Festividades escrita por Lenora Roth


Capítulo 3
Exposição de arte


Notas iniciais do capítulo

Sinopse:

Em comemoração aos seus 30 anos de idade, Sansa Stark decide fazer uma exposição de sua arte em uma galeria.

(Sansaery)



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Enquanto andava por entre os convidados para sua primeira grande exposição, Sansa refletia sobre o que a levara até ali. Ao contrário do que muitos pensavam, a Stark começara a pintar há apenas dois anos, após ter sido mantida em cativeiro juntamente com o amigo da família e agora esposo de seu irmão mais velho, Theon Greyjoy. A pintura havia sido, a princípio, apenas uma forma de terapia que sua psicóloga recomendara, assim como escultura havia sido para Theon. Mas, assim como ele, Sansa encontrou amor na arte, descobriu ali uma forma de expressão que as palavras jamais lhe permitiram.

Abandonou a profissão de modelo, já que as cicatrizes recém-adquiridas (por dentro e por fora) a tornaram um ser não mais desejável aos olhos da indústria, voltou a morar com os pais e passou a pintar. Quadro atrás de quadro, chegando ao ponto de ser necessário um quarto apenas para guardar seus trabalhos. Colocou nas telas em branco toda a dor que não conseguia expressar para ninguém. Por vários meses, o silêncio de Sansa foi compensado pelos gritos em sua arte.

Toda aquela dor, Sansa concluiu, a levara àquele momento, naquela galeria, expondo para o mundo seus sentimentos mais íntimos. Colocando à vista a prova de que ela havia sido forte o suficiente para tirar beleza da dor.

Sorriu ao ver Arya, com Nymeria fielmente ao seu lado, adentrar o salão. Se durante a adolescência as duas haviam sido rivais e quase inimigas, toda e qualquer animosidade deixara de existir na vida adulta. Ainda tinham suas discussões como todo irmão, obviamente, mas o carinho era muito maior que qualquer desentendimento.

— Você veio! - falou animada enquanto a abraçava. Arya riu, uma risada gostosa que se mantivera a mesma desde a infância.

— Eu disse que viria. Não vou poder apreciar sua arte por motivos óbvios, mas estou aqui pelo apoio moral.

— Na verdade, uma das minhas telas foi feita pra você - Sansa respondeu, um sorriso curto nos lábios ao ver a confusão no rosto da irmã.

— Isso é meio contraproducente, San.

— Só vem comigo, ok? - pegou a mão de Arya e a encaixou na parte interna de seu cotovelo, para poder guiá-la. Cumprimentou algumas pessoas em seu caminho de forma distraída, tendo como foco uma das telas ao fim do corredor.

Parou com a irmã na frente do quadro, um que estava, aparentemente, em branco.

— Vou colocar sua mão na tela, ok? Pode sentir sem medo - e viu, satisfeita, um sorriso de entendimento surgir nos lábios da irmã.

— Você fez o que eu estou pensando que fez?

Não respondeu, apenas encostando a palma da mão de Arya contra a superfície pontilhada, a representação tátil de uma memória das duas, ainda muito novas e completamente ignorantes, correndo de mãos dadas no bosque de Winterfell. De todas as suas telas, aquela fora a mais trabalhosa; meses de dedicação exclusiva, dezenas de esboços e frustração. Mas, se no fim das contas, trouxesse um sorriso para o rosto de Arya, um dos sinceros, então teria valido a pena.

E era um sorriso que se formava, um dos grandes e emocionados, que ela não gostava de dar na frente de ninguém. Corria os dedos com cuidado pela superfície, sentindo cada ponto, criando a imagem na sua mente.

— Somos nós - concluiu por fim - No bosque de Winterfell. Certo?

— Sim - Sansa respondeu, a voz um tanto mais baixa, o momento de repente parecendo muito privado - Esse não está à venda. É seu.

E Arya riu, e era uma risada que preenchia o salão da galeria, uma risada que parecia ter o poder de dar vida aos objetos e aos humanos lá dentro.

— Você é uma criaturinha de outro mundo, San - a mais nova sussurrou, e ambas eram criaturinhas de outro mundo, afinal, sempre foram, mesmo quando tentavam se encaixar e principalmente depois de desistirem.

Com cuidado, guiou Arya para ficar junto dos outros irmãos, conversando, enquanto ia dar atenção para os outros presentes. Encontrou Theon parado na frente de um dos quadros mais sombrios, pintado em tons de marrom, preto e vermelho, com dois cachorros imensos no centro, mostrando os dentes.

— É sobre aquela época, não é? - perguntou, sem desviar os olhos da tela. Sansa assentiu, devagar.

— É, sim.

— Eu nunca consegui criar nada sobre o que aconteceu, sabia? - e só então olhou para ela - Por mais que meu psicólogo dissesse que talvez fosse importante. A minha arte é feita de pedaços da minha história, mas se alguém tentasse me estudar apenas por ela, jamais descobriria o que aconteceu.

— Talvez seja por isso que você não faça - Sansa retrucou, calmamente - Porque, às vezes, é bom fingir que nunca aconteceu.

Theon deu de ombros, a silenciosa admissão de que a mais nova estava certa.

Após alguns instantes, o rapaz finalmente falou.

— Parabéns, aliás. Você conseguiu criar algo que, mesmo sendo sobre ele, é lindo.

— Porque não é sobre ele - e sorriu, olhando nos olhos de Theon, e viu, com orgulho, que o escultor se esforçara para corresponder seu olhar - Ele está preso agora, jogado em um buraco qualquer sabe-se lá onde, e nós estamos aqui. Você se casou com o homem que ama numa cerimônia linda, eu estou expondo meus trabalhos pela primeira vez. Nós dois encontramos coisas pelas quais vale a pena lutar. Essa pintura é sobre nós, Theon. Nós somos as feras que foram quebradas até o limite, mas não estamos mortos. Ainda rosnamos.

Ela sabia que levaria tempo até que Theon se reconhecesse como mais do que uma porcelana estilhaçada. Mas ela também sabia que porcelana nenhuma conseguiria passar pelas mãos de Ramsay Bolton e ainda assim ser capaz de dar um sorriso daqueles.

Depois disso ficou um momento em silêncio, sozinha, observando todas aquelas criaturas gloriosas existirem à sua volta. Robb sussurrando contra o ouvido de Theon, Jon e Ygritte rindo de alguma piada interna, Bran conversando baixinho com o professor que era seu vizinho e que, pelo olhar de doce incerteza de ambos, logo seria algo mais. Arya provocando Rickon, ameaçando mandar Nymeria comer o celular do mais novo se ele não lhe desse atenção.

Margaery Tyrell, sua melhor amiga, entrando na galeria com o andar decidido de quem nunca olha para trás, acompanhada pelo irmão e cunhado, sorrindo na sua direção.

Palavras nunca haviam sido necessárias com ela. Após o trauma, nos dias em que Sansa se mantivera em um silêncio absoluto e incontestável, era Margaery quem ficara ao seu lado, preenchendo o silêncio com um cantarolar doce, trazendo flores e ervas da floricultura da família para enfeitar seu quarto, alecrim é para cura, proteção e alegria, alfazema purifica, erva-doce traz força. Foi o respeito absoluto ao silêncio de Sansa que a fez voltar a falar, e a primeira a ouvir sua voz havia sido a Tyrell.

E por palavras não serem necessárias é que Sansa simplesmente foi até ela e a abraçou com força. Margaery riu, como sempre fazia, e a abraçou de volta.

— Estou tão orgulhosa - ela sussurrou, e Sansa soube que a amava há muito tempo, há tanto tempo que talvez por isso mesmo tivesse demorado tanto para perceber.

— Alguns deles foram feitos pensando em você - disse sem pensar, ou talvez depois de ter pensado por muito tempo.

Margaery se afastou apenas o suficiente para olhá-la nos olhos.

— Então eu sou sua musa? - perguntou, divertida, e porque palavras nunca foram necessárias entre elas, Sansa se aproximou e a beijou nos lábios, bem de leve, bem rápido, apenas o necessário para dizer que sim, era, sempre seria.

Pois, a bem da verdade, Margaery era mais do que simplesmente uma musa; era uma obra de arte por si só.


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