Enquanto os irmãos o ajudavam a arrumar a pequena casa para o pedido de noivado, Jon tinha sua pequena crise existencial no quarto. Há uma semana, quando apresentara a ideia à família, realmente parecia algo inteligente de se fazer. Decorar a casa de forma simples, mas bonita, reunir a família (que depois de tantos anos de namoro havia virado a família de Ygritte também) e fazer o pedido.

Uma hora antes de fim do expediente da ruiva, porém, Jon começava a ter suas dúvidas.

Ygritte era, por natureza, um espírito livre. Tendo sido abandonada pelos pais ainda criança, crescera no sistema de adoção, sem família ou figura de autoridade que achasse conivente respeitar. Era o tipo de mulher que olha nos seus olhos e comenta, com toda a naturalidade, sobre como o casamento é uma instituição falida, como a igreja se tornou corrupta há muito tempo, como a escola é uma prisão elitista e capacitista que acredita na lenda da meritocracia, tudo isso na mesa de jantar.

Jon já considerara um milagre quando ela aceitara morar consigo, depois de dizer não a inúmeros pedidos do tipo do rapaz. Aceitara, ainda deixando claro que ainda teria sua independência e seria sua própria pessoa.

Como ele pensara que seria uma boa ideia a de pedi-la em casamento? Ela que sempre dissera que o casamento é uma instituição patriarcal, que representa uma venda simbólica da mulher para o homem, que muda seu sobrenome e se torna uma propriedade da família do outro.

Jon só acreditava que o casamento era o símbolo do amor de duas pessoas.

E ok, talvez o casamento de Robb tenha colocado ideias em sua cabeça. Talvez ele também quisesse valsar com Ygritte pelo salão, com um sorriso imenso no rosto, como fizera seu irmão e Theon. Que o chamem de romântico, se quiserem.

E agora, por causa de seus devaneios amorosos, sua família estava se acotovelando pela casa, decorando e cozinhando para o que seria a grande noite.

Daria completamente errado, ele tinha certeza.

A porta abrindo interrompeu seu momento de pânico e Arya entrou, contando os passos até a cama e procurando o irmão com as mãos, encontrando seu ombro e segurando firme, sentando-se ao lado dele. Logo em seguida entrou Sansa, sentando do outro lado de Jon.

— Você está pirando - Arya afirmou, sem tirar a mão de seu ombro.

— O que? Não, claro que não - tentou negar mas era, e sempre fora, um péssimo mentiroso.

Sansa sorriu, percebendo isso, e deitou a cabeça no outro ombro de Jon.

— Nos conte o que está acontecendo - pediu, e era muito difícil negá-la qualquer coisa.

Respirou fundo antes de desabafar suas dúvidas em relação à resposta de Ygritte, e o medo de que isso acabasse com o relacionamento dos dois. Arya riu fraco, mas a mão em seu ombro era firme.

— Há a possibilidade, não vou mentir.

— Claro que não! - Sansa retrucou - Ela sabe que você não quer casar com ela para tê-la como propriedade, e sim porque você a ama. Mesmo que ela diga não, o que eu não acho que vá acontecer, ela não vai ficar brava.

— Qual é, San, talvez ela fique - Arya retrucou - A gente está falando da Ygritte, afinal.

— Nós podemos parar de falar sobre isso? - Jon perguntou por fim, cansado - Agora está feito. Vamos ter que pagar pra ver.

Ficaram em silêncio um momento, as irmãs fazendo o possível para consolar Jon da forma que podiam. Por fim se levantaram e foram, os três, para a sala.

Theon e Margaery estavam decorando a sala com velas e flores. Nada muito exagerado, flores pequenas e brancas, cujo conjunto as fazia parecer apenas levemente menos singelas. Na cozinha, dividida da sala apenas por uma bancada, era possível ver Cat cozinhando o jantar. Rickon estava arrumando a mesa, milagrosamente sem o celular na mão, com a ajuda de Bran e Jojen. Robb e seu pai estavam sentados no sofá, conversando sobre algo tranquilamente.

Jon e Sansa foram ajudar Margaery e Theon, e depois disso o tempo pareceu voar. Logo estava tudo pronto, todos esperando, ansiosos, para que Ygritte chegasse.

Chegou, com a aparência cansada, o uniforme de policial parecendo pesar. Tomou um susto ao ver a casa cheia, olhando com dúvida para Jon. Agora é a hora, pensou, e se aproximou dela, colocando-se de joelhos e pegando o anel, simples e prateado, do bolso.

— Eu sei que você não acredita em casamentos, e que vê tudo como uma tradição arcaica que prende mulheres. Mas se você me der a chance de te provar o contrário, eu te prometo que vou fazer de tudo para que você seja a mulher mais feliz do mundo. Eu sei que você não pertence a ninguém, mas eu quero pertencer a você. Ygritte, você quer se casar comigo?

A voz estava trêmula, e ele deve ter tropeçado em mais de uma palavra, as mãos suadas de nervoso, mas seus olhos não saíram dos olhos chocados dela. Ficou em silêncio por um bom tempo antes de responder.

— Eu tenho uma condição.

— O que quiser - ele prometeu, o coração disparado. Ela sorriu fraco, um dos sorrisos secretos que dava para Jon quando murmurava que ele não sabia de nada. Foi com um desses sorrisos que pontuou:

— É você quem vai tomar meu sobrenome.

E se essa seria a condição para  que Ygritte aceitasse, o aceitasse, ele deixaria de ser Jon Stark e se tornaria Jon Snow agora mesmo.

A pequena festa de noivado durou quase a noite toda.