Mad Wolf escrita por Liran Rabbit


Capítulo 8
Capítulo VII — Bad Wolf




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719190/chapter/8

Sete dias e vários espirros, ardência nos olhos por conta da pimenta que a incomodava quando acordava logo cedo e quando caia no sono ao cair no sono. Isso costumava irritar muito e só aliviava quando a janela era aberta daquela casa estranha era aberta.  

Talvez fosse melhor mencionar que eram as janelas da cozinha apenas, mas pequenos vestígios da pimenta moída daquela bela senhora gigante. Gigante por ultrapassar os dois metros de altura, mas não ser esbelta como a maioria das senhoritas de vales e aldeias, mas gorda e de bochechas coradas, o cabelo preso como alguém de realeza, mas se atarefando como coisas mais domesticas como a cozinha, por exemplo. 

A Duquesa não deixava Ruby se aproximar nem mesmo de uma panela, a encarava com sua face severa para ela e resmungava quando ela dava as costas, talvez a presença de Ruby não fosse a mais agradável de todas naquele reino, nem mesmo um bebê com um rosto de porco gostava de si, o que tornava tudo deprimente, de fato, bem deprimente. 

A rotina parecia já se instalar para ela, mas não deveria se acostumar tanto, se acostumar poderia torna-la relaxada e despreparada para quando algo batesse na porta da frente e alguém invadisse para captura-la, deveria estar pronta para usar a força como quando usou com o Valete, a força com como aquele soco não seria o suficiente para uma bruxa, ainda mais a mãe da Rainha Má. 

— Estás imaginando algo como sempre, imagino — A Duquesa proferiu e Ruby não se assustou com a presença dessa na grandiosa sala de leitura, bagunçada e com brinquedos, mas ainda sim uma sala de leitura —Acredito que esteja pensando como vá morrer aqui — Zombou e Ruby franziu o cenho, mas em sua mente fazia pouco caso com as palavras da senhora.   

Ela conseguia soltar palavras maldosas e que poderiam desanimar qualquer um, talvez fosse dessa forma da qual ela se comunicava com todos ao seu redor, Ruby temia até como o bebê porco cresceria ouvindo tudo aqui da... Mãe dele, bem, Ruby supôs que a Duquesa fosse "mãe" dele e não o jantar. 

O Reino das Maravilhas era realmente estranho e ao mesmo tempo, incrível. Só que ele tinha o mesmo tipo de loucura e isso começava a assusta-la, não pelo que ela já tinha visto até o momento e sim pelo que não viu, o desconhecido era o mais assustador, nunca visto antes.   

— Por que a senhora é tão cruel com as palavras, Duquesa? — Ruby ousou perguntar, o olhar da grande mulher em si e como se sentisse ofendida com a pergunta dela — Digo, mesmo sendo uma procurada e sei que não deveria lhe faltar com respeito, mas é como se até mesmo eu que sou forasteira parecesse para a senhora como algo ruim desse reino — Comentou. 

A Duquesa ainda a encarava com a face de poucos amigos, mas com tal silêncio parecia uma tortura ou até mesmo um castigo. 

— Esse mundo é cruel com todos, garota — A Duquesa falou, a voz amarga e cheia de peso — Não sei se foi sorte sua ou um azar dos grandes você ter encontrado o Chapeleiro e ter passeado neste reino — Contou. 

— Então mesmo sendo confuso ele não é o melhor lugar para se viver? — Indagou, curiosa com o fato de algo tão lindo e mesmo perigoso não ser conhecido por ninguém, ter o difícil acesso apenas por uma toca de coelho. 

— Pelo contrário, minha cara — Ela falou, se ajeitando em seu assento e olhando outro canto daquela sala, seu olhar carregava nostalgia e medo, mas talvez fosse coisa da imaginação de Ruby — Este reino já foi uma das coisas mais maravilhosa...  Festas que duravam semanas, fartura em nossas plantações, jovens saudáveis e pessoas sem medo de morrer ao chegar a velhice, sem medo de execuções e nenhum crime assolava essas terras... Não até a então Rainha de Copas assumir o trono a força — Contou. 

— Ela se casou com o rei? — Indagou, um tanto incrédula. 

— Pior, ela o seduziu com um feitiço, mas é apenas uma teoria minha já que nenhum homem se deitaria com uma mulher capaz de corta-lhe a cabeça durante o merecido sono — A Duquesa contou, olhando para Ruby. 

Era irônico aquela fala já que Ruby meio que devorou seu antigo namorado. Ela engoliu em seco ao se lembrar de um antigo amor e de que quase matou Branca e sua querida avó na fatídica noite de lua cheia. 

— E você como é de outro reino, talvez ela a veja como uma ameaça — A Duquesa voltou a pontuar, levantando-se e indo até a lareira. 

— Uma lobinha como eu e um chapeleiro que perdeu a cabeça, uma bela dupla dinâmica, não? — Fez pouco caso, uma piada para uma situação trágica, mas de trágica não tinha nada já que o Chapeleiro a protegeu, mesmo que isso fosse estranho —  Aqui a lua tem todas as suas faces, não? — Indagou. 

Ruby precisava se proteger até mesmo "naquela" forma, por isso precisava se as coisas ali funcionavam como um mundo normal, sendo que ali nada era bem normal. 

— Temos todas as faces, mas a lua aqui por estranho que pareça é um tanto grande como de costume, talvez seja a magia a deixando anormal — A Duquesa contou, voltando-se a se sentar e trouxe ao lado de si um tricor colorido e os palitinhos, o montando — Mas por que a pergunta, minha cara "lobinha"? — Indagou, curiosa. 

— Queria saber se esse detalhe escapava da estranheza deste reino — Ruby explicou, suspirando e olhando para os lados. 

Do jantar pronto, Ruby se preparava para sentir a pimenta afetar seus sentidos novamente, essa que queimava sua língua e descia queimando sua garganta, quase raspando e causando uma cólica que durava metade da noite. A comida que a Duquesa preparava era uma das mais estranhas que ela já teve o prazer e desprazer de experimentar, mas pelo menos não passava fome. 

A noite a Duquesa lhe dava generosamente algumas roupas para que Ruby tivesse o que vestir, roupas não tão comuns de uma dama, tanto curtas se levadas em consideração, mas ela não reclamava.  

Ela dormia no quarto mais afastado daquela enorme casa, um grande como se era de se esperar e que ainda poderia esconde-la bem caso guardas da rainha invadissem ali.  

Da janela, Ruby puxou uma cadeira consideravelmente grande para ficar ao parapeito, vendo que não tão longe estava a lua, grandiosa e tímida entre as nuvens, parecia um olho gigante e amarelo, mas não intimidante. 

Ela não sabia ao certo dizer qual era sua face, talvez a face crescente já que estava tímida assim, mas sua dedução se deu fim a um bater na porta, forte como na vez que o Valete intimou ao Chapeleiro. 

Eram eles.  

— Como ousam? — A Duquesa vociferou alto o suficiente para Ruby ouvi-la, mas não precisava de tanto esforço, os sentidos de Ruby despertaram como se seu lobo tivesse sido acordado ou chutado da cama. 

Eles iriam machuca-la, Ruby conseguia ouvir com clareza os guardas quebrando algo lá embaixo, derrubando as coisas e perambulando lá mesmo, logo iriam subir. 

Depressa, ela escondeu sua capa em um piso solto, arrastando um pesado tapete para oculta-lo de vez e sentir seus sentidos de lobo ainda mais despertos do que antes. Era lua cheia e ela sabia como controlar a besta em si, precisava apenas tomar cuidado com a Duquesa e o bebê porco. 

— Procurem lá em cima! — Um dos guardas gritou. 

Era como se tudo tivesse lento, como se ela estivesse bebada de sono e então, pareceu encolher e seu olhar ficou mais aguçado, focando apenas na frente enquanto sua audição focava ao redor e seu olfato em todo o terreno da casa. 

Era o grande Lobo Mau ali e que todos corressem. 

Eles não tiveram tempo de prever, mas quando viram que era tarde para revidar, o grande lobo pulou em cima deles, arrancando as espadas deles durante o impacto com o chão, outros dois poderiam ter caído os lances de escadas e demorado para se levantarem, mas o lobo se ergueu novamente, terminado de morder dolorosamente a cabeça daquele guarda e voltar para os outros guardas.  

As lanças a machucam sim, mas um braço dilacerado e uma perna quase arrancada diziam muito e que eles não voltariam a erguer uma lamina novamente.  

Seus sentidos apenas não previram um que se escondia na escuridão e que iria ataca-la por trás, mas esse caiu duro no chão por conta de um candelabro apagado e que o acertou na nuca. 

— Nunca mais se atrevam a destruir minha casa, seus bastardos! — A voz da Duquesa parecia ecoar para o lobo e de seu olhar dourado, ela focou na mulher gigante e de vestimentas nobres — Quem diria, agora tenho outro problema — Resmungou — Você tem que fugir, garota, esse sangue vai se alastrar por esse vilarejo e o mais próximo, meus vizinhos e curiosos de fofoca são animais que falam e mesmo assim, reconhecem o cheiro de sangue humano — A Duquesa alertou — Mostre-me onde está aquela capa, ande garota! 

O lobo apenas bufou, subindo as escadas e deixando uma trilha de sangue pelo caminho, seus sentidos limitados até entrar no quarto onde estava, farejando o tapete e a Duquesa não se demorou a pegar de volta uma capa vermelha, cobrindo o lobo e trazendo uma garota novamente. 

Ruby sentia os pés molhados e a boca de mesmo jeito assim como as mãos, provas do que ela cometeu e a mostravam culpada. O desespero a abateu novamente e uma vontade de gritar atingia seus instintos. 

— Droga... — Ela começou, a voz fraca — Droga! — Levantou, mas apenas a tentativa a fez voltar ao chão com um tombo e com a touca da capa descobrindo sua cabeça. 

— Quieta, menina! — A Duquesa falou, chamando sua atenção — É por isso que a Rainha queira arrancar sua cabeça e não usar sua magia, você é perigosa mesmo quando sem sentindo nenhum — Esbravejou, olhando para as pegadas de lobo no chão — Você é uma... Uma... 

— Uma desgraça? Amaldiçoada? Conte-me algo que não sei, Duquesa — Ruby sussurrou, alarmada. 

— Esperança mais desastrada que já presenciei — Falou e Ruby franziu o cenho, assustada — E desengonçada, mas uma esperança — Comentou, cabisbaixa — Temo não conseguir mantê-la mesmo aqui, Jefferson deve ter enfrentado problemas também, eles pareciam ter certeza que estaria aqui. 

Então Jefferson estaria em perigo? Droga! Ela poderia ter acabado de acabar com tudo o que ele planejou! 

— A culpa não é sua, pequena — A Duquesa falou, aproximando-se e sentando-se ao lado de Ruby — Você precisa de um banho e sangue não é nem um pouco fácil de tirar de uma roupa — Tocou a face de Ruby, aquela mulher gigante que portou poucos modos diante de si — Vamos tirar esse cheiro de você... 

E com a ajuda da Duquesa, uma banheira com água fria foi preparada e de roupas como uma calça e um outro sobretudo ela foi vestida. Seus cabelos até então compridos e pretos foram presos.  

— Imagine o trabalho que será limpar esse sangue todo... — Ruby lamentou — Terei de partir, abusei um tanto de sua boa vontade — Curvou-se brevemente para a Duquesa. 

— Acho que você não irá sozinha... — Com o olhar, a Duquesa apontou para a porta da entrada da casa, dela uma moça de vestido branco e cabelos loiros as observava. 

O olhar azul incrédulo para a cena ao redor e para ambas as mulheres ali, não dando tempo e fugindo com pressa, mas Ruby não a deixou escapar, correndo atrás dessa e tendo a vantagem de usar calças, a derrubando no chão e a prendendo com o peso de seu corpo. 

— Me solte, seu monstro! — Berrou, se remexendo e Ruby podia sentir o cheiro do medo vindo dela, o pavor e horror se misturando com seu suor. 

— Cale a boca! — Ruby devolveu, segurando ambas as mãos da garota com uma mão apenas enquanto a outra cobria sua boca — Você deve ser Anastásia, a companheira da Rainha de Copas e amiga do Valete, você é a amiga dele, certo? — Indagou, a voz cautelosa e apressada com cada frase, seus sentidos alertas a qualquer presença próxima, mas não havia nada ali se não a Duquesa que observa de longe. 

A garota apenas concordou receosa com a cabeça, tremendo um pouco e Ruby torcia para que a emoção e o medo a fizessem desmaiar, ela era forte para carrega-la, mas não enquanto estava fugindo, de novo. 

— Você é o monstro que invadiu esse reino... — Ela sussurrou assustada assim que Ruby descobriu sua boca. 

— Garota insolente — A Duquesa falou ali próxima — Faça ela dormir que eu a manterei aqui — Aconselhou. 

— Se eu fazer isso, deixarei a senhora em perigo — Ruby comentou, sentando-se ao lado do corpo caído da garota, essa que logo sentou-se e abraçou a si mesma — Não tente fugir ou o grande lobo mau irá pega-la de forma mais dolorosa — Brincou, sorrindo marota como o Chapeleiro costumaria fazer e assustando a garota — Não leve tão a sério — Bufou, levantando e erguendo a mão para ajudá-la a levantar. 

— Vão me matar? — Perguntou assustada. 

— Eles tentaram matar a minha amiga e eu a defendi, eles estavam ali para me matar — Ruby explicou — Mas era provável que você soubesse, era eu ou eles — Olhou para a Duquesa. 

— Quem é você? Qual o seu nome? — Anastásia perguntou. 

— Eu sou o Lobo Mau — Se apresentou, curvando-se levemente e vendo ainda o medo e desconfiança no olhar de Anastásia — Como você está aqui, o Valete ficara feliz em vê-la novamente — Contei e o olhar dela se tornou preocupado. 

— Ele ainda está vivo, Lobo? — Ela indagou e Ruby concordou. 

— Vivo e que precisa conversar com você, mas preciso saber se não vai colocar a vida dele em risco, a raiva pode querer a cabeça dele caso voltem a se falar a partir de agora quando eu levo-a até o mesmo — Ruby contou. 

— Me leve até ele... — Pediu. 

Ruby apenas olhou para a Duquesa e a mesma concordou. Leva-la seria arriscado e com a confiança que Ruby tinha na Duquesa, Anastásia ficaria ali enquanto o grande Lobo Mau adentraria a escuridão para chamar o Chapeleiro. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mad Wolf" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.