Crônicas de uma jornalista escrita por Andrew Ferris


Capítulo 5
Entre o medo e a coragem


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou um pouco pesado...não sei, me digam vocês!!!



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     Mais uma manhã se passa e paro pra pensar em todo o trabalho que tinha tido até então. Hora sim hora não o estagiário empolgado me ligava e cada vez que fazia isso eu tinha mais vontade de ligar para Ben e pedir demissão, mas não seria dessa vez que me daria por vencida. O tenente de polícia que tinha conhecido ontem, James Gordon, parecia um bom sujeito, mas já havia me enganado antes a respeito da conduta de um cidadão de Gotham. Sim, depois de tanto tempo não havia esquecido minha mãe. Mais de ano atrás eu tinha passado por aquela situação, algo que nunca iria sair da minha cabeça. A maneira como ela havia se virado de costas, como se eu não fosse nada além de outra vítima do crime, foi o cúmulo do absurdo que já tinha visto na vida. O que não significava que seria a última coisa que eu veria de absurdo. Jonathan Crane parecia estar cauteloso, atacando sempre no começo das tardes, um horário que Batman não apareceria nas ruas nem pintado de branco, então o criminoso tinha tudo a seu favor, só não contava com uma jornalista decidida na sua cola. Depois de uma análise rápida, me dirijo a uma indústria abandonada nas docas onde algumas gangues já haviam operado e, ao chegar lá, bingo. O cretino estava em pé discutindo com um capanga antes de mandar os demais saírem e ficar sozinho com o medroso com que discutia, pedindo que se sentasse antes de prosseguir sua tarefa. Sua "tarefa" no caso era intimidar o sujeito com sua voz melancólica e seu jeito calculista. Me abaixando para não ser vista, passo pela única janela que me permitia ver os dois para arrastar pela parede do lado de fora até um buraco pequeno que consegui atravessar sem dificuldade, me escondendo com agilidade atrás da mesa de Crane e ligando meu gravador enquanto os criminosos conversavam.
     - Então você dizia ser leal a mim quando na verdade trabalhava pro Falconi desde o princípio, não é William?
     - Me desculpe doutor Crane, eu achei que o senhor Falconi não fosse passar tanto tempo lá.
     - Mundo irônico esse não? A única pessoa que te dava segurança nessa cidade saiu da cadeia e descobre que sua cria tinha outro dono. Isso é muio feio, William, muito feio.
     - Me desculpe senhor Crane, eu fiquei sem saída.
     - Não precisa se explicar para mim, meu jovem, não para mim. Por acaso acha que sou um ignorante homicida igual ao Falconi ou o Máscara Negra? Não, eu entendo muito bem o que está querendo dizer. Você é um covarde, e como qualquer covarde, é movido pelo medo. O medo o faz tomar atitudes e decisões constantes e imprevisíveis, escolhas muitas vezes desesperadas e mal pensadas, onde não se avalia as consequências direito e segue-se pelo curso determinado a se livrar do que o apavora. Já que você é esse tipo de pessoa - Declara Crame andando até uma estante onde haviam dezenas de granadas rotuladas com números e letras escritos, então volta com um frasco específico e o abre sem se conter, respirando a fumaça que saía da granada com toda a força de seus pulmões - Você será a cobaia perfeita para testar a minha nova toxina. Veremos até onde o medo o faz suscetível - Soltando uma gargalhada medonha, Crane continua respirando a toxina enquanto o bandido à sua frente grita horrorizado seja lá com o que estivesse horrorizado, e nesse momento percebo que precisava de uma máscara. Me arrastando longe da vista de Crane, apanho uma máscara em cima de um balcão e cubro meu rosto enquanto o homem sentado continuava gritando de pavor e seus olhos se encontravam tão abertos que parecia que saltariam das órbitas a qualquer momento - Sabe de uma coisa William - Declara Crane chamando seus homens - Existe uma certa semelhança entre coragem e medo que sempre foi um forte alvo dos meus estudos e acho que estou cada vez mais perto da chave dessa semelhança - Me arrasto para trás de uma coluna velha que stava quase aos pedaços, me aproximando cada vez mais de ums janela quebrada por onde pensava em usar para escapar - Estive pensando em um nome para ela, quem sabe IDT-A-01, o que acha? - Pergunta cutucando o sujeito, que cai da cadeira na hora, como se nunca tivesse visto Crane e sua máscara tenebrosa em toda a sua vida - Sabe por que "IDT"? Acho que não. É uma abreviação que acabei de criar para a semelhança entre duas coisas tão opostas que são o medo e a coragem, é a notória estupidez - Ele ri com diversão apontando para onde eu me encontrava - Também chamada idiotice - Instantes depois um capanga de Crane me pega pela perna e me arrasta para a frente da sala, retirando a máscara e me colocando na cadeira à frente da mesa de Crane, já que o bandido que tinha inspirado a toxina agora era segurado por mais dois capangas para fora da sala enquanto o vilão o observava com uma curiosidade peculiar.
     - Senhorita Turler - Afirma Crane me observando de cima a baixo - Como vai a senhorita? Não esperava encontra-la tão cedo depois de nossa entrevista.
     - Você é realmente um doente - Afirmo tentando não me intimidar com o aspecto grotesco do criminoso.
     - Por que pensaria alguma coisa dessa natureza a meu respeito? Eu simplesmente curo a doença mental inserida nas pessoas que acham que podem ser normais quando existe uma corrente feita especialmente para prende-las no chão. Para manter sua sanidade. O que torna o meu trabalho um tanto quanto sarcástico é que se você forçar demais a corrente a própria barreira que mantém sua mente sã vai te tornar um completo biruta.
     - Se quer me deixar assustada,vai precisar de mais do que palavras vazias vindas de um maluco que tem três diplomas na área de medicina neurológica.
     - Que bom que lembrou desse detalhe, senhorita, por que achei que seu interesse tivesse a ver com um complemento da nossa entrevista. Sabe, foi muito bom da sua parte ter vindo sem esforços até mim, facilita muito o meu trabalho. Eu disse à senhorita algo que não devia ter dito, mas ninguém saberá que eu falei a essa altura, mas se a senhorita estive morta então aquele filho da puta sem escrúpulos virá atrás de mim de novo, o que significa que vou precisar de ajuda para me livrar dessa corda no pescoço.
     - O que tem em mente? - Questiono preocupada.
     - Como ainda não tenho minha toxina criada a partir da estupidez para gerar estupidez, resta a mim usar uma das minhas inovações básicas para criação de tormentos alucinógenos - Assim que para de falar e se dirige ao seu balcão para pegar uma granada embrulhada numa sacola colorida, Crane para um instante ao ouvir um barulho alto no lado de fora - Merda, chegou mais cedo do que eu esperava - Ele tira o pino da granada e me deixa inspirando seu conteúdo enquanto se retira da sala com todas as suas granadas numa bolsa grande, que é a última coisa que vejo antes de minha visão embaçar e me encontrar pouco depois no lado de fora da boate onde minha mãe se encontrava com aquele velho chamado Falconi. Estou no chão depois de levar alguns tapas e minha mãe agora se afasta agarrada ao criminoso enquanto os capangas dele me possuem, me colocando de costas no chão. Desta vez, sei o que vai acontecer. Bruce vai aparecer a qualquer momento e vai me salvar desses ordinários, quebrando os desgraçados sem dó nem piedade. Permito que deitem sobre meu corpo, então penso "é agora". Sem que eu espere, um dos capangas de Falconi segura pelo cabelo e me gruda em seu corpo, então uma série de coisas nojentas que prefiro nem contar acontecem comigo, enquanto eu ainda acreditava que Bruce viria, mas ele não vem. Eu sofria em silêncio para não deixar os bandidos mais contentes ainda, mas isso não amenizava minha dor, muito pelo contrário. Sinto um par de braços segurando minha cintura com força, então tento me desvencilhar deles enquanto lágrimas que não consigo evitar escorrem pelo meu rosto, mas ao abrir os olhos descubro que não eram meus agressores e sim o Batman.
     - Vai ficar tudo bem, Ellis.
     - Não vai, já aconteceu. Você chegou chegou tarde demais e agora está tudo perdido.
     - Foi só uma alucinação - Me explica com paciência se colocando acima de mim para me defender de disparos que se misturavam às ilusões e ao embaraço que minha visão se tornava.
     - O que você está chamando de alucinação, seu idiota? - Pergunto arranhando seu rosto enquanto um capanga se aproximava de mim com os lábios fazendo bico e os dedos das mãos sacudindo querendo me pegar - Ele quer por as mãos em mim de novo - Declaro chorando.
     - Ninguém vai te pegar, eu juro - Me pondo atrás de uma placa de aço no chão que por algum motivo desconhecido eu pensava ser um muro, Batman lançou um gancho no teto, ou o que restou dele, e subiu instantes antes de aparecer atrás de um dos capangas de Crane, amassando sua mão com uma pisada e chutando seu rosto logo em seguida. Enquanto eu cobria meu rosto em meio a lágrimas, o Cavaleiro da trevas fugia dos disparos e pulava na parede, voltando depois com a outra perna pronta para chutar o bandido. Um deles que se encontrava mais distante apontou a metralhadora na minha direção, mas meu herói lançou seu gancho para puxar a arma em sua direção, desferindo três socos muito rápidos no curto período em que o criminoso ficava sem reação. Assim que termina com todos os comparsas de Crane que estavam dentro da sala, Batman me pega no colo e me pede para fechar os olhos, então entramos num buraco atrás de um caixote de madeira e terminamos parando numa espécie de sótão, onde havia um carro enorme à nossa espera, que Batman dirige bem devagar até certificar-se que estava longe da sala/laboratório experimental de Crane. Na manhã seguinte acordo numa caverna escura, que a princípio não me deixa ver nada, mas aos poucos me acostumo com o ambiente e consigo explorar o lugar tranquilamente.
     - Espero que tenha dormido bem - Confessa um homem que surge de repente nas sombras.
     - Quem é você?
     - Te salvei ontem.
     - Me salvou? Tem certeza? Eu ainda assim fui - Nesse momento me dou conta de que tudo o que havia se passado tinha acontecido apenas na minha cabeça - Eu passei a noite tendo pesadelos com isso.
     - É a nova toxina do Crane. Mais potente, mais engenhosa, mais cruel. Ela perturba você através das suas piores memórias e as torna reais contrastando isso com seu maior medo. Não sei como ele conseguiu um composto tão específico para realizar esse tipo de alucinação, mas não foi difícul encontrar um antídoto para a mesma.
     - Está me dizendo que ele cria toxinas para simplesmente fazer os outros sentirem medo? Isso é doentio - Comento enojada.

     - É exatamente o tipo de coisa que ele faz.
   - Você conseguiu pegá-lo, não foi? - Ele fica em silêncio - Batman, você o pegou, não pegou?
     - Se eu o tivesse pego, você estaria morta agora - A resposta me espanta.
     - Essa toxina é tão forte assim?
     - Dependendo da dose que for aplicada, qualquer toxina do medo pode matar uma pessoa, mas essa é uma noção relativa.
     - Então devo agradecer. Já me ajudou duas vezes - De repente meus pensamentos são tomados por uma mão que puxa meu cabelo e me joga no chão - Eu tenho muito que agradecer - Declaro incomodada.
     - O que houve?
     - Uma imagem na minha cabeça.
     - Demora pros efeitos colaterais sumirem por completo, principalmente por essa toxina ter sido usada em níveis tão concentrados e eu ter desenvolvido um antídoto tão em cima da hora - Explica revelando o quão cansado estava.
     - Queria poder ajudar, mas acho que só atrapalhei mais, não é?
     - Não exatamente. Você ter ido atrás de Crane foi algo que eu havia previsto. Estava esperando você ir atrás dele, mas não tão cedo. Além do mais, tenho uma boa ideia do que ele planeja agora.
     - E imagino que não vá me contar.
     - Ainda não posso confiar em você, espero que entenda.
     - Entendo perfeitamente - Respondo sem alterar meu tom - Você precisa manter os segredos até saber se não fui apenas um meio de Crane chegar a você.
     - E por isso não irei sair daqui.
   - Então, como pretende me tirar dessa caverna? - Uma fumaça preenche os arredores e instantes depois minha visão fica turva, seguida de um repentino desmaio.


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