Crônicas de uma jornalista escrita por Andrew Ferris


Capítulo 6
A ameaça do senhor N.


Notas iniciais do capítulo

As coisas estão prestes a mudar para Ellis!!



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     Acordo em minha cama no quarto de hotel, pouco antes da camareira bater na porta e eu me levantar para abrir ainda com a roupa de quando tinha ido atrás de Crane.
     - A noite foi cumprida, moça? - Pergunta a senhora com simpatia.
     - Mais do que eu esperava - Respondo desapontada quando me dou conta de que aquela resposta não devia ter soado da maneira como eu esperava, então simplesmente deixo que ela entre enquanto eu vou para o banheiro me lavar. Assim que saio do chuveiro meu celular toca e ao verificar a chamada me irrito de cara.
     - Ben, o que houve?
     - Bom dia pra você também, Ellis.
     - As coisas não tem sido fáceis, mas acho que tenho material de sobra, fresco, tudo do seu interesse.
     - Batman?
     - Batman, Crane, máfia, tudo - Esclareço ansiosa - Acho que vou retornar pra Metrópolis em alguns dias, pode me esperar que aquele Pullitzer vai para a minha estante esse ano - Brinco determinada.
     - Estou esperando suas novidades. Vou ver se Garden consegue passar aí mais tarde.
     - Não se atreva Ben, se fizer isso vai se arrepender.
     - Certo. Não se preocupe, não vou contatar o jovem Allan - Nesse instante eu tinha certeza de que ele iria chamar o estagiário.
     - Com licença - Peço me aproximando da camareira - Vou ter de sair e mais tarde volto, se importa em deixar tudo trancado quando sair? - Pergunto pegando minha bolsa.
     - Não se preocupe moça, pode deixar que eu cuido de tudo.
     - Obrigada - Depois de me despedir volto às ruas. De vestido preto com sapatilhas vermelhas e uma blusa branca por cima, me dirijo a um restaurante não muito longe, quando percebo um detalhe numa esquina que chamava a minha atenção. Pendurado de cabeça para baixo, um criminoso gemia enquanto sangue escorria das suas pernas para seu rosto, encharcando suas vestes sociais. Ele devia estar ali há algum tempo, mas parecia muito debilitado. Depois de olha-lo direito chego a conclusão de que ele estava entre os homens de Crane antes do Batman aparecer. Então uma pergunta me perturbou de imediato "como aquele cara estava ali pendurado?" Pensei comigo mesma que o Batman não poderia ter feito aquilo, não fazia sentido, não parecia do feitio dele. Ligo para a polícia, que não demora a aparecer e, para meu azar, o policial metido estava na viatura com mais três companheiros. Para piorar a situação, ouvi palavras que não gostaria de ouvir, pelo menos não vindas dessa boca.
     - Senhorita Turler - Chama Allan se aproximando ofegante.
     - Senhor Garden - Me viro impaciente e ao mesmo tempo incomodada enquanto ele sorria sem jeito secando o suor que escorria por sua testa - O que exatamente faz aqui?
     - Vim ajuda-la. Estive procurando-a já faz algumas horas.
     - E suponho que tenha procurado no hotel onde durmo.
     - Ben não me disse onde fica, senhorita - Esclarece Allan sentindo-se excluído, mas ignoro sua expressão e me dirijo aos policiais.
     - Espero que isso se resolva - Comento colocando as mãos na cintura - Ele me parece bem feio.
     - Senhorita Turler, não é isso?
     - Isso mesmo. Eu não peguei seu nome na delegacia, me perdoe - Lembro fingindo simpatia.
     - Bart Larson.
     - O que me diz desse homem encontrado, policial Larson?
     - Que queremos a imprensa fora disso.
     - Por que diz isso, posso saber? - Um policial se aproxima do corpo e o retira de onde estava pendurado e, sem toca-lo, verifica um detalhe estranho.
     - Bart, vem aqui.
     - O que foi? - Pergunta Larson se aproximando desinteressado.
     - Tem um bilhete no corpo.
     - Que papo é esse Jones?
     - Está aqui entre os dedos, diz: "para Ellis Turler" - Me espanto com as palavras e dou um passo à frente, enquanto o humor de Bart parecia melhorar.
     - Que mais diz aí?
     - "Este foi o primeiro, um aviso, a próxima será você. Assinado, senhor N. Observação, você sabe quem eu sou, então não preciso de nome para me dirigir à senhorita."
     - O que isso lhe diz, jornalista? - Questiona Larson me olhando de canto.
     - Não tenho ideia - Minto com frieza. As possibilidades para mim se esgotavam em Gotham. Se eu não fosse embora depressa acabaria morrendo, como constantemente estava acontecendo. Uma série de momentos em que eu quase morria. Sabendo o tipo de pessoa que eu sou, obviamente você tira a conclusão de que eu iria embora de Gotham e depois daquilo não havia decisão mais prudente, mas ainda não era a hora certa, eu sentia que faltava algo a ser descoberto. Meus instintos jornalísticos me alertavam, então eu tinha que esperar mais um pouco. Se dirigindo ao policial, Lardon pergunta:
     - Conhece esse sujeito? - Embora eu visse estampado em seus rostos que ambos o conheciam, resolvi ficar na minha e puxar Allan para mim indo em direção a uma lanchonete - Já vai jornalista?
     - Dia cheio - Na lanchonete, Allan me observa incomodado e espera que eu diga alguma coisa que lhe agrade, mas meus pensamentos estavam de olho em outro assunto - Garçon, me dê uma xícara de café expresso e um pão na chapa, por favor.
     - Mais alguma coisa, senhorita?
     - Sim, o que vai querer Garden?
     - Nada senhorita Turler, tomei café há pouco tempo.
     - Não Garden, eu insisto.
     - Não obrigado.
     - Então é só isso mesmo, obrigada - O garçon se retira apressado enquanto mexo em minha caderneta refletindo algumas anotações.
     - O que foi isso, senhorita Turler? - Pergunta Allan confuso.
     - Policiais de Gotham. Um dos tipos de pessoa que menos suporto.
     - Estou falando do bilhete - Esclarece mantendo a calma.
     - Fui atrás de Jonathan Crane.
     - O Espantalho? Por que?
     - Por que eu precisava ter certeza de algumas coisas e entender mais sobre ele.
     - Para sua matéria.
     - Exato.
     - Mas me parece que o crime organizado quer mata-la agora.
     - Faz parte do nosso trabalho, por isso digo que tenho certeza do que vou fazer e preciso da sua confiança e palavra que vai seguir as minhas instruções - Declaro enquanto meus pensamentos se remoíam de um lado pro outro da minha mente.
     - Pode ter certeza que vou fazer o que a senhorita quiser.
     - Vá para Metrópolis. Volte para lá e evite lugares estranhos e pessoas estranhas. Qualquer coisa estranha que acontecer durante sua viagem até a rodoviária ligue para a polícia de imediato, entendeu?
     - Não posso fazer isso.
     - Você tem que fazer isso.
     - Não vou abandonar a senhorita - Protesta irritado.
     - Não se preocupe, até sexta estarei de volta a Metrópolis. São só mais dois dias.
     - E o Ben? - Questiona Allan intrigado - O que é que eu vou dizer pra ele?
     - A verdade, que Gotham se tornou perigosa para nós dois e que evacuamos daqui o mais rápido possível - O garçon chega em nossa mesa com uma bandeja.
     - Aqui está moça.
     - Obrigada - Entrego uma cédula a ele, mas ele me devolve sem compreender.
     - É muita coisa moça.
     - Eu sei, mas pode ficar com o troco. Não me importo.
     - Obrigado senhorita - Enquanto ele se retira encaro Allan com severidade.
     - Promete que vai fazer o que eu disse?
     - Prometo.
     - Ótimo. Assim que chegar em Metrópolis, ligue para John Wayttan, é um amigo meu - Escrevo o número num pedaço de papel e lhe entrego - Diga a ele para me encontrar em Rodan Silver ás oito horas em dois dias.
     - Mas por que?
     - Ele vai nos ajudar nessa situação, é um grande amigo meu se quer saber, agora tome cuidado na volta pra casa - Pego minha bolsa e saio sem tocar no café ou no pão - Outra coisa, não coma nada que estiver nessa mesa - Dando meia volta, me dirijo a uma loja de penhores, onde compro um celular velho, em seguida vou a uma loja de aparelhos eletrônicos e compro um chip, parando numa praça pública para telefonar por meio dele. Assim que faço a ligação espero alguns toques e desligo quando alguém na linha atende. Fazendo tudo de novo, espero alguém atender, mas dessa vez era quem eu queria falar.
     - Tenente Gordon?
     - Quem fala?
     - Ellis Turler, se lembra? - Questiono ansiosa.
     - Como não me lembraria? Deixou um dos meus principais colegas com cara de idiota no meio dos parceiros, isso não acontece todo dia.
     - O que não acontece todo dia? Um idiota ouvir o que precisa? E por falar em idiota, eu o vi hoje. Larson, estou certa?
     - Espere, foi você que encontrou o corpo morto hoje cedo?
     - Eu mesma.
     - Entendi por que ele ficou daquele jeito, eles deram menos prioridade do que eu esperava - Comenta com ironia.
     - Sabe o que isso significa?
     - Não tenho ideia.
     - Havia um bilhete no corpo onde uma organização criminosa me ameaçava.
     - Isso é sério senhorita Turler.
     - Sei que é sério, por isso me pergunto por que é que a polícia não está tratando esse caso com algum tipo de particularidade.
     - Não se preocupe, senhorita Turler, vou fazer de tudo para ajuda-la, pode contar comigo - Depois desse apelo não tinha mais nada a ser feito, restava esperar alguma novidade surgir na cidade envolvendo o paradeiro do Espantalho ou a despedida de Allan, mas a tarde correu mais tranquila do que eu esperava. Deitada em minha cama, começo a pensar na maneira como iria descrever o que tinha acontecido naqueles dias nas páginas do Planeta Diário, uma maneira de escrever digna de um Pullitzer. Logicamente eu também pensava no que iria fazer assim que parasse de trabalhar como jornalista, mas nada me vinha à cabeça. Talvez tentar viajar um pouco após anos de trabalho árduo e cansativo, ou quem sabe finalmente começar a procurar um interesse romântico para a minha vida, ou algo do tipo. Em meio a meus pensamentos, lembro do senhor Wayne e da maneira como o tratei, percebendo que tinha me arrependido de certa forma de tê-lo tratado daquele jeito. Eu queria acreditar que existe algo bom em Gotham, mas quando se passa pelas coisas que eu passei se torna difícil até acreditar no bem. E havia também o Batman, uma pessoa misteriosa que eu não tinha ideia do que pensar e me ajudou sem querer nada em troca além de mais pistas para enfrentar o mundo do crime. Suspiro, então pego uma toalha e algumas peças de roupa para vestir após um banho demorado que eu gostaria que tirasse todo esse peso da minha consciência, mas, ao abrir a porta do banheiro, dou um pulo para trás de tão assustada.
     - Batman? Que porra está fazendo no meu banheiro? Como sabe onde fico?
     - Não foi difícil, já que você é uma jornalista que pretende enfrentar o crime e está dormindo num hotel da máfia -  a notícia 
me deixa ao mesmo tempo chocada e desconfiada.
     - Como pode saber?
     - É um caixa eletrônico deles. Usam o hotel para guardar e lavar dinheiro, além de servir como armazém de drogas ilícitas.
     - É difícil não acreditar em você - Admito envergonhada - Alguém já duvidou da sua palavra?
     - Policiais - Responde sem detalhes enquanto passa por mim e revista meu quarto de cima a baixo.
     - Não se preocupe - Aviso em tom de deboche - Ninguém levou nada.
     - Sério? - Questiona Batman com sarcasmo - Então vai me dizer que não deu falta do seu pendrive o dia todo? - Novamente fico espantada.
     - Como sabe do meu pendrive?
     - Seu pendrive tinha informações importantes que você coletou sobre as pessoas certas, seja lá quais fossem. Se divulgadas, poderiam acabar com a máfia de Gotham em uma semana.
     - Meu pendrive está aqui - Abro a porta do meu guarda-roupas, pegando uma caixa cheia de apetrechos e besteiras minhas, mas depois de reviras a caixa umas três vezes começo a me preocupar - Não faz sentido, eu coloquei aqui tenho certeza. Ninguém entrou aqui.
     - Ninguém? - Batman sorri - E o serviço de quarto?
     - Ela não iria roubar meu pendrive.
     - Tem razão. Por que uma mulher que trabalha pro crime organizado iria roubar um pendrive que pode acabar com o pessol dela.
     - Nunca imaginei que fosse tão paranoico assim - Declaro impressionada.
     - Você nem faz ideia - Batman dá uma espiada no olho mágico, então pega alguma coisa em seu cinto, me empurrando para longe - Vá pro banheiro e continue lá.
     - O que está acontecendo? - Pergunto perturbada.
     - Tem muitos bandidos armados lá fora e com eles está uma senhora.
     - É minha vizinha - Comento indignada.
     - Ela também trabalha para eles.
     - Não.
     - Sim. Agora, pro banheiro - Assim que atravesso o corredor, a porta da sala se abre e três homens armados entram atirando, mas o Batman já os esperava atrás de uma poltrona, pulando de uma vez no móvel para dar uma joelhada no primeiro bandido e segurar a arm do segundo para cima enquanto batia impiedosamente em sua barriga antes de fimalizar seu ataque com uma rasteira e uma pisada forte no tórax. O terceiro dá uma coronhada no vigilante, mas ele se recupera com facilidade, rolando no chão para terminar ao lado do criminoso num ângulo que lhe permitia dar um cruzado certeiro e bruto. A senhora do trinte e oito entra no quarto e atira na direção do Batman, mas ela era lenta para recarregar, o que deu a ele tempo o bastante para chutar a arma longe e trancar a idosa no quarto, enquanto eu saio do banheiro apavorada.
     - Estou marcada.
     - Eu sei, por isso estou aqui. Confie em mim e vai dar tudo certo.
     - O que quer que eu faça?
     - Volte a Metrópolis e termine sua matéria, eu vou entrar em contato.


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Notas finais do capítulo

Como será que nossa amiga vai se livrar dessa?



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