Mad Wolf escrita por Liran Rabbit


Capítulo 6
Capítulo V — Jack of Hearts




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Uma banheira de madeira e água quente para o banho, não era o maior luxo, mas se sentir abrigada pela quentura, desgrudando qualquer sensação ruim que poderia lhe envolver desde que chegou. Suas bochechas estavam coradas e o vapor subia aos poucos, suas mãos já se enrugavam e não deveria demorar tanto ali, levantando-se e envolvendo-se em uma toalha velha e secando-se ao sair.  

Tomava cuidado para não escorregar e vestindo uma calça de couro preta e blusa ajustada para seu tamanho, roupas deixadas para si pelo Chapeleiro Maluco, ou melhor, Jefferson. Seu cabelos continuou preso e Ruby vestiu sua capa vermelha, sendo envolvida pela cor vermelha costumeira, que a protegeria em noites de lua cheia.  

Conseguiu sobreviver depois de três dias ali no reino das maravilhas, ouviu atentamente as advertências do Chapeleiro sobre sair da casinha e se saísse, que fosse em sua forma de lobo. Estranhou em um dos avisos dele para não confiar nas flores, principalmente nas rosas perto da grande lagarta azul. Como flores poderiam ser ou não de confiança? Elas eram enfeitiçadas? Se bem que num mundo onde um coelho se vestia e sussurrava com presa "estou atrasado" não era a coisa mais comum até mesmo de onde ela veio. 

Haviam menos cartolas pela sala e o quarto onde ela dormia já não tinha aquele acumulo de pó, o que facilitava respirar e seus sentidos não seriam atrapalhados por conta daquilo. Não ficaria ali a troco de nada, ajudou como podia com tudo e quando a guarda da rainha passava por ali, se escondia como podia, pois já avistou sem querer um cachorro falante ao lado deles. 

— O que temos para hoje? — Ruby indagou para o Chapeleiro que terminou de confeccionar outra cartola e resmungava, frustrado e a fazendo lhe sorri fracamente com pena dele. 

— Mais poções, esse reino é um tanto limitado, mas não me decepciona quando preciso — Contou, a mesa da cozinha antes cheia de utensílios e bagunçada agora estava ocupada com frascos de diversos tamanhos, plantas com cores estranhas e frutas engraçadas — Pensei que com sua presença, talvez essa coisa fosse funcionar — Falou com um tom decepcionado, jogando a cartola longe e voltando sua atenção para Ruby. 

— Você quer dizer a presença da minha capa — Franziu o cenho — Mas você mesmo disse que não mexia com magia negra — Comentou, afastando-se e comendo um bolinho que não estava encantado para ela crescer. 

Ultimamente os alimentos estavam sendo seguros de comer e o Chapeleiro não precisava mais dela para roubar algo dos vizinhos barra animais. Algumas vezes recebia uma caixa com algumas frutas de um criado peixe (?) e de um criado rã (?) recebia tecidos para a confecção de mais e mais cartolas.  

Não sabia se aquilo estava enfeitiçado, mas confiava um pouco no Chapeleiro e pelo cheiro, parecia normal. 

Já começava a entender melhor como as coisas funcionavam para ele, da vigília e desconfiança de todos com ele, o medo que tinha caso se intrometessem e fossem mortos pela rainha. Sempre tinha que ser magia, a coisa mais agradável que complicava tudo. 

— E não mexo, mas a magia tem várias vertentes e não apenas a boa e má como todos costumam acreditar — Explicou e Ruby terminou de comer o bolinho e se servindo do chá já posto em uma xícara ali, mas foi impedida de beber pelo Chapeleiro — Esse é um dos experimentos, recomendo não beber — Advertiu e ela. 

— E essa bagunça toda seria...? — Indagou, pegando outro bule apontado por ele, o cheiro do chá de morango a fez salivar. 

— Não é magia o que estou tentando criar, mas seria semelhante, alquimia como é conhecida — Contou e Ruby bebericou o chá — Imagine criar em um frasco pequeno um pouco de magia apenas com o poder do conhecimento — Falou pensativo e Ruby franziu o cenho — Já vi um tolo amargurado com tanto poder tentando recriar algo assim, mas como estou preso aqui, não sei se conseguiu fazer a magia mais poderosa do mundo...  

— Mais poderosa? Mais do que a rainha desse reino e da própria filha? — Indagou, confusa e deixando a xícara de lado e ficando ao lado dele enquanto remexia um frasco que mudou da cor preta para um vermelho vivo, mas a cor escureceu. 

— O amor é uma magia poderosa demais, mas também muito perigosa — Contou. 

— O amor sendo algo perigoso? Chapeleiro, estou considerando que é mesmo louco — Sorriu fracamente e ele lhe respondeu com o mesmo sorriso, negando com a cabeça. 

— O que você faria por amor, lobinha? — Perguntou e Ruby piscou os olhos, confusa com a pergunta feita — A que ponto você iria por conta do amor? Morreria por ele? Mataria por ele? Se vingaria já amargurada depois de traída?  

— Mas isso já não seria amor — Respondeu, a face torcida em uma careta. 

— Não? Você já amou tanto alguém que fugiria com ele sem medir as consequências? —  Indagou novamente, deixando o frasco de lado e a olhando melhor — O amor é inconsequente e também perigoso, pois com ele a pessoa arriscaria a própria vida se preciso, se sacrificaria no lugar do amado, mas pelo seu olhar — Suspirou e Ruby sentiu as mãos tremulas, a lembrança do seu amado lhe vieram a mente — Você já foi movida por essa magia... 

— Eu... 

— Sinto muito se isso lhe trouxe memórias desagradáveis de alguém, mas temos de tentar algum tipo de magia, mas pelo visto o amor não pode ser fabricado — Resmungou — Desculpe, lobinha... 

— Não precisa pedir desculpas por algo que não deixa de ser verdade — Ela o respondeu, sua voz soando como um sussurro — As pessoas morrem pelo amor, nisso devo concordar... — Contou, pensando se comentaria do seu passado, mas não seria um momento ideal, talvez não estivesse tão próxima de alguém como ele para lhe contar sobre seu passado. 

— Você quer torta de maçã? Posso trazer uma fresquinha — Sugeriu e Ruby sorriu fracamente, ela tinha deixado o clima daquela forma. 

— Não adianta tentar me conquistar pela barriga, não funciona comigo — Balançou a cabeça negativamente. 

— Pelo menos não vamos perder a cabeça por causa de tortas ou diamantes — Brincou, dando de ombros e Ruby franziu o cenho, achando graça — Mas é sério, isso já foi motivo para as criaturas daqui perderem a cabeça — Contou e o motivo de graça sumiu na hora. 

— Eu realmente tenho que sair daqui, mas não tem como tirar mesmo essa louca do poder? O povo não se rebela? — Indagou, frustrada e o Chapeleiro negou — Tem que ter alguma coisa, qualquer coisa — Enfatizou a última palavra. 

O Chapeleiro parecia gostar de deixa-la em silêncio quando o assunto adquiria um tom de seriedade, mas ali é como se ele avaliasse uma opção, uma que escolhia entre contar a ela ou deixa-la talvez ficar sem saber de nada, mas não adiantaria, Cheshire ou o coelho branco poderiam lhe contar os detalhes sórdidos. 

— A última vez que vi o povo daqui se rebelar foi um banho de sangue, foram poucos, mas o suficiente para ninguém mais tentar alguma coisa, como por exemplo, desafiar a rainha — Explicou — Lobinha, entre assuntos desse reino, recomendo não sujar suas mãos — Falou, levantando-se e se servindo com um chá estranho que não deixou Ruby beber antes. 

— Jefferson, por favor — Ela o chamou pelo nome, talvez fosse a primeira vez e isso o surpreendeu para quase engasgar. 

— Sem chance, nosso objetivo aqui é tirar você daqui e arrumar magia — Explicou, tossindo — E você quer ficar viva, não?  

— Viver como covarde sendo que poderia ter tido a chance de ajudar a todos? — Franziu o cenho, frustrada — Jefferson, podemos juntar a minha fuga com a ajuda do povo daqui — Contou e o Chapeleiro a encarou, sério. 

— Você acabou de ouvir o que disse? — Indagou, bebericando o chá estranho. 

— Não é tão impossível assim se levar por outro lado — Falou — Não era um dos seus experimentos? — Indagou, apontando para a xícara. 

— Isso? É para que a dor da decapitação fique fraca, tento amenizar sempre que posso — Contou e Ruby o olhou assustada — Não sei que reação em alguém que não teve a cabeça arrancada — Deu de ombros — Mas não me esqueço, não tente nada e não busque aquele risonho pra lhe ajudar, mais fácil confiar na falsa tartaruga do que nele. 

Ela pensou em reclamar novamente, mas alguém batendo com força na porta da casinha atraiu a atenção de ambos e pelo cheiro, Ruby notou apenas uma pessoa do lado de fora, mas claro que ela poderia estar errada.  

Sentiu o olhar nervoso do Chapeleiro sobre si e ficou ali mesmo na cozinha enquanto ele se encaminhou até a porta, com a audição aguçada  conseguiu ouvir a impaciência da pessoa ao entrar. 

— Parece que Alice não foi a única pessoa que você ajudou, sua bondade ainda existe e isso é realmente admirável — Era jovem e sentia a ironia na sua voz. 

— Valete de Copas, a que honra devo a sua visita amigável? — O Chapeleiro parecia tenso, mas apenas para Ruby, frente a frente deveria estar sério. 

— Não vamos enrolar a situação, apenas entregue a garota e todos ficaram bem, inclusive ela — Ele andava pela casa e estava perigosamente perto da cozinha e com cuidado, Ruby se esgueirou para debaixo da mesa. 

— E as rosas brancas? Já as pintou de vermelho? — O chapeleiro pareceu não surtir efeito em distrai-lo — E Anastasia? Vejo que quer livrar ela da influência da rainha e veio justamente fazer o contrário — Então o Valete parou de andar e em passos curtos, voltava-se para o Chapeleiro — Que contraditório, não? Você perdendo tempo servindo aquela bruxa a troco da vida que não tem certeza se vai conseguir salvar. 

— Cale a sua boca, nem todos tem o mesmo desejo insano de perder a cabeça — Vociferou, mas contido — Nem todos tem a mesma loucura que você de desafiar a pessoa no topo que seria a rainha e se você acha que eu gosto do que faço, está enganado. 

— Então me ajude — Sugeriu e o Valete deu uma risada. 

— Não, obrigado — Rebateu, sério — Apenas entregue a garota e essa dor no seu pescoço não vai ficar mais intensa, a rainha até mesmo ofereceu um feitiço para caso você colabore. 

Ruby engoliu em seco, segurando a sua capa com força. O Chapeleiro já contou que poderia lhe entregar, mas não o fez, talvez aquela fosse a chance ideal e perfeita, perfeita até demais. 

— Você acha que sou idiota? — O Chapeleiro falou — Confio até mesmo no Cheshire, mas em alguém que foi banido para esse reino e acha que manda em cada criatura daqui? — Ralhou —  Pode falar para aquela bruxa desgraçada que eu prefiro quase morrer novamente do que entregar a chance dela escapar e estragar qualquer reino existente — Agora ele vociferou. 

— Vai se arrepender, não saio daqui sem a garota! — Respondeu e subiu as escadas.  

— Boa sorte, Will Scarlet — Retrucou — Quer um bolinho? Um chá talvez — Ofereceu e Ruby quis olhar para o Chapeleiro e perguntar o que ele estava pensando, mas parecia que ele o estava provocando. 

Quando ele voltou para a sala, parecia alterado, seu coração batia de ansiedade. 

— A água na banheira ainda está morna — O Valete falou. 

Droga! 

— Eu estava tomando banho, não sabe como é exaustivo fazer cartolas sem magia até conseguir — Contou com humor. 

— Mas aquele não é o seu quarto e pelo visto — Pausou e Ruby ouviu algum tecido cair no chão, pelo cheiro... Era a saia de seu vestido — Você não perde tempo... — Deu uma risada — Onde está a garota? — Perguntou. 

— Por que veio sozinho? — O Chapeleiro com outra pergunta — É um erro sempre vir sozinho. 

— E você acha que tenho medo de uma garota e de você? — Zombou — Ela pode muito bem ser como Alice, pequena e curiosa, não um monstro gigante. 

— Sabe, Will... Não subestime ninguém, muito menos alguém que procurar e não sabe do que é capaz — Falou, tranquilo — Peço novamente que se retire ou vai se arrepender e muito. 

— Você não me assusta, maluco — Rebateu — O que acha que vai acontecer caso eu suma? 

Ele já sabia que ela estava ali, então se sumir alongar o prazo de sua estadia ali, então preferia ajudar e agir pelas costas. Levantou e devagar saiu da cozinha, vendo o Valete de costas para si e engolindo em seco, cutucou o ombro dele e quando se virou, ela acertou um soco com o máximo de força em seu rosto, o impacto o fazendo cair no chão e a mão dela doer muito. 

— Mas o quê...? — Resmungou, atordoado e com pressa o Chapeleiro ficou ao lado dela. 

— Tenha bons sonhos, Valete — Falou, ajoelhando-se e acertando um soco com força no rosto dele, o fazendo ficar inconsciente — Não sou adepto a violência, mas às vezes ela é necessária — Contou — Temos pouco tempo pra ficar aqui, logo vão dar conta da ausência dele e vir perguntar — Falou — Foi arriscado da sua parte fazer isso — Levantou, a olhando com um sorriso de canto. 

— Ele voltaria acompanhado com a bruxa — Resmungou, massageando a mão dolorida — Espero que tenha um plano... 

— E eu tenho, mas apenas parte dele — Contou, olhando com desprezo para o Valete de Copas — Temos que nos apressar caso queira o espelho para sair daqui.


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Notas finais do capítulo

Voltei! Bem, agora as coisas vão ficar complicadas mesmo. Confesso que me enrolei um pouco com OUAT in Wonderland, tinha na netflix, mas quando fui pegar pra maratonar... Não tinha mais e não consigo achar um site confiável para assistir também... Então estou pegando coisas do livro e informações do seriado.

Espero que tenham gostado do capítulo e gostando da fic e bem, até o próximo capítulo o/



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