ela que tinha quase certeza de que ela havia perdido a criança? Aquilo era cruel demais, e ele estava com medo da reação que ela teria. Sabia perfeitamente bem que a morena não lidava bem com situações que envolviam a perda.

— Nosso. – ela o cortou, fazendo com que Robin parasse de falar. Nosso? Então aquele filho que ela estivera esperando não era do rei? A realidade da situação o atingiu com força total, e ele sentiu o mundo girar ao seu redor, desnorteando-o. Antes que pudesse se recuperar e dizer alguma coisa, ela voltou a falar: - Quando descobri, já estava casada. Mas esse bebe era seu filho Robin. Eu não pude protegê-lo...eu não...- a morena não conseguiu terminar a frase, as lágrimas turvando sua visão, o medo da reação do loiro fazendo seu coração bater com mais força.

Por um momento ele não disse nada, parecendo estar digerindo a informação. Então aquele bebe era seu filho, seu filho com a mulher que ele amava. E agora...agora estava perdido. A dor invadiu seu coração com força total, e ele teve vontade de gritar. Sentiu raiva dos mercenários que haviam ferido Regina. Sentiu raiva dela, por ter escondido a gravidez, por ter pensado em criar o filho deles com um príncipe, um herdeiro do rei.

Regina o chamou, com a voz ainda mais fraca do que antes, e quando ele olhou em seus olhos, tempestades castanhas confusas e amedrontadas, toda a raiva que se apossara dele ainda poucos instantes atrás foi levada embora, desapareceu como se nunca tivesse estado ali.

Aquela não era a hora certa para rancores. Já havia perdido seu filho, não estava disposto a perder a mulher que amava também. Regina tinha errado sim, mas se ele se deixasse levar pela mágoa agora, estaria errando muito mais. Sabia que a morena estava se sentindo mal, e que estava sofrendo muito por conta da perda da criança. Ele tinha que se concentrar em ajuda-la, o resto dos problemas teriam que ficar para depois.

— Você está me odiando não é? Eu sinto muito, meu amor. Sinto muito por todo o sofrimento que lhe causei e que inda estou causando. Eu nunca quis que nada disso acontecesse, eu...- a frase da morena foi interrompida pelos lábios do ladrão, que se juntaram aos seus novamente. Ele queria dizer a ela que nada do que acontecera importava mais. Queria que ela soubesse que não precisava mais sofrer sozinha, e achou que o beijo falaria com muito mais rapidez do que as palavras.

— Shiii...não faça isso. Não se culpe desse jeito. Eu não odeio você, só estou surpreso com as noticias que recebi. Vamos nos concentrar em um problema de cada vez, está bem assim? Preciso saber como fazer você melhorar, preciso tira-la daqui. – as palavras de Robin soaram atropeladas pela emoção do momento, e ele continuou com os olhos fixos nos castanhos da morena, como se pudesse encontrar alguma resposta ali.

— Eu não consigo usar magia...estou fraca demais. Preciso de Rumple. Só ele pode me ajudar agora. – foi à resposta de Regina, que vendo a expressão de desagrado se instalar nos olhos do loiro, voltou a falar: - Eu sei que você não gosta dele, e realmente não tem motivos pra isso, mas ele é o único que pode me ajudar agora.

— Como vamos chama-lo? – Robin perguntou, resoluto. Podia não gostar do Senhor das Trevas. Podia não confiar nele. Mas Regina confiava. E naquele momento, Rumplestilskin parecia ser a única solução.

Regina abriu a boca para responder, mas a força lhe faltou e as palavras ficaram presas em sua garganta enquanto uma nova pontada, mais forte do que todas as outras, a atingia, roubando-lhe o ar. Ela sentiu que sua visão escurecia, como se um lenço negro estivesse sendo amarrado diante de seus olhos. Seu corpo se tornou repentinamente leve, e ela o sentiu rodar, como naquela vez em que Robin a erguera nos braços e rodopiara com ela. Podia até mesmo ouvir o som das gargalhadas que haviam dado aquele dia, e desejou que fosse realmente aquele momento que estivesse se repetindo, embora soubesse perfeitamente bem que não se tratava disso.

Ao ver que Regina não abria mais os olhos, que o corpo dela pendia inerte em seus braços, Robin sentiu seu coração se desmanchar, dolorido como se uma flecha o tivesse atravessado. As lágrimas voltaram e ele gritou o nome da morena, como se simples palavras pudessem trazê-la de volta. Como se gritar por ela fosse suficiente para que ele voltasse a ver os amados olhos castanhos de sua morena.

— Ela não vai acordar, você deveria desistir de ficar gritando desse jeito sabia? Isso pode fazer estragos horríveis em sua voz, e você pode acabar ficando com uma voz calejada como a minha. Imagine só que tragédia? – a voz de Rumplestilskin chegou aos ouvidos de Robin, e o ladrão se viu encarando a pele escamosa e os olhos frios do Senhor das Trevas, que sorria, como se ver o loiro ao chão segurando o corpo inerte de sua amada nos braços fosse a coisa mais engraçada do mundo.

— Faça alguma coisa! Salve-a! Ela chamou por você, disse que era o único que poderia ajuda-la. – falou o loiro, em desespero, os olhos novamente direcionados para o rosto lívido de Regina, que permanecia desacordada, sua pele cada vez mais fria.

— E o que você me daria em troca? Eu não faço caridade sabe? Toda magia tem um preço. – respondeu o Senhor das Trevas, que se esforçou ao máximo para manter um tom de voz presunçoso, embora uma estranha preocupação o dominasse. E se o ladrão não aceitasse fazer um acordo? Ele seria realmente capaz de deixa-la morrer?

Antes que ele precisasse encontrar uma resposta para as perguntas que turvavam sua mente, o homem no chão voltou a falar, sua voz não saindo mais alto do que um sussurro. – Eu pago qualquer preço. Faço qualquer coisa por ela. O que você quer?

Mesmo enquanto dizia aquelas palavras, Robin tinha plena certeza de que não iria gostar nada do trato que estava prestes a firmar. Sabia perfeitamente bem que o Senhor das Trevas não pediria algo simples em troca da vida de Regina, mas a verdade é que não importava qual fosse o preço, ele estava decidido à paga-lo. Simplesmente não podia deixar que Regina morresse. Não podia perdê-la.  

— Quero que você vá embora. Suma da vida de Regina. Se ela te procurar, diga que não a ama mais, que ela te magoou, te decepcionou. Quero que você quebre o coração dela. – respondeu Rumple, se odiando por aquelas palavras.

Sabia que ao fazer aquele trato com ladrão, estava criando um futuro de dor e sofrimento para sua filha, sua menininha, que ele vira crescer longe de si. Sim, aqueles não eram pensamentos típicos dele. Nunca fora dado a sentimentalismos. Mas não podia enganar a si mesmo não é? Tinha consciência do tamanho da dor que iria causar a Regina, mas de certa forma, acreditava que não estava tomando aquela decisão unicamente por si ou por sua vingança. Já tivera decepções demais em sua vida para saber que amor não era uma fortaleza e não queria que Regina sofresse do mesmo mal com o qual ele tivera que lidar por duas vezes.

Se o Senhor das Trevas lutava para resolver dilemas internos, não se comparava ao verdadeiro campo de batalha no qual Robin estava emerso. Então era esse o preço que Rumplestilskin pedia. Seu amor por Regina em troca da vida dela. Ele teria coragem de aceitar? Como seria ver a dor e a tristeza estampados nos olhos castanhos da morena quando ela se desse conta do que acontecera? Como ela reagiria se acreditasse que ele não a ama mais? Ou que nunca amou de verdade?

Mesmo que aquela decisão dilacerasse seu coração, mesmo sabendo que iria sofrer todos os dias de sua vida estando longe dela e que ela sofreria por causa dele, Robin sabia que sua decisão estava tomada desde o momento em que ouvira as palavras de Rumplestilskin. Não podia arriscar a vida de Regina. Não conseguia imaginar um mundo em que ela não vivesse, mesmo que para tê-la no mundo, tivesse que vê-la longe de si.

— Apenas...prometa que ela vai ficar bem. Prometa que ela vai viver. – as palavras finalmente saíram da boca de Robin, enquanto o loiro sentia como se cada uma delas se assemelhava a uma faca, perfurando seu coração ferido.

Enquanto falava, o ladrão se ergueu do chão, carregando Regina nos braços pelo que seriam seus últimos instantes com ela por perto. A cabeça da morena pendeu para o lado. Como se estivesse dormindo, ela se encostou no peito de Robin, e ele sentiu o perfume dela embriaga-lo uma ultima vez, aproximando-se de onde Rumplestilskin estava parado, um sorriso zombeteiro brincando em seus lábios.

— Foi um prazer fazer acordos com você, ladrão. – respondeu o Senhor das Trevas, que ergueu a mão e a pousou próxima ao ventre de Regina. Uma luz arroxeada saiu da mão dele, e instantaneamente o sangramento que acometia a morena foi estancado.

— Ela está bem agora, mas não consegui salvar a criança. Vocês teriam um menino. Aposto que ela teria escolhido o nome de Henry para batiza-lo...- falou Rumple, sentindo a crueldade de suas palavras, mas sem realmente se importar com o que o ladrão iria sentir ao ouvi-las. Sua prioridade agora era Regina, e não um ladrãozinho qualquer com sentimentos feridos.

Sem dizer mais nada, Robin aproximou seu rosto do de Regina, sentindo que a pele dela aos poucos aumentava de temperatura, ganhando alguma cor. Querendo prolongar aquele momento o máximo que pudesse, ao mesmo tempo que desejava se virar e sair correndo para longe dali, o loiro pousou seus lábios sobre a testa da morena, beijando-a com delicadeza e carinho.

— Eu amo você, sempre vou amar. Me perdoe. – falou em baixinho, de forma que apenas sua morena pudesse escuta-lo. Por fim, respirando profundamente como se o ar lhe faltasse, ele entregou Regina aos braços de Rumplestilskin, virando-se e se afastando dali o mais rápido que as patas de seu cavalo aguentavam. Por mais que fugisse, no entanto, sua mente continuava presa na imagem da morena.

—------

Algum tempo depois....

As cortinas estavam fechadas, a escuridão predominando nos aposentos da Rainha, mas ela não se importava. Não tinha a mínima vontade de ver a luz do sol entrar. Não queria sair e ter que encarar o mundo lá fora, que continuava seguindo em frente, mesmo que ela se sentisse fraca para dar um único passo que fosse.

Já fazia quanto tempo que ela estava ali, fechada naquelas quatro paredes? Horas? Dias? Meses? Ela não sabia a resposta, mas também não desejava saber. Não se importava em continuar ali, se escondendo do mundo e de si mesma.

Sentia-se fraca, vazia. Não tinha forças para chorar, embora quisesse derramar as lágrimas certas por seu bebe, seu pequenino, que ela nem mesmo tivera a chance de segurar nos braços antes que a vida o arrancasse dela. Ela não devia ter se surpreendido com isso não é? O destino parecia a ter escolhido, decidido que ela não tinha direito a nenhum pingo de felicidade em sua vida. Por que então ela continuava a sentir tanta dor? Por que ainda se surpreendia? Porque se deixava apanhar de surpresa e caia ao chão com cada golpe que a vida lhe dava?

Os devaneios da morena se interromperam com a luz do sol forte e incomoda que invadiu seus aposentos. Irritada com a intromissão, e se perguntando quem ousava afronta-la daquela forma, a morena dirigiu o olhar para as janelas, e lá encontrou a única pessoa que teria coragem suficiente para enfrenta-la naquele momento. Rumplestilskin.

— O que está fazendo aqui? – questionou irritada. Ela não o queria ali, não naquele momento. Sabia que Rumple só queria ajuda-la. Sabia que ela estava definhando, entregue a sua dor. Tinha até mesmo negligenciado seu treinamento com magia, mas a verdade é que não estava com a mínima disposição para nada, muito menos para ouvir um sermão de seu mestre.

— Estou abrindo suas janelas, queridinha. Chega dessa escuridão. Chega dessa lamentação toda. Você não é assim. – respondeu o Senhor das Trevas, sem abandonar seu costumeiro tom de deboche.

— Você não me conhece. – rosnou a morena, sentindo a raiva crescer dentro de si. O que ele estava fazendo ali afinal? Porque se importava? Ele não era nada dela, não tinha obrigação nenhuma de tentar fazer com que ela se sentisse melhor. Porque continuava a importuna-la, quando ela deixara claro que não queria ver ninguém?

— Ótimo! Está com raiva? Direcione esse sentimento para o seu treinamento. Use-a como combustível para o seu poder. Mas pare de se lamentar e ficar aqui trancada. Essa lamuria toda não vai ajudar em nada. Só vai fazer com que você fique cada vez pior. E além disso, odeio aprendizes preguiçosos. – foi à resposta de Rumple, que por seu tom de voz deixou extremamente claro que não aceitaria recusas ou reclamações contra suas palavras.

Regina abriu a boca, pronta para retrucar Rumplestilskin. Pronta para gritar que ele fosse embora e a deixasse em paz, mas suas palavras foram interrompidas antes que ela pudesse pronuncia-las quando a porta de seu quarto se abriu de supetão, e Snow White entrou por ela, sorrindo de orelha a orelha.

— Que bom que você resolveu abrir essas cortinas! Isso dignifica que você já está bem? Papai me disse que você esteve doente, eu estava preocupada. – falou a menina, correndo pelo quarto até estar na beira da cama da morena, encarando-a com aqueles grandes olhos infantis e ingênuos.

Ao vê-la, o coração de Regina sorriu fraquinho. Snow White. Aquela pequena e crédula fofoquerinha, quem diria, era tudo que lhe havia restado. A pequena gostava dela de verdade e sua preocupação era sincera, Regina percebia isso, o que de certa forma a confortava. Pelo menos ela ainda estava ali. Não tinha ido embora como todas as outras pessoas de sua vida.

— Eu ainda não estou muito bem Snow. Mas prometo que logo vou estar. Agora porque você não desce e vai tomar café? Prometo que te encontro lá em alguns minutos. – respondeu a moça, acarinhando a bochecha corada da menina.

— Não posso esperar você aqui? – perguntou a garotinha, que não se daria por vencida tão facilmente.  Ela percebia que Regina não estava bem, dava para ver a tristeza que inundavam os olhos de sua madrasta, e queria ajuda-la de alguma forma.

— Não Snow. Eu preciso de alguns minutos sozinha está bem? – Regina respondeu, tentando não perder a calma diante da insistência da criança, sabia que ela só estava preocupada. Seus olhos instintivamente se ergueram para onde Rumple estivera a poucos segundos atrás, como se procurasse por orientação, mas ele já não estava mais ali.

— Mas...- começou a menina, não aceitando um não como resposta. Ela queria ficar, e como a filha do rei, não estava acostumada a ouvir muitos “nãos” quando manifestava vontade de fazer alguma coisa.

— Eu disse que não! Agora me obedeça e espere lá embaixo. – falou Regina, com um pouco mais de rispidez do que gostaria. Ela não gostou da forma como suas palavras soaram ásperas, mas não estava com paciência ou disposição para lidar com uma criança naquele momento. Nem mesmo com a pequena Snow White.

— Está bem. – resmungou a menina, triste por ter sido dispensada daquela forma tão grosseira. Sem dizer mais nada, ela saiu e fechou a porta atrás de si, enquanto a morena voltava a deitar a cabeça no travesseiro, exasperada. Agora não tinha jeito de continuar a se esconder. Teria que descer e enfrentar o mundo lá fora. Rever o Rei, que acreditava ter perdido o herdeiro; enfrentar os olhares piedosos de seus súditos e dos criados, todos a olhando com pena. “Pobre da Rainha. Tão jovem e tendo que lidar com tantas perdas em sua vida”. Era isso que todos estavam pensando dela, e a ideia de ter que lidar com condolências e falsas delicadezas era simplesmente terrível.

Rumplestilskin não voltou a aparecer enquanto ela se aprontava, mas Regina não tinha ilusões. Sabia que teria que lidar com ele mais tarde. Sabia que teria que voltar a dar atenção ao seu treinamento, mesmo que não sentisse a menor disposição para fazê-lo, porque, apesar de tudo, tinha um trato para cumprir.

Quando estava finalmente pronta, usando um vestido preto com delicados ornamentos em vermelho, Regina se preparou para sair de seus aposentos, se preparando para o que estava prestes a enfrentar. Seus pensamentos voltaram de forma automática e instintiva para Robin, e ela se perguntou onde ele estaria, se estaria bem. Por um momento maluco, desejou que ele estivesse ali com ela, que segurasse sua mão e lhe dissesse que tudo ia ficar bem. Que eles iam ficar bem. Mas ele não estava ali, não de verdade, e ela teria que dar um jeito de seguir em frente sozinha.

Antes que a morena conseguisse completar a distancia que a separava da porta de seu quarto, esta foi novamente aberta sem permissão ou pedido. Quem estava ali, no entanto, não era a doce e insistente Snow, mas sim seu pai, o Rei, que trazia uma expressão não muito agradável em seu semblante.

— Snow me contou que você tinha finalmente se levantado da cama e quis vir ver com meus próprios olhos. Como você está? – perguntou Leopoldo, que apesar das palavras gentis, conservava um tom de voz frio e distante, como se tivesse muito mais a dizer a ela do que sua voz expressava.

— Estou...indo. – ela respondeu simplesmente. Estava desconcertada. Já fazia pelo menos alguns dias desde que vira o rei pela ultima vez, e assim como ela, ele não parecia contente em vê-la novamente. Agia de forma desconfortavelmente, como se tudo que mais desejasse naquele momento fosse se virar e ir embora.

— Por que fez isso? – questionou o rei, em um tom de voz inda mais endurecido do que o que usara anteriormente.

Um instante de silencio se passou entre os dois, durante o qual Regina tentou entender do que ele estava falando. Ela passara os últimos dias, ou as ultimas semanas (ainda não sabia determinar o período com precisão), trancada em seu quarto, chorando e amargurando suas perdas. Como poderia ter feito algo que desagradasse seu marido?

— Fiz o que? – ela perguntou por fim, exausta demais para ficar brincando de adivinhação.

— Porque tratou Snow daquela forma rude? Ela chegou ao salão toda chorosa. Disse que você não permitiu que ela ficasse com você, e que estava preocupada. – respondeu Leopoldo, como se aquelas simples palavras fossem dizer tudo que ficara por ser dito entre eles.

— Eu preciso de um pouco de espaço Leopoldo. Adoro a Snow, mas não estou me sentindo exatamente bem hoje entende? Além do mais, não sei por que você está reclamando disso. Snow tem que aprender que nem tudo na vida irá acontecer do jeito que ela deseja. A maioria das coisas não vai, para ser franca. E quanto antes ela aprender isso, melhor vai ser. – Regina explodiu, liberando ao menos um pouquinho da raiva e da amargura que vinham se acumulando dentro dela.

Não conseguia entender o porquê daquela discussão. Ela dissera um simples “não” a sua enteada. Porque Leopoldo tinha que transformar aquilo em uma tempestade? Regina sentiu-se repentinamente cansada. Exausta para dizer o mínimo. Não estava com animo para discussões idiotas e sem motivo, mas também não estava disposta a ouvir tudo calada como fizera a vida inteira.

— Ela é só uma criança Regina, só está preocupada com você. Ela se importa. – respondeu o rei, exasperado com a reação explosiva de sua esposa. Sabia que Regina estava sofrendo, que estava destruída por conta da perda do bebe, mas isso não dava direito a ela de descontar sua raiva na filha dele.

— Ela tem que aprender a lidar com contrariedades. Tem que aceitar ouvir um não. Sabe qual o problema? Você a mima demais. Faz tudo o que ela quer, não impõe limites. Por isso que ela fica tão sentida quando as coisas não acontecem do jeito que ela tinha imaginado. – falou a morena, exasperada. Tudo que ela mais queria naquele momento era terminar com aquela conversa, fechar as cortinas e voltar para debaixo das cobertas, mas parecia que não seria tão fácil assim se livrar do Rei naquele momento.

— Como ousa? Como tem coragem de dizer que mimo demais minha filha? Como pode achar que tem direito de dizer o que é melhor para Snow White? O que te faz pensar que pode opinar sobre o que ela deve aprender ou não? Logo você, que não teve capacidade nem mesmo para segurar um filho na barriga. – as palavras de Leopoldo explodiram nos ouvidos de Regina, e ela se sentiu atingida por cada uma delas, como flechas que perfuravam seu coração, já tão ferido e machucado.


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Notas finais do capítulo

E então?
Gostaram?
O que será que vai ser dessa discussão entre o Rei e Regina?
Estou muito curiosa para saber o que vcs estao achando da história e também o que esperam que aconteça, entaao estou aguardando ansiosamente pelos reviews de vocês!
Beijooos