Mad Wolf escrita por Liran Rabbit


Capítulo 9
Capítulo VIII — Corrupted Kingdom




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O caminho até a casa do Chapeleiro não foi uma das mais agradáveis, nem mesmo foi algo que Ruby gostaria de fazer em um momento crítico como aquele, colocar em risco a segurança do homem que queria lhe ajudar a escapar dali sem nenhum dano. Sempre desconfiando, ela recordava até mesmo o sorriso dele, assustadoramente louco e vazio, um homem vazio em um mundo louco que o devorou por completo. 

Mas ali estava ela retribuindo a outra pessoa a ajuda que recebeu ao chegar naquele mundo. Anastásia estava claramente cansada em andar ainda mais, mesmo que o caminho até a casa do Chapeleiro Maluco não fosse tão longa, mas Ruby subestimava o caminho que ela deveria ter trilhado para chegar até ali, talvez sem a suspeita da Rainha de Copas. 

— O conhece a muito tempo? — Ousou quebrar o silêncio, parando no caminho já que Anastásia respirava fundo e ofegava, cansada pela longa caminhada e tinha o rosto corado — Vou entender caso não queira falar nada, sou uma estranha sendo procurada pela coroa — Deu de ombros, rindo da ironia e de querer se oferecer como um ombro “amigo”. 

— A curiosidade é inimiga do presente, Lobo Mau — Argumentou e Ruby franziu o cenho levemente confusa e Anastásia se apoiou em uma árvore, seu olhar não era severo e nem acusador, apenas a julgava através do que passou em um curto período. 

E Ruby não a culpava por conta disso, acharia estranho se a outra não o fizesse.  

— Mesmo que não seja de sua conta e eu não contaria — Rebateu e Ruby deu uma leve risada, sorrindo torto — Will sempre me protegeu e não é de agora que ele tem essa síndrome de herói comigo, não vai ser hoje que ele vai ser o herói, esse reino não permite isso — Lamentou e Ruby negou. 

— Você o ama, não? — Perguntou, mas até mesmo com os olhos de Anastásia brilhando de raiva, isso não a intimidou, apenas deu coragem para seguir em frente com o assunto — Eu já amei uma vez e matei por esse amor, não há nada de errado em admitir algo que nos deixa fracos. 

Falando de tal forma, Ruby se recordava da conversa que teve com o Chapeleiro a alguns dias atrás sobre o amor, como ele pode ser perigoso em uma dose alta e contagioso para os dois lados que o carregam. A “magia” mais poderosa do mundo. 

Anastásia estava desesperada, mas além de desespero era o medo, o medo conseguia tornar as pessoas corajosas e ali estava a mesma, conversando e “desabafando” com uma inimiga e fugitiva da coroa, acompanhando agora quem deveria levar aprisionada. Ruby Luccas agradecia por assim ser a trégua que fizeram em nome do Valete de Copas. 

— Isso não é da sua conta...! — Vociferou e Ruby negou com a cabeça, contendo um sorriso para si mesma. 

— Não, não é — Respondeu — Mas se quer mostrar que está segura, que não é um boneco de madeira manipulável e que é a mesma garota que ele conheceu a muito tempo atrás, espero que colabore e não me apunhalei pelas costas, já tirei vidas hoje, não farei novamente — Recordou e Anastásia engoliu em seco — Vamos? Não estamos longe. 

E não estavam, chegaram à casa do Chapeleiro e pelo silêncio das outras casas estranhas, a luz que não as iluminava àquela hora da noite e não havia nem mesmo o som dos grilos. Não havia nenhum som ambiente e nenhum cheiro ao redor. 

Era uma armadilha. 

— Corra... — Sussurrou, segurando o ombro de Anastásia e olhando ao redor, assustada, um medo primitivo e antigo demais para Ruby tomando conta de seus sentidos – Corra! 

Pisar no chão parecia que era terra lamacenta de pântano, mesmo se voltando para o mesmo caminho de onde vieram, o destino de fuga nunca parecia perto e Anastásia se mostrava ainda mais com medo do que Ruby. Era magia e aos poucos, cada casinha estranha que elas tinham visto sumia aos poucos, se desmanchando como neve derretida e mostrando a mesma floresta que elas seguiram caminho antes, como se nunca tivessem saído dela e andassem em círculos. 

Tudo o que fez falta e trouxe a desconfiança de Ruby sumiu, todos os elementos de vida tinham voltado e com eles, a presença de uma figura que mostrava não só o perigo na face que lhe acompanhava, mas pela guarda de homens que estavam atrás de si e da maneira que se vestia, da coroa que usava na cabeça. 

— Demorou tanto que tive de vir lhe buscar, pequeno passarinho – Soando gentil em suas palavras, a mulher se aproximou delas e encarando Anastásia, ignorava a presença de Ruby para então, estalar os dedos e faze com que elas ficassem livres no pés — Consegue ser incompetente, mas ainda sim, trás a mim o que é útil. 

— Minha rainha...  

A reverência de Anastásia para aquela senhora cheia de pompa e de vestimentas de realeza pegaram Ruby de surpresa e um velho pavor antigo tomou conta dela, um gosto amargo por ser traída e vendida a troco de nada enquanto se colocou a ajudar aquela pessoa que a momentos atrás, lhe pareceu tão inofensiva. 

— Ela veio comigo até a localização de um traidor de vosso reino, está forasteira talvez seja a fonte de magia que você tanto deseja e aguardou ter – Explicava e Ruby não encarava mais a “rainha” e sim Anastásia, em choque em quanto a outra não olhava nem o seu rosto, falando de forma tão polida para alguém manipuladora. 

— É claro que ela é – Respondeu, se voltando agora para Ruby, sorrindo de forma “acolhedora” – Não temos muitas visitas no reino, mas isso não torna as coisas menos desagradáveis – E sorrindo, levantou uma das mãos e dois dos guardas que a acompanhavam se aproximaram e um de cada lado, seguraram Ruby – Lhe daremos as boas-vindas ao País das Maravilhas, minha cara. 

— Me solta...! – Se debatia, mas era segurada tão firmemente que quando pensou em usar sua forma de lobo para fugir, algo forte acertou sua nuca. 

 

 

A cabeça pesava quando tinha acordado, todo o corpo dela doía e parecia ter sido jogado como um saco de farinha qualquer. Deitada no chão duro e frio, Ruby acabou sentando com dificuldade e olhando o lugar que estava, o pé sentindo frio e ela notou que não estava com a bota e nem mesmo... A capa! Não estava com a capa e nem mesmo a maior proteção para se manter sob controle. 

Com cuidado, ela se levantou e olhou para a grade ali que a prendia, não havendo nenhuma janela e nem mesmo outra luz que não fosse das tochas ali, iluminando o escuro e a cor estranha do vermelho que se tinha pelo chão. Não tinha cheiro de sangue e nem parecia feder ao cheiro da morte ali, mas havia o vazio e o esquecimento... 

Seus sentidos, por mais aguçados que estivessem, não ajudavam em nada ali e para reconhecer onde estava era uma tortura. Sem capa e nem calçado, ela poderia estar prestes a passar por algo bem pior do que uma aldeia inteira revoltada com o grande lobo mal. 

— Vejo que já está acordada. 

Olhando ao seu redor, não vendo nada a não ser o vazio da cela que a guardava ali e já se recordando do primeiro ser que a recepcionou naquele lugar maluco. 

— Cheshire... — O chamou e o gato deu uma risada, aparecendo e flutuando em sua frente com o mesmo sorriso assustador de sempre, os olhos amarelos que brilhavam naquele lugar. 

— Em carne e névoa, senhorita Lucas — E deu uma risada enquanto Ruby não pode esconder a felicidade de ver uma figura familiar ali com ela, mesmo que a confiança para com as pessoas estivesse indo embora — Vejo que caiu nas garras da assustadora e ditadora Rainha de Copas, algo que não me surpreende. 

— Você parece entediado — Fez uma careta, se aproximando do gato flutuante e lhe fazendo um breve carinho, a assustando com o ronronar estranho e alto que o mesmo fazia — Poderia me ajudar a sair daqui, é um gato inteligente. 

— Apesar dos elogios, nenhum conseguiria me fazer ter a capacidade de passar por ela, já é demais que eu esteja vivo — Contava, quase falhando e gaguejando com o carinho que recebia — Ela sabe de tudo, vê tudo... Mas mesmo que me veja, nunca consegue me pegar — Deu outra risada, contente com algo que passava naquela cabeça de vento. 

— Você pode aparecer e desaparecer, parece até simples — Comentou, o carinho acabando com o outro se afastando, negando com a cabeça e desfazendo o sorriso, o que o tornava ainda mais assustador — Mesmo que o pegue, consegue fugir dela. 

— Quem me dera ter uma imaginação tão maluca. 

— Todos somos malucos aqui, lembra? Estou no caminho para a loucura — Sorriu fracamente, suspirando para se voltar a parede, se sentando e abraçando a si mesma — Ela levou as minhas coisas... 

Não temia o que poderia ser feito, mas a magia da sua capa... Sua avó nunca contou como conseguiu aquela capa e qual acordo fez, mas para conter seu lobo e a manter dormindo, conter algo que já nasceu com ela... Poderia ter toda magia tirada do tecido vermelho ou forçar Ruby a coisas... Apenas com esse pensamento ela negou com a cabeça, não queria machucar ninguém. 

— Meus bigodes tremem na intuição de que você não vai ficar louca como todos, afinal, ainda tem que voltar para o seu reino sem graça — Comentou, se aproximando e sorrindo ainda mais — É a corrupção desse lugar, ficar maluco até cometer coisas intragáveis como o assassinato dos próprios súditos. 

— O lugar corromper as pessoas? Até parece... — Zombou, rolando o olhar e vendo que ele não alterou a expressão sorridente dele, nem mesmo rebatendo o que ela mesma falou — Não está brincando... 

— E por que estaria? — E ficando de ponta cabeça, Cheshire deu uma risada que parecia ecoar na cabeça dela — Desde que a cabeçuda pisou nesse reino, as coisas começaram a virar do e cabeças começaram a rolar, mas acho que nosso adorado Chapeleiro contou a você — Falou, desaparecendo em uma nevoa azul e voltando em seguida no colo de Ruby — Ou mostrou, no caso. 

— Sim, ele mostrou — Respondeu, receosa — Mas se essa intuição em seus bigodes é tão boa, poderia me falar se conseguirei sair daqui, seria de grande ajuda — E como uma maneira de massagear o ego do gato sorridente, acariciou a cabeça do mesmo, ouvindo o ronronar ficar mais alto. 

— Não é tão fácil, já falei para você, senhorita Ruby... — Falou, ficando de barriga para cima, fazendo Ruby rolar o olhar — Mas como é tão boa com carinhos em felinos mesmo sendo metade cachorro, irei me esforçar, mas em como puder antes de perder cada dente da minha boca — Declarou, sumindo ao final da fala e deixando Ruby sozinha. 

Passos ecoaram pela prisão e pela pressa dos mesmos, Ruby não conseguiu forçar a visão pelo breu do corredor, mesmo com as tochas acessas e se encolheu para o fundo da prisão que estava, contendo as emoções que vieram a sua cabeça ao ver Anastásia ali, se ajoelhando e mostrando usar a capa vermelha de Ruby. 

O que ela pensava ao usar a capa dela? 

— Você ousa...? — Conteve a voz, mas ao ver a sinalização para que se aquietasse, a vontade que ela teve de gritar falou mais alto. 

— É magica, conseguir vir aqui apenas por causa da sua capa — Explicava, olhando para trás com a clara face de medo, Ruby não conseguia sentir o cheiro de medo, não conseguia ouvir nem mesmo o coração dela, nada, como se o lobo dentro dela estivesse adormecido — Eu vim apenas avisar, não a entreguei de maneira alguma. 

— E eu deveria confiar em você?  

— Eu fiz por lealdade...! Ela me acolheu quando criança e mesmo assim, trata a todos como igual — Explicava, agarrando as grades ali — Ela iria cortar a minha cabeça se me rebelasse. 

Suspirando, Ruby pensou bem em mesmo assim, Anastásia estava junto a guarda que iria prendê-la, além de que Cheshire lhe tinha contado sobre a rainha ver e saber de tudo, servindo de sustento para o medo compreensível. Mas ainda assim, ver a própria capa sendo usada pela outra mostrava isso como uma afronta. 

— Vim apenas avisar que vou arrumar uma maneira de tirar você daqui... Mas não garanto o seu destino caso consiga escapar do castelo — Falou, se afastando e ficando de pé — A capa... Eu ouvi a rainha falar que não conseguiu achar você por causa dela.... Ela nos emboscou por minha culpa, eu a trouxe... — Contou e Ruby a encarava, mas se perdendo em pensamentos. 

Que tipo de magia era aquela? 

— Apenas resista ao que ela irá fazer. 

— E o que seria? Arrancar minha cabeça? — Zombou, recebendo apenas o silêncio de Anastásia. 

A resposta nunca veio e a garota nem mesmo fez perguntas do valete, apenas voltou a seguir caminho de forma apressada, deixando Ruby sozinha naquela escuridão. 


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