Mad Wolf escrita por Liran Rabbit


Capítulo 4
Capítulo III — Through the looking glass




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— Você é uma pessoa bem sortuda para quem acabou de entrar no Reino das Maravilhas, mas para sua sorte ainda maior — O Chapeleiro Maluco, ou melhor, Jefferson, falava do que seria a cozinha — Ninguém gosta tanto de ficar perto de mim para espalhar a fofoca e olha, as criaturas daqui não querem ser alvos da nossa adorável rainha — Deu uma piscadela e Ruby rolou o olhar. 

A casinha dele era deveras curiosa e estranha, mas muito bagunçada. Poderia estar ali para própria segurança, mas Ruby não era tola de não notar o óbvio do homem que a estava ajudando ser um completo maluco, literalmente.  

Várias xícaras estavam na mesa e frascos com conteúdos suspeitos, ela gostaria de saber se foi ele quem fez o mesmo que ela encontrou na sala das portas. Ele procurava algo nos armários e pelo barulho, parecia de longe encontrar o que almejava.  

— Temos o primeiro tópico, arranjar alguém com magia que não seja a rainha, o segundo seria fazer essa pessoa aprender a fazer uma cartola — Contava, voltando-se para Ruby de mãos vazias e ela franziu o cenho. 

— O que essa cartola tem de tão especial mesmo? — Perguntou curiosa e os braços cruzados e o Chapeleiro tirou a cartola que usava, coçando a cabeça em claro sinal de nervosismo — Você tem várias, não é apenas mais fácil colocar a magia em um delas? — Sugeriu e ele negou. 

— A magia não é tão simples, ela é como tecer um cachecol — Explicava, passando por Ruby e essa o seguiu até a sala cheia de cartolas, dando a ela uma delas para segurar — Além de tecer, tem que se ter o cuidado e atenção para nada sair de errado e acabar deixando o produto com defeito. 

— E você não tem mais magia — Sussurrou, aquilo era um beco sem saída, a situação não tinha saída em si. 

— Sinto o cheiro de lobo em você, talvez amaldiçoada? — Indagou e ela negou — Sua capa vermelha, ela tem magia, não? — Perguntou e Ruby gelou, olhando séria para ele — Calma, não vou usar o tecido da sua capa para confeccionar uma nova cartola, a magia de quem fez isso é bem especifica e é negra, não mexo com magia negra — Explicou, sério também. 

— Então você não pode me ajudar — Concluiu, tirando o capuz e colocando a cartola como uma brincadeira para si mesma — Que grande maravilha... 

— Tecnicamente existem outros tipos de magia, eu apenas não tenho mais a graça dela — Sorriu fracamente — A minha criada a partir da  malícia — Contou e Ruby franziu o cenho, desconfiada — Não é nada para se preocupar, lobinha. 

— Estou muito mais segura por me despreocupar, obrigado — Sorriu de forma zombeteira — Poderíamos voltar para a sala das portas se você tiver alguma chave delas — Contou. 

— Sala das portas? Como você veio mesmo? — Perguntou. 

— Cai da toca do coelho — Deu de ombros, ajustando a cartola — Eu vi o mesmo coelho branco falante quando estava vindo de procurar, ele tem medo de mim por ter tentado mata-lo — Contou, tirando a cartola e a entregando par o Chapeleiro, vendo o sorriso irônico dele e ela negou com a cabeça — Eu não sabia que ele não era um coelho comum. 

— E é isso que o deixa com mais medo, ter a caçadora dele por perto e ainda ser o culpado por traze-la até aqui — Zombou — Talvez ele seja o alvo da rainha por enquanto. 

Pensando bem, ela não iria sair daquela casinha com frequência e não encontraria com aquele coelho branco, mas pelo que o Chapeleiro falou sobre perder a cabeça e a maior parte das criaturas terem tido medo ao vê-la, sentia pena da pequena criatura, essa não havia feito nada de errado e iria pagar por algo que erra injusto. 

— Pelo menos não é com você — Sorriu fracamente e Ruby franziu o cenho. 

— Ele vai ser morto? — Indagou. 

— Não, ele é bem útil de uma forma inútil para a rainha, ainda tem serventia — Deu de ombros. 

— E você não se importa? — Perguntou, vendo a face dele se tornar séria. 

— Eu deixei de me importar a muito tempo com esse reino — Respondeu de forma fria. 

E o assunto foi encerrado por ali. A mente de Ruby formigava de curiosidade e medo pelo que poderia acontecer, ela ainda tinha suas duvidas sobre como voltaria e os meios necessários, de como o Chapeleiro notou a magia de sua capa vermelha e com a desculpa esfarrapada de sentir o cheiro de lobo nela.  

Foi levada novamente para o quarto onde se escondeu e ela negou veemente que não ficaria ali, o pó estava insuportável e que seu olfato era sensível, o que resultou em piadas do Chapeleiro e que ele pediu para que ela aguardasse no seu quarto, lhe dando a chave dele e fechando a porta do quarto empoeirado.  

Entrar no quarto de um desconhecido, claro que Ruby não entraria, mas também não voltaria para a sala onde alguém poderia vê-la. A teimosia parecia martelar em sua cabeça e Ruby respirou fundo, queimando o orgulho e indo até a porta do quarto do Chapeleiro. 

A abrindo, pode ver que seria o único cômodo realmente arrumado na casa inteira. Haviam rolos de tecidos em um canto e sob uma escrivaninha várias linhas e pequenos tecidos para costura, além de outros utensílios estranhos que não estava familiarizada.  

Sentia agora um pouco mais aliviada, mas não com menos medo. Um reino diferente e uma rainha louca a sua procura, poderia colocar a culpa em um coelho branco de olhos vermelhos, mas a culpa era realmente de Ruby por sua curiosidade. Achar um culpado não era a coisa mais essência no momento, o importante era sobreviver e arrumar uma saída dali o mais rápido possível. 

Sentando-se na cama, olhando o pouco que tinha no quarto e esperando os minutos passarem, sentindo o cansaço e um pouco de calor, mas não ousando retirar sua capa, ainda desconfiava do Chapeleiro Maluco ou "Jefferson", pois seu título fala por si só, Chapeleiro "Maluco". 

Sua audição captava o movimentar de outros de longe, todos tinham uma rotina e o Chapeleiro morava longe demais de qualquer um, ao momento uma criatura deu uma falsa pista de onde Ruby fugiu e o gato Cheshire também parecia se divertir com tudo aquilo.  

O que sua avó estaria fazendo agora? O que pensaria de seu sumiço? Será que alertaria para Mary sobre ter desaparecido? Apenas torcia para sua avó não recorrer a mesma pessoa que colocou magia em sua capa. 

— Estava pensado se seria uma boa ideia irmos de onde você chegou depois de comermos algo — O Chapeleiro surgiu na porta, assustando Ruby por sua repentina aparição e por estar completamente desarrumado. 

— E aqui tem alguma comida? — Indagou, lembrando-se da bagunça na cozinha. 

— Como assim "alguma comida"? Mas é claro que tem! — Rebateu, ofendido — Apenas guardo tudo para e preparo para não causar efeitos colaterais — Explicou e Ruby franziu o cenho. 

Como assim a comida dele tinha efeitos colaterais?  

— Pela sua cara, deve estar imaginando coisas já — Brincou — A comida desse reino causa alguns efeitos estranhos para quem as come — Explicou. 

Que ótima novidade, agora, tinha como piorar? 

— O que vamos comer? — Perguntou, suspirando e estalando as mãos e esticando os braços para espantar o cansaço. 

— Você gosta de torta de frutas? — Perguntou com um sorriso malicioso e de que iria fazer algo errado, mas Ruby não iria contestar ou impedi-lo, afinal de contas, ela estava com fome. 

— Qualquer coisa que não envolva algo estranho e suspeito — Respondeu, dando de ombros e o vendo sorrir ainda mais, não conseguindo impedir responder, dando uma risada. 

Ele pediu para que ela o acompanhasse e quando desceram, o Chapeleiro pediu para que ela retirasse a capa e se fizesse o mais comum possível para não atrair desconfiança. Ruby franziu o cenho e cruzou os braços antes de saírem, não tinham nem desviado a atenção dos guardas que a procuravam e iriam sair para qualquer um vê-la. 

— Eu falo que você é de um reino próximo se perguntarem da sua aparência humana — Fez pouco caso e Ruby o olhou ainda mais descrente. 

Ficar mais comum, ela era comum. Tirando o seu cheiro de lobo que ele e o Cheshire sentiram. Para fora da casinha, Ruby ajeitou seu cabelo e olhou desconfiada para o Chapeleiro que seguiu na sua frente, um tanto apressado e se assemelhando a uma criança prestes a fazer alguma travessura. 

Riu com a comparação e o acompanhou, chegando as casas de outras criaturas a qual passou antes, o ouvindo voltar e pedindo para que observasse algo suspeito e se alguém chegasse perto. Apenas concordou e segui em frente a uma casa de estrutura estranha, parecia um vegetal, o vendo desaparecer pelos fundos e o aguardando por alguns minutos. 

Ela levou um susto com algo sendo quebrado e em seguida o Chapeleiro aparecer com uma torta em mãos e de longe Ruby pode sentir o cheiro, salivando de fome. 

Não parecia, ele tinha feito algo de errado e Ruby correu, o acompanhando de volta para a casinha onde estavam. 

Quando entraram e a porta foi fechada, Ruby ando até a sala e vestiu a capa vermelha, olhando para o Chapeleiro e com ambos sorrindo, riram do feito a poucos instantes atrás. 

Pegaram pratos e se serviram na sala, comendo a torta de frutas. Ruby não sentiu nenhum efeito colateral, talvez seja pela comida quando colhida ser preparada com cuidado. 

— Já que ficara sob meus cuidados, terei algumas regras aqui para você — O Chapeleiro falou de boca cheia — Não confie demais no Cheshire. 

— Por que não? Ele me ajudou a chegar até aqui — Protestou, terminando de engolir a saborosa torta. 

— E ele fez isso, pode ter certeza que algo em troca ele pediu, não? — Indagou já não mais de boca cheia, o olhar malicioso e Ruby mordeu a língua, não iria contar o que o gato risonho pediu como favor — Aceitarei isso como um sim — Deu-se por vencido, um sorriso convencido no rosto — Agora temos outra questão, não beba os frascos que estão na cozinha ou os bolinhos de chocolate escrito "me coma". 

— É um pouco suspeito comer um bolinho assim, não acha? — Falou, limpando o rosto das migalhas. 

— Suspeito e que tem o mesmo efeito que as comidas não preparadas com atenção — Contou — Agora que terminamos de comer, vamos ao espelho que lhe trouxe para este reino? — Sugeriu e Ruby franziu o cenho. 

— Mas eu vim por uma janela do tamanho de uma porta... — Contou, estranhando aquilo. 

— Ruby Lucas, você veio de uma janela, mas para nos do reino das maravilhas é mais como um espelho — Explicou, levantando-se — E você atravessou o espelho assim como uma velha amiga minha. 

Aquele mundo estava começando a ficar mais confuso para ela entender, mas conteve suas duvidas e se levantou. 

— Preciso que beba isso — Tirou do bolso da calça um frasco semelhante ao que Ruby pegou na sala das portas. 

— Me disse para não beber isso — Falou. 

— Acredite, ninguém vai ver você caso fique diminuta — Contou — Vamos, confie em mim e se não confia, lembre, a qualquer momento posso perder a cabeça só por ter entrado na minha casa, vou perder a cabeça de qualquer forma até mesmo se lhe entregasse — Falou. 

— E por que me ajuda? — Indagou. 

— Você não merece ficar presa aqui como eu estou preso — Falou com sinceridade, ele transmitia isso ao falar — E porque você também pediu a minha ajuda — Deu de ombros, voltando a entregar o frasco para Ruby — O que me diz, lobinha?  

Dessa vez ela o pegou e tirou a rolha, virando o frasco e o bebendo, o deixando cair no chão. Estranhou o Chapeleiro segurar sua mão e ainda ver as coisas ao seu redor diminuírem e antes a mão que era segurada pareceu lhe puxar para cima, a impedindo de encolher para o chão. 

Era como se estivesse em uma catapulta e Ruby controlou a respiração, assustada por estar literalmente nas mãos do Chapeleiro. 

— Incrível, não? — Sorriu. 

— Não! Nem um pouco — Falou alto para que ele escutasse ou notasse seu desespero — Quero voltar ao normal! 

— Mas se fizermos isso, não teremos como ir ao espelho sem chamar a atenção — Explicou — Lobinha, tenha e aproveite seus vinte segundos de loucura — Brincou. 

Ruby respirou fundo e se segurou firmemente na mão dele até ser colocada na cartola que ele usava, se agarrando ao tecido e sentando, apoiada como se aquilo fosse uma "parede". Observou com mais atenção ao cenário gigantesco que a envolvia, um mundo de gigantes por conta daquela bebida estranha. 

Pode ouvir a risada do Chapeleiro e se segurou ainda mais quando a cartola balançou, o xingando mentalmente. Não sentia enjoo por conta daquilo, apenas temerosa de cair e ser uma queda e tanto para morrer, uma forma ridícula de morrer se pensar bem. 

Quando chegaram no espelho, Ruby não notou a presença da lagarta azul e também estranhou a ausência de algo por onde tinha vindo. 

— O espelho... Ele sumiu... — O Chapeleiro sussurrou. 

— Mas como?  

— Alguém que definitivamente não quer que você volte — Lhe respondeu — Temos que voltar, aqui não é tão seguro como imaginei.


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Notas finais do capítulo

Olha só quem voltou! Espero que estejam gostando e bem, veremos qual tipo de magia vai tirar a Ruby do reino das maravilhas, apenas digo que esse será difícil de se conseguir *no spoilers*

Até o próximo e obrigado por acompanharem o/



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