Mad Wolf escrita por Liran Rabbit


Capítulo 3
Capítulo II — Mad Hatter




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719190/chapter/3

Passava pela cabeça de Ruby que talvez ela tenha caído e batido a cabeça com muita força no chão ou em alguma pedra e, muito provavelmente estaria estirada e desmaiada no chão, morrendo de frio e sendo quase coberta pela neve. Sobreviveria um pouco mais por ser parte lobo, mas ninguém conseguiria passar uma noite inteira sem um abrigo para proteção. 

Uma bela maneira de morrer, pensou. Mas agora seguia um gato falante em um reino chamado País das Maravilhas onde, tinha uma lagarta que fumava, se localizava depois de cair de uma toca d'coelho e quando chegava no fim da toca, estaria numa sala cheia de portas e que nenhuma abria. 

A flora era incrível e de criaturas que viu até momento, algumas falavam e a olhavam com curiosidade, mas corriam para longe antes mesmo de Ruby indagar ao Cheshire sobre tais.  

O nome da pessoa que poderia tira-la de lá também não era muito bom. Chapeleiro Maluco. Nome muito agradável, talvez título, não sabia como aquele reino funcionava. 

— Como esse chapeleiro é exatamente? — Perguntou, fingindo não ter tanto interesse. 

— Maluco — Falou simplesmente. 

— Além disso... — Pediu, rolando o olhar. 

— Não se assuste caso ele fale muito rápido — Comentou e Riby assentiu. 

No meio do percurso, Cheshire preferiu flutuar e sumir por alguns segundos, mas sempre voltando e a guiando, a deixando mais desconfiada que o normal.  

Passaram por uma grande cerca podada de arbustos e pela estrada, parecia ser um labirinto. Foi advertida pelo gato risonho a não chegar perto caso quisesse continuar viva e nem ousou tocar naquilo, mesmo que fosse belo. 

Viram algumas casinhas e de uma viu o mesmo coelho a qual tinha perseguido saindo de uma. Não estava surpresa, mas não encontra-lo antes do Cheshire era estranho. 

— Atrasado... Vou ser decapitado... — Falava alarmado e com medo, pânico no olhar vermelho dele — Muito atrasado... 

Ruby estranho aquelas palavras. Como assim iria ser decapitado por conta de um mero atraso? Se virou para indagar para Cheshire e dessa vez ele estava parcialmente visível, apenas com seu sorriso e orelhas mostrando. 

— Senhor coelho? — O chamou e viu o mesmo petrificar ao ser chamado, os olhinhos arregalados e o óculos deslizando em sua face. 

Se tinha seguido e tentado caça-lo, ele poderia saber como tira-la de lá. Seria uma má ideia por conta da reação dele e que poderia fugir antes mesmo de perguntar a ele sobre algo. 

Mas já tinha a ajuda de um gato risonho totalmente estranho ao olhar, suspeito e que por acaso conhecia alguém que a ajudaria e sem pedir muita coisa em troca, mas não custava nada pedir uma ajudinha além do que conseguiu. 

— Lobo... — Gaguejou, seu pequeno corpo branco tremendo — Lobo! — Gritou. 

Como Ruby previu, o coelho fugiu e Ruby se perguntava como ele sabia que ela era uma loba. Talvez fosse o cheiro ou a magia da capa vermelha que a ocultava e ajudava a controlar a fera? 

Resmungou por não ter tido uma abordagem melhor e seu humor não melhorou com a risada de Cheshire. Menos ainda quando sumiu novamente e longe, assustou o coelho que tentava fugir de Ruby, o fazendo cair no chão e levantar para novamente sumir em um arbusto. Sua chance de tentar ter uma conversa foi miseravelmente falha.  

— Chegamos. 

Parecia que aquela era a única casa que viu até o momento que estava beirando o abandono, em ruinas e parecendo que enfrentou uma guerra. Aquele gato deveria ter o sorriso no rosto como sempre, mas dessa vez estaria rindo da cara de idiota de Ruby. 

— E é aqui que me despeço também, até mais — Falou e simplesmente sumiu. 

E era assim? Ruby abriu e fechou a boca, senti o rosto esquentar de raiva e respirou fundo, fechando os olhos. Agora precisava achar o tal Chapeleiro Maluco, não se intimidar e lembrar que poderia se transformar para própria defesa. 

Em passos cautelosos, se utilizou de seu olfato de loba e o lugar tinha cheiro de chá e biscoitos queimados. Coçou a nuca, já sentindo o arrependimento lhe pesar a cabeça. Então sua audição a fez notar que não estava sozinha, virando-se para olhar novamente ao seu redor. 

Mas não havia ninguém, nem sob os cogumelos gigantes ou frente a casinha arruinada, mas seus instintos lhe diziam ao contrário. Sentia a brisa calorosa da manhã daquele reino arrepiar a espinha de tão estranho que era e casa pequena criatura que passava e mostrava ser inofensiva, não diminuía a guarda de Ruby, seria uma tola se estivesse maravilhada. 

Um toque em seu ombro e virando-se bruscamente, o olhar brilhando em dourado e a feição marcada pela seriedade. Ainda mais com a pessoa tendo a forma humana e próxima do normal que Ruby conhecia.  

— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou, os braços cruzando-se. 

Se ele tinha a cartola, deveria ser a pessoa que Cheshire falou. Seus olhos perderam o brilho e sustentou o olhar sobre si, não abaixando a guarda. 

— É uma coisa que até mesmo eu gostaria de saber, mas gostaria de sair desse reino — Contou — Não vim incomoda-lo, apenas pedir sua ajuda para sair daqui — Explicou, vendo o cenho dele franzir levemente, confuso — Você seria o Chapeleiro Maluco, não? — Indagou. 

— Se fosse, o que ganharia ajudando uma loba como você? — Rebateu, sério.  

Novamente alguém sabia de sua natureza licantropia  e não era um animal como o coelho ou o gato para saber. Aquilo a frustrou, fez seu corpo ferver de raiva por todos saberem sobre si sendo que não deveria nem ter poucas horas que estava lá.  

Deu passos receosos para trás, o vendo se aproximar na mesma medida e não se intimidar assim como Ruby não estava, mas entre a curiosidade e se manter viva, ela gostava muito de respirar. 

— Você cheira a lobo, não é difícil saber — Explicou, parando de cerca-la — Quem lhe contou sobre mim? Todos mantém distância desde que a Rainha de Copas decapitou minha cabeça e me tem trabalhando para ela. 

—  Cheshire me contou — Explicou, mas franzindo o cenho e torcendo o nariz levemente, a frase que ele soltou lhe intrigando — Espera, você disse "decapitado"? — Indagou, descrente. 

— É, decapitado. A cabeça arrancada, separada do corpo como uma rolha da garrafa d'vinho — Falou, dando de ombros e a feição séria sendo deixada de lado para uma cansada, exausta para ser exato — Não posso ajuda-la — Falou simplesmente, passando por Ruby e indo até a casinha. 

— Por que não? — Indagou, tanto frustrada como decepcionada, o seguindo e vendo-o respirar fundo, vendo o molho cheio de chaves que tirou de seu paletó maltrapilho. 

— Porque eu não tenho magia pra levar para casa — Falou, olhando brevemente para Ruby — Sem magia não tem como sair daqui e a Rainha de Copas também quer cair o fora como você — Sorriu falsamente, desmanchando o sorriso e abrindo a porta da casa. 

— E você tem medo de enfrenta-la? — Perguntou, pulando de susto com a porta fechando atrás de si como se alguém tivesse feito isso e não o vento. 

Se já tinha visto o suficiente naquele dia, talvez não chegaria ao pés daquilo. Em qualquer canto que pudesse olhar tinha uma cartola feita, várias. De tamanho a cores, de modelos feitos até as não concluídas. 

— Medo? Não tenho medo dela — Rebateu, jogando as cartolas que estavam em uma cadeira no chão. 

— E por que não tenta? Esse é um reino cheio de magia e você não pode por não ter magia? — Insistiu, as mãos na cintura e ainda o olhando com o cenho franzido. 

— Digamos que eu ajudasse você, quanto tempo levaria para a rainha mandar alguns de seus homens apenas para capturar a mulher que conseguiu vir de outro reino? — Falou. 

— Ela faria o que comigo? — Indagou. 

— Se você não entregar o que ela quer, provavelmente você teria o mesmo destino que o meu — Contou, mostrando o pescoço que era escondido pelo lenço. 

Ruby achou que ele estava apelando para assusta-la, como se fosse um modo de falar em ser decapitado, que ele fizesse jus ao título Chapeleiro Maluco e tivesse fazendo a cabeça dela falando besteiras. 

— Você tem que me ajudar — Pediu, seu olhar assustado não saindo do pescoço dele, apenas voltando a olhar seu rosto quando ele cobriu o pescoço. 

— A sensação de ter a cabeça cortada não é agradável — Rebateu — Mas se você pode se transformar em lobo, tem que ter algo que contenha a criatura — Refletiu — Magia negra? 

— Por que gostaria de saber se posso logo perder a cabeça, literalmente? — Zombou. 

— Porque estou curioso, a curiosidade pode ter não ter matado o gato, mas quase me fez perder a cabeça — Sorriu fracamente — Eu conseguiria abrir um portal magico para lhe levar de volta, mas minha cartola não contem mais magia alguma, eu não consigo fazer uma cartola sem magia e não sou um feiticeiro nato para tal feito. 

— Mas você disse que precisaria de magia para um portal — O lembrou — E está falando desse assunto como se tivesse mudado de ideia — Franziu o cenho, empurrando algumas cartolas de outra cadeira estofada, ignorando o olhar dele sobre sua atitude. 

— Não mudei de ideia, apenas estou explicando como as coisas funcionam — Falou, dando de ombros e Ruby suspirou cansada, tentando se conter com o rumo daquela conversa. 

— Não acredito que deixei um gato de sorriso estranho me guiar para o nada... — Resmungou. 

— Não sou "nada", mas também não sou sua "ajuda" — Falou descontraído — Mas também não sou aquele que aceitara seu pedido insano — Deu de ombros. 

— Então é inútil continuar aqui — Torceu a cara — Sinto muito incomoda-lo — Falou, sentindo o gosto amargo em sua boca ao falar tais palavras, o peso do que aconteceria e principalmente medo.  

Levantou e andou até a porta, mas parando com o cheiro de alguém, havia mais de uma criatura ou pessoa lá fora e estavam armados, conseguia ouvir o barulho da armadura desses.  

— Tem porta dos fundos? — Voltou para onde estava o chapeleiro, perguntando e vendo o olhar confuso dele — Não estamos sozinhos — Contou, alguém batendo com força na porta em seguida e alertando ambos. 

— Tem, mas devem ter alguns obstáculos em frente a porta — Contou, nervoso e ajeitando o paletó e a cartola — Suba e se esconda — Falou, passando por Ruby, indo até a porta. 

E ela não tinha uma escolha segura no momento, se acabasse se transformando, não iria durar tanto na forma de lobo e sua capa vermelha estaria a mercê de qualquer ser daquele reino, principalmente de um chapeleiro que negou ajuda-la. 

Rápida, Ruby atravessou a sala e subiu as escadas que rangeram por conta de seu peso, andando e entrando em um dos dois quartos que estavam abertos, ignorando a bagunça e colocando-se debaixo da cama. 

O pó do cômodo era tanto que ela teve de segurar a vontade de espirrar, seu olfato era mais sensível e por conta disso, aquele pó todo causava irritação e lhe ocasionou um espirro. Teria de conte-los caso quem quer que fosse estivesse lá embaixo. Usou de sua audição, fechando os olhos e ouvindo o que se passava. 

— Fomos informados que abriga uma humana de outro reino aqui — A voz grossa falou e pode ouvir a risadinha do chapeleiro. 

— Uma mulher de outro reino aqui? — Zombou — E você acharam que ela estaria na casa da única pessoa que a vossa majestade detesta? 

— Você é o Chapeleiro Maluco, poderia estar enganando a todos e tê-la trazido com sua magia — Outra voz proferiu — As criaturas das Maravilhas viram ela ser trazida para sua casa, o coelho branco informou tê-la visto. 

— E vocês acreditam naquele medroso? Vocês que plantaram rosas brancas e tiveram de pinta-las de vermelhas? — Falou. 

— Podemos cortar novamente sua cabeça — Ameaçou, Ruby conseguiu ouvir o barulho das armaduras de mexendo junto de suas armas. 

— Que seja, entrem e vejam por si mesmos — Falou por fim e Ruby ouviu o passos de mais de cinco dessas coisas entrarem na casinha. 

Foi um longo período que ficou escondida, mas parecia ainda mais, uma eternidade e ficar num quarto bagunçado e cheio de pó como aquele, ela poderia morrer e se entregar com apenas um espirro.  

O ranger do piso de madeira alertou que um deles estava próximo e ela não sabia se deveria se jogar da janela, mas não houve tempo para pensar, a porta do quarto rangeu e entrou no cômodo em que ela estava escondida. 

Controlou a respiração, seu corpo gelou e manteve-se parada, atentou-se aos passos, as suas chances de sair dali. Mas se fizesse algo, prejudicaria o chapeleiro, o gato risonho e o pobre coelho por tê-la guiado até a entrada daquele mundo, mesmo que só tenha gritado e a chamando de "lobo". 

— Eu vi! Eu vi a mulher de outro reino! — Uma voz fininha berrou, chegando até mesmo aquele andar. 

O ser que estava no mesmo cômodo que Ruby parou e se retirou, distanciando até o outro andar. 

— Diga onde ela está? — A coisa de voz grossa ordenou. 

— No labirinto, estava tentando achar o mesmo espelho que veio! — Falou e as coisas que estavam na casa se retiraram com presa. 

Pode tentar respirar fundo apenas ao sair daquele quarto, tossindo e batendo na roupa, ajeitando e descendo as escadas. Ouviu a porta da casa ser fechada e quando chegou até perto do chapeleiro o ouviu suspirar cansado. 

— Não vou oferecer nada a você, Ches — Ralhou. 

Cheshire sorria e mantinha parte de seu corpo invisível, flutuando e ficando ao lado de Ruby. Ela não sabia se pegava aquele gato pela orelha e o xingava ou apenas assistia. Preferiu a segunda opção.  

— E para quê? Não pedi nada — Brincou, dando uma risada. 

— Conheço você o suficiente para sentir o seu interesse de longe — Falou com escárnio — Cai o fora da minha casa — Ordenou, sério. 

E assim Cheshire se retirou, sumindo por completo e mesmo tendo esse truque tão sinistro, Ruby não sabia quando ele tinha se distanciado ou ainda estava presente e por perto. 

O olhar verde do chapeleiro a encarou no mesmo jeito, se desmanchando e massageando a têmpora. Podia ouvir o coração dele batendo rapidamente, estressado e ansioso pelo que aconteceu. 

— Você disse que queria ajuda para voltar ao seu reino? — Indagou, um sorriso formando e Ruby cruzou os braços. 

— E vai se arriscar a sua cabeça como uma rolha de garrafa para ser arrancada? — Comentou e ele fingiu pensar, passando por ela. 

— Já perdi a cabeça uma vez, vamos ver o que acontece com a próxima — Brincou — Aliás, não perguntei seu nome até o momento — Falou, olhando de forma marota para ela. 

— Me chamo Ruby. 

— Olá, Ruby. Me chame de Jefferson.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu voltei um pouquinho cedo, mas acabei me empolgando um pouco.
Espero que tenham gostado e nos vemos na próxima. Obrigado por lerem e acompanharem. o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mad Wolf" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.